sexta-feira, janeiro 9

DIAS DIFÍCEIS PARA A FRANÇA E PARA O MUNDO

                                                  Fotografia de Hélder Gonçalves

Fim de tarde/noite em Lisboa, cidade pacata de um país chamado Portugal, com uma longa história, que nunca deixou de ser europeu continental e ao mesmo tempo europeu atlântico, pela cultura e pela geografia. Portugal que foi, pelos idos dos séculos XV/XVI, uma potência global, dizem os entendidos - ao contrário de outras narrativas - a primeira de todas criando, mar afora, um império em rede tanto mais surpreendentemente grandioso quanto diminuta a sua dimensão demográfica e económica. Quando nos deixamos acantonar neste espaço diminuto de terra, rodeado do grande mar, perdemos força e influência na politica europeia e global. A União Europeia não pode servir para diminuir cada um dos seus membros. Tem que servir para os engrandecer num projecto comum evoluindo para a integração politica, projecto ousado, original e difícil, salvo se quiser dar-se ao sacrifício de uma inevitável implosão. A diversidade das Nações europeias, com seus povos, no espaço físico europeu, enquanto projecto politico comum, é uma vantagem num mundo que não mais será um conglomerado de autarcias. Os acontecimentos por estes dias em França estimulam, certamente, sentimentos nacionalistas extremos. É certo e sabido não sendo necessário ser especialista em politica internacional para o pressentir. Mas, ao mesmo tempo, é uma janela de oportunidade para que os dirigentes políticos democratas, exercitem, à vista de todos, capacidade para conciliar autoridade e tolerância, aspiração à justiça e defesa da liberdade. O Presidente francês tão impopular aos olhos da opinião pública francesa, tão desprezado pelos seus pares, julgo não me enganar, tem mostrado, neste momento difícil, perante acontecimentos dramáticos, uma dimensão de homem de Estado que é apreciável e deve ser reconhecida. Domingo próximo a França vai sair à rua pela liberdade. Estarei de corpo inteiro em Portugal como se marchasse pelos Campos Elísios. Portugal deveria estar representado nessa manifestação ao mais nível do Estado como parte de uma estratégia da sua afirmação no espaço comum europeu.            

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