O site do STAPE não apresenta ainda o resultado final das eleições legislativas de 20 de Fevereiro. Faltam os resultados dos “círculos da emigração”. Ainda há contencioso ? Há atraso ? É erro meu? O que se passa?
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quarta-feira, março 30
Sondagens no Reino Unido
Com eleições gerais, muito provavelmente em 5 de Maio, no Reino Unido são importantes as reflexões do MARGENS DE ERRO em que se afirma, por exemplo, que “uma votação 35%-34% favorável aos Trabalhistas, como a que resulta da última sondagem YouGov (24 Março), por exemplo, significa, na prática, uma vantagem muito maior em termos de deputados. Ou para ser mais preciso: o Labour pode até perder em número de votos e ganhar confortavelmente em deputados.”
Faro - "Capital da Cultura 2005"
Faro, minha cidade natal, parece aturdida com a ingente tarefa de acolher e organizar a “Capital Nacional da Cultura” - 2005.
A cidade sempre foi arredia a essas coisas da cultura. Cidade natal de muitos artistas, só grandes poetas contemporâneos, assim de repente, me lembro de António Ramos Rosa, Gastão Cruz e Casimiro de Brito...
Mas a cidade não acolhe dos seus grandes artistas senão quase só a sua lembrança.
Não admira que a directoria do certame, com sede ali no “Clube Farense”, paredes meias com uma janela do quarto onde eu me sentava na minha adolescência estudando e lendo enquanto ouvia os sons da mesa da batota que se jogava do lado de lá, encontre o caminho eivado de escolhos.
Morei na Rua de Santo António, a rua principal da cidade, na casa que serviu de lançamento para o negócio no qual o meu irmão – em ambiente familiar - havia de prosperar até à sua recente e dolorosa morte.
Dormimos longos anos os dois no mesmo quarto exactamente à beira da tal janela. Ele era o irmão mais velho e foi-me interessando pelas coisas da cultura. A cidade provinciana olhava esses interesses culturais com desconfiança e julgo, em abono da verdade, que nada de essencial mudou, ao longo dos anos, no espírito da cidade.
A “Capital Nacional da Cultura” em Faro seria algo muito fácil de organizar se tivesse sido pensada antes de ser organizada. E se o tivesse sido teria havido um espírito de buscar o que de mais profundo, na cidade e na província, no que respeita à dita cultura (erudita e popular), existe para estudar, aprofundar e divulgar.
Não foi. Os que conhecem as raízes culturais do Algarve, desde a antiguidade até aos nossos dias, sabem muito bem do que falo. Um dia destes volto ao tema. Por agora fico-me pela recordação daquela janela através da qual me interroguei, vezes sem conta, acerca do porquê das vozes que falavam a linguagem da batota.
A mesma palavra, batota, de que se falo agora, no mesmo exacto lugar, a propósito de Faro "Capital da Cultura - 2005".
Imagem da rua de acesso ao Largo da Sé de Faro
Personalidade do ano - 2004
O Carlos Paredes foi “embrulhado” na homenagem que o Ramon Font quis prestar, por interposta imprensa estrangeira, ao Dr. José Manuel Barroso.
Tenho a maior estima pelo Ramon mas o Carlos Paredes não merecia um tal “embrulho”. O Carlos Paredes era um génio na sua arte. O maior virtuoso da guitarra portuguesa – pelo menos - das últimas décadas. Um artista comprometido com a defesa de ideias dos quais nunca abdicou. Foi comunista até ao fim.
O Dr. José Manuel Barroso, com todo o respeito e consideração, é o seu perfeito oposto. Colocar Carlos Paredes como uma pena no chapéu de José Manuel Barroso é, no mínimo, indecoroso.
Tenho a maior estima pelo Ramon mas o Carlos Paredes não merecia um tal “embrulho”. O Carlos Paredes era um génio na sua arte. O maior virtuoso da guitarra portuguesa – pelo menos - das últimas décadas. Um artista comprometido com a defesa de ideias dos quais nunca abdicou. Foi comunista até ao fim.
