Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, agosto 24
1944 - PARIS LIBERTADA
Amanhã celebra-se o 80º aniversário da libertação de Paris da ocupação nazi. Nesse dia Camus escreveu um notável editorial para o jornal Combat, órgão da Resistência, intitulado: LA NUIT DE LA VÉRITÉ que começa assim:
Tandis que les balles de la liberté sifflent encore dans la ville, les canons de la libération franchissent les portes de Paris, au milieu des cris et des fleurs. Dans la plus belle et la plus chaude des nuits d’août, le ciel de Paris mêle aux étoiles de toujours les balles traçantes, la fumée des incendies et les fusées multicolores de la joie populaire. Dans cette nuit sans égale s’achèvent quatre ans d’une histoire monstrueuse et d’une lutte indicible où la France était aux prises avec sa honte et sa fureur. (...)
80 anos é muito tempo mas nada é mais importante do que celebrar a liberdade e os acontecimentos que a evocam em toda a sua força telúrica. Desde esse dia a Europa tem vivido um longo período de paz que somente hoje, no tempo que é o nosso, está verdadeiramente em perigo.
quarta-feira, agosto 21
Trabalho/tempo
Opúsculo de 1917. Quando se fazem arrumações. A História do 1º de maio e da luta pela jornada de trabalho das 8 de trabalho. A questão do tempo de trabalho é uma longa história que nunca acabará.
domingo, agosto 18
Violência
A violência intensifica-se, alastra-se e normaliza-se por todo o mundo. A novidade do nosso tempo é a velocidade e expontâneidade de informação em rede, que se tornou parte integrante, e relevante, desse manto de violência. Ao mesmo tempo renasce e difunde-se, como pano de fundo, sob novas formas, o ideário nazi-fascista, fundado na intolerância extrema ao diferente. As perpectivas de futuro são sombrias.
sábado, agosto 17
Idadismo
A notícia parece credível e não foi desmentida, antes confirmada. A provedoria de justiça está a desembaraçar-se dos seus trabalhadores mais velhos. É uma orientação de gestão e a sua aplicação obedece, certamante, à legislação aplicável. Mas a provedoria de justiça, como o título indica, não pode diferenciar negativamente em função da idade. É simples e carece de explicação.
quinta-feira, agosto 15
15 de agosto de 1109
"Em 1109, nasce, pois, um menino, primeiro filho da condessa D. Teresa e do conde D. Henrique. Estava ligado por laços hereditários à família régia de Leão e Castela.” (…). “Os escribas do conde D. Henrique e da condessa D. Teresa quase nunca se esqueciam, nos seus diplomas, de recordar que ela era filha do “grande” rei Afonso; os de Afonso Henriques, sobretudo os primeiros, lembravam que ele era neto do mesmo rei; e por volta dos anos 1185-1190 o cónego de Santa Cruz de Coimbra que redigiu os Anais de D. Afonso, Rei dos Portugueses referia-se ainda a ele como ”o grande imperador da Hispânia D. Afonso”” (…). “Em 1109, ano de nascimento de Afonso Henriques, havia, sem dúvida, quem não esquecesse a humilhante derrota sofrida pelo mesmo rei em 1085, na Batalha de Zalaca, contra as tropas almorávidas, nem, nos anos seguintes, a perda de muitas outras cidades importantes da fronteira; mas o ambiente de angústia pelo risco de perder um esplendor tão elevado contribuía, até, para engrandecer a sua memória. Afonso Henriques ficou para sempre ligado a essa referência. Considerava-se, por transmissão materna, como o legítimo herdeiro de um avô glorioso, cuja memória tinha obrigação de honrar, procurando imitar os seus feitos. Era reconhecido como tal pelos seus súbditos”. In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, “1. A Juventude de um predestinado” – "O quadro familiar: o avô", pg. 18/19.
quarta-feira, agosto 14
GUERRA(2)
A minha perceção é que já estamos em guerra pois não se vislumbram nem capacidade, nem vontade, das lideranças politicas determinantes para estabelecer alianças que fomentem a paz. A fraqueza da liderança americana é flagrante e as aleições podem não inverter essa situação, podem mesmo agravá-la. Na verdade a evolução do regime vigente na Ucrânia é uma incógnita - a guerra obsta à realização de eleições - e a invasão da Rússia um passo muito perigoso; o governo de Israel está fortemente condicionado pelas forças de extrema direita, augurando uma das maiores tragédias do nosso tempo com final trágico e apoio militar dos americanos; as ditaduras teleológicas do médio oriente, xiitas e sunitas, quase sem exceção, ameaçam eternizar-se; sem falar dos regimes vigentes na Rússia e na China e das suas ambições para a conquista do domínio do mundo com liquidação das democracias liberais ou sua subalternização. A guerra, à falta de estadistas à altura dos perigos que se alastram e aprofundam, pode ganhar novas formas e alcançar uma grau de destruição inimaginável.
