Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, junho 18
FUTEBOL
Gosto muito de futebol, do jogo pelo jogo e nada do que se passa fora do jogo. O futebol parece ter-se transformado num veiculo que, de forma paradoxal, legitima a propaganda de alguns métodos da criminalidade pura que, noutros domínios da vida em sociedade, é perseguida, de forma implacável, em nome da justiça.
terça-feira, junho 13
FERNANDO PESSOA - NASCIDO EM 13 JUNHO 1888
“Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos. Atingirás assim o ponto supremo da abstenção sonhadora, onde os sentidos se mesclam, os sentimentos se extravasam, as ideias se interpenetram. Assim como as cores e os sons sabem uns a outros, os ódios sabem a amores, e as coisas concretas a abstractas, e as abstractas a concretas. Quebram-se os laços que, ao mesmo tempo que ligavam tudo, separavam tudo, isolando cada elemento. Tudo se funde e confunde.” “Livro do Desassossego” – Fernando Pessoa, aliás, Bernardo Soares, Ajudante de Guarda-Livros na Cidade de Lisboa
segunda-feira, junho 12
PR
Se bem entendi as declarações do PR acerca da manifestação dos professores em Peso da Régua vão no sentido da desvalorização da gravidade do acontecimento. Trata-se de uma manifestação racista (não intereesa o número de manifestantes) que não sendo condenada é incentivada. O PR atua na mesma linha de declarações passadas quando desvalorizou os crimes de assédio sexual praticados por membros igreja católica (suponho que também uma minoria). O PR parece um pouco confuso na compaginação da função com as suas convições profundas. A acompanhar os próximos episódios...
SUMAR
"Agustín Santos Maraver, embajador de España ante la ONU, será el número dos de Yolanda Díaz en las listas de Sumar por Madrid." (In El Pais) Por cá inexiste informação credível acera das eleições legislativas de julho em Espanha. A emergência do partido SUMAR, reunindo todos os partidos e forças à esquerda do PSOE, é um fato novo que será determinante para travar a extrema direita. E atenção que é muito redutor apelidar este espaço politico como de extrema esquerda. Veremos.
domingo, junho 11
RACISMO
Um dia faz anos, deve ter sido por volta de 2015, num restaurante pela hora do pós almoço passava na TV reportagem na qual apareceu António Costa. Dois sujeitos ao balcão vociferaram "monhé". Tomei a inicitiva de lhes chamar a atenção que as suas palavras era uma manifestação racista. Ripostaram e ripostei, veio à baila o 25 de abril. No meio da guerra de palavras não sei a razão disse-lhes que no 25 de abril tinha participado como militar. Aí baixaram de tom e desistiram. No dia seguinte percebi a razão. O gerente informou-me que eram policias. Neste dia 10 de junho lembrei-me deste episódio para dizer que há mesmo muitos racistas na nossa sociedade. Talvez levar o racismo ao Conselho de Estado!
sexta-feira, junho 9
ALAIN TOURAINE - RIP
Alain Touraine (n. 1925) é, ao mesmo tempo, um sociólogo do terreno, professor e pensador "com discípulos espalhados pelo mundo", disse, ao apresentá-lo esta quinta-feira, no ICS, Marinús Pires de Lima, seu antigo aluno em Paris, como outros sociólogos portugueses de renome, alguns deles ali na sala.
Tem 23 livros publicados, quatro dos quais de 2005 para cá (o último, Penser Autrement, saiu em Outubro, na Fayard). Vários encontram-se traduzidos em português.
Director da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, desde 1960, professor, entre 1960 e 1969, na Universidade de Paris X - Nanterre, fundador do CADIS (Centro de Análise e de Intervenção Social), a sua obra desenvolve-se em torno da noção de "sociologia da acção", de que o sujeito (indivíduo) é a figura central.
Os grandes objectos de estudo de Touraine, segundo Marinús Pires de Lima, podem dividir-se em quatro períodos: Sociedade do Trabalho, em que pesquisou junto de operários das minas de carvão e da siderurgia, no Chile, e das fábricas da Renault, em França, centrando a sua atenção na sociologia da consciência operária e na sociedade pós-industrial; Maio de 68, queda das ditaduras na Europa, iniciada em Portugal em 1974, e o sindicato Solidariedade, na Polónia, período em que passou a usar o seu "método de intervenção sociológica", que viria a conservar até hoje; o regresso da noção do "actor", central nas pesquisas a que procede, nas quais considera o sujeito o princípio central da acção dos movimentos sociais; e, por fim, o mundo das mulheres.
