terça-feira, março 8


Dia Internacional da Mulher - A minha mãe Tolentina majestosa nos seus tempos aúreos de mulher lutadora e amante dedicada dos seus homens - meu pai, meu irmão e eu - o sobrevivente.

Fernando Pessoa - Fotografia de Helder Gonçalves

Os acasos da Guerra - Actualização

Ver a confirmação do facto das autoridades militares americanas estarem informadas do resgate da jornalista italiana no Iraque.

segunda-feira, março 7

Colagens

É muito interessante a táctica de colagem dos ministros do PP aos novos titulares das respectivas pastas. Uns dias atrás Paulo Portas desfez-se em elogios ao futuro Ministro da Defesa. Telmo Correia não pode elogiar o Ministro do Turismo porque não há.

Hoje Bagão Félix abençoa o futuro Ministro das Finanças.

Mais vale prevenir do que remediar…

Sampaio e a Educação

Também estou de acordo com a prioridade política para a educação identificada por Sampaio. Já Guterres tinha, em 1995, identificado a mesma prioridade (“paixão pela educação”), já Cavaco tinha, a partir de finais dos anos 80, lançado programas inovadores para dar corpo à mesma prioridade (“ensino profissional” por exemplo), já Veiga Simão, no início dos anos 70, tinha lançado uma das mais profundas reformas da educação do século XX.

Apesar de todas as paixões e da identificação da prioridade para a educação os indicadores conhecidos de insucesso e abandono escolar, em Portugal, colocam-nos na cauda da Europa dos 25.

Convém, pois, assumir que este é um problema que vem de longe, sendo ainda uma sequela da transição do modelo elitista de escola, próprio da ditadura, para um modelo de escola próprio de uma democracia avançada.

O designado “choque tecnológico”, ou plano tecnológico, aplicado à “educação básica e secundária” é o caminho apontado pelo governo socialista. Como se vai aplicar? É essa a questão que está em aberto.

Sampaio (...) apontou ainda como "a única e decisiva prioridade" do país "o acesso universal à educação básica e secundária de qualidade".

Os acasos da guerra

Como seria de esperar:

“Itália garante que EUA sabiam da libertação de Giuliana Sgrena”

O desmentido da implicação das forças norte americanas no ataque à comitiva que resgatou a jornalista italiana do cativeiro é, em si mesmo, muito significativo.

Neste tipo de situações os acasos e acidentes são uma raridade. Pode parecer uma brutalidade mas é sempre tudo intencional. É difícil entender o desconhecimento dos militares americanos acerca de uma operação de libertação de uma jornalista refém natural de um dos principais países membros da coligação.

As patrulhas militares no Iraque não actuam por conta própria como vulgares bandos de salteadores. São forças de elite que obedecem a um comando sustentado numa forte hierarquia. Depois de premir o gatilho o mal está feito.

Se a guerra fosse feita de acasos e acidentes ainda um dia alguém poderia afirmar que, afinal, a guerra nunca existiu. A democracia vale todos os sacrifícios mas não desculpa nenhum crime que em seu nome seja cometido.

Adenda: a jornalista trabalha para “Il Manifesto” um jornal da esquerda comunista italiana. Com uma linha editorial, certamente, pouco recomendável para as políticas externas das administrações americana e italiana.

“EUA investigam disparos

Os EUA estão a investigar a actuação da patrulha norte-americana que na sexta-feira feriu a jornalista italiana Giuliana Sgrena, depois de ser libertada de sequestradores no Iraque. A viatura onde seguia, com elementos dos serviços secretos italianos, foi alvejada devido a «um acidente terrível», justificou a Casa Branca.”


“Expresso on line”

O Retrato de Freitas do Amaral

O CDS-PP de Paulo Portas, sem esquecer, Bagão Félix, mostra a verdadeira face do seu moralismo. O anúncio devolução do retrato de Freitas do Amaral, pelo correio, para a sede do PS mostra :

1- desprezo pela história e tradição;
2- incivilidade e falta de sentido de estado;
3- ausência de espírito democrático e “mau perder”;
4- radicalismo serôdio;

A gravidade deste gesto ainda é mais acentuada se nos lembrarmos que, até ao próximo sábado, o CDS-PP ainda é governo.