O Dr. José Manuel Barroso, com todo o respeito e consideração, é o seu perfeito oposto. Colocar Carlos Paredes como uma pena no chapéu de José Manuel Barroso é, no mínimo, indecoroso.
segunda-feira, março 28
Areia
Areia pisada,
areia dorida,
areia beijada,
areia batida,
areia doirada,
areia estendida,
areia rolada,
rolada na vida.
Frescura abraçada
ao mar que se vai,
e os braços crispados
pregados num ai.
E a areia rolada
nos olhos profundos,
e as matas de sombra
ao fundo dos mundos…
E o paço de pedra
Erguido no espaço
e as capelas tristes,
que perco e abraço…
E o sonho do vento,
que gela e que deixa,
e a voz que ergo e calo
e é vida e é queixa…
Os degraus que subo
e são mais de cem,
e os cisnes vogando
nos lagos de além…
E as estradas brandas
onde correm fontes,
e as moças que sonham
sem verem os montes…
E os bancos abertos
aos corpos cansados,
e a chuva da tarde
nos parques molhados…
E os riscos de luz
que bordam o Céu,
e a cortina branca
que ao Sol me escondeu…
E os quartos alheios
que giram à roda,
e as vozes na estrada
que me tolhem toda…
E eu dentro de um sonho
suspensa e vibrante
- areia beijada num mar mais distante –
e rica e mais longa,
e presa e mais livre
- sem mal e sem vida…
Areia doirada,
areia estendida,
areia rolada,
rolada na vida!
Natércia Freire
In "Horizonte Fechado" - 1942
areia dorida,
areia beijada,
areia batida,
areia doirada,
areia estendida,
areia rolada,
rolada na vida.
Frescura abraçada
ao mar que se vai,
e os braços crispados
pregados num ai.
E a areia rolada
nos olhos profundos,
e as matas de sombra
ao fundo dos mundos…
E o paço de pedra
Erguido no espaço
e as capelas tristes,
que perco e abraço…
E o sonho do vento,
que gela e que deixa,
e a voz que ergo e calo
e é vida e é queixa…
Os degraus que subo
e são mais de cem,
e os cisnes vogando
nos lagos de além…
E as estradas brandas
onde correm fontes,
e as moças que sonham
sem verem os montes…
E os bancos abertos
aos corpos cansados,
e a chuva da tarde
nos parques molhados…
E os riscos de luz
que bordam o Céu,
e a cortina branca
que ao Sol me escondeu…
E os quartos alheios
que giram à roda,
e as vozes na estrada
que me tolhem toda…
E eu dentro de um sonho
suspensa e vibrante
- areia beijada num mar mais distante –
e rica e mais longa,
e presa e mais livre
- sem mal e sem vida…
Areia doirada,
areia estendida,
areia rolada,
rolada na vida!
Natércia Freire
In "Horizonte Fechado" - 1942
Dia Mundial do Teatro
Não me esqueci do Dia Mundial do Teatro que se celebrou ontem. A minha formação humana deve muito ao teatro, em particular, ao teatro amador, para que esqueça uma data destas.
Mas reparei que a modéstia das celebrações foi coberta pelo manto das explicações apressadas acerca da coincidência com o período pascal.
A verdade, nua e crua, é que o teatro não é uma prioridade dos governos de Portugal não tanto por penúria mas por falta de vontade política.
Os teatros nacionais, em geral, arrastam-se com programações sem chama, as companhias independentes, na sua maioria, são cada mais dependentes de subsídios públicos e o teatro amador – nas escolas, nas sociedades culturais e recreativas ou nos CCDs de empresa, é quase uma peça de museu. Mas há excepções.
A efeméride fica assinalada com esta notícia que descreve com argúcia a real situação do teatro em Portugal.
E aproveito para dar a conhecer o BLOGAMEMUNCHO.
Mas reparei que a modéstia das celebrações foi coberta pelo manto das explicações apressadas acerca da coincidência com o período pascal.
