Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quarta-feira, março 30
Faro - "Capital da Cultura 2005"
Faro, minha cidade natal, parece aturdida com a ingente tarefa de acolher e organizar a “Capital Nacional da Cultura” - 2005.
A cidade sempre foi arredia a essas coisas da cultura. Cidade natal de muitos artistas, só grandes poetas contemporâneos, assim de repente, me lembro de António Ramos Rosa, Gastão Cruz e Casimiro de Brito...
Mas a cidade não acolhe dos seus grandes artistas senão quase só a sua lembrança.
Não admira que a directoria do certame, com sede ali no “Clube Farense”, paredes meias com uma janela do quarto onde eu me sentava na minha adolescência estudando e lendo enquanto ouvia os sons da mesa da batota que se jogava do lado de lá, encontre o caminho eivado de escolhos.
Morei na Rua de Santo António, a rua principal da cidade, na casa que serviu de lançamento para o negócio no qual o meu irmão – em ambiente familiar - havia de prosperar até à sua recente e dolorosa morte.
Dormimos longos anos os dois no mesmo quarto exactamente à beira da tal janela. Ele era o irmão mais velho e foi-me interessando pelas coisas da cultura. A cidade provinciana olhava esses interesses culturais com desconfiança e julgo, em abono da verdade, que nada de essencial mudou, ao longo dos anos, no espírito da cidade.
A “Capital Nacional da Cultura” em Faro seria algo muito fácil de organizar se tivesse sido pensada antes de ser organizada. E se o tivesse sido teria havido um espírito de buscar o que de mais profundo, na cidade e na província, no que respeita à dita cultura (erudita e popular), existe para estudar, aprofundar e divulgar.
Não foi. Os que conhecem as raízes culturais do Algarve, desde a antiguidade até aos nossos dias, sabem muito bem do que falo. Um dia destes volto ao tema. Por agora fico-me pela recordação daquela janela através da qual me interroguei, vezes sem conta, acerca do porquê das vozes que falavam a linguagem da batota.
A mesma palavra, batota, de que se falo agora, no mesmo exacto lugar, a propósito de Faro "Capital da Cultura - 2005".
Imagem da rua de acesso ao Largo da Sé de Faro
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