Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, maio 1
HOJE É DIA DE MAIO
Hoje é dia de Maio, dizia-se no campo de meus avós, tão longe no tempo, tão perto na memória. Hoje passam 48 anos sobre a data em que se desfizeram muitas dúvidas acerca da natureza da revolução de Abril.
Por toda a parte ressoaram os passos de milhões de manifestantes. Num repente um povo submisso parecia ter-se transformado num povo rebelde. Mas as revoluções só sobrevivem naqueles breves momentos de fusão em que tudo parece ser possível.
Torga, apesar do seu cepticismo, vigilantemente crítico, escrevia, pouco tempo depois, no seu Diário:
“Aveiro, 9 de Junho de 1974 – A caminho da Costa Nova, com a sensação de que os barcos navegam no meio dos milheirais.”
E, ainda antes, a propósito das suas incursões pela política:
“Coimbra, 1 de Junho de 1974 – Discurso num comício socialista. Ainda hei-de escrever meia dúzia de linhas a propósito da situação trágico-cómica de um poeta em bicos de pés num estrado cívico, a esforçar-se por estar à altura da sua reputação e ao mesmo tempo a saber que ninguém o ouve.”
Jorge de Sena, na América, escreveu em 2 de Maio de 1974 o poema “Com que então libertos, hein?...”: “Falemos de política, / discutamos de política, escrevamos de política, /vivamos quotidianamente o regressar da política à posse de cada um /essa coisa de cada um que era tratada como propriedade do paizinho. /Tenhamos sempre presente que, em política, os paizinhos/ tendem sempre a durar quase cinquenta anos pelos menos. /E aprendamos que, em política, a arte maior é a de exigir a lua/ não para tê-la ou ficar numa fúria por não tê-la, / mas como ponto de partida para ganhar-se, do compromisso, /uma boa lâmpada de sala, que ilumine a todos. (…)
As quatro fotografias, a preto e branco, sobreviveram 48 anos tal como algunsde nós que nelas se podem rever. Nesta última, entre muitos dos activistas do MES que, publicamente, se anunciava, vejam se conseguem reconhecer o Eduardo Ferro Rodrigues!
QUE VIVA O 1º DE MAIO!
sábado, abril 30
O CARTEL
O capital financeiro, a Banca manda em tudo, é juiz supremo da vida das nações. Em Portugal com a particularidade de termos chegado ao fim da linha, com desenho surrealista, de um capitalismo sem capital, capitalistas sem banca própria, reduzidos à pública CGD que, imagine-se!, vai partilhar sede com governo, tudo o resto (que é quase tudo) tomado pelo capital estrangeiro (salvo Montepio e Caixa de Crédito Agrícola, pequenos bancos da economia social, originários da 1ª república, sempre na mira da voracidadde alheia.) "Não há sentença judicial final ...!
"Não há sentença judicial final do cartel da banca, porque o processo vai ter de ir para esclarecimentos para o Tribunal de Justiça da União Europeia. O caso será suspenso até vir a resposta desta instituição europeia ao Tribunal de Concorrência, Regulação e Supervisão, em Santarém."
quinta-feira, abril 28
ANIVERSÁRIO
Aniversário, num tempo repleto de novos desafios, ameaças à paz entre os povos e as nações, sinais de guerra que me convocam para espreitar oportunidades e vontade agir pela mudança do modelo de sociedade onde impera a crescente desigualdade social. Sempre mantendo viva a memória dos outros sem os quais não somos ninguém. Aos meus, avós, pais, irmão, companheira, filho, família alargada de todos os ramos que em mim desaguou e sempre me enriqueceu. A todas, e todos, as amigas, e amigos, que me deram o privilégio de comigo conviverem e me oferecerem com sentido de dádiva parte de suas vidas. Quantas alegrias e sofrimentos partilhamos, olhares em flecha postos no futuro radioso que sonhámos, e tantas vezes vimos florescer ou desiludir. Sempre com o olhar posto na vida vivida com esperança no futuro e os revezes encarados como oportunidades de novas conquistas. Como soe dizer-se, otimista na vontade, pessimista na razão. Aniversário que escrevo como se fora a primeira palavra de um dicionário aberto a todas as inscrições que celebrem a vida.
segunda-feira, abril 25
25 ABRIL - QUE VIVA!
Neste 25 de abril escrevo aqui bem perto da casa onde nasci, dia claro e temperado, como naquele longinquo dia em que as circunstâncias fizeram com que tivesse participado na ação militar que derrubou a ditadura. Um golpe militar que desaguou numa revolução popular, singular, como havia sido singular a ditadura que caiu com estrondo em poucas horas. Não vem ao caso dissertar acerca destas singularidades, mas apetece-me reafirmar que fizemos, todas e todas os que dicidiram por vontade própria participar ativamente no derrube da ditadura, o que tinha que ser feito, honrando a memória dos que desde 1926 tentaram por todos os meios, com sacrificio da sua liberdade e, quantas vezes, da vida, restaurar a democracia perdida com o 28 de maio de 1926 que derrubou a 1ª República. No dia seguinte ao da vitória eleitoral de Macron em França, o 25 de abril celebrado como dia da libertação em Portugal e em Itália, podemos saudar a França, as francesas e franceses, que com o seu voto permitiram manter aberta aquela pequena frincha pela qual se ilumina a vida dos povos que aspiram a viver am liberdade. Que Viva o 25 de Abril!
(Na porta de armas do quartel do Campo Grande em Lisboa, com o João Mário Mascarenhas, num dos dias entre 25 e 30 abril de 1974)
25 ABRIL - O GOSTO DA LIBERDADE
No dia 25 de Abril de 1974 em que a história, o imaginário e o simbólico se fundiram, num magna único, as raízes falaram mais alto. Uma das recordações mais fortes do 25 de Abril, que persistem em mim, foi a preocupações em telefonar, naquela manhã, do quartel onde ficara enclausurado, para casa de meus pais.
Talvez seja incompreensível a persistência desta memória mas ela explica-se pelo facto de ter vivido, a maior parte da minha vida, longe da família, rodeado pela memória das paredes brancas, da luz do sul, dos cheiros da terra com vista para o mar. Das vozes e dos olhares que me viram crescer. Das ruas que conheço de cor e sou capaz de imaginar ao pormenor. Do rosto daqueles que são o rio no qual desagua o meu imaginário.
Naquele momento mágico, a madrugada do 25 de Abril de 1974, em que o sonho de gerações de portugueses se transformou em realidade veio ao cimo das minhas preocupações o que, em regra, nunca constituía preocupação: falar com a família para lhes dar a boa nova, trocar uma palavra de regozijo, ofertar um cravo imaginado, abraçar o futuro, verter uma lágrima, agradecer a liberdade que me tinham oferecido mesmo antes dos cravos brilharem nos canos das espingardas.
