quarta-feira, julho 4

Machina Speculatrix

Uma chamada especial para as escolhas do Porfírio Silva, da Machina Speculatrix, na corrente das leituras.
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A ÚLTIMA CARTA

Posted by PicasaRené Char

A última carta de René Char a Albert Camus é datada de uma segunda-feira de Dezembro de 1959. Char manifesta interesse em passar, ao menos, um dia com Camus, e família: (...) “Ne vous inquiétez pas. Je me ferai transporter en auto à Lourmarin* dans la matinée du jour fixé. Embrassez Catherine et Jean pour moi. Affection à Francine. De tout cœur à vous toujours. René Char.»

*Deux jours avant le départ d’Albert Camus, René Char vint, en compagnie de Tina Jolas, passer une journée avec lui. Au moment de se quitter, Albert Camus lui dit, en parlant de La Postérité du soleil : « René, quoi qu’il arrive, faites que notre livre existe !»

Char foi a última pessoa a visitar Camus antes da sua morte, na viagem de regresso a Paris, no dia 4 de Janeiro de 1960.
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HENRIQUE VIANA: ERA UM PRAZER VÊ-LO REPRESENTAR!
O TIRANETE ESTREBUCHA

LEITURAS

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

O Tomas Vasques apanhou-me numa corrente à qual não tenho coragem, nem razão, para escapar. Há dias assim! Livros/leituras, mais presentes que passadas, ou, no meu caso, uma simbiose pois sou daqueles que, na verdade, lêem sempre o mesmo livro, no que diz respeito à prosa, mas que se dispersa, com mais liberdade, como leitor de poesia.

Mas como é regra do jogo deter-me na indicação de 5 livros, não querendo fugir à realidade, aí vão as leituras presentes e as mais próximas (passadas e futuras):

1 – “D. Afonso Henriques”, de José Mattoso, Edição do Círculo de Leitores – uma obra-prima imprescindível para compreender Portugal; é uma obra, ao contrário do que se possa pensar, de leitura relativamente fácil, que assume as limitações das fontes, reconhece os mitos, buscando dar a conhecer aos leigos a realidade dos factos históricos (leitura em curso);

2 – “Correspondance, 1946 – 1959”, Albert Camus/René Char, organizada por Franck Planeille, Edições Gallimard – uma novidade surpreendente e sedutora para os apreciadores, como é o meu caso, de publicações revelando a correspondências entre criadores, amantes das artes ou da vida. A revelação de uma amizade, com laivos de paixão, entre dois criadores que se reconhecem, não só na convergência das sensibilidades artísticas, como nas posições políticas de ruptura, no início dos anos 50, com os mitos da esquerda comunista pró soviética.(leitura concluída.)

3 – “Camus et l’homme sans Dieu”, de Arnaud Corbic, Les Édition du Cerf – uma reflexão aprofundada acerca da presença de Deus na obra de Camus. Uma boa ideia para a compreensão da obra pode encontrar-se no título, e no primeiro parágrafo, da “Conclusão”:"Um mundo sem Deus mas não sem sagrado”. “A obra de Camus lança os fundamentos de uma filosofia do homem sem Deus numa tripla perspectiva: uma maneira de conceber o mundo (o absurdo); uma maneira de existir (a revolta); uma maneira de se comportar (o amor)." (Tradução livre, leitura concluída).

4 – “A Longa Marcha”, de Ed Jocelyn e Andrew mcEwen, edição da QUIDNOVI, -leitura iniciada e a retomar nas próximas férias para matar uma curiosidade antiga acerca dessa epopeia extraordinária, seja qual for a nossa apreciação política, que foi “A Longa Marcha”. (leitura a prosseguir).