Apesar de uma atenção constante - e pioneira, nalguns casos - a novos problemas, críticos apontam-lhe uma escassa atenção a questões essenciais, hoje, como, por exemplo, o impacte das novas tecnologias e da globalização na educação e na democracia.
(in Público)
quinta-feira, junho 8
quarta-feira, junho 7
Françoise Gilot - RIP
Um dia dei-me conta que tinha perdido este livro que muito prazer me deu ler. Procurei-o tempos sem fim em alfarrabistas. Por fim um deles foi ao fundo da loja e apareceu-me com o livro da mão. Fiquei feliz.
PESSOA - UMA BIOGRAFIA
Leitura finalizada. Pessoa- uma biografia, de Richard Zenith. As forças e fraquezas de um homem e uma obra fora do comum. Simplesmente uma curiosidade satisfeira.
terça-feira, maio 30
MAIO
Final de maio, o mês das flores, que muitas mãos acariciam - como a minha mãe gostava de rosas - e encantam em todos os canteiros vivos por esse mundo fora. Os homens, a mais das vezes, não são merecedores de apreciar a sua beleza que, para sorte da humanidade inteira, se espraia por fora deles. O mercantilismo, sem principios, tende a matar a justiça, capturando-a, tornando-a parte dos negócios. O desespero de muitos à mingua do pão exige um fortalecimento da justiça para defesa da liberdade. Muito mais além do que um valor abstrato a liberdade merece, tal como as flores, os maiores cuidados. Não como ornamento de uma sociedade injusta mas como garantia de ser possível lutar pela plenitude do exercício dela. A imprensa, em todas as suas formas, exige ser servida por cidadãos livres o que se mostra cada vez mais dificil à nossa observação. E, no tempo presente, o mais perigoso nem são os meios da imprensa tablóides que todos sabem do formato e dos fins que prosseguem, mas dos meios chamados de referência que lutam pelas audiências e cedem, em prol do que julgam ser a sua salvação económica, às facilidades do populismo.
segunda-feira, maio 29
MAIO 1945
Maio de 1945. A vitória das forças aliadas lançou uma onda de euforia em Portugal O povo saíu, em massa, à rua celebrando a derrota do nazi fascismo. Os rostos espelham a alegria de uma vitória para a qual Portugal, na verdade, não tinha contribuído. Muitos portugueses viveram a genuína esperança da iminente restauração da democracia. Mas a política ambígua de Salazar, a que se designou de neutralidade, deixou Portugal isolado no contexto da reconstrução material e política da Europa. Salazar assustou-se mas não caíu. Portugal perdeu 29 anos que é o tempo que mediou entre Maio de 1945 e Abril de 1974.
domingo, maio 28
JUÍZO
A terminar a leitura de uma notável biografia de Fernando Pessoa, dou-me conta que a sua vida adulta coincidiu com o tempo da primeira república. Em 1910 Pessoa tinha 22 anos. Retomo, através da leitura, o contato com muitos episódios desse tempo e mais me espanto com muitos dos episódios do nosso tempo. Alguns dirigentes politicos deste tempo que é o nosso proclamam as virtudes da instabilidade politica, apoucando uma maioria democrática, vociferando ameaças como se vivessemos em ambiente de guerra civil. Mas vivemos em ambiente de paz num tempo de guerra. Alguns, como os mais velhos do bloco, como que enlouqueceram tomando o PS como seu inimigo principal Tomai juizo!
sábado, maio 27
UM CÃO CHAMADO BENFICA
Já não vejo pelas ruas cães vadios como no outro tempo em que fazia a pé o caminho de casa até à escola. Vejo cães de companhia, pela trela, presos na perna da mesa da esplanada enquanto os seus donos tomam café. Ladram e assustam as crianças nas entradas dos estabelecimentos. Os cães vadios devem ter sido exterminados ou vejo-os com olhos diferentes de quando era criança. Numa das poucas fotografias na qual pouso, na época da minha adolescência, vejo-me acompanhado por um cão lá de casa que se chamava Benfica. Reconheço a roupa que me cobria o corpo magro. Faz, quase sempre, calor pelas terras do sul. E o Benfica, indiferente, acompanha-me mal sabendo que aquela é uma das poucas roupas daquele tempo do nada acontecer. Um dia os meus pais esqueceram-se, não sei a razão, do Benfica para os lados dos campos de meus avós maternos. Contaram-me que uns dias depois voltaram ao local e lá estava o Benfica, resistente, na paciente espera. Sempre me quis parecer que ficaram roídos de dores na consciência e que foram na busca do acaso ao reencontro. E tudo correu pelo melhor para felicidade de todos e, em particular, do Benfica. Um dia o Benfica morreu mas não me lembro os detalhes. Devem ter-me escondido o infausto evento ou fui eu que me escondi dele. Mas para mim o Benfica, mesmo perdendo-se na ganância de ganhar, nunca morre.
