domingo, dezembro 5

Manobras

"Presidente conta com Rio para segurar primeiro ‘miniciclo’." (In Expresso", artigo de Ângela Silva uma espécie de porta voz do PR). É insuportável durante todo o tempo (uma ou outra vez ainda vá!) suportar ouvir as opiniões do PR através de portavozes. Sei que não é a primeira vez nem será a última que no nosso sistema semi presidencial o PR toma partido. A obsessão do PR pela reorganização da direita e, em particular, esta ideia dos miniciclos (se bem entendo) é um erro que se pagará caro desde logo porque não contribuirá para a reorganização da direita (no conceito do PR) pela simples razão da fraqueza do partido moderado da mesma, o PSD, e da ascensão da extrema direita com o apagamento do CDS e a potencial irrelevância da IL. Não há milagres. Rio não é nem será um federador, não tem perfil, sendo a sua vitória no partido uma derrrota do PR. O PR não tem o jocker porque ansiava, perdeu-o nas eleições internas do PSD, correndo o risco de perder também o seu aliado mais forte ao centro (PS de Costa), já tendo perdido um moderador de todas as tendências do centro esquerda, embora discreto, Ferro. O PR parece estar sozinho (insuportável para ele) acompanhado de seus portavozes informais. Será, certamente, capaz de se adaptar às novas circunstâncias, mas todas as monobras a menos de dois meses das eleições só podem dar asneira.

sábado, dezembro 4

COVID-19 - Natal

Irlanda toma medidas mais severas a ser aplicadas a partir da próxima semana. Tomemos boa nota. "“Avançar para o período de Natal sem restrições para reduzir o volume de contacto pessoal é simplesmente um risco muito alto”, realçou o primeiro-ministro da Irlanda, Micheal Martin, numa comunicação dirigida aos irlandeses. Entre 07 de dezembro e 09 de janeiro, as discotecas vão encerrar e o distanciamento social volta a ser obrigatório em bares e restaurantes, que terão no máximo seis pessoas por mesa, e hotéis, onde apenas será possível haver serviço de quartos, segundo as recomendações divulgadas pelas autoridades de saúde. A lotação foi reduzida para metade em espaços culturais e eventos desportivos, sendo o uso de máscara obrigatório. Foi ainda aconselhada a limitação das reuniões familiares a um máximo de quatro pessoas, noticia a agência AFP." (In Lusa")

sexta-feira, dezembro 3

Vantagens dos "incumpridores"

"Mais de 1% da população da Alemanha está infetada com covid-19, indicou hoje o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, apelando aos cidadãos que ainda não se vacinaram para o fazerem." (In Lusa") Não nos congratulemos com a desgraça alheia, sempre é possivel que nos venhamos a arrepender. A Alemanha, tal como uma multidão de "países ricos", alguns deles intitulados de frugais pela sua dita superioridade no rigor da organização das respetivsas sociedades e contas públicas, estão submetidas pelo flagelo da covid-19. Nós os sempre aflitos incumpridores, pobres despesistas, desorganizados e pecadores, apresentamos um melhor desempenho no combate à pandemia. Isto é um assunto sério. Somos melhores mas desplicentes em reconhecê-lo, como que envergonhados pelo sucesso nesta matéria como em tantas outras. Fui à farmácia e comprei 5 testes rápidos quando se diz por toda a parte que não é possível encontrá-los. Foi-me comunicado por mensagem o agendamento da 3ª toma da vacina. Não hesitarei. A nossa tradição de toma de vacinas vem de longe, não é preciso em Portugal tornar obrigatório o que é assumido, pela esmagadora maioria, como obrigação comum que se cumpre de forma voluntária.

quinta-feira, dezembro 2

Um golpe no mito da juventude

A juventude é o futuro, uma banalidade, para dizer que o exercício de certas funções não dispensa um percurso, aquisição de experiência, ou seja, conhecimento prático, salvo em condições excecionais ser chanceler (1º ministro) aos 31 anos é de uma ousadia suicida. Não é necessário uma constituição ou lei impor uma idade minima (em Portugal Presidente só com 35 ou mais anos) basta o bom senso. A Áustria é um ninho de surpresas ... "Ex-chanceler austríaco surpreende ao anunciar abandono da política O dirigente conservador que se tornou chefe do Governo da Áustria aos 31 anos diz que por trás da decisão está o nascimento do filho. Mas o envolvimento num caso de corrupção e a má gestão no combate à pandemia não auguravam a Sebastian Kurz um regresso fácil ao poder." (In Público")

terça-feira, novembro 30

Marcelo - Rio - Eutanásia

Não estou aqui para fazer a promoção de Rio, reincidente presidente do PSD, mas apetece-me sublinhar este detalhe. Marcelo vetou a Lei da Eutanásia que Rio ajudou a aprovar votando a favor dela no Parlamento, ao arrepio da maioria dos deputados da bancada do partido de que era presidente. E pouco tempo depois foi reeleito. Marcelo já não precisa, em próximas eleições presidenciais, dos votos dos portugueses pela simples razão de não pode apresentar-se a sufrágio. Habituemos-nos à dança dos presidentes em segundo mandato.

Sempre a partir, sempre a regressar

Em 29 de Novembro de 1807, após um dia chuvoso, o príncipe d. João, d. Carlota, seus filhos, a rainha d. Maria I, vários outros parentes partiram em meio ao outono lisboeta. Do rio Tejo saíram as embarcações. Seguiram, além da família real, nobres, funcionários da Corte, ministros e políticos do Reino. Cerca de 15 mil pessoas. Os franceses ao chegarem à capital portuguesa em 30/11 ficaram a ver navios, frustrados com a não captura dos governantes lusos. Tudo o que era necessário para permanecer governando foi transportado. Insistia, entrementes, uma sensação dúbia: covardia ou esperteza? D. João estava angustiado. Seu país sendo atacado, o povo morrendo e ele seguindo viagem. Desconfortos psicológicos e físicos. Tormentas nos pensamentos e nos vagalhões dos mares que chegou a atrapalhar a travessia. Escassearam os víveres. Natal, Ano Novo e Dia de Reis se passaram. Então, a terra firme finalmente chegou. Em 22 de Janeiro de 1808 os barcos atracaram na antiga primeira capital do Brasil, a ensolarada Salvador. Porém, o abatido e cheio de dúvidas d. João após 54 dias no mar pisou o solo brasileiro apenas 24 hs depois. Foi o primeiro rei europeu a fazê-lo. Revisões nos navios, um pouco de descanso. Seguiram a viagem em 26 de Fevereiro. Dia 7 de Março a família real chegava ao destino final, a cidade do Rio de Janeiro.

domingo, novembro 28

RIO

Rio ganhou as diretas no PSD. Seja qual for o entendimento dos adversários politicos do PSD, os sentimentos dos derrotados internos, as projeções dos analistas de resultados eleitorais futuros, as expetativas dos outros partidos concorrentes (em especial do PS), o que me parece é que ganhou o país. Pois na politica, ainda para mais no presente momento de crise pandémica, eivado de temores e incertezas, há dois valores muito relevantes:continuidade e previsibilidade. Rio, enquanto lider do PSD, pense-se o que se pensar das suas idiossincrasias pessoais, garante a preservação desses valores. Pode ser pouco excitante para uns tantos, mas é, certamente, o que suscita maior segurança para a maioria.

sexta-feira, novembro 26

Na hora da "despedida" de Ferro Rodrigues

Não gosto de despedidas sejam quais forem as circunstâncias das mesmas. Mas a vida está repleta delas e a sua desprendida aceitação é inevitável. Hoje, após anúncio anterior feito pelo próprio, Ferro Rodrigues, despediu-se do Parlamento o que, a meu ver, não significa ter-se despedido da politica. Neste dia a propósito deste acontecimento assinalável de homenagem em vida a um cidadãos que dedicou boa parte da sua vida à ação política, apeteceu-me republicar um texto antigo que cita outro ainda mais antigo que glosa a sitação oposta: o regresso à politica de Ferro Rodrigues. Que viva! Em 30 de setembro de 2014 publiquei neste espaço pessoal um texto raro a respeito do regresso à "grande política" do Eduardo Ferro Rodrigues. Não tenho como regra fazer a louvaminha dos amigos e, ainda menos, dos amigos de longa data. Mas senti necessidade de escrever o que escrevi e sinto hoje necessidade de reeditar as palavras de saudação que aqui trouxe. Elas, para quem souber entender o seu sentido profundo, explicam as críticas, a meu ver injustas, de que tem sido alvo por estes dias. Multidões de virgens ofendidas clamam pela necessidade urgente de trazer para a política gente honrada, competente e com sentido de serviço público. Cidadãos que, sem prejuízo dos seus naturais defeitos, assumindo funções politicas de relevo, constituam uma barreira às derivas populistas e demagógicas que tanto têm desprestigiado, aos olhos dos cidadãos, a politica, os partidos e a democracia. Mas quando os cidadãos honrados assumem os pesados riscos de uma ativa e empenhada intervenção política aqui del rei que o bom senso é erigido em fraqueza, a competência em maçada e o sentido de serviço público, afinal, numa banalidade. Uma escolha é uma escolha. No caso de Ferro Rodrigues é o regresso à "grande política" de quem nunca, na verdade, se afastou. Apenas se ausentou para recobrar forças. Sinto este ressurgimento como um ato de justiça. Vai ser duro para ele conjugar sentimento e razão. O seu regresso à ribalta não anuncia somente o regresso da política, que a vitória de Costa pronuncia, mas um sinal de abertura ao diálogo em todas as direcções. As soluções politicas de governo de futuro não se jogam na tradicional alternativa, pura e dura, esquerda/direita. Nem sequer num jogo de palavras em torno de alternativa versus alternância. É preciso ir mais longe. Fundar um novo modelo de alianças políticas em cuja matriz nem hajam excluídos à partida, nem escolhidos eternos. Um novo pacto social que viabilize uma verdadeira reforma do estado social. É difícil fazer POLITICA que nunca dispense a aceitação da diversidade, a superação das contradições e a busca dos consensos em torno de soluções que satisfaçam o maior número. A sociedade organizada - os cidadãos de todas as condições - espera por propostas nas quais acredite e lhes dêem alento para lutar por um futuro melhor para si e para a comunidade. Políticos são precisos. Por isso o regresso do Ferro Rodrigues é uma boa notícia para além da nossa velha e profunda amizade.