terça-feira, agosto 13
GUERRA
A paz está verdadeiramente comprometida, estando iminente uma escalada com alargamento dos confrontos do Médio Oriente (Israel/Irão) e na Europa (Ucrânia/Rússia). Este mês de agosto pode ser a antecâmara de uma nova guerra à escala mundial. Boas férias!
quinta-feira, agosto 8
terça-feira, agosto 6
Tim Walz
Kamala escolheu Tim Walz para candidato à vice presidência. É provável que seja pouco conhecido nos USA, apesar do seu longo CV, daí a necessidade de insistir na sua apresentação. Mas os ataques que a candidatura de Trump lhe fez são motivo de regozijo. As águas estão a ficar bem separadas e as eleições americanas são as mais importantes de todas. Ali diz-se tudo de forma aberta e frontal. Fico contente.
segunda-feira, agosto 5
Bolsas
As bolsas afundaram hoje para níveis raramente vistos nos últimos anos. É assinável como indício de crise no sistema financeiro com impacto dificil de estimar. As guerras eternizam-se e ameaçam alargar-se -o médio oriente é ponto critico - as presidenciais americanas avizinham-se, com um doido na corrida, a especulação tem limites...
sábado, agosto 3
Mitra
O trabalho publicado no "Expresso" acerca da Mitra, um depósito de miseráveis do Estado Novo, suscita-me repulsa pelo esquecimento. Hoje seria necessário dispor de um observatório potente para detetar todas as situações de miséria que as há, muitas.
terça-feira, julho 30
JO
O desporto popular em Portugal é o futebol. Com suas misérias e glórias.Existem inúmeros meios de comunicação, programas e comentadores, que se intitulam do desporto mas se resumem ao futebol. Não admira que a multidão de modalidades desportivas que desfilam nos JO só mereçam destaque no decurso dos JO. Não admira que a prestação dos atletas portugueses nos JO não corresponda às expetativas. No futebol não estamos neles representados, o negócio é fraco!
sábado, julho 27
Mulheres
“As rosas retardatárias de Santa Maria Novella e as mulheres, neste domingo de manhã em Florença. Os seios libertos, os olhos e os lábios que vos fazem bater o coração, a boca seca e um calor nos rins.” Albert Camus, in Núpcias.
terça-feira, julho 23
KAMALA - Fico contente
Em Novembro de 2021. "Kamala Harris protagonizou esta sexta-feira um momento histórico ao tornar-se, ainda que por pouco mais de uma hora, a primeira mulher presidente dos Estados Unidos, após Joe Biden lhe ter transferido os poderes - o Presidente teve de se submeter a uma colonoscopia A administração de Joe Biden, que na véspera de completar 79 anos é a pessoa mais velha a ocupar o cargo de Presidente, continua a estabelecer recordes e Kamala Harris, que já se havia tornado a primeira pessoa negra e descendente do sul da Ásia a ser vice-presidente, foi agora Presidente interina dos Estados Unidos durante uma hora e 25 minutos." (In "Expresso")
domingo, julho 21
IMPOSTOS (2)
Ainda a questão fiscal que está no centro do debate do OE 2025. Há propostas que apontam para o imposto proporcional, ou seja, a mesma taxa para todos, o que já foi tentado por governos de ideologia liberal, sem sucesso. O imposto é progressivo quando a taxa é mais alta para os mais ricos, crescendo em função dos rendimentos (que podem ser do trabalho, de capital...). O imposto é regressivo quando a taxa diminui para os mais ricos. Simplifico. No essencial a progressividade, aquisição moderna, visa combater as desigualdades, assegurando as funções do estado social (saúde e educação publicas ...). Quando se cria a perceção que o sistema de impostos é injusto coloca-se uma questão clássica a quem paga impostos, ou seja, a todos: vale a pena pagar impostos para beneficiar os que menos precisam? Eu pago impostos, entendo e aceito a necessiddae social de pagá-los, mas quando me dou conta que estou a pagar para benefício dos que têm mais rendimento do que eu, fico em guarda. Depois entro em alerta e finalmente contesto. É o que passa na sociedade em geral.
