quarta-feira, maio 19

Imigração

100% de acordo.

Francisco Sarsfield Cabral escreve acerca dos imigrantes. Outro dia fiz-lhe uma crítica. Outros também escreveram mostrando desagrado pelo uso despropositado da palavra "poeta" que FSC utilizou numa crónica.

Mas FSC é um dos "10 grandes educadores da opinião pública portuguesa" que toda a gente respeita. Nessa mesma coluna do Diário de Nptícias, hoje, FSC anota que o Alentejo está a ser repovoado pelos imigrantes.

Afirma sem rodeios que a imigração é um factor de desenvolvimento do país. Tenho sustentado este ponto de vista. Estou 100% de acordo com o que diz FSC acerca deste tema. Afinal ele também tem alma de poeta.


Justiça - Uma Galeria de Horrores

Somos um país de gente medrosa, diz o Bastonário da Ordem dos Advogados. A Justiça é uma galeria de horrores.

Hoje tirei o dia para concordar. Estou 200% de acordo.

5 MESES DE ABSORTO

Neste dia em que o absorto faz 5 meses de vida aqui deixo o tributo ao grande poeta português Fernando Pessoa reproduzindo o poema "Tabacaria" do seu heterónimo Álvaro de Campos. Logo nos primeiros versos Pessoa se aproxima de uma reflexão intemporal que, paradoxalmente, ou talvez não, tem tudo a ver com a realidade do ser solitário face ao desconhecimento de nós próprios. "Tabacaria" é um exercício poético que tem muito a ver com a ideia de criação do "absorto". A edição que trago comigo é de bolso, modelo popular, da ITAU, foi-me oferecida e tem uma dedicatória: "23 de Maio 81 (Feira do Livro) Um beijão do bus."

TABACARIA


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
...

15-01-1928

A versão integral de "Tabacaria" pode ser lida aqui


CV - 4

Pentimento

Continuando a digressão prometida, com ajuda da colombina, aqui está outro blog do Brasil: Pentimento - Segredos de liquidificador... Sem texto de entrada como o absorto. Para meu gosto, muito bom.

terça-feira, maio 18

O CORPO EXPEDICIONÁRIO PORTUGUÊS

Logo após a edição do meu post "A fé na propaganda" no abébia vadia, como se fora uma ilustração, está disponível a publicação "IMAGENS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL".

Na 1ª Grande Guerra (1914/18), de facto, Portugal enviou para a Flandes 38.000 soldados e 1.551 oficiais. Dois mil mortos, cinco mil feridos e 6.000 prisioneiros. O horror da guerra fora de portas. O fotógrafo Arnaldo Rodrigues Garcez estava lá.

Fragmentos de Leituras

"Uma sociedade de emissores

Vivo numa sociedade de emissores (sendo eu um deles): cada pessoa que encontro, ou que me escreve, envia-me um livro, um texto, um apanhado, um prospecto, um convite para um espectáculo, para uma exposição, etc. O prazer de escrever, de produzir, aperta por todos os lados; mas, uma vez que o circuito é comercial, a produção livre permanece asfixiada, aflita e como desvairada: na maior parte das vezes, os textos, os espectáculos vão para onde não são solicitados; encontram, por seu mal, "relações", e não amigos e ainda menos parceiros; o que faz que essa espécie de ejaculação colectiva da escrita, na qual poderia ver-se a cena utópica duma sociedade livre (em que o prazer circulasse sem passar pelo dinheiro), tenda hoje para o apocalipse."

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 10
(Fragmento 1 de 2, pag. 6)

Edição portuguesa: "Edições 70"

CV (3)

SONHO

O texto de apresentação deste blog de Ernesto Diniz é assim: "O que é sonho? Tudo que você pode tocar, cheirar, sentir, apenas e simplesmente parte de você e do (seu) mundo, está logo abaixo dos seus dedos e entre suas pernas, um pouco no coração, na alma, brincando de fazer difícil ou acontecer. É a ponta da lança, é o coração."