Reparei então como não somos nada sem as raízes que nos prendem ao chão das nossas origens.
O 25 de Abril foi uma vertigem de libertação que ainda mais despertou em mim o gosto da participação cívica. Ganhei esse gosto pela iniciativa do meu irmão Dimas à época em que todos os pais hesitam acerca do destino dos seus filhos. Os gostos não são inatos. Não nascem connosco. São uma construção na relação com o mundo que nos rodeia.
Sendo um filho tardio recebi dos meus pais a liberdade de escolher a minha vida e do meu irmão a discreta cumplicidade para que me afirmasse, no que quer que fosse, com respeito pelos princípios da liberdade e da democracia. O 25 de Abril foi a confluência de uma miríade de vontades libertadoras, um momento singular, que honraremos cultivando o gosto da liberdade.
(Publicado em 23 abril de 2006)
domingo, abril 24
25 ABRIL - COMENDAS
É para dizer que estou de acordo com a decisão do PR de condecorar todos os militares que participaram no 25 abril. Não faria sentido que fosse de outro modo sabendo que os havia de todas as tendências politicas e ideológicas. Muitos deles, como não poderia deixar de ser, vinham do tempo da ditadura, tinham-na apoiado, tendo pelas mais diversas razões, e não pouco relevante por razões corporativas, apoiado o movimento que derrubou a ditadura. Mas cinquenta anos depois o que interessa catalogar em prateleiras ideológico-políticas os que participaram do movimento militar que fez implodir a ditadura? Ficarão a faltar os milicianos, oficiais, sargentos e soldados (que eram quase todos), ou seja, a "carne para canhão" utilizada na guerra colonial. Para colmatar essa falta grosseira seria necessário condecorar coletivamente uma multidão de milicianos. Não sei como...mas serão imjustiçados.
"Decisão do Presidente da República de condecorar todos os militares de Abril, que tem sido alvo de polémica, não foi submetida a parecer. Conselheiros em silêncio." (In "Expresso")
25 ABRIL - A VÉSPERA
Por esta hora neste dia, 24 de abril de 1974 (era uma 4ª feira), estaria no quartel, já informado que havia chegado o dia. Com os companheiros de armas mais chegados – António Cavalheiro Dias e João Mário Anjos – entramos em estado de prontidão para o que desse e viesse. Outros, por diversas vias, estariam também alerta. Já não me lembro com precisão quem terá sido o mensageiro, certamente, um oficial do quadro permanente. Conversas e contactos discretos, temperatura primaveril, tensão crescente sem contra ordens. Acertámos encontrarmo-nos, quando se aproximasse a noite, em casa do Cavalheiro Dias, em Benfica. Ao final da tarde saí do quartel, devo ter passado por casa e de seguida fui a casa do Ferro Rodrigues, na Travessa do Ferreiro, avisá-lo(s). O Sporting jogava para as competições europeias, se não erro, com uma equipa da Alemanha de Leste. Tudo parecia, apesar da tentativa falhada do 16 de março, bastante inverosímil. Um golpe de estado militar? Uma revolução? Regressei a Benfica, sempre em transportes públicos, para me juntar aos companheiros de armas. A espera valeu a pena. Seguiu-se a madrugada mais longa, e inesperada, da minha vida. Muitos haviam lutado, sem sucesso, pelo advento da liberdade e, finalmente, fez-se-lhes justiça. Lembro o General Humberto Delgado.
sexta-feira, abril 22
25 ABRIL
Não me lembro do nascer do dia. Andávamos na rua à procura de entender se era mesmo verdade. Com o António Cavalheiro Dias e o José Mário Anjos percorri a cidade, de lés a lés, atrás da coluna de Salgueiro Maia, olhando cada esquina e movimento, com uma atenção fulminante, não fosse falhar tudo outra vez.
Não me lembro de ter visto nascer o dia. Naquela noite não houve madrugada. Os telefones devem ter começado a tocar a partir de determinada hora: “Olha parece que houve um golpe militar!”, “dizem que há tropa na rua!”.
A minha preocupação era telefonar a meus pais. No quartel pude fazê-lo já a manhã tinha despontado. Que alegria. Afinal não era um golpe dos ultras! Era um golpe militar mesmo daqueles com que sonharam Humberto Delgado e tantos que morreram sem conhecerem a cor da liberdade.
48 anos de ditadura é muito tempo! Que pena não poder ver os sonhadores da liberdade nesse dia. Observar a comoção nos seus rostos e ouvir as suas primeiras palavras. Mas não me lembro do despontar daquela madrugada.
Ouço os sons, cheiro os cheiros, vejo os camaradas de armas, o povo a passar defronte do quartel, bandeiras desfraldadas ao vento, as vozes enrouquecidas e as lágrimas a cair-lhes pelas faces, mas não me lembro do despontar do dia 25 de Abril de 1974.
Mas o que interessa é que estava lá. E vencemos!
[Escrito em 22 de abril de 2005. Postado agora com uma fotografia do Hélder Gonçalves.]
quarta-feira, abril 20
O PCP TEM QUE SE LHE DIGA
Assinalo a posição do PCP acerca da intervenção do Presidente da Ucrânia amanhã na Assembleia da República. Não tanto pela ausência dos deputados do PCP na sessão que não é inédita mas pelo argumentário justificativo. Trata-se afinal do discurso de Putin traduzido para português sem qualquer alteração. Surpreendente apesar de tudo, pelo seguidismo, mimetismo, o simétrico oposto da verdade. Um verdadeiro caso de estudo para os que se interessam pela chamada ciência politica. No mesmo dia da declaração da incipiente porta voz do PCP a Rússia fez gala de exibir as suas ameaças testando um missíl balístico de longo alcançe que pode ser portador de várias ogivas nucleares. O PCP de regresso à clandestinidade perante a ameaça ucraniana? Ou a caminho da irrelevância politica?
terça-feira, abril 19
EDUARDO FERRO RODRIGUES
Ontem, 18 abril, pelas 21h, passou na RTP1 uma entrevista/retrato com o Eduardo Ferro Rodrigues na qual, além de uma contextualização no tempo e das circunstãncias do tempo dos acontecimentos, ele não se excusou a responder a algumas perguntas difíceis. Suspeito que o discurso de algumas respostas, francas e diretas, não deve ter agradado a algumas pessoas. Mas, a meu ver, não havia volta a dar e aportou à memória, mesmo dos sem memória, alguns acontecimentos que tendo incidência na personalidade do entrevistado, interessam sobremaneira à história politica recente do país... que esquece facilmente as benfeitorias, e malfeitorias, dos seus atores politicos e não só. Como não conheia o guião, e muito menos a peça, fui surpreendido por uma referência direta e a exibição de duas fotografias que me tocam. Bem vistas as coisas a entrevista/retrato, de autoria da Fátima Campos Ferreira, foi elaborada com sensibilidade e boa informação, e ficará como precioso testemunho da vida e envolvimento politico do Eduardo Ferro Rodrigues, nas circunstâncias do seu tempo, um raro momento de autenticidade. A nossa geração não deixa os seus pergaminhos nas mãos dos profetas da desgraça, nem dos inimigos da liberdade e da democracia. Amigos para sempre, e que viva!