A verdade, nua e crua, é que o teatro não é uma prioridade dos governos de Portugal não tanto por penúria mas por falta de vontade política.
Os teatros nacionais, em geral, arrastam-se com programações sem chama, as companhias independentes, na sua maioria, são cada mais dependentes de subsídios públicos e o teatro amador – nas escolas, nas sociedades culturais e recreativas ou nos CCDs de empresa, é quase uma peça de museu. Mas há excepções.
A efeméride fica assinalada com esta notícia que descreve com argúcia a real situação do teatro em Portugal.
E aproveito para dar a conhecer o BLOGAMEMUNCHO.
Lenga-Lenga em Homenagem aos Ilustres Emigrantes
Queriam um frémito um solavanco democrático algo que mexesse com o que estava mal e agora parece que afinal não está, queriam alguma mudança substancial não digo um grito de guerra: aos abrigos! mas um estugar do passo, um esforço, um ranger de cordas nas amarras, queriam festa pá! não foram à rua como eu fui na noite do dia 20 de fevereiro! se se tivessem dado à maçada de levantar uma bandeira no largo do rato teriam percebido que a democracia está consolidada, estão a ver com – solidada! o entusiasmo nem sorria na cara dos vencedores quanto mais na dos vendedores de cachorros quentes e salvo o meu filho que precisava de experimentar uma celebração destas para conhecer o que pode ser uma celebração no futuro, uma celebração a sério, vi logo que estávamos tramados pá! a direita nem precisa de se reorganizar que a esquerda toma conta dela, a esquerda nem precisa de existir que a direita toma conta dela, todos reunidos na grande praça central à espera que se organize uma sociedade que por ela própria, sem mais nada, se organize, é o mercado, é o mercado, abaixo o estado! clamam uma legião de liberais libertadores da pátria em perigo sempre naquele seu gesto emblemático de mão estendida às benesses do estado, enquanto a associação da imprensa estrangeira louva josé manuel barroso como o homem que em 2004 mais estendeu o nome da pátria no mundo e eu a pensar que tinham sido o figo e o scolari, mas eles lá sabem o que lhes coze o estômago, estamos tramados pá! o barroso um dia vai voltar com o peito cheio de comendas e o guterres também, se passar na prova, e aposto que passa que ele é aluno de 19, a tratar dos refugiados pobres do mundo, isto para mim é uma estratégia montada pelo bush que já arrumou com o santana e pensa que arrumou com o ferro, para pôr ordem no mundo, estão a ver um português a tratar dos ricos da europa e outro portugês a tratar dos pobres do mundo, uma estratégia a nível global para dar sentido à diáspora, uma regressão pós-moderna aos píncaros gloriosos do século XV português com o vasco graça moura a fazer de camões (desculpa lá a letra pequena, pá!) e o eng.º sócrates a fazer de vasco da gama, a nova novíssima ínclita geração ao leme do mundo outra vez e voltamos a libertar o imaginário e a sonhar além da calçada à portuguesa e já não vai ser preciso fazer guerra à armada espanhola, nem posar para a fotografia com o Bush nas lages, vão dando notícias que nós, como sempre, cá nos arranjaremos ... com que então queriam um frémito, um solavanco democrático ...
domingo, março 27
O Corvo
Edgar Allan Poe
1
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."
"O Corvo", de Edgar Allan Poe, Tradução de Fernando Pessoa.
Versão integral no IRAOFUNDOEVOLTAR
A Direita Pensa Mas Pouco
Não se pense que a direita não pensa. Pensa mas pouco. É que em Portugal a direita carrega ainda o estigma do Salazarismo.
No exercício do poder, em democracia, a direita esbarra na sua proverbial intolerância. A mistura de intolerância, populismo e promiscuidade entre interesse “público” e “privado” é explosiva. Denega a democracia.
O PP no governo foi um exemplo vivo dessa denegação como o episódio do retrato de Freitas do Amaral e dos negócios de última hora, “abençoados” por Bagão Félix, evidenciam.
São os próprios pensadores da direita que levantam a ponta do véu acerca da crise de identidade da direita em Portugal.