sexta-feira, maio 26
TOMAR POSIÇÃO
Uma tomada de posição perante tanto desvario politico em defesa da democracia e da liberdade deveria ser simplesmente uma tomada de posição. Mas no caso da tomada de posição de Ferro Rodrigues (hoje através do Público) é mais do que isso face ao silêncio de tantos dirigentes do PS que se mantêm mudos e quedos. "Há momentos em que a não intervenção pode ser confundida com neutralidade." Quem tem responsabilidades na vida pública, estando ou não no ativo, tem por obrigação ver a terreiro, tomando partido, dando opinião, intervindo pois essa é a tradição politica que se deve prezar numa sociedade que se quer aberta. Esta tomada de posição, clara e equilibrada, vale por si.
quarta-feira, maio 24
QUOTIDIANO
Breve descrição do quotidiano. Na segunda e terça feira passadas frequentei em pessoa dois espaços de atendimento em entidades púbicas, quais sejam a segurança social e o SNS. Na SS fui a um espaço de atendimento em loja do cidadão sem marcação prévia disposto a testar o sistema. O espaço estava repleto mas organizado e sereno. Já não havia senhas mas pouco depois da minha chegada abriram nova série com distribuição. Coube-me a 77. Percebi após buscar a informação que me foi passada de forma correta que há diversos atendimentos em simultâneo desde os agendados, aos especiais até às senhas. Uns 45 minutos após ter obtido senha fui chamado e o assunto que lá me levou foi tratado com eficiência. No guichet ao lado um funcionário atendia num inglês bastante fluente. A chefe de loja estava no terreno e além de supervionar o serviço tirava dúvidas a quem de forma expontânea a procurava. No dia seguinte fui a um serviço do SNS num hospital público como acompanhante. Sala de espera repleta igualmente organizada e pacata. Senha para consulta com marcação. Espera de cerca de uma hora. Um utente ficou com o telemóvel bloqueado tendo necessidade de telefonar para casa para obter os códigos de desbloquei. Pediu a outra utente para usar o seu telefone o que lhe foi concedido. Telefonema feito e problema resolvido. Agradecimento. Pouco depois surgiu uma equipa de voluntárias a oferecer chá, café e água. A maioria para minha estranheza não aceitou, eu sim. Acabado de receber o chá chamada para a consulta. Tive que o devolver com pena minha. Consulta e saída. Conclusão de duas experiências pessoais: os serviços públicos no contexto de país pobre são muito razoáveis (e gratuitos!) e só são maus quando surge uma disfuncionalidade, um erro ou omissão que é puxada para a parangona jornalistica.
Equilibrio/Desequilibrio
"Bruxelas, 24 mai 2023 (Lusa) – A Comissão Europeia saúda o “grande esforço” de Portugal para melhorar as finanças públicas nos últimos anos, o que poderá levar à ausência de desequilíbrios macroeconómicos em 2024, alertando porém para o peso das medidas de combate à inflação." Uma informação da maior importância que ninguém (ou quase) se dá ao trabalho de descodificar. Passei agora mesmo os olhos pelas primeiras páginas dos principais jornais online e nem réstias de referência ao assunto.
terça-feira, maio 23
sábado, maio 20
Cavaco
Cavaco Silva enquanto vivo nunca perdoará à esquerda e aos socialistas a ousadia de ser governo (eleito). Mais ainda quando está em causa gerir recursos financeiros que se estimam abundantes. Não admira assim que uma vez mais venha a terreiro falar contra o perigo socialista. Como escrevi faz anos Cavaco Silva é um “amorfocrata”: um democrata com ausência de forma definida. Tolera os partidos e aceita a constituição.
sexta-feira, maio 19
INCURSÃO FUTEBOLISTICA - O FARENSE VAI SUBIR À PRIMEIRA
Uma das maiores alegrias da minha vida foi sempre o Farense. Vivi desde 1955
à beira do estádio de S. Luís e aproveitava todas as oportunidades para ver mesmo os treinos. Lembro-me dos rostos dos jogadores mais antigos como se os estivesse aqui na minha frente. O Vinueza, o Reina, o Queimado, o Ventura, o Rato, (guarda redes) o Tarro e tantos outros que as imagens antigas me ajudarão a decifrar. Mas eram equipas que andavam pela 2ª divisão, na melhor das hipóteses, pois parece que, à época, "o sistema" não permitia, salvo o Olhanense num período determinado, que qualquer equipa do Algarve subisse à primeira divisão.