Uma das fotografias exibidas com o João Mário Anjos (à esquerda), Eduardo Ferro Rodrigues (ao centro) e o subscritor (à direita).
domingo, abril 17
IR À RUA
A rua é uma instituição urbana. Os meus antepassados próximos, de origem rural, conheciam mal este conceito. O advento da sociedade urbana atribuiu um estatuto especial a “ir ao campo”. Mas, durante séculos, para os rurais o grande dia era o da feira que os levava a “ir à cidade”.
A geração dos “babby-boomers”, de que faço parte, experimentou a fase final desta contradição. Lembro-me da impressão que me causou o filme de Renoir, “Passeio ao Campo”.
Lembro-me dos meus passeios ao monte dos meus avós maternos que, ainda nos anos 70, não tinham energia eléctrica em casa tendo assistido, impotentes, à instalação, mesmo ao pé da porta, de dois postes que suportavam a linha que fornecia a energia a Tavira mas não os alimentava a eles.
Senti o encanto da grande urbe de Lisboa ainda mal tinha resolvido a contradição “cidade/campo”. Nos primeiros dias, após a minha chegada definitiva a Lisboa, caminhei a pé pela Baixa, calcorreei as ruas dos bairros da Estrela, Campo de Ourique e da Lapa. Até que os pés aguentassem. Só. Fiz a carreira do eléctrico 28 dos Prazeres à Graça e da Graça aos Prazeres. Lindas as palavras que identificam estes dois bairros de Lisboa.
Caminhar pelas ruas da cidade de Lisboa era uma alegria. A partir de certo momento tornou-se uma aventura e um risco. Não pelo trânsito nem sequer pela delinquência que, em Lisboa, sempre foi uma brincadeira de crianças se comparada com outras urbes da Europa ou das Américas.
Mas porque em certas esquinas, à noite, nas saídas tardias das tertúlias ou das actividades associativas (subversivas?), surgiam vozes cavas e anónimas que pronunciavam o nosso nome em tom ameaçador. Porque ao caminhar pela rua surgiam interpelações ameaçadoras de desconhecidos que nos acotovelavam. Porque o regresso a casa, à noite, tinha de ser cuidadosamente preparado prevendo a arremetida que nos levaria ao hospital ou à prisão.
Muitas destas caminhadas fi-las acompanhado pelo Eduardo Ferro Rodrigues. Nunca nos deixamos intimidar mas estávamos longe de prever como seria possível que, nos tempos da democracia, pela qual lutamos a vida toda, ressurgirem as mesmas ameaças à liberdade revestidas de novas e mais subtis formas.
Ir à rua, para mim, sempre foi um verdadeiro exercício de liberdade. Como sabemos “ir à rua” pode ser até uma manifestação espontânea, ou organizada, de protesto. Mas há quanto tempo não vamos à rua?
Em tempo: ir às urnas, em democracia, também é um salutar exercício de liberdade!
(Dezembro de 2004, pelo 1º aniversário deste blog) .
sexta-feira, abril 15
A EUROPA EM GUERRA
A crise politico militar na Europa aprofunda-se dia após dia. Mas o mais importante até 25 abril é o resultado das presidenciais francesas. Nelas se joga em boa parte o destino da Europa e, em particular, da UE.
"Moscovo adverte no documento que os envios de armas dos EUA e da NATO para a Ucrânia estão "a adicionar combustível" ao conflito e podem estar a desencadear "consequências imprevisíveis"" (In "Expresso").
segunda-feira, abril 11
Cavaco Silva é um “amorfocrata”
Quando Cavaco fala ou escreve algo para o público é sinal de que temos a esquerda no poder, no caso português, pasme-se, os socialistas a solo, caso raro, mesmo único, na Europa. Logo me apetece, conhecendo a criatura, escrever também algo pois a conheço de tempos idos, e de todos os tempos, mesmo de muito antes de ter emergido na politica. Assim tendo ele escrito hoje um artigo no Público reproduzo um pequeno escrito de 2021.
"Cavaco Silva enquanto vivo nunca perdoará à esquerda e aos socialistas a ousadia de ser governo (eleito). Mais ainda quando está em causa gerir recursos financeiros que se estimam abundantes. Não admira assim que uma vez mais venha a terreiro escrever contra o "perigo vermelho", quando na Europa e não só a esquerda recupera posições desde a Alemanha à Itália, dos USA ao Brasil. Haja paciência. Como escrevi faz anos Cavaco Silva é um “amorfocrata”: um democrata com ausência de forma definida. Tolera os partidos e aceita a constituição."
domingo, abril 10
REGRESSO À BARBÁRIE ?
Em 3 de setembro de 2014 publiquei aqui o post que reproduzo pensando neste momento no resultado das eleições presidenciais em França e sua coincidência com a guerra na Ucrânia:
"Regresso à barbárie. Abundam sinais alarmantes de ascensão de novas formas de totalitarismo. Não em forma de doutrina livresca ou de acções isoladas, e pontuais, levadas a cabo por tresloucados. O que está a acontecer sob os nossos olhos, desde a Ucrânia ao Iraque, um pouco por todo o mundo, com formas diversas de expressão, é o alastramento de fanatismos, novos fascismos, difíceis de caracterizar em toda a sua extensão e profundidade. Não nos deixemos ficar pelo horror das execuções mediáticas perpetradas por radicais islâmicos. Interroguemo-nos acerca da origem do apoio politico e militar, ou seja, que forças sustentam estas forças? Qual a origem dos recursos que as tornam tão letais? Ainda mais, será necessário chamar a atenção para as ideologias totalitárias que, sob as mais variadas capas ideológicas, e crenças religiosas, atraem jovens e intelectuais um pouco por todo o mundo ocidental. Notam-se esses sinais, além da indiferença que toma o lugar da condenação da barbárie, em tomadas de posição de cidadãos que connosco convivem no dia a dia e não se coíbem de acolher, expressamente, processos e medidas politicas limitativas da liberdade individual em todas as suas dimensões. Os princípios e valores nos quais assenta a nossa vida em sociedade, por mais banal que pareça a sua evocação e defesa, não podem ser menosprezados e, muito menos, espezinhados. "Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam ... " escreveu Jorge de Sena a propósito, noutro contexto, deste mesmo perigo. Alerta, pois, para as posturas moles, complacentes, no combate a todas as formas de totalitarismo, seja qual for a sua matriz ideológica."