sábado, julho 20
IMPOSTOS
Não sei mais do que as notícias dizem acerca do OE para 2025. Mas interessa-me o tema. Não tanto pelo lado da politica que, pelo que passa através dos media, simplifica demasiado o tema. Aqui, como em França e "urbi ed orbi", é o PS que está no centro de todas as decisões. Ou seja o partido do equilibrio entre forças sociais - pensionistas/trabalhadores no ativo/empresários/emprendedores/inteletuais... - o PS decidirá o próximo futuro. Tenho para mim que ganhará a conciliação em desfavor da afirmação dos principios. Mas em qualquer caso será para o PS fatal se abdicar da defesa do imposto progressivo em todas as esferas. A coisa é simples: quam ganha mais paga mais, sendo discutivel a intensidade da progressividade, aí o busilis da discussão. Será que existem negociadores capazes de conciliar, salvaguardadndo todos principios e interesses em presença? Veremos.
quarta-feira, julho 17
Contas
A França passa por estas dias por uma crise das contas públicas com um deficit, em 2023, de 5,5% do PIB. As coisas não têm grandes perpetivas de melhorar com a crise politia em curso. Qual a história recente desta crise: Macron apostou tudo no crescimento económico, com redução de impostos mantendo o estado social. Está tudo muito bem documentado. As chamadas contas certas são condição basilar para a credibilidade das politicas publicas e dos Estados, ainda mais hoje do que nunca em plena globalização. A alternativa é o regresso aos nacionalismos e sua contraparte inevitável: a guerra.
segunda-feira, julho 15
Paradoxo
Nos USA ocorreu um atentado contra um candidato presidencial republicano por um jovem que se diz ser filiado nos republicanos. Logo aqui se vê mão dos democratas ...
domingo, julho 14
MEMÓRIA
O meu pai Dimas à janela da casa onde nasci. Foi através dela que conheci um mundo banhado pela claridade da luz do sul. Vivi debruçado nesta janela até aos oito anos. Todo o tempo necessário para aprender a natureza.
Paredes brancas de cal. Ladrilhos coloridos. Ruas de terra batida. Vistas de campos espraiados até ao mar. Recantos floridos. Sombras de árvores de frutos. Mãos carinhosas. Telhas de barro quente. O azul transparente do mar.
A família sobreviveu a todas as adversidades próprias das épocas de guerra. Razão mais que suficiente para, apesar da tirania, se sentir feliz. O meu pai era uma pessoa honrada e ensinou-me a liberdade. Honra e liberdade. Foi essa a herança que dele recebi. Fica-lhe bem a moldura daquela janela na qual aprendi a sonhar.
A casa permanece intacta e habitada e esta é uma das suas duas janelas térreas. O encanto que lhe encontrava estendia-se à vizinhança, aos corredores internos e às ruas circundantes.
segunda-feira, julho 8
O caso Costa
Um inefável procurador com fama no meio veio a terreiro afirmar que Costa não é suspeito pois de contrário seria arguido. Não creio que tenha vindo a público por sua exclusiva vontade nas vésperas da PGR dizer publicamente de sua justiça. Então o muito falado parágrafo que fez cair o governo de maioria deve-se a ingenuidade? excesso de zelo? perfídia? Quem assume as responsabilidades?
domingo, julho 7
França
Derrota da extrema direita em França, contra a narrativa dominante. Seguindo-se à vitória dos trabalhistas na Grã Bretanha são duas derrotas para Putin, mostrando que nos grandes países europeus os povos não querem a extrema direita no poder. Por ora nem tudo vai mal na Europa. Deu para sentir um estremecimento ...
A vida
As sociedades em geral e, em particular as ocidentais, debatem-se com o chamado envelhecimento demográfico. Nada de novo. A politica no seio dessas sociedades crispa-se em torno da imigração. O tema serve para radicalizar discursos e incendiar as redes sociais. Acendem-se os piores sentimentos próprios das guerras tribais. Mas os imigrantes são essenciais para combater o envelhecimento demográfico e a quebra da produção em todos os setores de atividade económica. Logo é essencial promover a imigração e cuidar de garantir que o estado social intervenha em prol da boa governança da cidade. Até a estupidez tem limites!
sábado, julho 6
Sinais
O chamado "ar do tempo" é avassalador. Retira da frente do olhar qualquer realidade que contrarie a narrativa dominante. Hoje domina a narrativa do avanço implacável da extrema direita. Mas vejam-se os resultados das eleições no Reino Unido e, noutra esfera, no Irão. No primeiro caso os trabalhistas retomam o poder de forma poderosa, a esquerda ganha numa potência europeia; no segundo ganhou um candidato dito moderado, ou seja, o que no Irão anuncia sinais de mudança num regime teocrático.
sexta-feira, julho 5
Inglaterra
“Há muitas razões para a hostilidade oficial contra a Inglaterra (boas ou más, políticas ou não). Mas não se fala de um dos piores motivos: a raiva e o desejo mesquinho de vermos sucumbir quem ousou resistir à força que nos esmagou.”