A equipa representada na foto foi, sem dúvida, uma das melhores de sempre. À época já não vivia em Faro mas acompanhava à distância a sua carreira vendo alguns jogos disputados em Lisboa. Mas lembro-me destes jogadores todos dos quais destaco o Benje, um guarda redes fabuloso, o Mirobaldo, um goleador tecnicista elegante, que se fora hoje faria carreira num grande clube, o Sério, "carregador de piano", o Farias um "ala" de categoria, faltando aqui o Adilson que com Mirobaldo e o Farias, formavam um esquadrão de ataque temível que, soube agora, era designado como MFA.
Destes jogadores o que atingiu maior notoriedade, como treinador, foi o Manuel José, rapaz de Vila Real de Santo António, um falso lento que colocava a bola milimétricamente à distância. Hoje tendo ganho o jogo com o Benfica B o Farense está à beira de subir à primeira divisão. Fico feliz!
CONTAS E CRISE POLITICA
Ainda na sequência dos bons números nas previsões para a nossa economia. A coisa é dificil de lidar para as oposições como sempre foi lembrando-me da vitória de Clinton e da exclamção posterior "É a economia, estúpido!". Qual a pressa em derrubar o governo? Quais as razões para as hesitações de Marcelo? Ao contrário de todas as aparências o tempo jogo em desfavor das oposições. Com deficit 0, inflação a planar para baixo, dívida em queda, o governo dentro de pouco tempo tomará medidas que trarão os bons números macro para a vida quotidiana das famílias e das empresas. Criar uma crise politica agora será interromper não só a legislatura como lançar desconfiança sobre os bons resultados alcançados. Quem o fizer pagará a fatura ao contrário de todas as aparências, o tempo conta a favor do governo.
segunda-feira, maio 15
BONS NÚMEROS
A Comissão Europeia (depois do FMI) apresentou hoje a previsão dos grandes números da nossa economia(e das outras) para 2023. Quem dera a qualquer governo dispor de tais previsões. Crescimento económico robusto no contexto contrariando as previsões pessimistas de alguns meses atrás, inflação contida com previsão de queda aos longo dos próximos meses, deficit 0, que é o que vai ser, divida pública a declinar ... Os criticos cépticos dirão que são aparências sem impacto nas condições de vida dos cidadãos, mas o pior para eles, caso a tendência se confirme e consolide, é que dentro de meses o governo terá condições para tomar medidas de alívio fiscal a juntar a acréscimos das remuneração da função pública, digo eu ...
Não é fácil ser oposição com boa economia, sempre foi assim e será, ...
domingo, maio 14
INCURSÃO FUTEBOLISITICA
Uma incursão futebolisitica nesta época de desencanto face ao fenómeno do futebol profissional. Não vem agora ao caso as razões desse desencantopra dizer que os lubes que sempre forma do meu coração estão à beira do sucesso. O Farense está bem posicionado para subir à divisão de topo e o Benfica à beira de se sagrar campião nacional. Ficarei contente se as previsões de realizarem.
PS
A ideia de cercar o PS tem uma longa tradição de insucessos. Quem conheça um pouco da história contemporânea portuguesa reconhece facilmente episódios demonstrativos do fracasso dessa ideia. Não vou enumerar os episódios que tiveram protagonistas vários sendo o mais notável Mário Soares. O que esteve, e está, sempre em questão é o modelo escolhido em 1975/76 da democracia representativa. O insucesso deste cerco sempre se deveu à recusa da maioria dos portugueses ao regresso de um regime autoritário seja qual for a forma que assuma. O cerco ao PS virar-se-à sempre contra os seus promotores porque o PS é o centro do nosso regime democrático. Centro no sentido mais geral que se quiser entender. Quem não perceber isto ...
sábado, maio 13
FRANCISCO CONTRA "LEI DA EUTANÁSIA" - A IGREJA CATÓLICA MUDA DEVAGAR ...
"56. Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controlo dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum. Instaura-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas regras. Além disso, a dívida e os respetivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra. A tudo isto vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição do poder e do ter não conhece limites. Neste sistema que tende a devorar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa perante aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta." In EXORTAÇÃO APOSTÓLICA - EVANGELII GAUDIUM DO PAPA FRANCISCO - 24 de novembro de 2013
terça-feira, maio 9
Pelo aniversário da morte do Agostinho Roseta - 9 maio 1995
“A virtude é meritória, hoje. Os grandes sacrifícios não são continuados. Os mártires são esquecidos. Eles erguem-se. As pessoas olham-nos. Uma vez tombados, os jornais continuam.”