sábado, abril 9
A RÚSSIA TOTALITÁRIA
A Rússia de Putin passa da doutrina estratégica dos anúncios à ação mostrando ao mundo a sua faceta e ambição imperial. O assunto é sério e coloca frente a frente duas conceções do mundo e do governo dos povos: totalitarismo ou democracia. Uma contraposição antiga e que nos tempos modernos é nossa conhecida em muitos confrontos sangrentos. Até este dia não se devisam os caminhos do cessar fogo e da concórdia em diração à paz. Por ora as palavras e as ações são de guerra e por isso mesmo, além da interpretação da torrente das notícias, não podemos nem devemos, os democratas e pacifistas lúcidos, deixar de tomar partido. O totalitarismo é o modelo, proposto através da força e da chantagem nuclear, pela Rússia e seus aliados declarados ou acobertados no clássico abstencionismo. Se a guerra alastrar e tomar novas formas preparemos as nossas defesas para as suas consequências e sejamos honrados tomando o partido e lutando pela democracia e liberdade.
"El Kremlin reorganiza su cúpula militar en Ucrania y pone al frente a un general con experiencia en Siria
Rusia encarga a Alexánder Dvornikov la coordinación de los batallones desplegados en el país vecino, según la BBC" (In "El Pais"
sexta-feira, abril 8
O LEITE PEREIRA MORREU
O Leite Pereira morreu ontem. Recordo-o com a sua amizade serena (com a Julieta), que não mais vou poder retribuir, de viagens memoráveis em especial ao país basco espanhol e francês, com suas peripécias sempre no contexto de uma organização em que era perito, dos convivios fraternais, da tropa (em que o refiro neste post antigo), do MES e da minha cidade de Faro onde residia nos últimos anos (apesar de ser natural de Espinho). Deixo-lhe um adeus e estas palavras em sua memória com um abraço para a Julieta.
"Na véspera do 36º aniversário do 25 de Abril tentei lembrar-me dos passos que terei dado nesse dia distante. Era uma 4ª feira. Basta consultar o calendário. Estava no tropa e devo ter frequentado, nesse dia, o quartel do Campo Grande. O chamado, na gíria, 2º Grupo (de Companhias de Administração Militar). Ontem, ao jantar, o Leite Pereira contou-me que, estando lá colocado, viu a minha ficha de suspeito quando ela lá chegou antecedendo o meu ingresso. Uma notícia nova acerca de uma rotina da época. Fervilhavam os boatos. Sabia que um golpe estava preparado para o dia seguinte. A fonte era credível. Acreditei. Fiz por acreditar. Temi um banho de sangue. Pensei nos meus pais. No meu irmão. Na minha namorada. Mas julgo que mantive a descrição. Como já contei, outras vezes, avisei os amigos civis mais íntimos. Organizei-me com os amigos militares que se haviam tornado conjurados. Não imaginava o que viria a passar-se após a arrancada da operação, um golpe militar, tornado revolução pela adesão popular. Um daqueles raros momentos de fusão que mudam o curso da história. Curto e fulminante. Hoje impressionam-me as notícias acerca das iniciativas e intervenções do Presidente da República pela celebração deste aniversário. Bem-haja. E ainda me impressiona mais não saber se terei em quem votar nas próximas eleições presidenciais."
terça-feira, abril 5
OS MAIS VELHOS
Os mais velhos face ao trabalho. É um tema antigo mas pouco abordado e escassamente tratado a todos os níveis. Trata-se não só de olhar para o lado do chamado "envelhecimento ativo", como para o lado da economia em toda a sua extensão, desde a criação de riqueza à sustentabilidade da segurança social pública. "O país tem de discutir o trabalho das pessoas mais velhas. Tem de discutir o nosso contributo enquanto indivíduos mais velhos para a sociedade, também como trabalhadores, não apenas como avós, cuidadores, voluntários. Isso é muito pouco. O país tem de discutir o nosso potencial contributo como
profissionais. Está a olhar para a imigração como uma solução para os actuais problemas de mão-de-obra ao mesmo tempo que descarta as pessoas que têm 55 anos e uma perspectiva de longevidade.
O Presidente da República tem 73 anos. O Alexandre Quintanilha, que tem 76 anos, vai ser novamente deputado. Dirão que são excepções. Porquê? Não têm de ser vistos como
excepções." "António Fonseca, in entrevista ao Público"
domingo, abril 3
Na peugada da coluna de Salgueiro Maia - no dia do 30º aniversário da sua morte
Nessa espera sem fim, na madrugada de 24 de Abril de 1974, a certa altura alguém me acordou com incontida emoção. Tinha passado a canção. Era mesmo a sério. A noite ia alta. Saímos os três. Eu e o João Mário Anjos metemo-nos no carro do António Dias que, conduzido por ele, caminhou para a 2ª Circular a caminho do Campo Grande. O António Mil-homens saiu para a baixa da cidade.
O nosso objectivo era tomar posição dentro do 2º GCAM (2º Grupo de Companhias de Administração Militar) o mais cedo possível. Mas, ao contrário do que aconselhava a prudência, não o fizemos logo. Antes fomos dar uma volta de carro pelas redondezas a ver o que se estaria a passar na EPAM.
Passamos defronte da EPAM (Escola Prática de Administração Militar) e conseguimos ver o Teixeirinha junto ao muro, equipado de arreios, preparado para integrar o grupo que ocuparia a RTP. Não observámos nenhum outro sinal da acção iminente.
Regressámos à 2ª Circular para reforçar a observação do movimento começando a desconfiar que ia ser um novo 16 de Março. Um fracasso. Encetamos, de novo, o caminho do quartel do Campo Grande. Ao entrar no Campo Grande surgiu, inesperadamente, diante de nós, uma coluna militar.
Retenho muito viva na memória a imagem do carro do combate que encabeçava a coluna irrompendo diante de nós. Tinha surgido da escuridão uma coluna militar que tomaria a direcção do centro da cidade. Vislumbramos um carro «nívea» da polícia na penumbra que não esboçou qualquer movimento.
O Campo Grande não era como hoje. Havia um desnível e o carro de combate que vinha na nossa direcção deu um salto rápido para tomar contacto de novo com o chão. Foi uma espécie de salto mágico que desde esse momento, com frequência, me assalta a memória. A emoção que senti é indescritível. Era um sonho que se tornara realidade. Fomos, certamente, os únicos que assistimos, ao vivo, a esse momento.
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Soubemos, mais tarde, que aquela era a coluna, oriunda de Santarém, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia. Naquele momento colocava-se a opção de cumprir o nosso objectivo e entrar no quartel ou seguir atrás daquela surpresa entusiasmante.