Albert Camus, in
Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945).
quarta-feira, julho 3
FUTEBOL
Tout ce que je sais de plus sûr à propos de la moralité et des obligations des hommes, c'est au football que je le dois.” - Albert Camus
segunda-feira, julho 1
sexta-feira, junho 28
COSTA, o eleito
Já foi consumada a eleição de Costa, diga-se entre pares (ou ex pares) e, de súbito, o inimigo público nº 1 de quase todos os não socialistas, passou ao mais insigne mediador, negociador, fazer de pontes e consensos de que há memória. A hipocrisia na politica não tem limites.
quinta-feira, junho 27
António Costa
Chove em Lisboa. Ainda não foi tomada a decisão pelo Conselho Europeu de nomear António Costa para presidir ao mesmo. Mas parece certo pelo jogo dos equilibrios entre as várias famílias politicas. A extrema direita e a direita extrema não gostam. Alguns comentadores e influenciadores intrigam e desvalorizam. Compreendo que a luta politica não cessa às portas de uma decisão como esta. Mas uma coisa é certa: se Costa avançar teremos dois portugueses a ocupar dois dos cargos de maior influência politica global: Guterres e Costa. Haja saúde!
quarta-feira, junho 26
segunda-feira, junho 24
Lugares escondidos da mente
Não li ainda mas achei interessante. Em particular a digressão que leva a referir "a aparência tranquila e socialmente aceite dos psicopatas". Que nalguns casos ocupam cargos ao mais alto nível.
domingo, junho 23
Portugal - 24 junho de 1128
“Na era de 1166 [ano de 1128], no mês de Junho, na festa de S. João Batista, o ínclito Infante D. Afonso, filho do conde Henrique e da rainha D. Teresa, neto do grande imperador da Hispânia, D. Afonso, com o auxílio do Senhor e por clemência divina, e também graças ao seu esforço e persistência, mais do que à vontade e ajuda dos parentes, apoderou-se com mão forte do reino de Portugal. Com efeito, tendo morrido seu pai, o conde D. Henrique, quando ele era ainda criança de dois ou três anos, certos [indivíduos] indignos e estrangeiros pretendiam [tomar conta] do reino de Portugal; sua mãe, a rainha D. Teresa, favorecia-os, porque queria, também, por soberba, reinar em vez de seu marido, e afastar o filho do governo do reino. Não querendo de modo algum, suportar uma ofensa tão vergonhosa, pois era já então de maior idade e de bom carácter, tendo reunido os seus amigos e os mais nobres de Portugal, que preferiam, de longe, ser governados por ele, do que por sua mãe ou por [pessoas] indignas e estrangeiras. Acometeu-os numa batalha no campo de S. Mamede, que é perto do castelo de Guimarães e, tendo-os vencido e esmagado, fugiram diante deles e prendeu-os. [Foi então que] se apoderou do principado e da monarquia do reino de Portugal.”
“Anais de D. Afonso, Rei dos Portugueses”, citado por José Mattoso, em “D. Afonso Henriques” que, de seguida, comenta: “Este texto mostra que o seu autor considerava a batalha [de S. Mamede, 24 de Junho de 1128] como o primeiro episódio da história portuguesa."
quinta-feira, junho 20
Corrupção
Acerca da corrupção o que me apráz dizer: que se criem politicas de proteção, e incentivo, aos cidadãos honrados para o exercício de funções dirigentes. Este é o princípio e o fim de todas as politicas anti corrupção.
quarta-feira, junho 19
MP
”O MP é uma estrutura hierarquizada – é assim que está na lei. Mas não é assim na prática: o MP é um poder feudal neste momento. Há o conde, o visconde, a marquesa e o duque!”, Pinto Monteiro - ex-Procurador Geral da República (excerto de entrevista em vida).
segunda-feira, junho 17
ANJOS E MARVÃO LIBERTAÇÃO - 50 ANOS
Um dos acontecimentos mais marcantes a que assisti no período imediatamente a seguir ao 25 de Abril de 1974 foi o da recusa dos oficiais milicianos (João) Anjos e (Carlos) Marvão em comandar uma acção destinada a reprimir uma greve dos trabalhadores dos CTT. Na verdade a unidade militar na qual, no dia 17 de Junho de 1974 (?), ocorreu esse acontecimento era aquela onde eu prestava serviço militar: o 2º Grupo de Companhias de Administração Militar (ao Campo Grande).
Alguém dos poderes provisórios, saídos da revolução, não sei quem, decidiu que caberia àquela unidade militar estrear um tipo de intervenção que colocaria as forças armadas, acabadas de sair triunfantes do 25 de Abril, contra uma acção reivindicativa de trabalhadores. Foi uma decisão surpreendente, ainda para mais, quando nos demos conta que o comando da força repressiva seria cometido a oficiais milicianos.