Albert Camus - in Cadernos
segunda-feira, maio 8
CONTRA O IDADISMO
"O especialista em Direito fiscal e financeiro Eduardo Paz Ferreira celebrou este fim de semana 70 anos, idade em que é imposta a aposentação obrigatória na Administração Pública. Esta segunda-feira dá a sua última lição na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, mas recusa-se a parar de trabalhar. No livro que vai lançar este mês, com o título “Devo fechar a porta?”, escreve um manifesto contra o “idadismo”, a discriminação dos mais velhos, nomeadamente no trabalho. Em entrevista ao Expresso, diz que há uma guerra de gerações, lamenta a falta de voz e de representação política dos idosos", In "Expresso"
domingo, maio 7
MÃE
Reconheço o amor nos olhos que me olham com desmedida atenção enquanto durmo. Os olhos de minha mãe adoravam ter esperança no futuro no qual jogava a sua crença de ir mais longe. A primeira mulher da minha vida. A mais ousada na sua imprevisível arte de romper barreiras e chegar mais além. A fonte da força que me mantém de pé contra todas as adversidades. Uma mulher de um só homem que não era homem de uma só mulher. A fidelidade nascida da tradição que não da fraqueza ou da futilidade. A irreverência herdada da rudeza do campo, das agruras da natureza à força de puxar a besta e de encaminhar a água à raiz certa não fosse perder-se uma gota. A escola da escassez sonhando a fartura que havia de vir fruto do trabalho honrado. Não perder tempo chorando o tempo perdido. Fazer do tempo um passeio para espairecer e voltar ao arado da vida com sonhos lá dentro. A mulher que se fez a si própria descobrindo os outros e o que se pode e se não pode fazer com eles. Aceitar mudar e escolher o caminho da mudança. Tactear o caminho levando ao colo os seus amores. A primeira mulher que acreditou no caminho hesitante que me havia de fazer homem. Sem saber para onde ia ao certo. Nem ninguém sabia, ninguém nunca sabe, mas não duvidou que havia de chegar a um lugar onde brilharia o sol e sou capaz de a lembrar como a minha primeira mulher. Aquela que mais me amou, sempre me amou além do que a vida pode conter de riqueza material. Um dia ao fim de uma longa caminhada sem sequer saber dos meus males escolheu morrer nos meus braços. A mais sublime homenagem que alguém pode prestar a alguém. De súbito suavemente, na alegria da celebração da juventude, deixou para sempre a esfusiante tradição de me abraçar como se fosse a criança que para ela nunca deixara de ser. [21/1/2008]
.
quinta-feira, maio 4
MENSAGENS
A mensagem do PR parece anunciar a sua passagem à oposição. Veremos o que acontece nos próximos tempos. Não será a primeira vez que tal acontece pois me lembro bem de Soares presidente em oposição a Cavaco primeiro ministro. É um clássico sob diversas nuances no nosso regime. Como votei em Marcelo nas últimas eleições se ele passar à oposição passarei a opor-me a ele. Nada de importante mas somente pretendo sinalizar que os socialistas que nele votaram, pelo menos a sua grande maioria, deixarão de lhe dar importância. Como alguém hoje referiu nessa chuva de comentários nas TVs ganha, desde já, mais importância a escolha do próximo candidato presidencial a apoiar pelo PS.
NOJO
"Youtuber vai ao Parlamento a convite da Iniciativa Liberal e publica vídeo com ofensas ao primeiro-ministro" in "Expresso". Esta sim é uma ponta do iceberg populista com a IL no comando.
quarta-feira, maio 3
OUTRA VEZ - POLITICA
É um enigma a origem, e as razões, da crise politica. Está em funções um governo fundado numa maioria saída de eleições; apesar da guerra, da crise energética e da inflação, os indicadores económicos são bons; a contestação social é moderada e focada em setores públicos - professores ... O que será que conduz aos sinais de crise politica? O governo está em funções faz um ano e pouco, a perspetiva de evolução da economia é encorajadora, as medidas sociais já tomadas, e outras que virão, atenuam as perdas dos setores mais vulneráveis. Será a gestão dos vultuosos fundos europeus? Os tempos e os prazos da sua gestão? Apertados, com fim em 2026 ou pouco depois se houver renegociação! Coincidente com o tempo do mandato do PR e do governo na sua fórmula atual.