Mas, como assinala Vasco Pulido Valente, nem sequer se lembraram do papel da igreja católica.
No exercício do poder, em democracia, a direita esbarra na sua proverbial intolerância. A mistura de intolerância, populismo e promiscuidade entre interesse “público” e “privado” é explosiva. Denega a democracia.
O PP no governo foi um exemplo vivo dessa denegação como o episódio do retrato de Freitas do Amaral e dos negócios de última hora, “abençoados” por Bagão Félix, evidenciam.
São os próprios pensadores da direita que levantam a ponta do véu acerca da crise de identidade da direita em Portugal.
Mas, como assinala Vasco Pulido Valente, nem sequer se lembraram do papel da igreja católica.
sábado, março 26
Num mundo que já não crê no pecado, é o artista que está encarregado da pregação. Mas se as palavras do padre produziam efeito era porque o exemplo as alimentava. O artista esforça-se por se tornar num exemplo. Eis porque o fuzilam ou o deportam, com grande escândalo seu. E depois a virtude não se aprende tão depressa como o manejo da metralhadora. O combate é desigual.
Cito Camus a propósito da tragédia de Bobby Fischer
Fotografia de Hélder Gonçalves
ELEGIA DAS ÁGUAS NEGRAS
PARA CHE GUEVARA
Atado ao silêncio, o coração ainda
pesado de amor, jazes de perfil,
escutando, por assim dizer, as águas
negras da nossa aflição.
Pálidas vozes procuram-te na bruma;
de prado em prado procuram
um potro, a palmeira mais alta
sobre o lago, um barco talvez
ou o mel entornado da nossa alegria.
Olhos apertados pelo medo
aguardam na noite o sol onde cresces,
onde te confundes com os ramos
de sangue do verão ou o rumor
dos pés brancos da chuva nas areias.
A palavra, como tu dizias, chega
húmida dos bosques: temos que semeá-la;
chega húmida da terra: temos que defendê-la;
chega com as andorinhas
que a beberam sílaba a sílaba na tua boca.
Cada palavra tua é um homem de pé,
cada palavra tua faz do orvalho uma faca,
faz do ódio um vinho inocente
para bebermos, contigo
no coração, em redor do fogo.
Eugénio de Andrade
1971
sexta-feira, março 25
O "Público" Faz-se Pagar
O “Público” vai começar a cobrar pelo acesso à sua versão em papel em condições ainda mal esclarecidas.
É um modelo já adoptado, por exemplo, pelo “Expresso” e muito utilizado no acesso às publicações em papel de todos os países.
Por mim não vou assinar. Por vezes reproduzo as suas notícias mas, em boa verdade, não preciso do “Público” para nada. Eles também não precisam de mim. É o negócio deles e que lhes faça bom proveito.
É interessante a coincidência desta decisão com a entrada em funções do governo socialista. Nos tempos da Dra. Manuela Ferreira Leite não de lembraram da coisa.
Aproveito para divulgar o JORNALISMO E COMUNICAÇÃO onde catrapisquei esta notícia.
É um modelo já adoptado, por exemplo, pelo “Expresso” e muito utilizado no acesso às publicações em papel de todos os países.
Por mim não vou assinar. Por vezes reproduzo as suas notícias mas, em boa verdade, não preciso do “Público” para nada. Eles também não precisam de mim. É o negócio deles e que lhes faça bom proveito.
É interessante a coincidência desta decisão com a entrada em funções do governo socialista. Nos tempos da Dra. Manuela Ferreira Leite não de lembraram da coisa.
Aproveito para divulgar o JORNALISMO E COMUNICAÇÃO onde catrapisquei esta notícia.
Breves Despedidas
“Lê-se no «Público» que o antigo (bela palavra) ministro da Defesa Paulo Portas resolveu ter como último acto público a atribuição de medalhas da Defesa Nacional, criadas pelo Governo de Durão Barroso em 2002 (e ainda dizem que o homem nunca fez nada por Portugal).