Lembro-me de nos terem reunido e de um oficial superior encetar a tarefa impossível de ordenar a um oficial miliciano (ou oficiais) que comandasse a força. Começou por uma ponta na qual, por acaso, se haviam posicionado o João Mário Anjos e o Carlos Marvão. Não sei já qual foi o primeiro a recusar a ordem mas indagado o segundo, que também recusou, o oficial resolveu suspender a diligência. Logo a seguir, na terceira posição, se não me falha a memória, estava eu próprio. Nos dias 25 e 26 de Junho foi concretizada a prisão dos oficiais rebeldes que seguiram para a prisão da Trafaria.
A greve dos trabalhadores dos CTT terminou no dia 20 de Junho mas a posterior prisão daqueles oficiais despertou a mais profunda indignação dando origem a diversas manifestações, com significativa participação popular, de que possuo registo de duas: a primeira convocada para 28 de Junho no Campo Grande, junto à Churrasqueira, e a segunda realizada no dia 9 de Julho na Praça Marquês de Pombal proibida, aliás, pelas autoridades. Segundo uma cronologia do Centro de Documentação 25 de Abril Os manifestantes recusam-se a obedecer e desfilam até ao Marquês de Pombal.
O MES convocou as manifestações, pelo menos, através de três comunicados: o primeiro subscrito pela Comissão Política, com data de 27 de Junho (dois meses após o 25 de Abril), com o título Dois Milicianos Presos na Trafaria Por Não Quererem Reprimir os Trabalhadores, o segundo e terceiro, ambos subscritos pelos Grupos Socio-Profissionais Mistos, sem data, com os títulos Exijamos a Libertação dos Milicianos Presos e Libertemos Anjos e Marvão! A Luta Continua!
O Robin Fior, designer inglês, apanhado em Lisboa pela revolução, que foi o autor do símbolo e dos primeiros materiais de propaganda do MES, concebeu um inesquecível cartaz, com a palavra de ordem Anjos e Marvão Libertação. O cartaz de que não possuo qualquer exemplar físico ostenta um design gráfico invulgar para a época sendo, certamente, uma das peças de propaganda mais notáveis daquele período (na imagem que ilustra este texto).
Um dos oficiais milicianos presos era, nem mais nem menos, o João Mário Anjos que havia, comigo e o António Dias, bastante antes do 25 de Abril, constituído uma das «células» do MES que, por essa altura, «marinava» entre a semi-clandestinidade, que nós pensávamos que o serviço militar exigia, e a legalidade que o 1º de Maio, ainda fresco na memória de todos, reclamava. Conviveríamos com esta ambiguidade durante os meses seguintes pois, na verdade, vivíamos, com ou sem razão, na incerteza dos destinos da revolução que aquelas inopinadas prisões pareciam confirmar.
domingo, junho 16
Futebol
O futebol interessa-me pelo jogo, o jogo pelo jogo sempre me interessou desde criança. Os negócios em que o futebol profissional está mergulhado é uma lástima. O predominio do mercantilismo, se não mesmo da escravidão, em sentido literal, é desprezível.
sábado, junho 15
Inveja
O país é pequeno, pobre e desigual. Algumas luminárias fustigam os portugueses que se libertam da apagada e vil tristeza. A inveja, sempre a inveja ... esta estranha palavra.
quinta-feira, junho 13
PESSOA - CARTA A ADOLFO CASAIS MONTEIRO (Excertos)
(…)
Mais uns apontamentos nesta matéria... Eu vejo diante de mim, no espaço incolor mas real do sonho, as caras, os gestos de Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Construí-lhes as idades e as vidas.
Ricardo Reis nasceu em 1887 (não me lembro do dia e mês, mas tenho-os algures), no Porto, é médico e está presentemente no Brasil. Alberto Caeiro nasceu em 1889 e morreu em 1915; nasceu em Lisboa, mas viveu quase toda a sua vida no campo. Não teve profissão nem educação quase alguma. Álvaro de Campos nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 (às 1,30 da tarde, diz-me o Ferreira Gomes; e é verdade, pois, feito o horóscopo para essa hora, está certo). Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow), mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. Caeiro era de estatura média, e, embora realmente frágil (morreu tuberculoso), não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco. Álvaro de Campos é alto (1,75 in de altura, mais 2 cm do que eu), magro e um pouco tendente a curvar-se. Cara rapada todos – o Caeiro louro sem cor, olhos azuis; Reis de um vago moreno mate; Campos entre branco e moreno, tipo vagamente de judeu português, cabelo, porém, liso e normalmente apartado ao lado, monóculo. Caeiro, como disse, não teve mais educação que quase nenhuma – só instrução primária; morreram-lhe cedo o pai e a mãe, e deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos. Vivia com uma tia velha, tia-avó. Ricardo Reis, educado num colégio de jesuítas, é, como disse, médico; vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É, um latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria. Álvaro de Campos teve uma educação vulgar de liceu; depois foi mandado para a Escócia estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval. Numas férias fez a viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Ensinou-lhe latim um tio beirão que era padre.