POLITICA
Neste tempo cinzento de incertezas, no qual sobressae o calculismo, eis que Costa dá um murro na mesa, evidenciando a importância do risco e da coragem na politica.
segunda-feira, maio 1
1º de maio
1º de maio de 1974. O dia da afirmação da reconquista da liberdade. Nesse dia o MES saiu à rua pela primeira vez, foi o seu dia inaugural. As fotografias de autoria da Rosário Belmar da Costa chegaram-me às mãos, anos atrás, através do António Pais. 49 anos depois saúdo os presentes e ausentes.
domingo, abril 30
VIDA
Este domingo a sul, perto da casa onde nasci, reina o silêncio quente como sempre o conheci. Lembro a familia que me acolheu e moldou para a vida. (Nesta fotografia, a do lado paterno.)
sexta-feira, abril 28
ANIVERSÁRIO
Dia de aniversário, a vida celebra-se a si própria, sem parança, com os olhos sempre postos no futuro.
quarta-feira, abril 26
26 ABRIL - 1 DE MAIO 1974
Entre a madrugada do dia 25 de Abril e o 1º de Maio de 1974 vivi enclausurado no Quartel do Campo Grande, em Lisboa, onde hoje funciona uma universidade privada e naquela época estava sedeado o 2º Grupo de Companhias de Administração Militar. Lá entrei já a madrugada ia alta, tal conjurado, com o António Dias, após termos perseguido, de carro, a coluna do Salgueiro Maia desde a sua entrada no Campo Grande até ao Terreiro do Passo.
Já contei essa história. De todas as imagens que guardo na memória a mais impressiva é a da fragilidade da coluna revoltosa. Não sabia quem a comandava mas o impensável viria a tornar-se realidade. E a vitória dos mais fracos deveu-se, tão-somente, à justeza das suas razões e à coragem do seu líder. Aos leitores mais ortodoxos do colectivismo assinalo que falo num símbolo. Também sei que, desde sempre, reinou a desconfiança, entre os “donos” da mudança, a respeito de Salgueiro Maia, como hoje reina a desconfiança a respeito de tantos que ousam tomar toda e qualquer iniciativa de mudança (o que é a mudança, hoje?).
Para os “donos” da revolução nem todos devem desfilar na Avenida da Liberdade mas quis o destino – ou a ordem de operações – que quem primeiro nela desfilou fosse Salgueiro Maia que, oferecendo o peito às balas, fez estalar o click que mudou o rumo da história. Olhem com atenção para as imagens que, por vezes, passam na TV. Esse comandante, Salgueiro Maia, era um entre muitos e quem dirigia as operações era um comando com a seguinte constituição: Amadeu Garcia dos Santos, Hugo dos Santos, José Eduardo Sanches Osório, Nuno Fisher Lopes Pires, Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Crespo. O coordenador era Otelo por decisão do Movimento das Forças Armadas. [Ver a “Fita do Tempo da Revolução - A noite que mudou Portugal”.]
O tempo faz esquecer. O tempo é malicioso. O tempo mata a memória. Salgueiro Maia não era um oficial crente nos amanhãs que cantam, dizem até que era conservador mas, perdoem-me o plebeísmo, “tinha-os no sítio”, estão a compreender! Para dar lume a uma revolução mais vale um conservador com “eles no sítio” do que um revolucionário desertor da coragem no momento da verdade.
Quem fez triunfar a revolução não foi Ramalho Eanes, nem Spínola, nem Costa Gomes, não foi nenhum General estrelado pelo Antigo Regime, ou promovido administrativamente pelo novo, quem decidiu o triunfo da revolução foram os “capitães” e o povo, que alargaram à rua o posto de comando e que tomando a rua para si tudo decidiram. Não cito mais nomes, pois todos sabem os nomes, e em nome do povo sempre, à distância de tantos anos, podem caber todos os nomes.
A revolução foi branda para com os seus inimigos, perdoou-lhes os crimes, ofereceu o seu sangue em troca da liberdade, ganhou a admiração do mundo e isso é o seu legado histórico mais valioso. Os antigos carrascos da liberdade: os PIDES, os censores, os legionários, todos os esbirros da ditadura, seus ajudantes e admiradores, ganharam o direito a viver em liberdade, ainda hoje se cruzam connosco nas ruas e nos locais de trabalho, emitem opinião, sendo detentores de todos os direitos cívicos e políticos.