Perante o dilema de entrar, de imediato, no Quartel do Campo Grande, ou seguir atrás da coluna militar, tomamos a opção de nos incorporarmos na coluna. Mas antes deixámos o João Mário Anjos no quartel. Eu com o António Dias ao volante do Datsun 1200, matrícula HA-79-46, segui atrás da coluna de Salgueiro Maia.
A caminho da Avenida da República pensei com os meus botões na fraqueza aparente da força militar que havia de ser decisiva no destino do 25 de Abril. Um soldado que era visível num dos carros apresentava um aspecto de uma fragilidade impressionante. Era uma coluna militar pouco convincente, pelo aspecto exterior, ostentando sinais de fraca capacidade militar.
Na Avenida da Liberdade lembro-me de ter visto um polícia tomar a iniciativa de mandar parar um ou outro carro para não perturbar o avanço da coluna. A madrugada ia alta e saíam clientes do «Cantinho do Artista» no Parque Mayer. Éramos, certamente, os únicos perseguidores da coluna cuja missão concreta desconhecíamos.
Tomada a decisão de ver com os próprios olhos o desenvolvimento da acção militar, fomos sempre atrás da coluna atravessando a baixa no sentido do Terreiro do Paço. Chegada à Rua do Arsenal a coluna parou. Os tanques posicionaram-se no terreno.
Havia um vaso de guerra no Tejo e a discussão era se estava a favor ou contra o movimento revoltoso. Decidimos que chegara a hora de abandonar o local pois não era aquela a nossa guerra. Não podíamos ficar mais tempo sacrificando a nossa própria missão.
Ultrapassámos a coluna facilmente e seguimos em frente. Sempre fiquei com a convicção que a vitória da Revolução foi decidida na Rua do Arsenal antes dos acontecimentos do Largo do Carmo. O povo ainda não tinha descido à rua.
Estávamos na fase das puras operações militares, propriamente ditas, sem as quais não seria possível desencadear o verdadeiro processo político que precipitaria a queda do regime. Afinal as forças armadas estavam a prestar um serviço público que poderia redundar num pesadelo para os seus protagonistas.
sábado, abril 2
SALGUEIRO MAIA - pelo 30º aniversário da sua morte
Pelo 30º aniversário da morte de Salgueiro Maia - 3 de abril.
O tempo faz esquecer. O tempo é malicioso. O tempo mata a memória. Salgueiro Maia não era um oficial crente nos amanhãs que cantam, dizem até que era conservador mas, perdoem-me o plebeísmo, “tinha-os no sítio”, estão a compreender! Para dar lume a uma revolução mais vale um conservador com “eles no sítio” do que um revolucionário desertor da coragem no momento da verdade. Mas, na verdade, todos os testemunhos confirmam que não era um conservador.
Quem fez triunfar a revolução não foi Ramalho Eanes, nem Spínola, nem Costa Gomes, não foi nenhum General estrelado pelo Antigo Regime, ou promovido administrativamente pelo novo, quem decidiu o triunfo da revolução foram os “capitães” e o povo, que alargaram à rua o posto de comando e que tomando a rua para si tudo decidiram.
E entre todos os heróis anónimos, foi a coragem serena de Salgueiro Maia naquele momento breve, na Rua do Arsenal, enfrentando o atirador do tanque da coluna de Junqueira dos Reis, fazendo-o desobedecer às ordens, que decidiu a sorte da revolução. É prudente que, para preservar a liberdade, a democracia - seguindo o exemplo de Salgueiro Maia - não vacile no combate aos seus inimigos.
quarta-feira, março 30
DE COSTA A COSTA
Uma jornalista porta voz de Marcelo através do Expresso sublinha os avisos ao empossado governo de maioria, personalizando-os em Costa. Ora nada pode disfarçar que a maioria absoluta do PS, de forma supreendente, reduziu drásticamente o poder de Marcelo. De pouco servem os avisos para condicionar acontecimentos a longa distância com tanta imprevisibilidade no horizonte. Além do mais algo que não vem ao caso referir nestes tempos: Marcelo foi eleito para esta último mandato com os votos do eleitorado do PS e o mandato de Marcelo como Presidente acaba antes do de Costa como primeiro ministro (se for até ao fim), janeiro e outubro de 2026 respetivamente. (Costa poderá dar a volta ao texto e ser candidato presidencial). Em qualquer caso se Costa obtar por sair para Bruxelas antes do fim da legislatura nada o vai impedir, deixando nas mãos de Marcelo obtar por eleições antecipadas, levando a extrema direita provavemente à àrea do poder ou por empossar um novo lider do PS como primeiro ministro. Até ao tempo destas opções extremas como diz o povo, não comas nem bebas...
"Nem Sampaio, que detestava Santana primeiro-ministro, o condicionou tanto na posse. Marcelo desfiou exigências, avisos, metas e ironias para o novo Governo. Mas o golpe de gelo foi outro: quem anda a personalizar votos e ganha não pode sair a meio. Adeus Bruxelas?" (In Expresso")
segunda-feira, março 28
FERRO RODRIGUES
No último dia do exercício das funções de Presidente da Assembleia da República, republico um post de 24 de outubro de 2015 a respeito da eleição de Ferro Rodrigues, meu amigo de sempre. Nada do que então escrevi foi desmentido ao longo destes últimos anos, antes pelo contrário, tudo foi confirmado. Haja saúde!
"Mais de 40 anos depois do 25 de abril de 1974, como resultado de eleições livres e democráticas, por sobre as mais diversas vicissitudes, incluindo um histórico de tentativas de assassinato de carácter, Ferro Rodrigues foi eleito Presidente da Assembleia da República. O contexto e as circunstâncias politicas desta eleição são dissecadas, em todos os sentidos, pró e contra, pelos políticos e pela comunicação social. Nada a acrescentar. O que me leva a escrever estas linhas é a necessidade de assinalar que, pela via democrática, esta eleição coloca no lugar da segunda figura do Estado um cidadão impoluto, livre, justo e incorruptível. Para o exercício destas funções são, certamente, necessários os votos e não é indiferente a cor politica e ideológica do eleito. Mas o mais relevante é o seu perfil pessoal e a confiança de que, em circunstância alguma, deixará de honrar os princípios da ética republicana. Não que a anterior presidente da AR e outros que a antecederam, desde Henrique de Barros, Presidente da Assembleia Constituinte, não tenham honrado os compromissos próprios da função. Mas a eleição de Ferro Rodrigues, no inicio de uma nova época politica, com redobradas exigências de equilíbrio entre as instituições e firmeza na defesa da democracia, são uma garantia de abertura, diálogo e busca incessante de consenso apesar de toda a crispação deste início de mandato.