Como escrevo em nome desses três?... Caeiro, por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular o que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que subitamente se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever e não sei o quê. (O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muitas cousas se parece com Álvaro de Campos, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e a afectividade. A prosa, salvo o que o raciocínio dá de ténue à minha, é igual a esta, e o português perfeitamente igual; ao passo que Caeiro escrevia mal o português, Campos razoavelmente mas com lapsos como dizer «eu próprio» em vez de «eu mesmo», etc., Reis melhor do que eu, mas com um purismo que considero exagerado. O difícil para mim é escrever a prosa de Reis – ainda inédita – ou de Campos. A simulação é mais fácil, até porque é mais espontânea, em verso.)
Nesta altura estará o Casais Monteiro pensando que má sorte o fez cair, por leitura, em meio de um manicómio. Em todo o caso, o pior de tudo isto é a incoerência com que o tenho escrito. Repito, porém: escrevo como se estivesse falando consigo, para que possa escrever imediatamente. Não sendo assim, passariam meses sem eu conseguir escrever.
Falta responder à sua pergunta quanto ao ocultismo. Pergunta-me se creio no ocultismo. Feita assim, a pergunta não é bem clara; compreendo porém a intenção e a ela respondo. Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando-se até se chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo. Pode ser que haja outros Entes, igualmente Supremos, que hajam criado outros universos, e que esses universos coexistam com o nosso, interpenetradamente ou não. Por estas razões, e ainda outras, a Ordem Externa do Ocultismo, ou seja, a Maçonaria, evita (excepto a Maçonaria anglo-saxónica) a expressão «Deus», dadas as suas implicações teológicas e populares, e prefere dizer «Grande Arquitecto do Universo», expressão que deixa em branco o problema de se Ele é Criador, ou simples Governador do mundo. Dadas estas escalas de seres, não creio na comunicação directa com Deus, mas, segundo a nossa afinação espiritual, poderemos ir comunicando com seres cada vez mais altos. Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo, intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho esse extremamente perigoso, em todos os sentidos; o caminho místico, que não tem propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeito de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm. Quanto a «iniciação» ou não, posso dizer-lhe só isto, que não sei se responde à sua pergunta: não pertenço a Ordem Iniciática nenhuma. A citação, epígrafe ao meu poema Eros e Psique, de um trecho (traduzido, pois o Ritual é em latim) do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal, indica simplesmente – o que é facto – que me foi permitido folhear os Rituais dos três primeiros graus dessa Ordem, extinta, ou em dormência desde cerca de 1888. Se não estivesse em dormência, eu não citaria o trecho do Ritual, pois se não devem citar (indicando a origem) trechos de Rituais que estão em trabalho.
Creio assim, meu querido camarada, ter respondido, ainda com certas incoerências, às suas perguntas. Se há outras que deseja fazer, não hesite em fazê-las. Responderei conforme puder e o melhor que puder. O que poderá suceder, e isso me desculpará desde já, é não responder tão depressa.
Abraça-o o camarada que muito o estima e admira.
Fernando Pessoa
14/1/1935
quarta-feira, junho 12
terça-feira, junho 11
O posicionamento
Curiosos discursos pós eleitorais, na praça pública, de vitória e de derrota. Quem obteve mais votos? Quem congrega mais comentadores? Quem engrossa mais a voz e fala mais tempo? Nestas eleições europeias os democratas mantiveram a maioria. Ontem numa mesa de café ao meu lado um conviva afirmava que a IL é de esquerda. O pai corrigiu. Está difícil o posicionamento. O velho embaixador, tempos atrás, disse que a extrema direita não existe. Está difícil o discurso, em curso.
segunda-feira, junho 10
CAMÕES
A vida de muita gente adorna. Outros naufragam. Outros sobrevivem à tona, a maioria. A energia vital que empurra a vida para a frente, fracassa. Espanta-me a capacidade, de alguns, em conviverem em silêncio com o medo.
sábado, junho 8
sexta-feira, junho 7
VOTO
Eu voto PS. O meu voto, no próximo domingo, não vai falhar como nunca falhou. Não vai mudar como nunca mudou.