Que surpresas nos reservará ainda o CDS-PP para esta semana? E os seus ministros? Ou, excepto a devolução do retrato, todas as surpresas serão preparadas no recato dos gabinetes?

domingo, março 6

Turismo Sem Ministério

Fez bem Sócrates em não considerar na estrutura do governo o Ministério do Turismo. Num artigo que publiquei, uns meses atrás, defendi isso mesmo. O turismo terá direito certamente a uma secretaria de estado. Resta saber qual o ministério em que se vai integrar. Quer-me parecer, atenta a estrutura do governo, que voltará para a Economia. Nesse caso será, apesar de tudo, uma oportunidade perdida.

Eis o que defendi e continuo a defender:

“Sustento que, sendo o turismo uma actividade transversal e multidisciplinar, muito relevante na dinâmica do desenvolvimento integrado da sociedade portuguesa, deveria, no governo, integrar um Ministério que exercesse a tutela dos transportes e do ordenamento do território.

A minha preferência é a do modelo francês (aliás a França é a primeira potência turística mundial) no qual o turismo está integrado, ao nível de secretaria de estado, no “Ministério do Equipamento, Transportes, Ordenamento do Território, Turismo e Mar”. (que diferença em relação à estrutura do governo português actual!)

Aliás, além de Portugal, nos países da União Europeia, só em Malta existe um Ministério do Turismo, no caso, desde 2003, integrando também a cultura. Esse é o modelo adoptado nos países do Norte de África e nalguns outros do chamado “terceiro mundo”.

Não quer dizer que não possa ser uma originalidade bem sucedida no nosso país. Tudo depende do peso político que alcançar, da competência dos seus titulares e do tempo que durar. “

Naide Campeã

Um dia escrevi que Naide Gomes era o nosso maior atleta da actualidade. De todos, homens e mulheres.

Falhei o meu prognóstico quando, nos Jogos Olímpicos, ela falhou a medalha no Hepatlo por ter fracassado no seu forte – o salto em comprimento.

Desta vez não falhou. Naide Gomes é campeã da Europa.

O incómodo da extrema direita

Freitas do Amaral é um espinho cravado na garganta da extrema direita.

Só isso bastava para provar como a sua escolha para o governo é acertada. Freitas do Amaral não caminhou muito para a esquerda, o CDS/PP é que caminhou muito para a direita.

Freitas do Amaral não precisa do governo para nada, Portas precisa do governo para tudo.

Freitas do Amaral nunca perdeu o estatuto de homem de estado, Portas nunca conseguiu, apesar do esforço, ganhar esse estatuto.

Portugal não precisa de se ajoelhar perante os americanos para afirmar a sua vocação atlântica. Antes pelo contrário: para se afirmar como “um entre iguais”, em todas as alianças, carece, absolutamente, de ficar de pé.

Por isso Freitas é uma boa escolha para Ministro dos Negócios Estrangeiros.

sábado, março 5

Manuel Alegre acerca de Vítor Wengorovius

No seu artigo de hoje no “Expresso” “Responsabilidade absoluta” Alegre diz o essencial acerca de VW. (Para assinantes)

“Estavam lá todos, os de sempre, os que restam dos de sempre, da campanha de Humberto Delgado, do assalto ao quartel de Beja, dos movimentos estudantis de 62 e 69, dos católicos progressistas, da luta anticolonial, da resistência clandestina e não clandestina, da Capela do Rato, da CDE e da CEUD, de todas as prisões e todos os exílios, de todos os combates que desembocaram no 25 de Abril, de todas as causas e todos os sonhos que foram a vida de Vítor Wengorovius e que, dos anos sessenta até agora, são a história da esquerda portuguesa. Todos, de Jorge Sampaio e Mário Soares a Francisco Fanhais, que admiravelmente cantou a «Canção da Cidade Nova». Ouvimo-lo com um nó na garganta, recordando o Vítor, a sua generosidade, a sua entrega aos outros, a sua grandeza de alma. Naquele tempo em que quase todos se calavam, o Vítor pedia frequentemente a palavra. E quando começava era o cabo dos trabalhos para o convencer a parar. A esta hora já está com certeza no céu e S. Pedro nem sabe o que o espera quando o Vítor pedir a palavra. Ele nunca se calou. Ele nunca se calará.”