Mas se a nossa revolução foi branda para com os carrascos da liberdade pode orgulhar-se da grandeza de lhes oferecer o bem mais precioso que eles sempre negavam aos seus benfeitores. Os verdadeiros comandantes da Revolução foram generosos. Mas que ninguém, verdadeiro amante da liberdade, espere que os aspirantes a tiranos lhes retribua tanta generosidade. Por isso é prudente que, para preservar a liberdade, a democracia não vacile no combate aos seus inimigos.
terça-feira, abril 25
A liberdade
Nos momentos de ruptura é necessário fazer escolhas. No período pós 25 de Abril as nossas escolhas resultaram, algumas vezes, de erros de avaliação resultantes de apressadas opções ideológicas e intelectuais.
Nunca duvidei, pessoalmente, da primazia que a liberdade deve tomar no confronto com a justiça. Mas, em todos os tempos, em épocas de crise, em períodos pós guerra ou pós revolução, se suscita a questão da relação entre a justiça e a liberdade.
Camus escreveu, no período pós 2ª guerra mundial, algo que sintetiza, com clareza, o alcance deste dilema: "Se me parecia necessário defender a conciliação entre a justiça e a liberdade, era porque aí residia em meu entender a última esperança do Ocidente. Mas essa conciliação apenas pode efectivar-se num certo clima que hoje é praticamente utópico. Será preciso sacrificar um ou outro destes valores? Que devemos pensar, neste caso? (...) Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade..."
Foi este, em síntese, também o nosso dilema. A nossa escolha, neste dilema histórico, foi a liberdade. Hoje não me interessam tanto as pessoas com as quais partilhei os acontecimentos do passado. Interessam-me mais aquelas com as quais possa partilhar os acontecimentos do futuro.
Mas não esqueço as marcas gravadas a fogo na minha memória pelo 25 de Abril de 1974 nem as pessoas admiráveis com as quais vivi esse sonho inigualável que foi a reconquista da liberdade. Se a nossa consciência de homens livres tem algum valor preservemos a capacidade de não nos deixarmos aprisionar pelo esquecimento e pelo medo. Para que nunca se cumpra o receio que Jorge de Sena, um dia, expressou nos seus versos: "Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam."
(A fotografia, de autor desconhecido, retrata-me a mim próprio com o João Mário Mascarenhas na porta de armas do quartel do Campo Grande num dos dias de 25 de abril a 1 de maio de 1974.)
segunda-feira, abril 24
Mário Viegas
O oficial miliciano mais fascinante do meu Quartel era o Mário Viegas. O seu estatuto no serviço militar era apropriado ao seu talento de actor.
Vivemos em comum aqueles momentos inesquecíveis em que a liberdade foi devolvida aos portugueses. Tinha por ele um natural fascínio que sempre me retribuiu até à sua morte prematura.
No dia 1 de Maio de 1974, se não erro, no Quartel do Campo Grande, assisti ao acontecimento mais extraordinário de toda a minha vida. Havia que festejar o que agora comemoramos com nostalgia. O refeitório foi transformado numa sala de espectáculos. Nele se reuniu toda a gente.
Imaginem o elenco daquela festa improvisada: Carlos Paredes, Zeca Afonso e Mário Viegas. Todos mestres geniais na sua arte. A certa altura o Mário Viegas subiu para o tampo de uma mesa e a poesia brotou, em palavras ditas, como se diante de nós se revelasse um novo mundo ou tivéssemos da vida renascido.
25 abril
O António Dias já me telefonou hoje como acontece todos os anos neste dia. Fomos os dois juntos, na madrugada do 25 de abril, na peugada da coluna do Salgueiro Maia, uma pura aventura que acabou bem. (Noto que até ao momento o Expresso online não trás uma linha acerca da entrega do Prémio Camões a Xico Buarque - o discurso de Xico Buarque é a resposta mais eficiente aos dislates da nossa pobre extrema direita).
O passo em frente
Os dias que se seguiram ao 25 de Abril foram de ansiedade e expectativa. Nas ruas a euforia disfarçava o nervosismo mas nos quartéis o ambiente não era de certezas definitivas. O Oficial que assumiu o Comando da minha unidade, certamente o Major Azevedo, mandou reunir os oficiais milicianos.
Formamos um semi-círculo e o comandante perguntou se alguém estava contra, ou tinha reservas, face ao Movimento das Forças Armadas. Quem estivesse contra daria um passo em frente. Silêncio e passividade total.
Eis senão quando o Graça, o de Moçambique, deu um passo em frente. Ficamos sem saber o que pensar. Mas ele explicou. Não tinha a certeza se os militares levariam até ao fim o processo de libertação do povo português e a descolonização.