quinta-feira, novembro 25

As trágicas inundações de 25 novembro de 1967

No dia 25 de novembro de 1967, era sábado, lembro-me de sair, era já tarde/noite, do ISCEF, pouco mais de um ano após ter iniciado os estudos naquela escola. Teria ido, certamente, participar numa reunião ou, mais prosaicamente, jantar na cantina da Associação de Estudantes. Ao sair devo ter feito o caminho de casa, um quarto alugado, ao cimo da Calçada da Estrela. Chovia muito, mas não estranhei porque, ao contrário de hoje, era normal chover nesta época do ano. Não levava qualquer resguardo para a chuva, que nem me pareceu excessiva, e caminhei colado às paredes até chegar ao destino. A minha perceção da chuva que caía naquela hora não me permitiu sequer imaginar as consequências que haveria de provocar. Chovia, simplesmente. Na manhã do dia seguinte, domingo, devo ter feito o caminho oposto, corriam as notícias de inundações em diversos sítios de Lisboa e arredores, e devo ter-me dirigido ao Técnico para me juntar à gigantesca mobilização estudantil que se organizou para avançar para as zonas mais atingidas em socorro das vitimas e no apoio à reparação dos estragos. O quartel general, que me lembre, havia sido montado no Técnico e deve ter sido a primeira vez que, à margem dos poderes instalados, com autonomia e mobilizando recursos próprios, se promoveu uma ação voluntária juvenil de grande envergadura à margem da politica oficial do regime. Foi um processo organizado que enquadrou a vontade espontânea de uma multidão de jovens estudantes ávidos de participação cívica e politica. Fui numa brigada para Alhandra munidos de meios rudimentares e lembro-mo com nitidez de nos afadigarmos a limpar ruas no meio da maior destruição que se possa imaginar. Retenho na memória o ambiente de caos e de tensão pois, afinal, estávamos a participar numa ação voluntária não autorizada que, naquela época, comportava riscos pessoais. Não havia medo, mas necessidade, e vontade de ação. Os meios para o socorro eram escassos, mas o que contava, de verdade, era participar, prestar solidariedade, ver com os próprios olhos in loco o que, de súbito, nos surgiu como uma calamidade de enormes proporções. Uma pá na lama, os destroços, uma palavra de conforto e incentivo, uma força coletiva que enfrentava sem medo a situação dramática de populações desprotegidas e, afinal, um regime decadente acobertado na ignorância, na censura e na repressão. No que me respeita ficou uma experiência sem dissabores. Não poderia imaginar que estávamos nas vésperas da queda de Salazar e da emergência, em 27 de setembro de 1968, do governo de Marcelo Caetano, menos de um ano depois daquelas trágicas inundações. Afinal aquela gigantesca ação voluntária havia de contribuir, de forma relevante, para o início do processo politico que desembocou no 25 de abril de 1974.
Não foi a minha primeira participação num movimento cívico, com vocação politica, (havia participado antes nas “eleições” de 1965) mas foi a ação mais impressiva e intensa que jamais esqueci e que muito contribuiu para configurar uma vontade de participação cívica e politica que nunca mais me abandonou.

quarta-feira, novembro 24

Futebol

Curioso fenómeno o do futebol, as multidões exultam com as vitórias, as investigações revolvem os bastidores na perseguição do crime. Os dirigentes, os empresários, os intermediários, os agentes, porventura todos os intervenientes do futebol profissional (certamente com honrosas execeções) chafurdam na lama do negócio, as multidões enlevam-se com a glória das vitórias. Este ano pode acontecer que os "três grandes" alcancem os oitavos de final da competição milionária do futebol europeu. Curioso fenómeno o do futebol. Às multidões não interessam os meios que conduzem à glória. Um pouco como nas guerras. Ou talvez mesmo como na politica. É urgente que se agigantem as vozes e os gestos em defesa do regresso às origens do futebol, que contrariem o negócio multinacional no qual medram os males inerentes a todo e qualquer negócio que tem como objectivo vencer, quantas vezes, sem olhar a meios. (E, neste dia, viva o Sporting!)

segunda-feira, novembro 22

Ainda vai haver quem defenda adiar as eleições

"Partidos favoráveis à ideia de Marcelo adiar ao máximo a dissolução do Parlamento". (In Público")

Os frugais estão à rasca

"O chefe da polícia de Roterdão afirmou que a maior parte dos manifestantes dos últimos dias eram menores e que adeptos de futebol também participaram nos distúrbios, onde pelo menos 24 pessoas foram detidas". (In Expresso").

John Kennedy

Em memória de John Kennedy assassinado a 22 de Novembro de 1963.

domingo, novembro 21

A procissão ainda não saiu do adro

Vou deixar aqui, por estes dias, algumas notas politicas a propósito da crise politica e das próximas eleições legislativas. É indecifrável a razão da presente crise permitindo todo o tipo de especulação, mas a realidade é cruel: quando mais de exigia um governo apoiado numa maioria plural mas forte, o desacordo predominou e as recriminações mútuas ganharam terreno. É cedo, seja para quer for, colocar as colchas à janela. A procissão ainda não saiu do adro.

sábado, novembro 20

Notícias do progresso

"É um momento histórico no sistema elétrico português: a central a carvão do Pego, em Abrantes, produziu eletricidade pela última vez na manhã de sexta-feira, e, sem mais carvão para queimar, fecha um capítulo na história energética do país." (In Expresso").

sexta-feira, novembro 19

Pormenores que fazem toda a diferença

"Kamala Harris protagonizou esta sexta-feira um momento histórico ao tornar-se, ainda que por pouco mais de uma hora, a primeira mulher presidente dos Estados Unidos, após Joe Biden lhe ter transferido os poderes - o Presidente teve de se submeter a uma colonoscopia A administração de Joe Biden, que na véspera de completar 79 anos é a pessoa mais velha a ocupar o cargo de Presidente, continua a estabelecer recordes e Kamala Harris, que já se havia tornado a primeira pessoa negra e descendente do sul da Ásia a ser vice-presidente, foi agora Presidente interina dos Estados Unidos durante uma hora e 25 minutos." (In "Expresso")

Albert Camus - biografia breve (23)

1960 - No dia 3 de janeiro, Camus parte da sua casa de Lourmarin, onde havia passado o fim de ano, de regresso a Paris, no Facel Vega conduzido por Michel Gallimard. Francine Camus fizera a viagem de comboio na qual deveria ter sido acompanhada por Camus; no dia seguinte, no prosseguimento da viagem, o carro despista-se, numa longa reta, em Villeblevin, perto de Montereau, embatendo num plátano, provocando a morte imediata de Camus e, cinco dias mais tarde, a de Michel Gallimard. Na pasta de couro de Camus, encontrava-se, além de diversos objetos pessoais, o manuscrito de Le Premier Homme, um romance inacabado, cento e quarenta e quatro páginas que sua mulher Francine haveria de dactilografar e sua filha, Catherine, fixaria em texto, publicado pela Gallimard, na primavera de 1994. Albert Camus está sepultado em Lourmarin.

quinta-feira, novembro 18

O primeiro homem - Albert Camus - biografia breve (22)

1958-1959 - Com o dinheiro do Prémio Nobel compra uma casa em Lourmarin. Sua mãe recusa sair da Argélia e Camus decide abster-se de qualquer intervenção direta no conflito argelino. Em janeiro, publica, na Gallimard novamente, Discours de Suède e, em junho, Actuelles III, Chroniques algériennes (1939-1958). Em março/abril, visita a Argélia e, em junho, doente, regressa à Grécia. Trabalha na adaptação teatral de Os Possessos, de Dostoievski, que sobe à cena, em janeiro do ano de 1959, com encenação do próprio Camus.
No mês de março de 1959, nova visita à Argélia, para ver a mãe, recentemente operada; começa a escrever, finalmente, Le Premier Homme, a que dedica todo o ano; apresentação de Possédés em Veneza, assim como em França e noutros países; a 14 de dezembro tem o seu derradeiro encontro público, com estudantes estrangeiros em Aix-en-Provence, no qual em resposta à pergunta: “Considera-se um intelectual de esquerda?”, responde: “Não estou certo de ser um intelectual. Quanto ao resto, sou pela esquerda, apesar de mim, e apesar dela”.

quarta-feira, novembro 17

O ano do Nobel - Albert Camus - biografia breve (21)

1957 - Em março, discursa na Sala Wagram contra a intervenção na Hungria (Kadar a eu son jour de peur) e publica, pela Gallimard, L´Exil et le Royaume. Mas este é o ano do Nobel da Literatura que lhe seria atribuído, em 16 de outubro, “pelo conjunto de uma obra que lança luz sobre os problemas que se colocam, nos nossos dias, à consciência do homem”. A reação de Camus à notícia ficou registada nos Cadernos, no dia 17 de outubro, com uma pungente referência à sua infância pobre, lembrando a mãe: “O Nobel. Estranho sentimento de abatimento e melancolia. Aos 20 anos, pobre e nu, conheci a verdadeira glória. A minha mãe.” Mas, logo no dia 19, nos mesmos Cadernos, o reverso da medalha: “Assustado com tudo o que me acontece e que eu não pedi. E para cúmulo ataques tão baixos que me deixam apertado o coração”. René Char, por sua vez, de coração aberto, exulta, numa carta dirigida a Camus: “Espero bem, creio que consta o que será certo. Assim, a certeza do que circula na imprensa incita-me sem reservas a regozijar-me e a achar que esta quinta-feira, dia 17 de outubro de 1957, é para mim o melhor, o mais esplendoroso, sim o melhor dia de há muito, entre tantos dias de desespero. Peço-lhe que aceite, para memória deste dia, esta pequena caixa que me salvou a vida quando combatia na resistência, e que eu desde então conservei como uma relíquia verdadeiramente íntima”. No outono, publicou, pela Calmann-Lévy, Réflexions sur la peine capitale, na Suécia, a partir de 9 de dezembro, proferia, além do discurso de aceitação do Prémio Nobel, duas conferências, em Estocolmo e Upsala; na primeira das quais, interpelado por um jovem argelino, profere uma célebre, e polémica, frase: ”Creio na justiça, mas defenderia a minha mãe antes da justiça”.