Até 1979 votei MES e, a partir desse ano, sempre votei no PS. Aliás em 1979 o MES, antes ainda da sua original imolação político/festiva, aconselhou, expressamente, o voto no PS ou na APU. O meu voto, desde esse apelo, nunca sofreu qualquer desvio em eleições legislativas, europeias e presidenciais.
Alguns dos meus amigos alinharam nas “aventuras” de Pintassilgo ou de Zenha, do PRD ou UEDS, mas eu sempre votei no PS. É um voto pela liberdade e pela justiça. Não somente pelas utopias que nos alimentam os sonhos por uma vida e um mundo melhores, mas também pela defesa da concretização possível desses sonhos.
É uma opção tomada em consciência, formada através de muitas experiências, que deram para compreender que os valores supremos a defender pelo voto são a justiça e a liberdade. E o partido que melhor assegura a defesa desses valores, no nosso tempo, é o PS.
quinta-feira, junho 6
DIA D
A 6 de junho de 1944 as tropas aliadas, compostas no essencial por norte americanos, ingleses e canadianos, desembarcam na Normandia dando início à libertação da Europa do jugo nazi fascista. Morreram milhares de jovens soldados logo nas primeiras horas para que renascesse a liberdade e a democracia, hoje postas novamente à prova.
segunda-feira, junho 3
Tendências e evoluções
As tendências e evoluções politicas a médio/longo prazo não entram, em regra, na atenção mediática alucinante que conforma a opinião pública. Hoje é dado como adquirido que a direita radical ganha terreno e que a direita tradicional busca não perder terreno hesitando no posicionamento face a ela. Mas hoje mesmo soubemos que a candidata de esquerda, mulher pela primeira vez em 200 anos, ganhou as presidenciais no México e que, quase certamente, os traballhistas ganharão as próximas legislativas na Inglaterra. E, ainda mais importante, creio que Biden ganhará nos USA. Se assim fôr vira o jogo. "Sondagem: Partido Trabalhista pode alcançar maioria de quase 200 deputados no Reino Unido
A primeira grande sondagem da YouGov desde o início da campanha eleitoral britânica, iniciada há menos de duas semanas, que tenta prever o resultado em cada um dos 650 círculos eleitorais do Reino Unido coloca o Partido Trabalhista a caminho de uma vitória ainda maior do que a que Tony Blair alcançou em 1997 e deixa o Partido Conservador, no poder, em risco de eleger o menor número de deputados no pós-II Guerra Mundial. (in Público")
sábado, junho 1
Estado social/imposto progressivo
A criação, e gestão, do estado social está intimamente ligado ao imposto progressivo. Defender o estado social degradando o imposto progressivo é hipocrisia. Manter na sua integralidade o imposto progressivo é condição fundamental para salvaguardar o estado social.
quinta-feira, maio 30
Maio
Final de maio, o mês das flores, que muitas mãos acariciam - como a minha mãe gostava de rosas - e encantam em todos os canteiros vivos por esse mundo fora. Os homens, a mais das vezes, não são merecedores de apreciar a sua beleza que, para sorte da humanidade inteira, se espraia por fora deles. O mercantilismo, sem principios, tende a matar a justiça, capturando-a, tornando-a parte dos negócios. O desespero de muitos à mingua do pão exige um fortalecimento da justiça para defesa da liberdade. Muito mais além do que um valor abstrato a liberdade merece, tal como as flores, os maiores cuidados. Não como ornamento de uma sociedade injusta mas como garantia de ser possível lutar pela plenitude do exercício dela. A imprensa, em todas as suas formas, exige ser servida por cidadãos livres o que se mostra cada vez mais dificil à nossa observação. E, no tempo presente, o mais perigoso nem são os meios da imprensa tablóides que todos sabem do formato e dos fins que prosseguem, mas dos meios chamados de referência que lutam pelas audiências e cedem, em prol do que julgam ser a sua salvação económica, às facilidades do populismo.
terça-feira, maio 28
Ucrânia
A Ucrânia hoje, sem que seja possível adivinhar o futuro, é um símbolo para a Europa democrática, com todos os seus defeitos, uma grande criação de um espaço de democracia e de paz. Trava-se lá uma guerra entre duas concepções do mundo, como sempre acontece, liberdade ou tirania. Não tenho dúvidas do valor inestimável da defesa da liberdade, mesmo concedendo a existência de negócios tenebrosos que se acoitam na liberal deriva do capitalismo dominante entre os seus defensores. Mas como ser tolerantes com a tirania? Como aceitar os regimes dominados pela vontade do imperador? Putin no caso, eleito com quase 100% dos votos, numa gigantesca caricatura de democracia que só tolos levam a sério. Ao defender a fronteira da liberdade honram-se os princípios e os valores da democracia e da liberdade. Nada mais resta do que apoiar a atual Ucrânia na sua luta, augurando que, no futuro, não vejamos traídos os valores que hoje defendemos.
segunda-feira, maio 27
BASTA!