Freitas do Amaral e o Governo do PS

Temos governo. Com16 ministros. Mais pequeno. Sem Ministério do Turismo, o que aplaudo. Com Ministério do Trabalho e da Solidariedade, uma espécie de homenagem, não dita, a Ferro Rodrigues, ao recuperar a designação do ministério que ele dirigiu.

Guardo uma expectativa positiva acerca da acção deste governo. Os tempos são difíceis. A governação será, como todos esperam, difícil.

Freitas do Amaral é uma surpresa para quem não tenha estado atento ao seu percurso pessoal. Quando, em 2001, subiu à cena no Teatro da Trindade a peça "O Magnífico Reitor", de sua autoria, pelo menos eu e o Carlos Fragateiro percebemos a nova postura ideológica e política de Freitas do Amaral. Na estreia a sala estava cheia de dirigentes da direita - o governo era socialista - e raros dirigentes da esquerda. Era um risco tremendo. Mas fez-se e foi um sucesso de público e de bilheteira.

Nesse mesmo dia um jornalista do "Independente" - Pedro Guerra - "ameaçou" com a publicação de uma notícia - a partir de notícias anónimas - contra a minha gestão do INATEL. A notícia não saíu e no seu lugar foram publicadas duas páginas com fotos daquela estreia.
Esse jornalista havia de tomar um lugar de destaque no gabinete do Ministro da Defesa e lider do PP, Paulo Portas. A campanha contra a minha gestão do INATEL havia de seguir mais tarde pelas mãos de Bagão Félix dilecto colaborador de Portas. As coincidências não são um acaso.

Acerca da peça a polémica estalou e a direita torceu o nariz. Mas engoliu. A esquerda oficial também. Em 2002 subiu à cena no Trindade a segunda peça de Freitas - "Viriato" - com menos polémica mas igual sucesso de público.

Tive o privilégio, como presidente do INATEL, do qual o Teatro da Trindade depende, de apoiar Carlos Fragateiro no patrocínio às incursões de Freitas do Amaral pela dramaturgia e de tomar consciência da sua postura de sincera preocupação com a luta pela dignidade, justiça e liberdade do homem.

A entrada de Freitas do Amaral no governo socialista é o facto mais notável deste período da política portuguesa. Mas esse facto não me espantou, antes me deu a certeza de que estamos perante um homem que não tem medo de assumir desafios novos e que não foge perante as dificuldades.

Assim o PS, os socialistas e o seu governo sejam dignos do seu corajoso gesto.

O Sonho e a Acção

“Tenho que escolher o que detesto – ou o sonho, que a minha inteligência odeia, ou a acção, que a minha sensibilidade repugna; ou a acção, para que não nasci, ou o sonho, para que ninguém nasceu.

Resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum; mas, como hei-de, em certa ocasião, ou sonhar ou agir, misturo uma coisa com a outra.”

“Livro do Desassossego” – Bernardo de Passos – (Fernando Pessoa)

sexta-feira, março 4

Sequência Infernal

Vejam esta sequência infernal dos títulos do “Expresso on line”. Viva o não-governo. A oposição ocupa o espaço todo. No meio uma náufraga. Por enquanto ouvem-se choros e lamentações.

"Liderança do PSD
Ferreira Leite na «reserva»

A ex-ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite não será candidata à liderança do PSD por considerar que isso iria dividir o espaço da candidatura de Marques Mendes."

"Regresso previsto no dia 14
Santana volta à CML"

"Audiência aberta à comunicação social
Catalina Pestana vai ser ouvida

"Marques Mendes
Aposta no Texto da Europa"

"Luís Filipe Menezes
CDS não é «inimigo»"

quinta-feira, março 3

As Novas Políticas Sociais e o Governo Socialista

Já está disponível no site do “Semanário Económico” o artigo com o título em epígrafe.

O mesmo pode ainda ser consultado no IRAOFUNDOEVOLTAR.

Revolta



Durante o mês de Março publicarei um conjunto de 10 posts, ilustrados com imagens, a partir de um texto original – “Fragmentos Autobiográficos” - inspirado nesta citação de Camus:

“Revolta: Criar para chegar mais perto dos homens? Mas se pouco a pouco a criação nos separa de todos e nos empurra para longe sem a sombra de um amor...”