Em casa de ferreiro espeto de pau

Realidade aparentemente excêntrica, quando muitos clamam pelo comando do processo vacinal a um militar. Em casa de ferreiro espeto de pau. "Exército e Marinha têm mais de 1500 militares que não estão vacinados Na passada semana a Marinha anunciou um novo surto de covid-19 na fragata Corte Real, com pelo menos 35 dos 182 elementos que constituem a guarnição infectados." (In Público")

Inevitabilidades

A inevitável e nefasta tentação para mais do que politizar, partidarizar, o processo de combate à pandemia. Não seria de esperar outra coisa fazendo coincidir uma crise politica, eleições gerais, disputas por lideranção de partidos, crise sanitária (pandemia), vacinação e tutti quanti. Repugnante. "O candidato à liderança do PSD Paulo Rangel acusou esta quarta-feira o Governo de "alguma incompetência e ineficácia" na administração da terceira dose da vacina contra a covid-19, mostrando-se preocupado com as consequências do atraso."

terça-feira, novembro 16

Albert Camus - biografia breve (20)

1956 - Numa última tentativa de conciliação no conflito argelino, que se agravava dia a dia, Camus viaja para a Argélia, onde lança, perante uma assembleia tensa e conturbada, um dramático apelo em prol de uma trégua que poupasse os civis: “ (…) porque mesmo o mais decidido entre vós conserva no meio da confusão da luta um recanto do seu coração, no qual, eu sei bem, não se conforma com o assassínio e o ódio e sonha com uma Argélia feliz. É a esse recanto em cada um de vós, franceses e árabes, que nós apelamos”. Olivier Todd, no final da sua biografia, Albert Camus, une Vie, (Gallimard, 1996), escreverá depois que “face ao problema argelino, Camus foi legalista e moralista (...) ele queria para a Argélia o que alguns, com Nadine Gordimer à cabeça, sonharam para a África do Sul: a coexistência na igualdade de direitos; dois povos numa só nação e um estado de direito multirracial”. Mas tal sonho tornara-se irrealizável na Argélia. Em maio, a Gallimard publica La Chute; em 2 de julho, Camus assina um texto de protesto contra a repressão em Poznan (Polónia); em 4 de novembro, as tropas soviéticas entram em Budapeste, esmagando a insurreição húngara; responde ao apelo dos escritores húngaros e pede à ONU que mande retirar as tropas da URSS da Hungria: Pour une démarche commune à l´ONU des intellectuels européens” (Franc-Tireur).

segunda-feira, novembro 15

Albert Camus - biografia breve (19)

1955 - Em fevereiro, viaja para a Argélia, visitando as regiões atingidas por um violento tremor de terra no ano anterior enquanto a crise política argelina se agrava, tendo sido instaurado, por Edgar Faure, Presidente do Conselho, o “estado de emergência”; em abril/maio, realiza um sonho antigo: a viagem à Grécia, onde profere uma série de conferências. Em julho/agosto, visita, de novo, a Itália; em Julho escreveu, no L´Express, dois longos artigos - Terrorisme et Répression e L´Avenir Algérien - acerca da situação argelina, apelando à realização de uma conferência com vista a alcançar uma solução política, uma “espécie de nação mista, na qual franceses e árabes viveriam livremente e em igualdade de direitos em solo argelino”; entretanto, a situação política agrava-se na Argélia e, no 1º de outubro, escreve Lettre à un Militant Algérien e outros artigos acerca da situação argelina, nos quais defende uma conciliação entre os interesses em presença, afirmando que “a Argélia não é a França” mas que nela vivem um milhão de franceses; a escalada da guerra na Argélia tornara-se insuportável para Camus que viveu a “infelicidade argelina como uma tragédia pessoal “. Apoia a Frente Republicana e o programa eleitoral de Mendes-France. Em novembro, publica, no Le Monde libertaire, L´Espagne et le Donquichottisme.

domingo, novembro 14

A Alemanha

Acerca da nova vaga por cá reina o otimismo de feição não alarmista, mas ...quando, muito em breve, o Parlamento for dissolvido como, em caso de necessidade, declarar o estado de emergência? Dia 30 de janeiro vamos às urnas, a ver em que condições! "A Alemanha está a preparar o regresso maciço ao teletrabalho, segundo um projeto de lei do Governo para deter uma nova vaga da pandemia covid-19, depois de o ter levantado em julho deste ano, noticia este domingo a agência France-Presse. A reintrodução da norma do trabalho no domicílio surge na sequência do aumento "inquietante" dos números de novos casos diários e de mortes, desde meados de outubro, num país em que a taxa de vacinação atinge apenas 67%." (In Lusa).

Albert Camus - biografia breve (18)

1953-1954 Camus desenvolve intensa atividade no campo teatral e toma posições públicas de protesto contra a prisão, na Argentina, de Victoria Ocampo, contra a intervenção da União Soviética em Berlim Leste e contra a repressão, pela polícia de Paris, de manifestantes da África do Norte; a Gallimard publica o volume Actuelles II (1948-1953); surge nos Cadernos a primeira referência ao esboço do que viria a ser a sua última obra, Le Premier Homme. Sua mulher Francine dá sinais de uma grave depressão.
O estado depressivo de Francine agrava-se e Camus vive um período de grande cansaço e desilusão; a Gallimard publica L´Été, na coleção Les Essais; profere intervenções públicas a favor de sete tunisinos condenados à morte; a 7 de maio, escreve nos Cadernos: “Queda de Dien Bien Phu. Como em 40, sentimento partilhado de vergonha e de fúria”; em setembro, Francine apresenta melhoras; viagens à Holanda e a Itália, para uma série de conferências, enquanto eclode, na Argélia, a luta armada de libertação.

Albert Camus - biografia breve (17)

1952 - Alguns dias antes da saída do livro, Camus dissera a Oliver Todd, seu biógrafo: “Apertemos as mãos. Porque daqui a alguns dias não haverá muita gente para me apertar a mão”. Camus sabia que a liberdade de pensamento nem sempre é bem aceite. Em L´Homme Révolté, Camus realiza um esforço sério para compreender o seu tempo, ousando condenar não só a barbárie nazi, mas também o Goulag, contra a opinião dos seus amigos da esquerda sob a hegemonia do Partido Comunista Francês. Em maio, na revista Temps Modernes, Francis Jeanson, a mando de Sartre, publica um artigo violento, e insultuoso, contra o ensaio de Camus, que responde dirigindo-se ao diretor da revista, ou seja, ao próprio Sartre, levando ao corte de relações entre ambos. Em dezembro, Camus publica Post-sciptum, texto no qual procura explicar as razões que o tinham levado a escrever L´Homme Révolté. Recusa-se a colaborar com a UNESCO, em protesto contra a admissão da Espanha franquista na organização.

sábado, novembro 13

Albert Camus - biografia breve (16)

1948-1951 – Em janeiro, termina a redação de L´État de Siège, no qual trabalhará ainda em julho; em outubro, esta peça sobe à cena, com encenação de Jean-Louis Barrault, tendo constituído um tremendo fracasso, tanto para a crítica como para o público.
Em julho/agosto de 1949, Camus realiza uma longa viagem à América do Sul, para proferir uma série de Conferências; regressa gravemente doente; durante a viagem, concluira a peça Les Justes que, em dezembro, sobe à cena, com encenação de Paul Oettly, tendo Serge Reggiani e Maria Casarés nos principais papéis. Segundo as suas próprias palavras, tratou-se de um semi-sucesso. No ano de 1950, além da publicação de Actuelles, Chroniques 1944-1948, Camus recupera da doença. Em 1951, termina a redação de L´Homme Révolté, publicado em outubro, pela Gallimard, desencadeando então uma forte polémica que ganhará sobretudo expressão no ano seguinte. Camus aborda, de forma desassombrada, para o seu tempo, a questão dos totalitarismos: “o fascismo é a glorificação do carrasco por ele próprio; o comunismo, mais dramático, a glorificação do carrasco pelas vítimas”.

Es el comienzo de algo que va a ser maravilloso, dizem elas.