Sei da complexidade da situação no médio oriente, da grande caminhada, pós II Guerra, para criar o estado de Israel com todas as consequências na Palestina, das guerras e atrocidades cometidas em nome de todos os credos, das razões dos moderados e radicais de ambos os lados, mas, hoje por hoje, é preciso parar os desmandos do governo de ultradireita de Israel. Um acordo é preciso, urgente!
sábado, maio 25
Liberdade
A questão da liberdade, abordada por Camus, no imediato pós guerra, por volta de Setembro/Outubro de 1945, mantém plena actualidade:
"Gosto imenso da liberdade. E para todo o intelectual, a liberdade acaba por confundir-se com a liberdade de expressão. Mas compreendo perfeitamente que esta preocupação não está em primeiro lugar para uma grande quantidade de Europeus, porque só a justiça lhes pode dar o mínimo material de que precisamos, e que, com ou sem razão, sacrificariam de bom grado a liberdade a essa justiça elementar.
Sei estas coisas há muito tempo. Se me parecia necessário defender a conciliação entre a justiça e a liberdade, era porque aí residia em meu entender a última esperança do Ocidente. Mas essa conciliação apenas pode efectivar-se num certo clima que hoje é praticamente utópico. Será preciso sacrificar um ou outro destes valores? Que devemos pensar, neste caso?".
(…)
"Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade. A justiça num mundo silencioso, a justiça dos mundos destrói a cumplicidade, nega a revolta e devolve o consentimento, mas desta vez sob a mais baixa das formas. É aqui que se vê o primado que o valor da liberdade pouco a pouco recebe. Mas o difícil é nunca perder de vista que ele deve exigir ao mesmo tempo a justiça, como foi dito. (...)"
Albert Camus, in “Cadernos” – Setembro/Outubro de 1945
sexta-feira, maio 24
O Esgoto
"Mês e meio depois do cerco policial ao Teatro Capitólio, antes e durante o debate entre os candidatos Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, o Departamento de Investigação e Ação Penal arquivou o caso sem fazer uma só diligência. Vale a pena reproduzir parte das extraordinárias conclusões. “No local não foi possível apurar quem seriam os promotores de tal manifestação. Da mera leitura do auto de denúncia [preenchido pela PSP…!] é patente a inexistência de indícios que permitam conduzir à identificação dos autores daquela factualidade, não tendo sido identificado qualquer promotor ou manifestante (..), o que se traduz na impossibilidade prática de diligências de inquérito com vista à sua identificação”.
E assim, sem vestígio de pudor, sem qualquer noção da responsabilidade e exuberante má-fé, o Ministério Público (MP) enfiou na gaveta a primeira grande ameaça ao Estado de Direito conduzida por aquilo que nos habituámos a designar por “forças da ordem”; mas que, como se vê, não hesitam em usar o poder que o Estado lhes atribui para reivindicar os seus direitos profissionais. Recordo que antes desta poderosa exibição de força um dirigente sindical já ameaçara boicotar as eleições de 10 de março.
A situação é grave. Do ponto de vista das corporações, a maior ameaça ao Estado de Direito há muito que não vem dos militares. O Almirante Gouveia e Melo passeia a sua romântica altivez a bordo da farda da Marinha, mas, na verdade, não apenas as armas são escassas e velhas — muitas sofrem de obstipação crónica —, como os militares foram reduzidos a uma sombra do que já foram em número, coesão e peso na sociedade portuguesa. O espaço que ocupavam está agora nas polícias.
Já sei que o alerta contra a extrema-direita cai em saco roto. Convém, no entanto, notar que as polícias estão de facto infiltradas por estas correntes que têm como porta-voz o Chega e André Ventura. É evidente que o fascismo histórico não voltará, não vamos admirar o Ventura de braço estendido no Terreiro do Paço; contudo, a versão 2.0 da extrema-direita — uma versão com fabulosos recursos e armas digitais — está a fazer a sua paciente caminhada rumo ao poder. Em Itália, já lá está e outros países vão seguir-se.
A desvalorização do que está à vista é, por isso, um erro histórico imperdoável. O MP, dentro da sua diversidade, agora optou por tornar-se cúmplice. Como é sabido, o 25 de Abril aconteceu também por razões de carreira, no caso dos militares, embora as motivações fossem muito mais profundas. Desta vez, não haverá revolução nem cravos perfumados — a grande golpada está em curso a céu aberto e já nos habituámos ao fedor." André Macedo, in Jornal Económico
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