Linha do Norte
César das Neves é fundamentalista em tudo. Ele demonstra como os defensores do Não desesperam no afã para introduzir o medo na campanha. É triste olhar para os arautos do Não nesta causa pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez e encontrar neles os piores instintos que é vulgar apontar aos políticos.
Eles são bispos e padres, sumidades consumidas na sua castidade, economistas iconoclastas, gente de cultura e ciência certa que, apesar de todas as suas virtudes, não se enxergam nas mentiras e comparações mais grosseiras
César das Neves refere as estatísticas nos países que adoptaram um modelo de legislação semelhante à que os defensores do SIM querem viabilizar em Portugal, ou seja, simplesmente despenalizar, em determinadas e estritas condições, a interrupção voluntária da gravidez. Neves, compara números mas não sabe explicar os fundamentos das suas afirmações. É uma crença, não uma realidade como se possa verificar. Estamos situados no terreno das ciências ocultas.
Cada vez que uma sumidade deste calibre abre a boca na defesa do Não cresce a minha convicção que quantos menos defensores partidários do Sim abrirem a boca melhor. Quanto mais se criar a imagem de que este referendo é uma disputa entre direita e esquerda ou entre católicos e laicos … pior para o Sim. Deixem, pois, os padres e seus apóstolos falar à vontade.
Lembro-me de um discurso recorrente de minha mãe. Teria gostado de ter mais filhos, mas não os teve. As suas confissões, pelo menos aos meus ouvidos, nunca iam além de um lamento nostálgico pelas opções que, ao longo da vida, resolveu assumir. Sempre subentendi que esses filhos que, em vão, desejou foram evitados através de um processo que na linguagem popular se designa por “desmancho”.
Não lhe posso perguntar já o que terá acontecido. Os tempos eram outros, mas o medo era o mesmo. Essas mulheres que, ao longo dos tempos, solitárias as mais das vezes, sofreram o risco da própria vida em práticas abortivas, quando não morreram mesmo, são criminosas aos olhos dos humaníssimos Bagão e César, de bispos e padres que, por entre o rosmaninho e as cinzas ainda fumegantes das fogueiras da inquisição, proclamam, em nome da vida, a intolerância em vez da solidariedade. Que Deus lhes perdoe!
A sociedade que somos nós todos, com infinita bonomia e piedade, oferece-lhes a democracia política, pela qual a maioria deles não lutou, e que muitos abominam, para proclamar o Não sem correrem o risco de serem perseguidos ou sujeitos ao exílio!
O meu voto pelo SIM é simplesmente um voto pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez em nome da vida e da liberdade. É um voto que advém de uma convicção íntima e individual de que a vitória do SIM abre caminho para a solução mais eficaz do aborto clandestino com o dramático cortejo das suas consequências.
Para o Sim ganhar no referendo só há uma condição a cumprir absolutamente: que a abstenção não ganhe.
---------
O economista João César das Neves afirmou hoje que, se o aborto for despenalizado, passará a ser algo "tão normal como um telemóvel".
João César das Neves falava durante uma conferência de imprensa com o tema "a liberalização do aborto e aumento do número de abortos", a menos de um mês da realização do referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas.
No encontro com a comunicação social, o economista apresentou dados europeus (Eurostat) sobre o crescimento do número de abortos após a sua liberalização em países europeus, Estados Unidos e Canadá. De acordo com estes dados, citados pelo economista, a liberalização conduziu a "um aumento generalizado do número de abortos".
As taxas de crescimento do aborto nos primeiros anos após a liberalização quase triplicaram, disse João César das Neves, acrescentando que "esse crescimento manteve-se até à actualidade, embora a um ritmo mais brando".
Para o economista, este fenómeno "tem um paralelo económico": a chegada de um produto novo ao mercado.Tal como aconteceu com os telemóveis, João César das Neves prevê que exista um aumento exponencial do número de abortos, como com os telemóveis adquiridos pelos portugueses.
A liberalização do aborto é seguida de "uma cultura abortista, em que este passa a ser uma coisa normal, como um telemóvel".
O economista denunciou ainda que, caso o aborto venha a ser despenaliza até às dez semanas, "muitos médicos que aleguem objecção da consciência para não realizar a intervenção serão prejudicados".
Quando questionado sobre a origem destas informações, João César das Neves disse que chegou a esta conclusão "pensando" e disse recear que "os hospitais — actualmente locais de vida —, passem a ser espaços de morte".
A propósito do financiamento da campanha do "não" à despenalização do aborto, a jurista Isilda Pegada disse que estão previstos 400 mil euros, provenientes de donativos dos apoiantes do "não".
O novo cartaz da Plataforma Não Obrigada, hoje apresentado, é novamente uma pergunta: "Contribuir com o meu voto para aumentar o número de abortos?"
-
"Público"