Vejam aqui Sonho um blog muito bem apresentado, e melhor escrito, da série que anunciei. Um passeio guiado por blogs do Brasil, com a ajuda de Colombina.

segunda-feira, maio 17

Vistas de Rua (3)

Lisboa, 9 da manhã. Na sexta-feira passada fiz um percurso singular. Tomei o Metro em Telheiras. Percorri toda a "linha verde" até ao Cais do Sodré. Tudo bem, sem demoras nem enchentes, apesar de ser "hora de ponta". Saí e caminhei a pé na direcção de Alcântara. Não é a primeira vez que faço este percurso.

Mas hoje reparei que a Avenida 24 de Julho é um corredor de transportes puro. Dispõe de uma via rodoviária com 4 "faixas de rodagem", duas em cada sentido, uma via para eléctricos e autocarros, uma em cada sentido, uma via para comboios, uma em cada sentido, uma outra via rodoviária, no interior, junto à ferrovia, duas em cada sentido (com variantes).

No percurso a pé de cerca de 20 minutos, não encontrei uma só pessoa a não ser mesmo no início, junto à estação do Cais do Sodré e, no fim, próximo do cruzamento com a Infante Santo. Um deserto de pessoas, de árvores dignas desse nome, de sombras, de vistas sobre o Tejo que corre ali tão perto .

Apesar de todas as iniciativas para "recuperar" o rio para a cidade a Avenida continua a ser um muro (quase) intransponível no acesso ao rio. No entanto à noite a avenida ressuscita. O rio indiferente continua, majestoso, a correr na direcção da foz.

Sequência Infernal

Era esta a sequência das notícias no Correio da Manhã online cerca do meio dia e meia de hoje:

"Assassinado dirigente político iraquiano"
"Greve na Maternidade Alfredo da Costa"
"Concordata Assinada" (na minha primeira leitura até li "assassinada"!)
"Greve Judicial Atrasa Julgamentos"
"Assassinada por Iraquiano" (manchete de primeira página na edição em papel)
"Benfiquista Baleado"
"Soldados matam Palestinianos" ...

Não há por onde escolher... a imprensa em geral, e os tablóides em particular, tem sede de sangue...sangue.... muito sangue. O populismo a galope...

C.V. s (2)

Ora vejam aqui a apresentação de um blog com uma notável qualidade literária e humana para o qual faço um link.

Você não perguntou, mas...

"Colombina por opção, comunicadora por vocação, comunicativa de berço. 24 anos muito bem vividos, solteira, louca por vodca e sushi. Cinema. Chuva e pipoca. Sol e cerveja. Anéis e brincos de prata. Um piercing. Sete tatuagens. Não me basto, preciso do mundo. Olhos nos olhos. Beijos lentos. Sensível. Sem frescura. Ruiva de alma. Orquídeas. Preto e vermelho. Chico Buarque, Los Hermanos, Jorge Ben, Fernanda Young e Clarice Lispector na veia. Sempre."CV

domingo, maio 16

Equilíbrios

Vamos fazer um mini balanço, a meus olhos e sentimentos, da época futebolística que acaba de terminar, salvo o Euro que aí vem. O Farense desceu para a III Divisão, lembro-me muito bem de outras épocas em que tal aconteceu. Fiquei triste, mas outros tempos virão. O Olhanense, eterno rival do Farense, subiu para a II Liga de Honra. Um caminhou para baixo o outro caminhou em sentido contrário.

O Benfica acaba de ganhar a Taça, após 8 anos sem ganhar qualquer título, dividindo os títulos nacionais mais importantes com o FCP. Era desnecessário Mourinho ter feito declarações injustas e deselegantes na hora de derrota. O seu mau perder vai dar-lhe muitos desgostos em Inglaterra. Além do mais o FCP pode ganhar, espero que ganhe, o mais importante troféu das competições de clubes na Europa - a Taça dos Campeões.

Em tudo há um equilíbrio. Uns ganham e outros perdem. Uns descem e outros sobem. No desporto como na vida não se pode ganhar sempre, nem sempre se perde.

Vistas de Rua (2)

A minha rua é a Prof. Simões Raposo, fundador do IPO (Instituto Português de Oncologia), em Telheiras. Poucos sabem quem é? O esquecimento é mais habitual do que devia.