Curiosamente, o antigo ministro resolveu condecorar o seu antigo (que bela palavra) ministro das Finanças, Bagão Félix (o que só lhe fica bem) e, surpresa das surpresas ou talvez não, deu mais uma medalha ao antigo (que belíssima palavra) embaixador americano em Portugal Frank Carlucci.
O que fez Frank Carlucci por Portugal nos últimos tempos que justifique esta medalha? Ou melhor, o que fez o Grupo Carlyle por Portugal nos últimos tempos que justifique esta medalha (a não ser tratar-nos como uma coutada)? Ou melhor, o que fez o Grupo Carlyle nos últimos tempos por Paulo Portas que justifique esta medalha (perguntar não ofende)?
Recorde-se que já Santana Lopes, a mando e em substituição do (defunto) Barroso, tinha aproveitado uma ida a Nova Iorque para, num intervalo discreto, condecorar o mesmo Frank Carlucci (isto foi há meses) com uma daquelas medalhas grandes e pesadas do Presidente da República, tendo o mesmo Presidente da República aceite a sugestão do (defunto) Barroso para condecorar Carlucci. Porquê agora?”
Extracto do artigo “Breves Despedidas”, de Clara Ferreira Alves, publicado, hoje, na “Única”, revista do Expresso.
Versão integral, que vale a pena, no IRAOFUNDOEVOLTAR.
Curiosamente, o antigo ministro resolveu condecorar o seu antigo (que bela palavra) ministro das Finanças, Bagão Félix (o que só lhe fica bem) e, surpresa das surpresas ou talvez não, deu mais uma medalha ao antigo (que belíssima palavra) embaixador americano em Portugal Frank Carlucci.
O que fez Frank Carlucci por Portugal nos últimos tempos que justifique esta medalha? Ou melhor, o que fez o Grupo Carlyle por Portugal nos últimos tempos que justifique esta medalha (a não ser tratar-nos como uma coutada)? Ou melhor, o que fez o Grupo Carlyle nos últimos tempos por Paulo Portas que justifique esta medalha (perguntar não ofende)?
Recorde-se que já Santana Lopes, a mando e em substituição do (defunto) Barroso, tinha aproveitado uma ida a Nova Iorque para, num intervalo discreto, condecorar o mesmo Frank Carlucci (isto foi há meses) com uma daquelas medalhas grandes e pesadas do Presidente da República, tendo o mesmo Presidente da República aceite a sugestão do (defunto) Barroso para condecorar Carlucci. Porquê agora?”
Extracto do artigo “Breves Despedidas”, de Clara Ferreira Alves, publicado, hoje, na “Única”, revista do Expresso.
Versão integral, que vale a pena, no IRAOFUNDOEVOLTAR.
O Dr. Bagão Ainda Governa (3)
O governo socialista já governa.
O anterior governo fica “destapado”. O que se vai sabendo das suas acções é aterrador. Mais tarde se perceberá melhor o sentido da acção de alguns dos seus ministros.
Nicolau Santos, no “Expresso”, a propósito de “Um negócio demasiado nebuloso” escreve:
Há que dizer-se das coisas o somenos que elas são, escreveu Natália Correia. E o mínimo que se pode dizer é que Daniel Sanches e Bagão Félix foram demasiado imprudentes ao assinar este contrato com a Sociedade Lusa de Negócios. Será que não se interrogaram porque os melhores fabricantes europeus, como a Nokia, EADS e Siemens, que levantaram o caderno de encargos, se recusaram a apresentar propostas? Será que não tiveram conhecimento que o mesmo sistema poderia ser fornecido por 200 milhões de euros?
Às vezes, há coisas tão nebulosas, que não só o novo Governo as deve deitar para o caixote de lixo e começar tudo de novo, como investigar as razões de quem decidiu.
O anterior governo fica “destapado”. O que se vai sabendo das suas acções é aterrador. Mais tarde se perceberá melhor o sentido da acção de alguns dos seus ministros.