Um movimento de mulheres lideres de esquerda em Espanha que pode mudar a geografia politico-partidária no país vizinho. Atenção a todos os imobilismos da nosssa esquerda em véspera de eleições. "No era el lanzamiento de una plataforma preelectoral para aglutinar a las fuerzas políticas a la izquierda del PSOE, pero las primeras palabras de Yolanda Díaz este sábado en Valencia han anunciado al inicio de un proceso de unión. “Es el comienzo de algo que va a ser maravilloso, pero no somos nosotras, sois vosotras”, ha afirmado la vicepresidenta dirigiéndose al público y en referencia a las expectativas despertadas por el acto que había organizado la líder de Compromís Mónica Oltra, para reunir también a la alcaldesa de Barcelona, Ada Colau, la portavoz de la Asamblea de Madrid, Mónica García, y la política ceutí Fátima Hamed Hossain. Todo un escaparate de los nuevos liderazgos en la izquierda capitaneados por mujeres y una prueba para testar posibles afinidades de cara a una futura alianza entre ellas en la que han reivindicado “caminar juntas” desde la diferencia para hacer posibles otras políticas. Los guiños a un plan colectivo han sido constantes a lo largo de las dos horas de charla. “Aquí tenemos un proyecto de país”, ha defendido la líder de Unidas Podemos en el Gobierno, aunque para el anuncio oficial, si se produce, habrá que esperar." (in El Pais")

A insinuante comunicação vacinal

"Natal com terceira dose não vai ser cumprido." ( In Expresso") Eis uma manchete insinuante no sentido em que afirma uma situação inevitável como se fosse um não cumprimento de metas. Basta referir o meu caso pessoal: tendo tomado a segunda dose a 28 de junho só poderei tomar o reforço a partir de 28 de dezembro. As metas nas atuais circunstâncias são meros incentivos à mobilização para a toma das vacinas, num contexto em que a crise politica ajuda muito às derivas populistas ainda para mais quando não é dificil estimar um agravamento da situação pandémica em coincidência com a campanha eleitoral.

sexta-feira, novembro 12

Albert Camus - biografia breve (15)

1947 - A 3 de junho, Camus abandona o jornal Combat, cuja redação se havia dividido a propósito da criação por De Gaulle do RPF (Rassemblement du Peuple Français); no dia 10 do mesmo mês, é publicado La Peste, edição da Gallimard: é o seu primeiro grande sucesso editorial tendo sido vendidos, entre julho e setembro, 96.000 exemplares, e com ele obterá o “Prémio dos Críticos”.

A nova vaga

"Las restricciones más severas vuelven a Europa: confinamiento para no vacunados, toque de queda y cierre de hostelería Las cifras de contagios y de ocupación de las UCI obligan a dar marcha atrás a quienes creían haber alcanzado la ‘nueva normalidad’. Países Bajos anuncia nuevas medidas y Austria quiere evitar que los no inmunizados salgan a la calle salvo para lo más necesario." (In "El País")

Nós por cá todos bem

"UE confirma “informações inquietantes” de manobras militares russas junto à Ucrânia Com cerca de 90 mil tropas perto da fronteira, Rússia garante que não invadirá a Ucrânia “a não ser sob provocação”." (in Público)

quinta-feira, novembro 11

Albert Camus - biografia breve (14)

1946 - Em março/junho, viaja para os Estados Unidos e Canadá; pelo outono nasce uma mútua, e profunda, amizade com René Char (“Char que eu amo como a um irmão”- dirá a Pierre Berger), que, para Camus, era mais do que um poeta, um resistente, o Capitão Alexandre da Resistência, chefe do “maquis”; em novembro, escreveu uma série de oito artigos para o Combat, reunidos sob o título Nem vítimas nem carrascos. Reescreve La Peste.

quarta-feira, novembro 10

Albert Camus - biografia breve (13)

1945 - No pós-guerra, Camus desenvolveu uma intensa atividade jornalística e política; uma das suas mais relevantes tomadas de posição refere-se ao lançamento da primeira bomba atómica sobre Hiroshima, a 6 de agosto, tendo, dois dias depois, publicado um editorial referindo “as terríveis perspetivas que se abrem à humanidade”; a 5 de setembro, nascem os seus filhos gémeos, Catherine e Jean. Representação de Calígula no teatro Hébertot e publicação, pela Gallimard, de Lettres à un Ami Allemand, em memória de René Leynaud.

Albert Camus - biografia breve (12)

1943-1944 - Estabelece contacto com o movimento clandestino da Resistência Combat; em junho de 1943 conhece Sartre, em Paris, aquando da estreia da peça As Moscas; encontra-se com Claude Bourdet, do Comité Nacional da Resistência, assumindo funções, cada vez mais importantes, no jornal Combat que o levaram a assumir, no início de 1944, a direção do jornal; a 6 de junho, as tropas aliadas desembarcam na Normandia; em junho, Le Malentendu sobe à cena, sob a direção de Marcel Herrand. O seu empenhamento no teatro, de que tanto gostava, propicia a paixão pela atriz Maria Casarès, com a qual manterá um longo relacionamento amoroso; em 21 de agosto, é editado o primeiro número legal do jornal Combat com um editorial assinado, pela primeira vez, com o nome de Camus, intitulado: Le Combat continue …; 25 de Agosto é o dia da libertação de Paris e Camus intitula o seu editorial La Nuit de la Vérité; a partir de 31 de agosto escreve no Combat uma série de notáveis artigos acerca da liberdade de imprensa.

terça-feira, novembro 9

Populismos vacinais

Rangel será a voz do populismo na campanha eleitoral já em curso: "Paulo Rangel desafiou o Governo, esta terça-feira, a convidar o vice-almirante Henrique Gouveia e Melo a coordenar, novamente, o processo de vacinação contra a covid-19."(Dos jornais). Está bastante bem identificado o fenómeno de politização pelos populistas de todos os matizes da vacinação contra a covid19. É uma fatalidade. Mas nem por isso deve deixar de ser veementemente condenada. Ora veja-se o meu caso pessoal: hoje fui ao portal do SNS consultar a minha ficha no que respeita ao registo de vacinas. A segunda toma da vacina contra a covid19 ocorreu a 28 de junho passado. Logo a dose de reforço só pode ser inoculada a partir de 28 de dezembro (seis meses depois). Mas entretanto já fui vacinado contra a gripe (na farmácia, mas já consta no portal do SNS). Este é um processo de vacinação sequencial de muito menor dimensão mas mais complexo do que o anterior que, no entanto, no periodo inicial (mesmo com o Vice Almirante) se confrontou com dificuldades da mesma natureza. Deixem o Vice Almirante em paz.

Albert Camus - Biografia breve (11)

1942 - Sofre uma recaída da tuberculose e, a meio de agosto, muda-se para as terras altas de Auvergne; em maio, é publicado pela Gallimard, L´Étranger, acabado de imprimir em 21 de abril, que continua a ser o livro mais vendido das edições Gallimard, a que se segue, em outubro, a publicação, pela mesma editora, de Le Mythe de Sisyphe. Escreve La Peste; a 8 de novembro, as tropas aliadas desembarcam em Marrocos e na Argélia, separando-o da mulher, que havia regressado à Argélia no mês anterior; reencontrar-se-ão somente após a Libertação.

Albert Camus - biografia breve (10)

1941 - Este regresso forçado à Argélia, para junto dos familiares da mulher, em Orão, cidade que detestava, coincidiu com uma época de dificuldades materiais; a 21 de fevereiro, escreve nos Cadernos: “Acabei Sísifo. Os três Absurdos estão terminados”. Faz circular o manuscrito de O Estrangeiro; em abril, regressa a Argel e, em novembro, O Estrangeiro é aceite pela equipa de leitura da editora Gallimard.

segunda-feira, novembro 8

Albert Camus - biografia breve (9)

1940 - Camus parte, em 14 de março, para Paris, onde se junta a Pascal Pia, assumindo funções no secretariado da redação do Paris-Soir. No dia 1º de Maio, escreve numa carta a Francine: “Acabei o meu romance […] Sem dúvida, não terminei o meu trabalho”. Tratava-se de L´Étranger. Nos inícios de junho, face à iminência da ocupação de Paris pelos alemães, Camus acompanha a redação do Paris-Soir para Clermont-Ferrand, instalando-se, em setembro, na cidade de Lyon; em novembro, junta-se-lhe Francine Faure e, a 3 de Dezembro, casam em Lyon, tendo como testemunhas Pascal Pia e três tipógrafos do jornal; logo de seguida, no final do ano, é despedido, regressando à Argélia, Orão.

Albert Camus - biografia breve (8)

1939 - Publicou, em Argel, Noces, nas edições Charlot; a França e a Inglaterra declaram, a 3 de setembro, guerra à Alemanha; o seu alistamento voluntário no exército é recusado por razões de doença. Proibição do Soir Républicain que havia sucedido ao Alger Républicain.

Portugal no pódio

Aguardam-se destaques nos OCS para esta notícia, comentários e debates em prime time!!! "A primeira edição do Índice Global de Políticas de Drogas coloca Portugal no terceiro posto, com 70 pontos em 100 possíveis, atrás da Noruega (74 pontos) e da Nova Zelândia (71)". (in Expresso)

Albert Camus - biografia breve (7)

1938 - Concluindo Noces, toma notas para Calígula e trabalha, intensamente, na atividade teatral, destacando-se uma adaptação de Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski, na qual interpretará o papel de Ivan Karamazov. Conhece Pascal Pia, redator-chefe do novo jornal Alger Républicain, do qual se torna redator. Faz a apresentação do primeiro número da revista Rivages.

domingo, novembro 7

Albert Camus - breve biografia (6)

1937 - Edita, em Argel, com uma tiragem reduzida, L´Envers et l´Endroit; elabora o projeto para La Mort heureuse e trabalha na redação de Noces; doente, parte para Paris, Marselha e visita o norte de Itália, deixando nos Cadernos notáveis apontamentos desta visita; de regresso à Argélia, recusa o lugar de professor em Sibi-bel-Abbès (Orão); o Teatro do Trabalho passa a chamar-se Teatro da Equipa. Em agosto de 1937, é excluído do Partido Comunista, acusado de “trotskista”. Encontra, pela primeira vez, Francine Faure, sua futura mulher.