Ficamos mais descansados e destroçamos com sorrisos. Na prática todos os oficiais milicianos do quartel estavam com o MFA.
domingo, abril 23
A rendição de um PIDE
Entramos, ia alta a noite, no Quartel e desde essa madrugada de 24 de Abril até ao 1º de Maio de 1974, inclusivé, não saí do quartel senão uma única vez. Não vivi na rua a verdadeira festa do 25 de Abril após a consumação da vitória da revolução.
Não assisti à enxurrada de manifestações populares nem participei, com muita pena minha, na manifestção do 1º de Maio. Os soldados ficaram horas a fio alinhados nas casernas, por detrás das janelas que davam para a rua, de armas apontadas para o que desse e viesse. Alguém tinha que cuidar desses detalhes da "cozinha" de qualquer revolução.
Muitos de nós, salvo as pacatas manifestções domésticas e aquelas que tinham lugar na rua, defronte do quartel, tiveram de nos dar por satisfeitos com as imagens, a preto e branco, que passavam na televisão.
Num desses dias, estava de oficial-de-dia o António Dias, quando foi procurado por alguém que da rua pretendia falar. Era um agente da PIDE que se queria entregar. Foi recebido com deferência. Identificou-se e fez a entrega da arma. Uma bela pistola que me suscitou cobiça e nunca mais esqueci.
De seguida coube-me a tarefa de o escoltar a caminho da Ajuda onde o entreguei em "Cavalaria 7" ou "Lanceiros 2". Foi a minha única saída do quartel em todos aqueles dias de brasa.
No percurso, realizado em jeep, nem uma palavra se trocou. Lembro-me de ter cumprido a missão, com rapidez, respeitando e defendendo, do primeiro ao último momento, a dignidade de um homem aterrorizado que tinha passado, de um dia para o outro, de agente do poder a prisioneiro do poder. (Fotografia de Alfredo Cunha)
sábado, abril 22
Salgueiro Maia
Afinal o Capitão Salgueiro Maia era um homem de coragem. No confronto decisivo da Rua do Arsenal foi o sangue frio de Salgueiro Maia que tornou vitoriosa a revolução.
A sua impassividade e serenidade face à força inimiga obrigou a que o soldado atirador, sob ordens de um subordinado do brigadeiro, não fosse capaz de premir o gatilho.
A serenidade do Capitão Salgueiro Maia sabendo que tinha a sua cabeça na mira do atirador congelou a situação.
Acredito pelo que presenciei que só a conjugação da coragem do Comandante da força revoltosa de Santarém, o embaraço do comandante da força do regime e a recusa do soldado em disparar permitiram o desenlace feliz daquela situação que, no plano militar, era absolutamente desfavorável aos revoltosos.
Assim se decidiu o destino da revolução. Entretanto tínhamos prosseguido o nosso caminho e entramos pacificamente no 2º GCAM. (Fotografia de Alfredo Cunha).
O renascimento da liberdade
Era a velha questão da liberdade que se jogava naquelas horas. Participei, com os meus dois camaradas, João Mário e António Dias, num daqueles momentos raros da história das nações em que algo de essencial muda.
A mudança do destino da vida de toda uma comunidade e de um povo. Um daqueles momentos raros de fusão em que um regime, que no dia anterior parecia inexpugnável, cai fulminado como se nunca tivesse tido apoiantes e seguidores. Assistimos e participamos, ao vivo, a uma página ímpar da nossa história, aos últimos minutos de um regime de opressão e ao renascimento de um regime de liberdade.
Os nossos nomes são verdadeiros: António Cavalheiro Dias, João Mário Anjos e Eduardo Graça.
De saída daquela situação de acompanhantes anónimos da coluna militar, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia, ainda nos cruzamos com a coluna de Cavalaria 7 que vinha ao encontro dos revoltosos. Era comandada pelo Brigadeiro Junqueira dos Reis, meu conterrâneo, que anos mais tarde vi ao vivo num pequeno café da minha cidade de Faro.
O caminho de regresso ao nosso objectivo passou pela Ajuda onde o pessoal da Polícia Militar (PM) discutia o que fazer na entrada de Monsanto.
Ao longo desta digressão pela cidade sempre pensei que a desproporção de forças era demasiado grande, enorme e arrasadora, e que a coluna revoltosa não seria capaz de resistir a um ataque determinado. Receie que fosse destroçada em poucos minutos.
Subscrever:
Mensagens (Atom)