A época era de pesadelo. O último lustro da década de 60 foi duro. Lutas e mais lutas. Crises e mais crises. O Maio de 68. A crise de 69. Sentia-se no meio estudantil o ambiente pesado da vigilância e repressão policiais. Os activistas eram especialmente seguidos e provocados.
Quem se expunha na actividade associativa legal, tolerada, era inevitavelmente referenciado pela polícia política do regime. Corriam-se riscos. Temia-se a prisão a qualquer momento. Abundavam os rumores e choviam os avisos. Aqueles que, como eu, acreditavam, e acreditam, no progresso nunca se deixaram intimidar. A cada um de nós coube a sua sorte.
Um dia alguém me convenceu que a minha prisão estava iminente. Pois bem, havia que tomar uma decisão. Manter a actividade? Entrar na clandestinidade? Ficar ou partir? Não pertencia, nem nunca pertenci, ao Partido Comunista que era a única organização verdadeiramente organizada em termos de clandestinidade. Não podia arriscar uma caricatura de vida clandestina sem rede. Optei por “dar o salto”. Destino: Paris.
Combinei com uns amigos os detalhes. Fizeram-se os contactos com quem havia de nos “passar”. Tomei as providências necessárias. Despedida discreta e dramática de quem mais amava. Rapar a barba. Tomar o comboio na direcção do Porto. Ponto de encontro: restaurante “Ché-Lapin”, à hora de almoço. Almoçamos e esperamos uma eternidade pelo contacto. Não apareceu ninguém. O contacto falhara. Ainda hoje não sei a razão. Nunca mais falei com o dito.
Regresso a Lisboa. Reencontros inesperados. Ao tomar o meu lugar habitual na “Esplanada do Jardim da Estrela” senti a extraordinária sensação de não ser reconhecido por ninguém. Nem sequer pelo empregado que me servia todos os dias. Só a minha voz me atraiçoou. Sempre me reconhecem pela voz.
Nunca cheguei a ser preso. Segui o meu caminho. Por um triz estive para ser um "falso exilado". Felizmente o destino protegeu-me e nem os meus pais chegaram a saber da aventura.
Quem se expunha na actividade associativa legal, tolerada, era inevitavelmente referenciado pela polícia política do regime. Corriam-se riscos. Temia-se a prisão a qualquer momento. Abundavam os rumores e choviam os avisos. Aqueles que, como eu, acreditavam, e acreditam, no progresso nunca se deixaram intimidar. A cada um de nós coube a sua sorte.
Um dia alguém me convenceu que a minha prisão estava iminente. Pois bem, havia que tomar uma decisão. Manter a actividade? Entrar na clandestinidade? Ficar ou partir? Não pertencia, nem nunca pertenci, ao Partido Comunista que era a única organização verdadeiramente organizada em termos de clandestinidade. Não podia arriscar uma caricatura de vida clandestina sem rede. Optei por “dar o salto”. Destino: Paris.
Combinei com uns amigos os detalhes. Fizeram-se os contactos com quem havia de nos “passar”. Tomei as providências necessárias. Despedida discreta e dramática de quem mais amava. Rapar a barba. Tomar o comboio na direcção do Porto. Ponto de encontro: restaurante “Ché-Lapin”, à hora de almoço. Almoçamos e esperamos uma eternidade pelo contacto. Não apareceu ninguém. O contacto falhara. Ainda hoje não sei a razão. Nunca mais falei com o dito.
Regresso a Lisboa. Reencontros inesperados. Ao tomar o meu lugar habitual na “Esplanada do Jardim da Estrela” senti a extraordinária sensação de não ser reconhecido por ninguém. Nem sequer pelo empregado que me servia todos os dias. Só a minha voz me atraiçoou. Sempre me reconhecem pela voz.
Nunca cheguei a ser preso. Segui o meu caminho. Por um triz estive para ser um "falso exilado". Felizmente o destino protegeu-me e nem os meus pais chegaram a saber da aventura.
Absorto - 1º Aniversário (4 de 17)