Albert Camus - breve biografia (5)

1936 - Em abril, é proibida a representação de Revolta nas Astúrias, mas a peça é publicada pela editora Charlot; em maio, Camus obtém o Diploma de Estudos Superiores em Filosofia com uma tese intitulada Metafísica Cristã e Neoplatónica: Plotino e Santo Agostinho; nesse mesmo mês, a Frente Popular vence as eleições em França; a 17 de julho, tem início a Guerra Civil Espanhola que o marcou profundamente e na qual toma, declaradamente, o partido dos republicanos. Mais tarde será condecorado pelo governo espanhol republicano, no exílio, numa peculiar cerimónia, em que comparece sozinho; realizou uma viagem, marcante, à Europa Central e separou-se de Simone Hié.

Pelo 40º aniversário do jantar de extinção do MES

Em 7 novembro de 1981 realizou-se um evento improvável: a celebração da extinção de um partido politico, o Movimento de Esquerda Socialista (MES).
É notável como, invariavelmente, nessa celebração os rostos ostentam um sorriso de serena felicidade e alegria. O encerramento de uma experiência fascinante poderia ser celebrado com melancolia ou crispação mas, no caso do jantar de extinção do MES, aconteceu o contrário. Muitos anos passados, cada um de nós, ainda se revê, com prazer, nas imagens daquele momento simbólico de renúncia à continuidade de um projecto político. Porque nos libertamos? Porque fomos capazes de assumir o fracasso? Porque sabíamos que éramos, individualmente, capazes de prosseguir novos caminhos e abraçar novos desafios? Porque, afinal, nos reconciliávamos connosco próprios, reconstruindo os nossos sonhos utópicos? Como disse Camus: “Ir até ao fim, não é apenas resistir mas também não resistir.” (Fotografias de António Pais.)

Albert Camus - biografia breve (4)

1932-1935 - Prepara a sua licenciatura em filosofia na Universidade de Argel. Publica alguns artigos na revista Sud. Jean Grenier publica As Ilhas. Em 1933 Camus perfaz 20 anos e Hitler sobe ao poder. Em 16 de junho de 1934, Camus casa-se, pelo civil, com Simone Hié. Nesse mês, obtém o certificado de Psicologia e, em novembro de 1934, o Certificado de Estudos Literários Clássicos. O ano de 1935 revela-se fecundo: obtém o certificado de Filosofia Geral e História da Filosofia. Começa a escrever L´Envers et l´Endroit e, em maio, inicia a escrita dos Cadernos e funda o Teatro do Trabalho. Compõe, “em coletivo”, a peça Revolta nas Astúrias e, por influência de Jean Grenier, no outono de 1935, adere ao Partido Comunista Argelino.

Albert Camus - biografia breve (3)

1924-1931 - Frequenta o curso liceal nunca tendo esquecido o seu mestre Louis Germain a quem dedicará os Discursos da Suécia, pronunciados em dezembro de 1957, por ocasião da entrega do Prémio Nobel da Literatura. Segue Filosofia, tendo como professor Jean Grenier, um notável escritor, cuja influência se revelará decisiva na formação intelectual e humana de Camus. Pelos seus 17 anos, em 1930, atingido pela tuberculose, é acolhido em casa de seu tio Gustave Acault, dono de um talho, franco-mação, homem de uma cultura invejável, em cuja vasta e eclética biblioteca, Camus toma contacto com os clássicos e lê obras de Balzac, Victor Hugo, Émile Zola, Anatole France e de outros autores. Quando, em 1946, lhe anunciam a morte do tio Gustave confia a Jean Grenier: “Foi o único homem que me fez imaginar o que poderia ser um pai.” Em 1931, é obrigado a abandonar a paixão pelo futebol, de que chegou a ser praticante numa equipa da Universidade de Argel, devido aos primeiros sinais da tuberculose, doença que o impedirá naquele ano de fazer as provas de acesso à Faculdade.

Albert Camus - biografia breve (2)

1918-1923 - Camus frequenta a escola comunal de Belcourt tendo chamado a atenção de Louis Germain, seu professor, que admirando as qualidades do seu jovem aluno e apercebendo-se da vontade da família para que abandonasse os estudos por motivos económicos, intercedeu junto da avó de Camus (a verdadeira matriarca da família) para que lhe fosse permitido prosseguir. A diligência foi bem-sucedida e, em 1923, Camus ingressa, como bolseiro, no liceu Bugeaud, em Argel.

Albert Camus - biografia breve (1)

1913-1917- Albert Camus argelino, pelo nascimento, filho de emigrantes, nasceu pobre. A sua mãe, Catherine Sintès, era de ascendência espanhola (Baleares) e seu pai, Lucien Camus, de ascendência francesa. O pai morreu em 11 de outubro de 1914, no hospital militar de Saint-Brieuc, depois de ter sido gravemente ferido na Batalha de Marne. A família muda-se para o bairro Belcout, em Argel.

Albert Camus - no dia do seu aniversário

Albert Camus nasceu a 7 de novembro de 1913. Paul Valéry, desdenhando das biografias, escreveu um dia: “Ainda que pouco saibamos sobre Homero, permanece para nós intacta a beleza marítima da Odisseia”. Mas o exemplo de Homero, talvez rapsodo de textos alheios, não parece adequar-se à vida e obra de Albert Camus. Sabida a vida de Albert Camus nos damos conta de que alguns autores fazem também da vida uma obra. Quase nada na sua vida é provável, quase tudo é a demonstração de uma alargada coerência estilística que vai do pensamento ao gesto, do gesto à palavra, e da forma da palavra ao conteúdo da palavra. E por isso quanto mais sabemos sobre a vida de Albert Camus mais ela nos persuade da verdade da obra. E da urgência de a lermos, se andamos sedentos de verdade.

quinta-feira, novembro 4

Eleições

Abriu-se formalmente a crise politica com a antecipação das eleições legislativas. Temos data: 30 janeiro 2022. Apetece-me fazer um único comentário: é sempre melhor dirimir os conflitos de interesses, divergências ideológicas, em suma, a luta pelo poder pela via pacífica que o voto em liberdade propicia, uma extraordinária vantagem da democracia política. (Gosto muito de eleições!)

Batidas

"O Marcelo bateu com o carro à saida do Conselho de Estado, definindo o tom para os meses que se avizinham". (Mensagem recebida hoje do meu filho.)

terça-feira, novembro 2

Prazos, datas, congressos e lideranças ...

Até quinta feira próxima os cidadãos sem acesso a fontes de informação priviligeadas não ficarão a saber a data de eventuais eleições antecipadas que acontecem por ter, pela primeira vez na história da democracia pós 25 de abril, ter sido reprovada pela AR uma proposta de orçamento de estado. Mas o cerne das presentes discussões públicas a propósito da crise politica é a da data das eleições a decidir pelo PR/versus congressos partidários nos quais se disputam as respetivas lideranças (CDS/PP e PSD). Uma semana para a frente ou quinzena ou mês ... Na verdade a democracia representativa funda-se em partidos politicos que têm vida própria, órgãos, eleições internas tal como acontece com qualquer outra associação pois, afinal, os partdos politicos são associações embora, por ironia, a realidade associativa no seu conjunto seja pouco valorizada politicamente pelos partidos. Mas voltando à presente discussão acerca da data das eleições ainda não ouvi ninguém sequer sussurar acerca da hipótese de o PS resolver convocar um congresso extraordinário antes das eleições, nem ouvi falar na convocatória dos seus órgãoes próprios entre Congressos, atenta a presente crise politica. É no minimo estranho ...

segunda-feira, novembro 1

Oremos!

Por estes dias correm por diversos países europeus notícias de politicos que preconizam a administração da chamada dose de reforço (a 3ª dose). É o caso, por exemplo, da Alemanha e da Áustria. Os numeros de infetados com covid 19 disparam nesses paises com o consequente aumento de todos os indicadores negativos. Sabem qual é a diferença entre a situação desses países (incluindo Rússia e países de leste) e Portugal? É que nesses países a taxa de vacinação completa da população no melhor dos casos não ultrapassa os 65% enquanto em Portugal já ultrapassou os 85%. O discurso corrente em Portugal é curiosamente que tal se deve ao Almirante Gouveia e Melo e aos portugueses como se não existisse o SNS, ao mesmo tempo carregado negativamente com casos noticiados todos os dias. É um processo de contrainformação habitual visando atacar o SNS aproveitando as suas fraquezas e omitindo as suas qualidades que permitiram o sucesso do processo vacinal. Não tarda surgirão no caso mais que provável de eleições antecipadas os programas dos partidos de direita e quero ver o que preconizam para o sistema de saúde nacional e aposto que no meio de toda a retórica esses programas terão no centro uma só palavra: privatização. Entretanto a própria OMS dá como exemplo ao mundo o caso de Portugal. E estimo que a evolução da pandemia em Portugal, neste inverno, seja mutissimo menos preocupante que na maioria desses paises que incluem os chamados países ricos. Neste contexto criar as condições para desencadear eleições legislativas antecipadas será um das maiores erros politicos da história da democracia politica portuguesa. Oremos!

domingo, outubro 31

Santana Lopes

Santana Lopes volta a ter palco e entra em cena com sensatez: "Crise política. “Há aqui qualquer coisa que parece que nos escapa”: Santana Lopes considera “precipitado” avançar para eleições." (In Expresso).

sábado, outubro 30

Rendeiro

O extraordinário caso Rendeiro, ou acerca das qualidades da nossa elite financeira, ou de como a justiça dá a guardar o fruto do roubo ao ladrão, ou de como a extrema direita encontra terreno fértil para medrar: "Caso BPP: João Rendeiro trocou quadros vendidos por falsificações para tentar enganar a Justiça". (In Expresso)

quinta-feira, outubro 28

Pelo 20 º aniversário da morte de minha mãe

Passam hoje 20 anos sobre a morte de minha mãe, após ter participado na festa de aniversário do meu filho Manuel. Determinada como sempre, ativa até ao fim, quero crer que cumpriu o seu desejo. Sempre no meu coração!

quarta-feira, outubro 27

Quarta feira, 27

Hoje, quarta feira,27 a proposta de orçamento de estado do governo socialista (minoritário) foi chumbada na AR. É a primeira vez na história desta República que acontece um orçamento ser chumbado. Somente me apetece dizer que essa derrota se fica a dever a uma coligação negativa em que aos votos da direita e extrema direita se juntaram os votos do PCP e do BE. Não entendi o racional desta orientação de voto da PCP e do BE. A passagem do tempo poderá ajudar a desvendar este mistério que tanto se pode dever a uma política de contenção de danos (perder menos em eleições antecipadas já do que mais tarde) ou a uma visão estratégica de não desguarnecer a esquerda à emergência de pulsões populistas radicais, ou simplesmente à incapacidade de acompanhar a complexidade das mediddas de politica reformista inevitáveis a breve prazo, ou seja, à profunda vocação de imobilismo herdada das tradições doutrinárias que estão na génese e na raiz desses dois partidos.