Na minha rua faltava construir um lote. Estaleiro à porta. Para durar. A coisa é grande. Uns poucos anos atrás ainda passeávamos nesta antiga quinta a ver as vacas pastar. Agora os camiões alinham-se em fila e retiram os entulhos do fundo do buraco que se afunda. O verde do prado sumiu. É o progresso.

A minha rua vai deixar de ter paisagem. Só vultos revolvendo-se no interior dos apartamentos - à frente, ao lado, por todos os lados. A minha rua está cheia de carros, ora parados, ora em movimento.

É preciso ter cuidado para não ser atropelado. É assim a minha rua dez anos passados. A minha rua é um estaleiro. E a obra só agora começou. Não me queixo. Observo.

Fragmentos de Leituras

"Para que serve a utopia
..., mas já depois veio a lume, ainda que imprecisa e cheia de dificuldades, uma filosofia pluralista: hostil à massificação, voltada para a diferença, em suma fourierista; a utopia (sempre mantida) consiste então em imaginar uma sociedade infinitamente parcelada, cuja divisão já não seria social e que, portanto, deixaria de ser conflitual."

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 10
(Fragmento 3 de 3, pag. 5)

Edição portuguesa: "Edições 70"

sexta-feira, maio 14

C.V. s (1)

Este é o texto de apresentação de um blog brasileiro. É o primeiro de uma série. Quem quiser que os procure. Não respondo pela sua idoneidade ideológica, nem me interessa.

GAROTA CAFEÍNA é uma moça de fino trato; made in the 80´s; blogueira incompetente; amiga dedicada; solteira-enrolada; ariana atípica; ruiva tingida; pseudo-intelectual; tímida-sociável; corintiana medíocre; roqueira enrustida; chocólatra convicta; ouvinte paciente; baladeira esporádica; internacionalista por formação; estudante indisciplinada; workholic assumida; são-bernardense orgulhosa; nada metódica; bastante impulsiva; tolerante ao extremo; pouco tradicionalista; quase racionalista; sempre perfumada; viciada em cafeína; louca por jogos de tabuleiro; frustrada por não ter um piercing na língua; nunca plantou uma árvore(só pezinhos de feijão); não é muito de contestar; não tem a menor pretensão de mudar o mundo, só seguir seu próprio caminho.
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TAP/95 - UMA PEÇA NOTÁVEL

Se fosse preciso reinventar a corrente artística que ficou conhecida como "teatro do absurdo" esta notícia podia servir como fonte de inspiração. Conclusão da notícia: na TAP, em 1995, houve corrupção, corruptores e corrompidos. Mas, está bem de ver, não houve corrupção, corruptores e corrompidos!

Mas faltam detalhes à notícia. Situá-la no tempo político! Caracterizar as personagens e as suas relações! Esta peça está muito mal contada. Surge no dia em que Santana Lopes é apresentado como desistente do "sonho presidencial". Terá esta peça algo a ver com as próximas eleições presidenciais?

quinta-feira, maio 13

Previsões pessimistas

A OCDE prevê que Portugal apresente, em 2004, a mais baixa taxa de crescimento dos países da OCDE. O déficit público poderá atingir os 3,8%, cerca de 1% acima da previsão do governo português.

A previsão de crescimento económico, para Portugal, em 2004, é revista de 1,5% para 0,8%, abaixo dos países que apresentam as mais baixas taxas de crescimento (Países Baixos e Itália, com 0,9%). A taxa de desemprego crescerá de 6,4, em 2003, para 6,6 este ano. A inflação descerá de 3,3% para 2%.

A OCDE recomenda o lançamento de "outras reformas", em particular, do regime de aposentações e recomenda uma política de moderação salarial. Salvo a evolução da inflação, como factor positivo, não são nada encorajadoras estas previsões da OCDE. A retoma é condicionada fortemente pela evolução da economia europeia. A retoma em Portugal depende da procura externa (exportações) já que a procura interna ficou fortemente abalada pelo enfraquecimento da confiança dos agentes económicos e, em geral, dos consumidores portugueses.

