sábado, abril 19

CIDADE DA AGONIA ou A PROMESSA POR CUMPRIR - 25 de abril - 40 anos, 71


                                                            Fotografia de Hélder Gonçalves

Um fulvo rubor, o último
no Tejo a anoitecer.
Que me segredas,
debruçada da janela,
sobre a água em flor?
Cerram-se os olhos do nosso bairro,
as sombras desencontram-se no escuro
da indiferença e do medo.
A cintilação dos arranha-céus
da nova riqueza
é fria, inexorável.
Fugiram todas as pombas e as gralhas
e os corvos
das artérias nobres da cidade
e das ruas, becos, calçadas onde só restam
corpos estilhaçados como estrelas
e palavras, relâmpagos, lágrimas, silêncios,
fúria, rosas profanadas
e miríades de antenas de televisão,
sobejos de festim,
um campo de derrota.
Será alguma vez o homem
irmão do homem?

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