Fotografia de Helder Gonçalves

quarta-feira, março 2

"O Aprendiz de Feiticeiro"



Publico hoje o último post do meu livro artesanal construído a partir de excertos de “O Aprendiz de Feiticeiro”, de Carlos de Oliveira”. A obra, salvo erro, é de 1971 e a minha “edição” ocorreu em 1981, por mero acaso, em coincidência com a morte do autor.

Para quem quiser aqui tem uma edição recente.

"A Última Tília"



“ Tchekov, primeiro acto do “Tio Vânia”. Fala Astrov:

- O homem foi dotado de razão e força criadora para multiplicar o que lhe legaram, mas até hoje não criou, destruiu. Há cada vez menos florestas, os rios secam, a caça desaparece, o clima torna-se mais rude dia a dia, a terra mais pobre e mais feia. Vejo que me olhas ironicamente, tudo o que digo te parece que não é a sério e … e, talvez seja apenas mania minha, mas quando passo por uma floresta que salvei ou ouço o rumor da floresta ainda jovem que plantei com as próprias mãos, torno-me consciente de que o clima depende um pouco de mim e que se o homem dentro de mil anos tiver de ser feliz mo fica também a dever um pouco. Quando planto uma bétula nova e a vejo em seguida cobrir-se de folhas verdes, balançar ao vento, o meu coração enche-se de orgulho …

Pobre Astrov. Os operários derrubam a última tília e partem nos camiões pouco antes de se acenderem as lâmpadas da praça, que são (como os arboricidas gostam) flores de gás.”

“O Aprendiz de Feiticeiro” – Carlos de Oliveira
Fragmentos (Gás) – pág. 17, 18 e 19 (6 de 6)

Fotografia de Helder Gonçalves

terça-feira, março 1

O Meu Irmão Dimas Morreu



O meu irmão Dimas era um “self-made-man”. Pertencia aquela rara plêiade de portugueses que triunfou na vida pelas suas próprias mãos. Com o seu trabalho. Sem golpes nem favorecimentos espúrios. Um artista de fina sensibilidade e operário na sua arte, perfeccionista, preocupado com os detalhes, homem de honra e de palavra.

Sofreu, certamente, em silêncio, os males do nosso tempo e a doença súbita que, em poucos dias, o ceifou para a vida. Eu fui um filho tardio. A sua adolescência coincidiu com a minha meninice. Sempre fui para ele “o meu menino”. O meu irmão Dimas raramente dizia palavras de circunstância. Nem era homem de grandes manifestações públicas de afecto. Mas eu sempre senti o halo da sua secreta afeição e solidariedade.

A imagem que dele guardo, para sempre, está neste retrato a preto e branco. A família completa posa para a Kodak de meu pai. No Jardim da Alameda, em Faro. Respira-se um ar de felicidade e o meu irmão, adolescente, deixa perceber a sua elegância. Eu empoleiro-me no banco na hora do disparo. A máquina, suspensa num tripé, accionada por meu pai, deixa passar aqueles segundos que ainda lhe permitem tomar o lugar no retrato.

Reparo nas roupas domingueiras que todos envergávamos. O meu olhar e o de minha mãe pousam, certeiros, na objectiva. Os olhares de meu pai e de meu irmão pousam em algo, ou alguém, ligeiramente ao lado. Simétricos dois a dois. Reparo na expressão feliz do seu rosto e na sua esguia mão.

Que dia terá sido aquele? Um aniversário? Um dia de festa? Um momento para todo o sempre.

Lusomundo - Negócio Fechado

A notícia aí está. A poucos dias do início da entrada em funções do novo governo. Ninguém questiona nada! Deve ser mesmo assim! Negócio fechado!

Em palavras chãs a PT vendeu aos “Irmãos Oliveira” os órgãos de comunicação social que detinha. Daqui a algum tempo se verão as consequências.

(Afinal o PS já se pronunciou, concordando com a venda, e as "entidades reguladoras" que se amanhem. O problema é que o pronunciamento do PS tem o tom de "fim de festa". Mas qual festa? Ou de alívio! Mas de que dor?)