sábado, abril 2

JOÃO PAULO II



No fim da vida o Papa polaco, João Paulo, Karol, quis, de vontade própria, dizer ao mundo dos homens que a vida deve ser vivida até ao fim.

Exagero, dizem alguns. Nos últimos dias as imagens das aparições públicas do Papa eram chocantes. E as imagens das guerras e de massacres de civis inocentes? E as imagens da “Quinta das Celebridades”? E as imagens dos corpos amortalhados das vítimas de desastres de viação? E as imagens dos aviões a embaterem nas Torres Gémeas ? ...

No caso deste Papa as imagens do seu sofrimento destinavam-se, por vontade do próprio, a destronar a imagem do efémero atingindo, em plenitude, o coração e a inteligência dos homens. É assim que as entendo.

O Papa quis mostrar que a velhice não é um impedimento para o desempenho de uma profissão, de uma missão, de um trabalho. Que a terceira ou quarta idade, o fim da caminhada pela vida, não é um estigma que justifique o abandono do homem pelos outros homens e a sua condenação à solidão.

Que a doença não é uma fatalidade que se deva aceitar com resignação. O Papa quis, de vontade própria, mostrar ao mundo dos homens, que o sofrimento não é motivo de vergonha e faz parte integrante da vida.

O Papa quis utilizar o poder da sua imagem pública, a sedução que a sua figura exerce em católicos e não católicos, para nos dizer: vivam a vida até ao fim, sem abdicação de nada a que tenham direito, partilhando com a comunidade não só a parte radiosa da criação humana, sempre associada à juventude, como a sua parte mais dolorosa: a dor, a doença e a morte.

Este ritual de exposição pública do sofrimento físico de João Paulo II– anunciando o fim da vida, sem subterfúgios – é uma novidade absoluta que marca uma postura corajosa acerca da vida e, quiçá, o princípio de uma nova era.

Imagem de Cibertulia

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