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domingo, março 27
DIA MUNDIAL DO TEATRO
O dia 27 de março é consagrado como Dia Mundial do Teatro. Sempre assinalo esta data não por mera celebração de uma efeméride mas porque o teatro desempenhou um papel muito importante na minha vida. Na alta adolescência, por altura do meu 6ª ano do liceu, num tempo de trevas culturais, o meu irmão deve ter impulsionado a minha aproximação à atividade teatral. As relações com o Dr. Emílio Campos Coroa haviam sido estreitadas e daí deve ter resultado a minha integração no Grupo de Teatro do Circulo Cultural do Algarve - mais tarde "Teatro Lethes" - após ter já sido iniciado pelo Dr. Joaquim Magalhães nas atividades teatrais do liceu. Foi uma oportunidade de intensa sociabilização, aprendizagem da arte do teatro e exigente exercício de enfrentamento dos públicos. Muita entrada em cena, muito palco e fala e necessário conhecimento de dramaturgos de referência. Somente a minha saída da cidade de Faro para Lisboa me separou desta experiência que marcou a minha formação pessoal e cultural para sempre. Bem hajam aqueles que me impulsionaram e acompanharam nessa formalizável experiência teatral.
(As fotografias mostram o símbolo do GTCCA e a mim próprio - pelos meus vinte anos - numa cena de "Histórias para serem contadas", do dramaturgo argentino Osvaldo Dragun.)
LEGISLATIVAS - RESULTADO FINAL
Quase dois meses depois do dia do voto (30 janeiro) foi publicado o resultado final e o mais relevante, para surpresa geral, foi a maioria absoluta do PS. Entretanto aconteceram tantas coisas novas que esta maioria precisa de reinventar o seu programa de governo. Será capaz em tempo útil de o fazer?
"O PS foi o partido mais votado com 2.302.601 votos, correspondentes a 42,50% do total, elegendo 120 deputados.
O PSD ficou em segundo lugar e elegeu 77 deputados. Os sociais-democratas obtiveram 1.539.415 votos nos círculos eleitorais de Portugal continental, da Europa e Fora da Europa, ou seja, 28,41% do total de votos expressos, elegendo 72 deputados.(In "Expresso")
sexta-feira, março 25
GOUVEIA E MELO
Não devemos ter medo de defender as nossas ideias e valores, a ética republicana e democrática, o humanismo que ilumina a esperança no futuro.
"O comandante da Marinha fez um discurso duríssimo no Corpo de Fuzileiros, para funcionar como mensagem para toda a Armada: Gouveia e Melo não quer os militares em "rixas de rua" e classificou a atuação dos dois fuzileiros detidos pela morte do agente da PSP Fábio Guerra como "selvagem", de "ódio materializado e cego" e "covarde". Telefonou à família com "um nó na garganta"" (In Expresso").
quinta-feira, março 24
A DERROTA DA CAP
É só para dizer que a manutenção no governo da Ministra da Agricultura foi uma derrota para a CAP. A que acresce outra derrota, a de ter acrescido à designação do Ministério a palavra "Alimentação". Saíu o tiro pela culatra à CAP quando abriu guerra aberta ao PS em plena campanha eleitoral. No final ganharam os verdadeiros agricultores ... os que se dedicam a produzir. O resto é conversa para voltar à agenda e temtar ganhar o pé perdido.
"CAP espera para ver como será segundo mandato de Maria do Céu Antunes
Confederação dos Agricultores de Portugal aprova agregação das pescas sob o Ministério da Agricultura e considera “perfeita” a junção com a Alimentação. Críticas vão sobretudo para a separação das Florestas, que se manterão na pasta do Ambiente." (In "Público").
A GUERRA
As notícias são cada dia mais sombrias. Cada vez mais carregadas de ameaças. Se não estamos nos preliminares de uma confrontação mais generalizada do que a designada "guerra da Ucrânia", a história das vésperas de outras confrontações é pura fição. Como todos dizem: espero estar enganado. Da eclosão de uma guerra generalizada, vulgo "guerra mundial", o que restará da humanidade? Como abordar os nossos problemas do quotidiano perante tal ameaça? Como desenhar planos para o futuro com os cabos de guerra na ribalta a mando dos politicos donos do mundo? A guerra geral deixou de ser uma inevitável impossibilidade. Passou a ser uma possibilidade real.
"Biden defende que a Rússia seja expulsa do G20. E diz que NATO vai responder se Putin usar armas químicas". (In "Público")
terça-feira, março 22
À BEIRA DA CATÁSTROFE
As notícias da guerra são sempre ruíns. As notícias da guerra da Ucrânia não são exceção. Chovem todos os dias ameaças de escalada na guerra. As palavras pronunciadas: guerra quimica e/ou biológica ou guerra nuclear são um sinal terrível. A barbárie e o terror que já imperam nesta guerra são um sinal de alarme que ninguém de bom senso pode negar. Tem toda a razão Manuel Carvalho quando escreve que o Ocidente não poderá ficar impassível se o horror de Mariupol se repetir noutras cidades. Ou acontece algo de extraordinário que abra o caminho da paz, ou estamos à beira da catástrofe.
"A barbárie em Mariupol
Se o horror de Mariupol se repetir em Kharkiv, em Kiev ou em qualquer outra grande cidade da Ucrânia, o Ocidente não poderá continuar impassível". (Manuel Carvalho, in editorial no "Público").
segunda-feira, março 21
DIA MUNDIAL DA POESIA
Como as palavras as imagens, que tomamos como nossas, são um bocado do imaginário que sobrevive à decapitação dos sonhos. Caminhamos por entre escombros.
Quando minha mãe morreu nos meus braços não chorei. Só chorei quando, velando o seu corpo, me surgiu pela frente uma vizinha que frequentava a minha infância. O imaginário, naquele breve momento, tomou de assalto as minhas defesas que ruíram com estrondo.
Percebi a leveza insustentável dos corpos depois de mortos e a infinita fraqueza que se esconde por detrás da nossa aparente normalidade. (Maio de 2006)
domingo, março 20
GASTÃO CRUZ
Gastão Cruz morreu hoje. Meu conterrâneo, pertenceu ao grupo "Poesia 61" que se reuniram em Faro nos primórdios das suas carreiras profissionais e enquanto jovens poetas (exceto Ramos Rosa, um pouco mais velho). Gastão Cruz chegou a ser meu explicador, suponho de françês, no meu infausto 4º ano de liceu, com aulas certamente na casa de seus pais na Rua de Portugal.
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"Gastão Santana Franco da Cruz nasceu em 20 de julho de 1941, no número 20 da Rua de Portugal, em Faro, como se lê na página dedicada ao autor, no 'site' da DGLAB.