5 – “Poesia III”, de Jorge de Sena, das Edições 70 – para reler nas férias que, tempos atrás, descobri que não tinha o livro, propriamente dito, e o comprei. Nele se encontram algumas obras-primas de Sena, o poeta que mais marcou a minha sensibilidade para a poesia: “Peregrinatio ad loca infecta”, “Exorcismos”, “Conheço o sal … e outros poemas”. “Peregrinatio …” começa com a palavra PORTUGAL e, em epígrafe: ”Eis aqui quase cume da cabeça/de Europa toda, o reino Lusitano”Camões – Os Lusíadas, III, 20. (leitura/releitura)

E, na sequência de ter assumido o desafio, com as minhas desculpas para as/os mais avessos a estas cadeias, passo o desafio sem nenhum critério de ordenamento:

CATATAU, O BLOG QUE NINGUÉM LÊ, FIM DE SEMANA ALUCINANTE, LINHA DE CABOTAGEM, MACHINA SPECULATRIX
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terça-feira, julho 3

7 MARAVILHAS DA BLOGOESFERA

Agradeço a nomeação de “O BLOG QUE NINGUÉM LÊ” para esta “corrente” mas, como os próprios reconhecem, o prazo era até 1 de Julho. Como tal aproveito para me escapulir a fazer as nomeações que me competiriam. Não levem a mal!

POSTAL A PRETO E BRANCO AO MINISTRO VIEIRA DA SILVA

Posted by PicasaFotografia de António Pais – Jantar de Extinção do MES
Vieira da Silva, da camisa aos quadrados, em baixo.

(Clique na fotografia para ampliar)

ENQUANTO CRESCE A REVOLTA

Há pessoas que se entregam em plenitude a um projecto e depois a outro, e assim sucessivamente, uma vida inteira, ao serviço do público ou do privado, rentabilizando recursos materiais e imateriais, abarcando várias áreas do saber, exigindo muito mais que saberes formais, tornando-se depositários de experiências únicas e intransmissíveis, julgando-se úteis, assumindo a plenitude das suas capacidades e eis que, subitamente, surge o ditame de uma qualquer nomenclatura, um critério de selecção, uma norma imperceptível, um código de ética, uma teia de interesses, algo de ininteligível, e o sujeito é arrumado na penumbra, vê o tempo estreitar-se, adensar-se o silêncio, esfumar-se a auto estima, tornar-se um potencial “excedentário”, enquanto a esperança de vida aumenta e o discurso oficial é o de corrigir a retirada precoce da vida activa. Eu até estou de acordo com a filosofia minoritária, talvez utópica, herdada da tradição camponesa, do trabalho até ao fim da vida, ou seja, a aceitação natural do adiamento infinito da retirada da vida activa, mas desde que a sociedade honre essa inevitabilidade e os governos sejam consequentes no discurso e na prática pela salvaguarda da igualdade de tratamento de todos os cidadãos. Que a sociedade se não valoriza sem a experiência dos seus trabalhadores é discurso recorrente que carece de ser caucionado pela política dos governos e a prática das empresas. Mas não esqueçamos que o pensamento dominante é exactamente o contrário, ou seja, buscar todas as formas de antecipar a idade da reforma e lançar pela janela fora essa ideia da valorização da experiência individual. "As vítimas da fome", nas sociedades ditas desenvolvidas, são os novos deserdados que se auto excluem, ou são excluídos, da vida activa, na plenitude das suas capacidades, humanas e profissionais. Esses desocupados, a tempo inteiro, ou parcial, desempregados, despedidos, dispensados, sub empregados e reformados, sábios de experiência feita, novos e velhos, homens e mulheres, indígenas e imigrantes, são o rastilho de uma nova revolução. Não há estado que lhes valha nem mercado que os compreenda. Estão cercados e quando o seu número, e desespero, atingirem o ponto de ruptura teremos o confronto, não sabemos sob que forma, do qual surgirá um novo paradigma de estado social. Tantas perguntas para tão poucas respostas!