Aniversário

Hoje é o dia de aniversário do meu filho Manuel. Parabéns para ele e sua mãe. Por entre todas as vicissitudes da vida caminhamos em frente rumo ao futuro. Um dia feliz.

terça-feira, outubro 26

Até quarta ...

Se a proposta de OE/2022, apresentada pelo governo, for chumbada na AR (saberemos somente na próxima quarta feira), a responsabilidade politica será do PCP e do BE. Não há volta a dar por mais retórica do comentariado nacional. Será mais uma coligação negativa - esta de grande envergadura - para levar a direita ao poder. A esquerda da esquerda voltou aos velhos tempos: prefere colocar-se do lado do protesto ao invés do lado da solução dos problemas nacionais. No fundo nada de muito importante no contexto das democracias liberais salvo se ... no fim a direita obtar por aliar-se à extrema direita para degustar por uns tempos (a meu ver curtos) do poder que logo será obrigada a abandonar quando se confrontar com o choque da realidade do exercício do mesmo, se não voltar a perder. A solução ideal para a presente crise politica seria uma maioria absoluta de um só partido (PS ou PSD) mais que improvável, ou o "bloco central" a dois (PS e PSD) reforçando o centro cuja força é necessário preservar a todo o custo para salvar a sociedade das tentações populistas radicais.

domingo, outubro 24

Lembrança

Uma lembrança para os incendiários que alimentam a ideia das vantagens de uma crise política: "Entre o caos e o desastre, a Bulgária aproxima-se do limite de internamentos por covid-19" (In Público)

A crise da oferta

"Algo no está bien en la globalización cuando el comprador de un coche debe esperar nueve meses para recibir su vehículo; cuando los barcos cargados de contenedores hacen cola durante más de una semana en los puertos de Róterdam, Amberes o Los Ángeles. Algo pasa cuando en la industria juguetera hay empresas que no saben si tendrán a tiempo sus productos para la lucrativa campaña navideña. Cuando las plantas de automóviles paran porque no tienen semiconductores y las obras se demoran ante la escasez de madera, aluminio o acero." (In El País)

sábado, outubro 23

OE

Este fim de semana saberemos, quase ao certo, se o OE será viabilizado evitando uma crise politica e a realização de eleições antecipadas que, na verdade, não interessam a ninguém. Uma notícia confirma o que já havia sido, desde há muito, pré anunciado: "OE. Sem "aproximação", Comissão Política do BE vai propor voto contra" (In "Notícias ao minuto"). Quanto mais o BE se afastar da viabilização do OE mais forte é a possibilidade de o PCP o viabilizar. Veremos!

quinta-feira, outubro 21

Que vivam os juízes

"Juízes recusam suspender julgamento de Ricardo Salgado" (In Público).

Para memória futura

A direita de ponta a ponta está esfomeada pelo poder, saliva, disparata e é obsequiada por manchetes deste calibre : "Paulo Rangel atinge Costa e Ventura com um só tiro: “Usando uma análise marxista, Chega e PS 'são aliados objetivos'”" (In Expresso).

terça-feira, outubro 19

Vacinação - o banal caso português

Em Portugal quase se não fala do processo de vacinação, como se fora a coisa mais natural do mundo, um caso banal de sucesso. O entretém passou a ser a arte de derrubar governos, uma arte cara para burro, mesmo para o controle da pandemia, punhamo-nos a pau ... "A Letónia inicia, na quinta-feira, um confinamento de quase um mês, que incluirá recolher obrigatório, devido ao agravamento do número de infecções por covid-19 no país, onde a taxa de vacinação é das mais baixas da União Europeia." (In Público).

segunda-feira, outubro 18

Aristides Sousa Mendes

A homenagem tardia a Aristides Sousa Mendes. Amanhã o país faz justjiça a um herói português com honras de Panteão. Aristides Sousa Mendes, diplomata, cônsul português em Bordéus, no período da Segunda Guerra Mundial, emitiu "vistos" que salvaram a vida a milhares de refugiados, na sua maioria, judeus. Não era, no entanto, judeu. A sua acção resultou de um imperativo de consciência. A 17 de Junho de 1940 tomou essa decisão. Foi perseguido e castigado por Salazar tendo falecido, desonrado e na miséria, em 1954.

domingo, outubro 17

Um dia em Moura

Um dia destes um "Membro do Chega disparou contra família sueca em Moura "por ódio racial"" (In JN) Como diria um colaboracionista dos antigos trata-se de "um pequeno episódio sem importância de maior". É sempre assim o caminho para a tirania: primeiro banaliza-se o mal, depois o mal instala-se.

sábado, outubro 16

O centro direita em crise

Uma óbvia e boa pergunfa do Observador: "Com a derrota na Alemanha e o escândalo na Áustria, o centro-direita europeu está oficialmente em crise?" A resposta é sim porque ainda há a acrescentar outros sinais: a ascenção na Noruega de um governo de centro esquerda, a vitória do PD nas autárquicas em Itália (como derrota estrondosa da extrema direita), a reorganização em curso do Podemos em Espanha, ... , os povos europeios apostam em soluções politicas que assegurem estabilidade e segurança afastando-se de aventuras radicais e ainda mais das que abram o caminho para o poder de extremistas.

sexta-feira, outubro 15

Alemanha

Na Europa há abundantes sinais de viragem ao centro esquerda como é o caso da Alemanha. A solução politica encontrada foi mais rápida do que seria expetável: "Olaf Scholz, líder do SPD (Partido Social-Democrata) da Alemanha, anunciou esta sexta-feira que chegou a acordo com os Verdes e os Liberais (FDP) para formar um governo de coligação. Confirma-se assim a solução "semáforo" - devido às cores dos três partidos - prevista durante a campanha eleitoral - é a primeira vez que tal acontece na história da Alemanha."

quarta-feira, outubro 13

Os médicos e a greve

“Não aguentamos mais.” Médicos avançam para greve de três dias no fim de novembro (In Expresso). Coloco-me a mim mesmo uma questão: os médicos grevistas que trabalhem no SNS e, simultâneamente, no privado fazem greve total, ou seja, no SNS e no privado? Ou somente no SNS?

Orçamento de Estado (2)

A nossa esquerda da esquerda cria uma perceção pública, a propósito do orçamento, de que só é capaz de reinividicar mais do mesmo. Recua decénios (senão séculos) no modelo do debate público e natureza das suas reivincações orçamentais, atingindo o grau zero da diferenciação face ao movimento sindical. Quanto ao PS que tal se pensasse em conceber e realizar uns "Estado Gerais" nos quais pudesse ser agregador das forças reformistas progressistas, tomando a iniciativa na formulação de propostas que colocassem no centro da sua agenda politica as principais questões do nosso tempo, em particular a ambiental, e também a sempre moderna questão social.

terça-feira, outubro 12

Orçamento de Estado

"PCP junta-se ao BE e vota contra proposta de OE tal como está". É esta a notícia do dia acera do OE. A chave da sua interpretação é o "tal como está", ou seja, aberto à negociacião. Em qualquer caso se o PCP e o Bloco, após a fase de negoociação que agora se abre, conjugarem os seus votos no sentido do chumbo da proposta de OE, ou muito me engano, ou cometem suicídio politico.

domingo, outubro 10

A esquerda da esquerda em Espanha

Em Espanha o espaço polítco à esquerda do PSOE tenta reorganizar-se em torno de Yolanda Díaz."Podemos resucita el "objetivo" del 'sorpasso' al PSOE para el "frente amplio" de Yolanda Díaz" (In El Mundo). Deveria merecer a melhor atenção da esquerda portuguesa.

sábado, outubro 9

Cavaco outra vez

Cavaco Silva enquanto vivo nunca perdoará à esquerda e aos socialistas a ousadia de ser governo (eleito). Mais ainda quando está em causa gerir recursos financeiros que se estimam abundantes. Não admira assim que uma vez mais venha a terreiro escrever contra o "perigo vermelho", quando na Europa e não só a esquerda recupera posições desde a Alemanha à Itália, dos USA ao Brasil. Haja paciência. Como escrevi faz anos Cavaco Silva é um “amorfocrata”: um democrata com ausência de forma definida. Tolera os partidos e aceita a constituição.

sexta-feira, outubro 8

85%

Um resultado extraordinário que tenderá a ser banalizado e esquecido. Mais direi que com o inicio do processo de inoculação da terceira dose de reforço vai reiniciar-se a campanha negativa parindo notícias a propósito de todas as mais irrelevantes falhas... Uma aposta? "Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas, anuncia a conquista de 85% dos portugueses imunizados e o início da terceira dose à população com mais de 65 anos já na próxima semana. É oficial. Portugal é o país do mundo com a maior cobertura vacinal contra a covid-19: tem 85% da sua população com duas doses da vacina." (In Expresso).

