Este é o ano do 40º aniversário do 25 de abril sobre o qual muito se falará (assim espero que seja) numa celebração de um acontecimento já longínquo daquelas que começam a ressoar a liturgia morta. É a realidade pois o tempo não perdoa. Mas a memória carece de ser avivada sempre que estiver em causa a questão da liberdade. Coloquei neste blogue a etiqueta "25 de abril" em 160 posts sendo certo que só bastante tarde comecei a utilizar etiquetas por assuntos. Vou voltar a postar diariamente, ou quase, uma seleção desses posts para lembrar o regresso à liberdade e à democracia, após 48 anos de ditadura.
Na época de todas as mortes. Emídio Guerreiro um lutador pela
democracia e pela liberdade. Morreu aos 105 anos. Bem
haja.
Biografia Breve - Uma vida em três
séculos
Ao longo da sua longa vida, que atravessou três séculos,
Emídio Guerreiro assistiu à implantação da República, viu nascer e morrer a
ditadura, de que foi um dos mais destacados combatentes, atravessou duas guerras
mundiais e participou na construção do regime democrático em
Portugal.
Emídio Guerreiro nasceu a 6 de Setembro de 1899, em Guimarães,
numa família de ideais republicanos, que acolheria como seus durante toda a
vida. Frequentou a Universidade do Porto, onde cursou Matemática, depois de ter
lutado como voluntário na I Guerra Mundial - o seu primeiro encontro com a
conturbada história do século XX.
Em 1926, um golpe de Estado impõe a
ditadura em Portugal, mas a 3 de Fevereiro do ano seguinte Emídio Guerreiro
junta-se aos revoltosos que, em vão, tentaram derrubar os golpistas.Em 1928,
funda no Porto a loja maçónica "A Comuna", do Grande Oriente Lusitano
Unido.
Em 1932, escreve um panfleto contra o então presidente Óscar
Carmona, acabando por ser detido, mas um ano depois conseguiria evadir-se,
iniciando um exílio que se prolongaria por mais de 40 anos. A primeira paragem é
em Espanha, onde dá aulas, mas o início da guerra civil leva-o a combater ao
lado das forças republicanas.
Em 1939, com a vitória dos franquistas,
fixa-se em França, passando à clandestinidade quando os nazis invadem o país,
durante a II Guerra Mundial, tendo sido membro activo da resistência à ocupação
alemã. Findo o conflito, Emídio Guerreiro voltou ao ensino de Matemática, desta
vez na Academia de Paris.
Na capital francesa, funda em 1967, juntamente
com outros exilados políticos, a LUAR, Liga Unificada de Acção Revolucionária,
para combater o regime salazarista.
De regresso a Portugal, depois do 25
de Abril, foi um dos fundadores do PPD. Em 1975 foi eleito secretário-geral,
tendo liderando o partido durante o período de ausência de Sá Carneiro no
estrangeiro, por doença. Deputado à Assembleia Constituinte, viria a afastar-se
do PPD, descontente com o rumo que o partido estava a seguir, e nos últimos anos
aproximou-se do PS.
Em entrevista ao "Expresso", por ocasião do
centenário do seu nascimento, Emídio Guerreiro elegeu a dignidade humana como o
ideal que norteou a sua vida.
"Como não pode haver dignidade
se não houver liberdade, naturalmente que eu lutei pela liberdade. Lutei contra
todos os regimes prepotentes, lutei contra todas as ditaduras",
afirmou.
LUSA