[Nestes tempos de presidência portuguesa da União Europeia resolvi escrever uns POSTAIS A PRETO E BRANCO dirigidos, directamente, a membros do governo português. Sei que eles estão muito ocupados, as suas agendas, por estes meses, são pesadíssimas, que o tempo é escasso, os assuntos se encadeiam, se confundem, e as vozes livres dos cidadãos, porventura, os incomodam. Mas a vida continua e a sociedade subsistirá ao governo e à presidência da UE assim como os problemas que preocupam os cidadãos. Colocarei um problema de cada vez, da forma o mais clara possível, sabendo, de antemão, que poucos serão os membros do governo que chegarão, sequer, a dele tomar conhecimento. O primeiro POSTAL vai para um ministro que conheço pessoalmente, José António Vieira da Silva, do Trabalho e da Solidariedade Social, que tomo a liberdade de ilustrar com uma fotografia em que ele próprio surge no jantar de extinção do MES, em 7 de Novembro de 1981.]
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ROLLING STONES SEMPRE A ABRIR

Após ganhar o Oscar na categoria de Melhor Direção por Os Infiltrados, Martin Scorsese anuncia seu novo projeto: The Rolling Stones - Shine a Light.

Essa não é a única parceria entre Mick Jagger e Scorsese: mais um filme está sendo produzido por ambos, com estréia prevista para 2009. The Long Play também abordará o rock, mas dessa vez como fator de ligação entre dois amigos. A estréia de The Rolling Stones - Shine a Light está prevista para o dia 21 de setembro nos EUA.
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A NATALIDADE SOBE EM ESPANHA POR EFEITO DA IMIGRAÇÃO

segunda-feira, julho 2

OS "BOYS" AGORA SÃO DOS OUTROS

Posted by PicasaFotografia de Hélder Gonçalves

Passou a moda dos “jobs for the boys”. Nunca mais ninguém falou disso. Esperava que surgissem umas estatísticas com os números dos “boys” socialistas admitidos para todo o género de lugares. Passam os meses e nada. Dá que pensar!

A oposição ao governo passou directamente para a fase da defesa dos seus “boys” que o governo socialista deixou ficar no exercício de funções depois de ganhar as eleições ou que nomeou já depois delas ganhas. Assiste-se, hoje, a uma situação paradoxal: o governo socialista é empurrado para a defesa dos “boys” do PSD, e aparentados, sob pena de ser acusado de matar a liberdade.

O mais extraordinário desta situação é alguns socialistas, incluindo dirigentes ilustres, tomarem a defesa dos “boys” da oposição em nome das liberdades que todos, na verdade, exercem à tripa forra. Mas esses mesmos dirigentes, tempos atrás, aquando dos desmandos dos governos de direita não abriram a boca na defesa dos socialistas politicamente perseguidos, humilhados e, com a conivência do silêncio de todos, lançados para a valeta.

Perderam a noção de qual é a cor da liberdade? Como dizia Jorge de Sena, num célebre verso: “é verde, verde e vermelha.”
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OS TEMPLÁRIOS (II)

Posted by PicasaOs Templários

Ainda a propósito dos Templários. “São Bernardo passou a apoiar os Templários, que lhe parecia representarem um modelo ideal de regeneração de um sector importante da sociedade. Escreveu então o seu célebre tratado Elogio da Nova Milícia (De laude novae militiae)

Adoptando uma forma literária colorida e vigorosa, o abade de Claraval tece um rasgado elogio àqueles que põem as suas armas ao serviço de Deus e, sem medo, consagram a sua vida a guiar os pobres e os fracos pelos caminhos terrestres percorridos por Jesus Cristo. Os cavaleiros mundanos vivem no luxo, amolecidos sob as suas túnicas de seda e cobertos de ouro, cultivam a frivolidade e a ligeireza, são conduzidos pela vaidade e o desejo de uma glória vã. Não formam uma "milícia" mas uma malícia. Os novos cavaleiros, pelo contrário, defendem, na Terra Santa, a “herança e a casa de Deus” manchada pelos infiéis.”
(…)
“O apoio de São Bernardo que, na década de 1130, e durante os vinte anos que se seguiram, se tornou a mais influente personalidade do mundo cristão, dissipou as reticências que ainda rodeavam o projecto templário. Em 1139, o papa Inocêncio II aprovou sem reservas a nova milícia, por meio da bula Omne datum optimum, e concedeu-lhe a protecção papal, tornando-a dependente da Santa Sé e isenta de jurisdição episcopal.”