Publicou o primeiro livro, "A Morte Percutiva", com perto de 20 anos, e voltaria ao local do começo, em 2002, quatro décadas mais tarde e cerca de vinte livros de poesia depois, numa revisitação da infância e da entretanto desaparecida casa onde nascera, na obra "Rua de Portugal", também distinguida com o Grande Prémio de Poesia da APE e o Grande Prémio de Literatura dst.
"A poesia acompanha-o desde muito novo", recorda a biografia da DGLAB. "O pai recitava, em casa ouvia-se ópera, e o lirismo foi despontando, levando-o a iniciar-se muito cedo na crítica de poesia".
Escreveu para os "Cadernos do Meio-Dia", publicados em Faro, sob a direção de António Ramos Rosa e Casimiro de Brito, lançados em 1958 e que a ditadura havia de encerrar dois anos mais tarde.
O ano de 1958 é aquele em que Gastão Cruz chega a Lisboa, para fazer o curso de Filologia Germânica na Faculdade de Letras, onde teve David Mourão-Ferreira por professor.
Iniciou colaboração com diversos jornais e revistas, escrevendo poemas e crítica literária, como no jornal "Grafia", da Pró-Associação de Letras.
Abria então caminho à edição das históricas cinco 'plaquettes' — ou fascículos — que constituíram a "Poesia 61", onde se reuniu a Casimiro de Brito, Fiama Hasse Pais Brandão, Luiza Neto Jorge e Maria Teresa Horta.
"Poesia 61" afirmou-se como "uma das principais contribuições para a renovação da linguagem poética portuguesa na década de 1960", como se lê na DGLAB e nos textos académicos que abordam a sua publicação. Para o poeta foi, porém, "em grande parte, uma reunião de conveniência editorial".
"Não queríamos [na 'Poesia 61'] verdadeiramente fazer uma rutura com a poesia do passado. Naturalmente que nos distanciávamos de alguma poesia que nos parecia mais convencional ou menos viva. Particularmente, uma certa segunda linha nos anos 1950 ou uma poesia com características mais ligadas à Presença, que realmente nos parecia menos estimulante do que a de outros poetas como Sophia [de Mello Breyner Andresen], Eugénio [de Andrade], Carlos de Oliveira", disse Gastão Cruz, numa entrevista à RTP, em 2003. (...) (In "Expresso")
CONTRA A PENA DE MORTE, SEMPRE
Pena de morte? Pelotão de fuzilamento? Uma sevajaria num país democrático que, desta forma, não tem condições para defender os valores humanistas próprios de uma sociedade e civilização decentes. Tenho pena!
"Carolina do Sul vai ter execuções por pelotão de fuzilamento
Desde 1976 houve três execuções por este método nos EUA, todas no estado do Utah, um dos três em que o método era uma opção para os condenados. A Carolina do Sul junta-se agora ao Utah, Oklahoma e Mississípi."
sábado, março 19
A MERITÍSSIMA DISPENSA
Não dá para entender a decisão da meritíssima juíza. Não antevê o chamada "perigo de fuga"? Não mediu o efeito de" alarme na opinião pública"?
"Juiz dispensa Mário Machado de se apresentar quinzenalmente na esquadra para combater na Ucrânia
O neonazi Mário Machado estará a caminho da Ucrânia com um grupo de vinte elementos. Decisão do juiz tem por base “ajuda humanitária”." (In "Público").
sexta-feira, março 18
18 de Março de 41
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"Os montes por cima de Argel transbordam de flores na primavera. O aroma a mel das flores derrama-se pelas ruazinhas. Enormes ciprestes negros deixam jorrar dos seus cumes reflexos de glicínias e de espinheiros cujo percurso se mantém dissimulado no interior. Um vento suave, o golfo imenso e plano. Um desejo forte e simples – e o absurdo de abandonar tudo isto.”
Albert Camus, in "Caderno” n.º 3" - Abril de 1939/Fevereiro 1942 – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil”.
(Camus, no final de 1940, casa com Francine Faure, estudante de uma família abastada de Orão. Este fragmento deixa antever a época que antecedeu a sua partida para Orão onde viverá em casa da família da mulher até aos inícios de 42.)
quinta-feira, março 17
PUTIN - O PURIFICADOR
Uma declaração com ressonâncias muito perigosas e preocupantes.
"“Estou convencido de que uma auto purificação tão natural e necessária da sociedade só fortalecerá o nosso país”, acrescentou o líder russo, num discurso transmitido pela televisão pública." (In "Expresso").
terça-feira, março 15
ASSIM SE FAZ A HISTÓRIA DA EUROPA
Hoje, 15 março 2022, a UE demonstra com os pés no chão a sua coerência com inusual coragem.
"Os primeiros-ministros checo, polaco e esloveno chegaram na tarde desta terça-feira a Kiev para mostrar o seu apoio “inequívoco” a Zelenskii.
Numa publicação na rede social Twitter, o primeiro-ministro da Ucrânia, Denys Shmyhal, anunciou a chegada dos seus homólogos checo, polaco e esloveno. “A coragem dos verdadeiros amigos da Ucrânia. Discutindo o apoio à Ucrânia e fortalecendo as sanções contra a agressão russa”, escreveu." (dos Jornais)
segunda-feira, março 14
ESPERANÇA
Ontem dia 13 de março, domingo, surgiu uma luz de esperança, pela evidência da recuperação de G., após mais de três anos de sofrimento. A dor física e psicológica, tantas vezes nos limites, vai sendo superada abrindo caminho para a retomada da vida (quase) normal. Por entre as desgraças do mundo, por vezes, surgem raios de luz que iluminam o céu de nossas vidas.
domingo, março 13
"COMO UM LÁBIO HÚMIDO"
“13 de Fevereiro de 36 -
Eu peço às pessoas mais o que elas me podem dar. Vaidade de pretender o contrário. Mas que horror e que desesperança. E eu próprio talvez ..."
...
"Procurar os contactos. Todos os contactos Se pretendo escrever a respeito dos homens, como afastar-me da paisagem? E se o céu ou a luz me atrai, esquecerei eu os olhos ou a voz daqueles que amo? Dão-me, de cada vez, os elementos de uma amizade, os fragmentos de uma emoção, nunca a emoção, nunca a amizade.”
(...)
“Março-
Dia atravessado por nuvens e pelo sol. Um frio salpicado de amarelo. Eu devia fazer um caderno do tempo de cada dia. Aquele belo sol transparente de ontem. A baía trémula de luz – como um lábio húmido. E trabalhei todo o dia.”