Bolsonaro

Tudo o que Bolsonaro diga mal de Portugal, com respeito à pandemia, só pode vir em benefício de Portugal. O Brasil atingiu hoje a cifra de 600 000 mortos por covid19. "Presidente brasileiro recorreu esta quinta-feira a uma série de artigos de jornais para defender o impacto económico negativo das medidas de confinamento durante a pandemia." (In Expresso.)

quarta-feira, outubro 6

Feytor Pinto

Morreu o padre VÍTOR FEYTOR PINTO: "A MORTE É APENAS UMA PORTA: DO LADO DE CÁ É O LIMITE DA NATUREZA, DO LADO DE LÁ É A TERNURA DE DEUS" (In Expresso). Convidou-me quando axercia as funções de presidente do INATEL, por volta dos anos da EXPO98, para participar em duas Pastorais da saúde, no Vaticano, a que acedi com muito gosto. Entendi melhor o papel da Igreja Católica, sua implantação, ações e diversidade de posicionamento politico/ideológico dos seus mais altos representantes em todos os continentes. O convite foi desinteressado mostrando o caráter do Padre Feytor Pinto, que nunca mais esqueci e sempore muito estimei. RIP.

terça-feira, outubro 5

Queda do Governo de centro direita romeno

La guerra fratricida entre las dos principales formaciones de la coalición gubernamental de centro-derecha —el Partido Nacional Liberal (PNL) y el centrista Unión Salvar Rumania (USR)— se saldó este martes con la caída del primer ministro, el liberal Florin Citu. El jefe de Gobierno saldrá del cargo tras perder una moción de censura presentada por la oposición socialdemócrata, que obtuvo el mayor respaldo en las dos cámaras legislativas de la historia del país desde el derrocamiento en 1989 del régimen comunista.(In El País)

A República

111 anos depois a República, após vicissitudes diversas, continua viva, sem contestação de monta no nosso país. Lembra-me sempre que a sua implantação ocorreu um mês depois do nascimento do meu pai Dimas. Longinquos tempos que a memória ainda alcança sem necessidade de recurso aos livros de história. Que Viva!

segunda-feira, outubro 4

Esquerda vence autárquicas em Itália

A esquerda italiana em posição de vencer as autárquicas na Itália: "La izquierda italiana se recompone con una victoria en las grandes ciudades La derecha populista queda muy tocada y Roma es el único gran municipio donde tiene alguna posibilidad de competir en la segunda vuelta" (In El Pais.).

domingo, outubro 3

Yolanda Díaz

..."Yolanda Díaz como líder de Unidas Podemos ha consolidado una tendencia: es la dirigente política mejor valorada, por encima incluso de Pedro Sánchez, aunque solo sea por una décima: 4,6 por 4,5. Díaz tiene excelentes valoraciones no solo entre los suyos, sino también entre los socialistas o los votantes de Más País. Y ni siquiera genera mucho rechazo en la derecha." In El País (Conheci pessoalmente Yolanda Díaz no passado dia 8 setembro na Cimeira Ibérica da Economia Social, em Coimbra. É uma personalidade muito marcante e carismática. A ver o que o futuro lhe reserva.)

sábado, outubro 2

Calmaria

Mar chão, não mexe uma folha no arvoredo, silêncio, o céu azul pintado de nuvens benévolas.

sexta-feira, outubro 1

Rejubilemos

A direita rejubila com o resultado das eleições autárquicas. Por palavras minhas sem citar dizem em síntese algo assim: não é o fim, mas pode ser o principio do fim. Cuidemos da democracia para que possa ser sempre possível, através do voto livre, nutrir expetativas de futuro. Mas ainda é cedo ... rejubilemos, mas pela democracia.

quinta-feira, setembro 30

O Brexit arruína o Reino Unido

No "El Mundo" acerca da crise de abastecimentos no Reino Unido: "El desabastecimiento que atenaza al Reino Unido es alimentario y energético, pero también humano. En estos momentos, el país tiene 2 millones de ofertas de empleo activas, un déficit de trabajadores auspiciado por la fuga de extranjeros durante la pandemia pero provocado, fundamentalmente, por un Brexit que impide que otros tomen el lugar de los que decidieron volver a su lugar de origen. Lo que en un principio era uno de los objetivos fundamentales de aquellos que apoyaban la salida de la Unión Europea, se ha convertido en un problema que está lastrando la recuperación económica post pandemia a todos los niveles."

terça-feira, setembro 28

Gouveia e Melo

A notícia é a seguinte e venho aqui uma vez mais para saudar efusivamente Gouveia e Melo (fardado como queira, ou não), pelo seu contributo no trabalho de combate à pandemia; aconteça o que acontecer ficará na história: "Vice-almirante arrumou o camuflado. “Chegámos ao topo da montanha” Task force para a vacinação contra a covid-19 deixa de existir, mas mantém-se um núcleo de transição que durante os próximos dois a três meses vai trabalhar com o ministério da saúde para internalizar práticas que se aprenderam com a pandemia."

João Rendeiro

A notícia é a que transcrevo a seguir e venho aqui para mostrar a minha indignação para com o aparelho judiciário nacional: "João Rendeiro, que terá de se apresentar em tribunal até sexta-feira, disse ao SAPO24 que está no estrangeiro e não vai regressar a Portugal. "Estou no estrangeiro e não vou voltar", disse. O ex-banqueiro foi hoje condenado a três anos e seis meses de prisão efetiva num processo por crimes de burla qualificada, o terceiro em que se vê envolvido."

segunda-feira, setembro 27

Lisboa - resultados

Eleições autárquicas em Lisboa - resultados. Da minha previsão/adivinhação dos resultados assinalo um desvio de fundo nos dois partidos mais votados. Afinal o PS desceu mais do que seria de prever - cerca de 25 000 votos - e o PSD tendo subido pouco ganhou à custa da descida do PS, tudo comparado com os resultados de 2017. Não foi o PSD (Moedas) que ganhou foi o PS (Medina) que perdeu Lisboa. PSD - 34,3%; PS - 33,3%. Assinalo os sinais de Moedas vencedor ser uma reeencarnação do bloco que apoiou Passos Coelho logo conflitual com Rio. Nos restantes partidos a minha previsão/adivinhação andou perto do resultado final.

sexta-feira, setembro 24

Eleições - resultados de Lisboa

Uma conjetura da minha imaginação, o jogo pelo jogo, para o resultado das eleições autárquicas para a CM Lisboa (partidos mais votados em % sem especificar as coligações): PS - 37 a 39% PSD- 27 a 29% PCP- 9 a 11% BE- 6 a 8% IL- 3 a 5%

quinta-feira, setembro 23

Política

Alguns aspetos deste periodo eleitoral fazem-me lembrar periodos eleitorais passados, nalguns dos quais, aliás, participei ao de leve. Lembro-me dos tempos de eleições quando o candidato/presidente do PSD era Cavaco Silva, em 1987 e 1991, nas quais obteve maioria absoluta. Portugal havia aderido à CEE em 1986 e começavam a ser anunciados, e a chegar mesmo, os fundos da CEE. Uma "pipa de massa" que permitiu, dando de barato desperdicios e perversões, criar as infraestruturas que não existiam ou estavam uma lástima. Ora Cavaco Silva nas campanhas eleitorais não se referia aos fundos? Não eram os fundos, resultantes da adesão à CEE, (obra de Soares face à qual num primeiro momento Cavaco se opôs) o pano de fundo da politica na época? O que mobilizava a esperança e a vontade dos portugueses mesmo que não fossem da área politica da direita? A Europa e os fundos que nos proporcionou! Assim foi nesse tempo, assim será sempre, seja qual for o partido incumbente e o seu lider. Ninguém pode exigir a um lider partidário que faça o jogo dos adversários. No caso presente António Costa por coincidência de calendários, pois nestas coisas não há adivinhos, tem a seu favor o sucesso da vacinação (Portugal é o pais do mundo com a mais elevada taxa de vacinação completa), e de novo fundos europeus que muito se devem ao seu trabalho no decurso da presidência portuguesa do Conselho da UE. É uma realidade que se imporia sempre, fosse qual fosse a vontade dos protagonistas politicos em presença. Não ando na politica pura e dura, nem nunca andei, salvo nos primórdios do MES, por ter sido muito marcado por uma frase de Camus que li pelos meus 20 anos nos seus Cadernos:"Não sou feito para a política pois sou incapaz de querer ou de aceitar a morte do adversário." Ora quem lá anda a sério ...

quarta-feira, setembro 22

Eleições

Importantes, importantes são as eleições legislativas na Alemanha. No mesmo dia das autárquicas em Portugal com a diferença daquelas se destinarem à escolha do governo do país mais decisivo para a orientação politica e económica da Europa. Com estas eleições tudo vai mudar, aparentemente, pouco na Alemanha e em Portugal. Mas sempre poderão ocorrer mudanças incrementais que podem fazer toda a diferença. Se o SPD ganhar na Alamanha a esquerda europeia ganha alento apesar da politica alemã se deslocar somente uns milimetros para a esquerda. Se o PS ganhar em Portugal, ou seja mantiver o maior numero de presidências de Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, apesar de todos os partidos (ou quase todos) clamarem por vitória, tudo se manterá, no essencia, na mesma. Uma grande diferença poderá ser em ambos os casos a derrota dos partidos da extrema direita, isso sim uma coisa importante.

terça-feira, setembro 21

A derrota dos negacionistas

Está em vias de se tornar banal a notícia de se ter atingido a meta de 85% de cidadãos portugueses (melhor dito, que vivem em Portugal) com a vacinação completa contra a COVID19. Julgo que não andarei longe de acertar se disser que tal meta será atingida na próxima 3º feira, dia 28 setembro. Como havia dito muito tempo atrás aguardemos pelo final de setembro. Não vou fazer contas mas este resultado é um dos acontecimentos mais extraordinários dos últimos muitos anos em Portugal. Dele se podem retirar muitas conclusões mas, neste momento, retiro só uma: os negacionistas são uma ultraminoria no nosso país e foram derrotados.

segunda-feira, setembro 20

Saber receber quem precisa

Esta é uma notícia da LUSA: "Portugal recebeu este domingo grupo de 80 afegãos - Grupo integra, na maioria, atletas da equipa de futebol feminino e seus agregados familiares. Sobe assim para 178 o total de cidadãos acolhidos após a emergência humanitária no Afeganistão, anunciou o Governo"

sábado, setembro 18

José-Augusto França

RIP. Morreu o José-Augusto França (1922-2021). Quando a maioria não faz ideia do que a morte de uma pessoa representa para o país.