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”4. O Apelo de Jerusalém”,”Os Templários”, pg. 60 (17).
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O tiranete está cheio de ideias também na área da educação. Em resumo quer mais exames, ou seja, no 4º, 6º, 9º e 12º anos de escolaridade o quer dizer no fim de cada um dos actuais ciclos de escolaridade. Não lhe passa pela cabeça que talvez o que seja necessário é acabar com os actuais ciclos de escolaridade. Mas o tiranete é inimputável …
O EVARISTO FERREIRA DO ABRANGENTE VAI EMBORA. OBRIGADO. FICO À ESPERA DO REGRESSO.

sabor a sal

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domingo, julho 1

CHAR/CAMUS - A FRATERNIDADE

Posted by PicasaFotografia daqui

Nos inícios de 1958, no meio de uma troca de correspondência com notícias circunstanciais, surge uma referência a um herói incógnito da Resistência.

Em 24 de Fevereiro de 58 Char escreve um postal a Camus: “ (…) Arthur Charmasson, le brave Arthur, a dû être amputé du pied gauche, à la suite d’un accident. Cela m’a bouleversé. Cette bonne bête des bois tout à coup mutilée … »

Camus responde a 3 de Março : « Cher René, Quelle triste nouvelle! Je pense à cet homme, si plein de poids, si « vertical » - et cette atteinte à sa force ! Comme il doit être triste ! Dites-lui beaucoup d’affections de ma part. (…)

Numa outra carta, Char escreve a Jacques Dupin, descrevendo o acidente e uma memória do seu passado como resistente:

“ (…) Mon vieux compagnon, alors que j’avait couvert de mon sang sous l’Occupation quand il me prit dans ses bras après mon accident et me porta à travers les Allemands présents qui me cherchaient, et me sauva, mon vieux compagnon, je l’ai porté dans mes bras à mon tour. […] ce genre d’épreuve est terrible. Arthur durant le trajet de L’Isle à Cavaillon ne cessait de me répéter : « René, fais un miracle. » Ne souris pas, Jacques – c’est cela la fraternité, la confiance en l’homme, cette croyance de bête naïve, dans les cas extrêmes. Je suis bouleversé. »
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A FALTA DE VERGONHA DO TIRANETE.
Se Portugal é um país pequeno, em território e população, é grande por ter sido pioneiro na abolição da pena de morte.

TOM JOBIM

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CAMUS/CHAR E O NOBEL - 1957

Posted by PicasaCamus e Francine na cerimónia do Nobel
Estocolmo – Dezembro de 1957

O episódio do Nobel, atribuído a Camus em 1957, suscitou as mais diversas reacções. Muitos ficaram, como sempre acontece, condoídos, outros enraivecidos, mas Char, como seria de esperar, entusiasmado, escreveu-lhe, assim que soube da notícia, no dia 17 de Outubro de 1957:

"Mon cher Albert,
J’espére, je crois que l’on ne nous dit pas ce qui ne sera pas. Donc cette assurance dans la presse m’incite déja sans réserve à me réjouir et à truover ce jeudi 17 octobre 1957 le meilleur, le plus éclairé, oui le meilleus jour depuis long-temps pour moi entre tant de jours désespérants.
Je vous pris d’accepter, en souvenis d’aujourd’hui, cette petite boîte qui me sauva la vie jadis dans le Maquis et que j’ai conservée comme une relique vraiment intime.
Je vous presse la main fort, affectueusement, fraternellement,
René Char"

Duas notas:
1. Camus escreveu nos “Cadernos” nesse dia: “Nobel. Étrange sentiment d’accablement et de mélancolie. À vingt ans, pauvre, et nu, j’ai connu la vraie gloire. Ma mère.”

2. Ainda nos “Cadernos", em 19 de Outubro, escreveu acerca dos ataques a que estava a ser sujeito: “Effrayé par ce qui m’arrive et que je n’ai pas démandé. Et pout tout arranger attaques si basses que j’en ai le coeur serré. Rebatet ose parler de ma nostalgie de commander des pelotons d’exécution alors qu’il est un de ceux dont j’ai demandé, avec d’autres écrivains de la Résistance, la grâce quand il fut condamné à mort. Il a été gracié, mais il ne me fait pas grâce. Envie à nouveau de quitter ce pays. Mais pour où?”
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