Albert Camus, in “Caderno” n.º 1 (Maio de 1935/Setembro de 1937) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
RONALDO - INCURSÃO FUTEBOLÍSTICA
Pois é verdade e, por acaso, numa tarde chuvosa por aqui, vi este jogo no qual Ronaldo mostrou essa faceta extraordinária de longevidade no exercício da sua profissão. Num ambiente de crise, com peste e guerra, há fenómenos aos quais vale a pena estar atento. É o caso do papel de Ronaldo no imaginário de milhões de cidadãos do mundo inteiro sempre associado por todos os meios à sua nacionaliddae portuguesa. Um pormenor importante: os recordes que coleciona são o resultado do seu trabalho, permitindo que seja, quase certamente, a mais relevante marca portuguesa global.
"Agora é oficial: Cristiano Ronaldo é o melhor goleador de sempre
Com os três que marcou no triunfo do United sobre o Tottenham, o avançado português chegou aos 807 golos, ultrapassando os 805 de Josef Bican." (In "Público).
sexta-feira, março 11
O LADO CERTO DA HISTÓRIA
Por mais voltas que sejam dadas em torno da batalha da informação ( e contrainformação), como sempre nestas circunstâncias, face a uma guerra, é preciso ter a coragem de tomar posição. São muitas as experiências históricas nas quais as "meias tintas", a designada neutralidade, ajudou à perpetuação dos mais hediondos crimes. Nesta guerra que nos espanta e, ao mesmo tempo, horroriza é demasiado evidente qual o lado certo da história para os que defendem a democracia e a liberdade. A Rússia tem a razão da força, exerce o "hard power", a sua liderança sulca a vertigem da conquista herdada da tradição imperial, uma potência da terra (como a Alemanha que vai ajudar a rearmar!) a Ucrânia tem a razão da razão, exerce o "soft power", a sua liderança assume a defesa do poder democrático, vencida/vencedora, havendo, em qualquer dos dois lados horrores e tragédias, vitimas inocentes, enganos e traições. O lado certo da história nesta guerra é, porém, a defesa do anunciado derrotado, a Ucrânia, pois nem sempre se vence ganhando.
"Ucrânia pede 12 corredores humanitários. Há 2,5 milhões de refugiados na Ucrânia, mas milhão e meio já saiu das cidades também. Kremlin já dispara sobre aeroportos a oeste, mais próximo da zona NATO - e a coluna militar dispersa sobre Kiev. Instagram e Whatsapp cancelados na Rússia. Fontes ocidentais afirmam que um terceiro major-general russo foi abatido em combate. (In "Expresso").
quinta-feira, março 10
REVOLTA E INDIGNAÇÃO (II)
"Horta Osório recebeu €3,4 milhões do Credit Suisse no ano em que colegas executivos viram bónus afundar-se". (In Expresso)
segunda-feira, março 7
DIA INTERNACIONAL DA MULHER (8 março)
A terra e o corpo eram o mundo possível; a terra penetrava os poros, tisnava a pele, sujava as feridas; a terra cantava sob a correria dos pés descalços; a terra e os corpos entoavam as canções de embalar e de trabalho, da eira ao arado, do varejo ao rabisco; olhava as mulheres como se fossem rainhas que um dia haviam de dançar mil danças rodopiando nos braços do seu par; via-as sempre a dançar em seus sorrisos e suas gritas; as mulheres do tempo de as ver somente com uma admiração que me vinha de dentro. Não sabia nada delas mas via-as e amava-as como se fossem a terra que segurava as minhas raízes ao chão da vida. [4/2/2008]
domingo, março 6
OS DIAS DA GUERRA
Ainda há quem não tenha percebido que Putin é um baluarte arquiinimigo da democracia - aquela fórmula politica que assenta na liberdade de associação dos cidaddãos e no voto livre para a escolha dos governos - tendo sabotado os processos eleitorais que levaram Trump, Bolsonaro ao poder, os partidos de extrema direita a ameaçarem lá chegar em Itália e França, e ao sucesso do Brexit, por exemplo, do que é público e notório. Chegou a hora de Putin, fracassada no essencial essa empresa, de prosseguir a luta contra a democraccia por outros meios - a força das armas. Não creio que o sonho de Putin seja somente a conquista da Ucrânia mas também de imediato, ou a médio prazo, de outros países numa guerra de conquista à antiga mas com a proteção da chantagem nuclear. Este argumento parece muito simplista mas veremos até onde chegará na pressecussão do seu sonho imperial. Estamos neste preciso momento a viver acontecimentos que ameaçam desembocar numa guerra mundial, nuclear, com efeitos que é dificil imaginar. Os interlocotores de que se fala para interceder a favor da paz neste conflito têm todos, quase sem exceção, um passado, e presente, de belicismo imperial, cada um à sua escala, que torna a paz assim como um negócio em que todos calculam mais que tudo buscar o máximo lucro. Nem quero imaginar os bastidoras das negociações em curso ...
sábado, março 5
REVOLTA E INDIGNAÇÃO
"Gestores da EDP arrecadaram 10,7 milhões de euros em 2021
Encargos da EDP com a equipa de gestão baixaram 16,7% no ano passado. O presidente executivo, Miguel Stilwell, auferiu 2,79 milhões de euros. O ex-CEO, António Mexia, teve direito a mais de 2 milhões de euros". In "Expresso"
sexta-feira, março 4
LUTAR PELA LIBERDADE E DEMOCRACIA, SEMPRE
A guerra é sempre a pior solução para resolver qualquer conflito. Para abordar uma guerra injusta, por ser movida por razões ideológicas com objetivos expansionistas, é preciso clareza. É necessário condenar sem complacência o agressor, puni-lo de todas as formas possíveis e razoáveis e, no limite aplicar a força para o derrotar. Sempre foi assim ao longo da história com as consequências que se conhecem: destruição massiva dos paises e territórios atingidos e morte de milhares ou mesmo de milhões de inocentes. Uma coisa é a propaganda que é própria das guerras, outra o conhecimento real dos seus efeitos, tantas vezes desconhecido das opiniões públicas de todos os lados envolvidos nas guerras. Nunca esperei viver o tempo de uma guerra na Europa após as duas Grandes Guerras do século XX que a devastaram. Ela aí está. Resta-nos lutar, sem tibiezas e hesitações, com todo os meios ao nosso alcançe para denunciar e combater os agressores, neste caso a liderança politica da Rússia e quem a apoia. A Europa uniu-se para a defesa da liberdade e da democracia, além da vida, que são os mais importantes valores que estão em causa nesta guerra. Com todos os seus defeitos e complexidade, reconhecidos por todos, a liberdade e a democracia politica são inegociáveis. Não é por acaso que todos os países nos quais vigoram regimes democráticos, com suas diferenças politico ideológicas, se levantaram na AG da ONU contra a ação belicista de Putin. Hoje é a Ucrânia amanhã seremos nós as vitimas da guerra que pretende impor a tirania abertamente proclamada pela propaganda e demagogia grosseira de Putin e da sua clique.
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