A este quadro devem acrescentar-se os sinais, dos últimos dias, da evolução do preço do petróleo (em alta) e de instabilidade política resultante do conflito no Iraque e, em geral, no Médio Oriente.

Hoje é 13 de Maio, dia do milagre de Fátima. Oremos para que não venham dias ainda piores.

Opiniões de Leitores

Caro Eduardo Graça:
O senhor espicaça-nos a curiosidade com um poema que Xanana Gusmão escreveu, a seu pedido na prisão sobre o 25 de Abril e depois não o publica?
Faço-lhe o desafio e peço-lhe que o publique.
Cumprimentos
JR

Um dia destes publico o poema que Xanana Gusmão escreveu, em 1999, para o projecto "A poesia está na Rua", uma parceria entre o INATEL e a Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto que se deveu à iniciativa e entusiasmo da Manuela Espírito Santo. É uma questão de o encontrar que está desencaminhado do dossier respectivo. Mas publico um outro, para o mesmo projecto, de Eugénio de Andrade:

APENAS ISSO

Dai-me ainda outro verão,
um verão do sul, redondo
lento maduro; um verão
de rolas frementes de cio,
de porosa alegria, de luz varrida
pela cal; dai-me
mais um verão rente à sombra
do pátio onde um rumor
cativo do poço sobe aos ramos;
um verão
limpo como o céu da boca;
mais dentro, mais fundo.

Ou por fim o silêncio.
Caindo a prumo.

Foz do Douro, 8/1/99

quarta-feira, maio 12

Vistas de Rua

Hoje as ruas de Lisboa estavam quase desertas de autocarros. Trabalhadores da Carris em greve. Viam-se poucos "alternativos". Na rua das Janelas Verdes, pela manhã, um carro "artilhado" da Brigada de Trânsito estaciona, bem à vista de todos, em cima do passeio e da passadeira de peões mesmo defronte do portão da sede da brigada.

Pelo início da tarde na Estação de "Santa Apolónia" o táxi que tomei arranca da paragem respectiva e é obrigado, para aceder à via principal, a fazer uma estranha manobra por cima de um passeio, atendendo a umas obras não sinalizadas.

O taxista diz-me que quando é obrigado a passar junto dos buracos do "Túnel do Marquez", se transporta turistas, lhes diz que se trata de uma importante descoberta arqueológica. O resultado é bom e prestigiante para a cidade de Lisboa


Fragmentos de Leituras

"A borboleteante

É espantoso o poder de diversão dum homem que se sente aborrecido, intimidado ou atrapalhado pelo seu trabalho: ao trabalhar no campo (em quê? A reler-se, ai de mim!), eis a lista de diversões que suscito de cinco em cinco minutos: vaporizar uma mosca, cortar as unhas, comer uma ameixa, ir mijar, verificar se a água da torneira continua a sair barrenta (hoje faltou a água), ir à farmácia, ir ao jardim para ver quantos abrunhos amadureceram já na árvore, ver o telejornal, confeccionar um dispositivo para segurar as minhas papeladas, etc. Deambulo. (A deambulação relaciona-se com essa paixão a que Fourier chamava a Variante, a Alternante, a Borboleteante.)"

"Roland Barthes por Roland Barthes" - 9
(Fragmento 2 de 3, pag. 5)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Fuga para o centro

O Primeiro Ministro diz que não é de direita nem nunca foi. Supõe-se que também não é de esquerda. Estes casos costumam ser resolvidos com o recurso ao "centro".

Mas, na verdade, o centro não existe. Costuma dar-se o exemplo de Freitas do Amaral que seria um bom candidato a Presidente da República caso não fosse do centro. Rigorosamente do centro. Ninguém votaria nele. O centro é uma terra de ninguém.

O primeiro ministro precisa de dar entrevistas. Dizer coisas. Os seus estrategos dizem-lhe que precisa de aparecer. Não se pode apagar. O país precisa de estímulo. De confiança. Afinal a direita, em Portugal, não tem primeiro ministro que a represente. A direita que manda no Governo tem um nome:PP.

O Primeiro Ministro encetou uma fuga. Trata-se de uma fuga para o centro...que não existe...é o vazio...lê-se nos seus olhos...estão a ver onde isto vai levar...