sábado, agosto 14

"Da escrita à obra

Mas na nossa sociedade mercantil tem de se chegar a ter uma "obra": é preciso construir, ou seja terminar, uma mercadoria. Enquanto escrevo, a escrita é assim constantemente achatada, banalizada, culpabilizada pela obra para a qual se torna forçoso concorrer. Como escrever por entre todas as armadilhas que me são postas pela imagem colectiva da obra? - Pois bem, cegamente. A cada momento do trabalho, perdido, aflito e pressionado, apenas consigo dizer para comigo a palavra com que Sartre termina o Huis Clos: continuemos.

A escrita é esse jogo através do qual eu me viro como num espaço estreito: estou entalado, estrebucho entre a histeria necessária para escrever e o imaginário que vigia, enaltece, purifica, banaliza, codifica, corrige, impõe a visada (e a visão) duma comunicação social. Por um lado quero que me desejem e, por outro, que não me desejem: histérico e obsessivo ao mesmo tempo."

Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 25
(pag. 11, 2 de 3)

Edição portuguesa - Edições 70

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