Fernando Pimenta

Fernando Pimenta sagrou-se hoje campeão do mundo em canoagem (K1 1.000) após um conjunto muito alargado de outros grandes resultados. O que estão à espera para lhe fazer a homenagem que se reserva aos grandes campeões?

quinta-feira, setembro 16

Eleições Autárquicas

Dia 26S vamos uma vez mais a votos. Não deixa de ser importante este simples facto de ir a votos, em continuidade desde o 25A. Ao longo deste tempo de III República podemos sentir orgulho de um regime democrático estável, apesar de cansado que o crescimento da abstenção evidencia. Mas sermos chamados a ir a votos, a fazer escolhas livres, após campanhas eleitorais com diversidade de candidatos, é um bem maior. Saibamos defender o modelo democrático que emergiu do 25A sem receio de o reformar de forma cuidada, informada e debatida. Por vezes esquecemos-nos da necessidade de refletir e ousar reformar os modelos de organização que se institucionalizam.

terça-feira, setembro 14

Setembro vacinal

Leio por aí, pois hoje é terça feira, que foi atingida a meta dos 80% da população portuguesa vacinada com duas doses. Deveremos estar a falar de contas que consideram a população elegível, ou seja, a partir dos 12 naos de idade. Como era estimável esta meta seria atingida por esta altura antecipando os 85% previsiveis no final do mês de setembro. O tema da vacinação infelizmente tornou-se banal mas este resultado é o mais notável acontecimento nacional desde muitos anos atrás. Aconteça o que acontecer daqui para a frente esta vitória numa batalha crucial em prol da saúde pública mostra um país moderno, um povo conquistado pelos valores da racionaliddae e do bom senso cidadão. Basta ter ouvido as muitas entrevistas solicitadas pelos canais de televisão expontâneas aos jovens dos 12 aos 17 anos nos centros da vacinação para entender que a consciência cidadã da juventude, o país do futuro, está muito para além de algumas conjeturas precipitadas acerca da cultura cívica dos jovens, tornando os negacionistas um grupo ultraminoritário. Não vale a pena associar o calendário politico eleitoral ao do combate à pandemia e ao sucesso da vacinação, pois como diria o outro o que tem que ser tem muita força. No final de setembro voltamos a fazer contas.

segunda-feira, setembro 13

Os negacionistas/fascistas

É um fenómeno de âmbito internacional com diversas expressões em cada país. Surgem tomando como pretexto o processo de vacinação ou outras medidas sanitárias tendo explodido com o surgimento da pandemia covid 19. Em muitos países dispõem de respaldo de lideres populistas como é o caso do Brasil. Na verdade pretendem atacar os regimes democrático-liberais dizendo-se defensores inflamados da liberdade. No nosso país parece terem tomado por alvo Ferro Rodrigues que está empossado democraticamente como a segunda figura mais relevante do Estado democrático. A tolerância para com os intolerantes tem limites. Venho aqui para afirmar que o poder judiciário tem por dever ser firme contra os criminosos. É o caso destes negacionistas/fascistas.

sábado, setembro 11

Nuno Brederode Santos (um almoço tardio) - 2

Em resposta ao meu post anterior, comentando algumas incidências do I Cngresso do MES, nos longinquos idos de dezembro de 1974, Nuno Brederode Santos retorquiu ao seu estilo com esclarecimentos relevantes: Meu caro Eduardo: Começo, se mo permites, pela matéria dos autos, com comentários pontuais. Talvez nem te esteja a corrigir, mas o que admito é que, à partida para o Congresso fundacional do MES, eu queria que os meus amigos (pessoais e políticos) saíssem. Isto era do pleno conhecimento de alguns, o que não significa que merecesse a sua concordância. Porque a quase totalidade foram para lá na melhor fé, embora sabendo que havia o risco de não terem margem para ficar. Aquilo em que eu diferia deles nem é, pelo menos no comum das situações, muito bonito: e, por isso, lhe chamei «reserva mental». Para corresponder à honestidade intelectual com que vens tratando do assunto – um assunto em que estás completamente envolvido – senti-me na obrigação compulsiva de te fazer saber que havia quem, do outro lado (o meu), tivesse por aliados os «zulus» que queriam correr com os «doutores». Ora isso não faz de mim «tenor». Mesmo que eu tivesse qualidades pessoais para isso, ou a ambição disso – o que não era manifestamente o caso – não conseguiria sê-lo: cheguei a essa novela muito tarde e, ainda por cima, tinha de lidar em simultâneo com velhos amigos, que conhecia de ginjeira, mas também com outros, que eles bem conheciam e eu não (por se tratar de amizades que eles fizeram desde 69/70, ou seja, quando começou a minha ausência «militar»). O que eu fiz reflecte, aliás, o que te digo: ao datar a minha carta de saída do primeiro dia dos trabalhos, eu coloquei-me na posição, de pressionar os outros, é certo, mas também na de eu próprio já não ter recuo. Afundei as caravelas, como o Cortez. Mas até nisso há distinções. Porque outro signatário, que foi o J. M. Galvão Telles, foi sendo empurrado para essa atitude. Mas não havia nele senão abertura: e a prova, que tu mesmo já invocaste, é que levou a «militância» ao ponto de arranjar uma sede de que era ele, obviamente, o verdadeiro penhor. O que eu queria não fica retratado com aquilo a que chamas «federação inorgânica de grupos convergentes», porque era mais simples (ainda que pouco maduro, admito hoje). O que eu queria era que entrássemos para o PS, mas ganhando o tempo de um compasso de espera com dois fins: a) O primeiro e mais importante, era deixar passar a fase do PS como cabeça da frente nacional de resistência ao esquerdismo (o que arrastaria também o desbloqueamento de algumas tensões que subsistiam entre o Melo Antunes e «os 9», de um lado, e a direcção do PS, do outro); o segundo era permitir a «digestão» e o «luto», de que a maior parte dos meus amigos políticos carecia após o malogro da aposta no MES. Era, pois, necessário um interinato. E, para esse, eu queria um «grilo do Pinóquio», um «clube» de reflexão ao qual, numa carta que ainda enviei de Moçambique, eu chamava, assumindo o paradoxo, um «PSU sem carácter partidário». De facto, a «coisa» tinha de ser compatível com filiações partidárias. Por exótica que tal liberdade hoje pareça. Basta citar o caso do César Oliveira, que não aceitaria acompanhar uma saída conjunta, se ficasse tão dela prisioneiro quanto se sentia no MES. Ora, com pequenas adaptações, foi o que veio a suceder com a saída do MES em grupo e a criação do grupo de Intervenção Socialista (que durou até à nossa entrada para o PS, em 1978) não andou longe disso. Quanto ao decurso do Congresso. De facto, já sabíamos que a maioria (a tal a que eu chamava «zululãndia») iria fazer valer os seus direitos e colocar os «doutores» em minoria. Mas havia dois imponderáveis. O primeiro era saber se resistiriam, no contexto da época, à assunção formal do marxismo-leninismo. O segundo era quais os sinais que dariam a essa minoria, indiciadores da tolerância e flexibilidade com que se preparavam para tratá-la. Ora as respostas dadas foram ambas claras. Na primeira questão, porque o obreirismo patente nalguns discursos já falaria por si mesmo, mas o marxismo-leninismo foi, de facto, formalmente proclamado na moção que viria a ser a vencedora. Na segunda questão, porque os discursos da maioria podiam reflectir três hipotéticas atitudes: afirmar princípios, mas ressalvar algum pluralismo; fingir – algo «arrogantemente», diria eu – que a minoria nem existia; ou, na prática, convidá-la a sair. A nossa percepção foi a de poucos discursos se terem colocado na primeira hipótese, quase todos se colocando na segunda e o Afonso ter encarnado explicitamente a terceira (numa resposta explícita e «ad hominem» ao discurso anterior do Jorge Sampaio). Claro que o factor geracional – eu diria mesmo de amizade pessoal – que a muitos de nós ligava o Afonso teve o efeito «demolidor» de que tu falas. Para terminar, quero só esclarecer que não foram poucas as pessoas que quiseram então largar o nascente MES, mas sem qualquer propósito de virem a ligar-se ao PS ou a qualquer outro partido. O César, por exemplo, viria a militar na UEDS; o João Bénard ou a Luísa Castilho são exemplos dos muitos que, nos primórdios de 1978, não quiseram acompanhar a entrada no PS e preferiram ficar independentes. Quanto ao resto, meu caro Eduardo, não estou em condições de discutir o muito mais que vais apreciando e comentando: a aventura do MES até ao fim. Mas reitero que muito me impressionou o teu raríssimo e genuíno esforço de autocrítica, nos textos que já publicaste na blogosfera. Além do mais, gostei muito da conversa. E nem desgostei da refeição. É, pois, uma experiência a repetir, se e quando estiveres para aí virado. Abraço Nuno