Nicolau Santos, no “Expresso”, a propósito de “Um negócio demasiado nebuloso” escreve:
Há que dizer-se das coisas o somenos que elas são, escreveu Natália Correia. E o mínimo que se pode dizer é que Daniel Sanches e Bagão Félix foram demasiado imprudentes ao assinar este contrato com a Sociedade Lusa de Negócios. Será que não se interrogaram porque os melhores fabricantes europeus, como a Nokia, EADS e Siemens, que levantaram o caderno de encargos, se recusaram a apresentar propostas? Será que não tiveram conhecimento que o mesmo sistema poderia ser fornecido por 200 milhões de euros?
Às vezes, há coisas tão nebulosas, que não só o novo Governo as deve deitar para o caixote de lixo e começar tudo de novo, como investigar as razões de quem decidiu.
Governo e Crítica
É verdade que o PS nunca tinha alcançado uma maioria absoluta em eleições legislativas. A maioria absoluta de deputados no parlamento não dispensa, como foi afirmado, pelo primeiro-ministro, a audição dos partidos minoritários nas questões essenciais da governação. Essa vontade não pode, no entanto, constranger o partido do governo de afirmar os seus valores e a sua ideologia.
O pior erro que o PS poderia cometer seria o de abdicar de se afirmar como partido de causas assentes nos valores da esquerda que se podem sintetizar em duas palavras antigas para uma esquerda moderna: justiça e liberdade.
O governo pode “governar ao centro”, encontrar soluções de governação de natureza social-democrata na área social, adoptar posturas liberais de esquerda, na área da economia, concertar negócios e conceber benefícios que atraiam o investimento estrangeiro, assumir o primado de uma função reguladora e defensora dos consumidores e por aí fora, obtendo, momentaneamente, o apoio daqueles que ainda dias atrás fustigavam os socialistas com as críticas mais ferozes.
Mas o PS, sendo a base de apoio do governo, não pode deixar de ser um partido crítico do próprio governo.
Tudo o que agora são medidas reluzentes e sorrisos radiosos nas faces dos membros do governo se transformarão, a médio prazo, em penosas justificações de insucessos e atrasos e em faces crispadas no momento das respostas às perguntas implacáveis das oposições e da comunicação social.
Tudo o que na fase inicial da governação são despesas virtuosas se transformará, na fase seguinte, em desperdícios evitáveis na boca dos opositores da governação socialista.
Mais valia ao governo dispor de um PS que afirmasse a sua autonomia com uma postura de crítica construtiva desde o início. Vêm estas palavras a propósito da prestação de Jorge Coelho no programa “Quadratura do Círculo”, na SIC Notícias, da noite passada e de muitas outras atitudes de apoio entusiástico e voluntarista que têm surgido nestes primeiros dias da acção do governo.
Ao governo o que é do governo, ao partido do governo o que é do partido do governo. Ao governo cabe cumprir o seu programa, ao partido do governo compete, naturalmente, apoiá-lo sem descurar a vigilância crítica desde a primeira hora.
O ambiente político, nesta fase inicial, não tem apontado para esta dialéctica saudável o que, na minha opinião, pode pressagiar um enfraquecimento do governo a médio prazo. Mais valia começar desde já a preparar o terreno para as dificuldades da concretização de muitas das medidas anunciadas e de outras medidas difíceis que aí virão.
O país real, que dá pelo nome de Portugal, é exactamente o mesmo que no dia 19 de Fevereiro de 2005. Mudou o governo, o que já não é nada pouco, mas não mudaram as dificuldades, os constrangimentos e, como consequência, as condições objectivas da governação. Cuidado que a memória das gentes é curta, a gratidão morreu solteira e o pecúlio escasso.
“Diário do Governo” – 6
O pior erro que o PS poderia cometer seria o de abdicar de se afirmar como partido de causas assentes nos valores da esquerda que se podem sintetizar em duas palavras antigas para uma esquerda moderna: justiça e liberdade.
O governo pode “governar ao centro”, encontrar soluções de governação de natureza social-democrata na área social, adoptar posturas liberais de esquerda, na área da economia, concertar negócios e conceber benefícios que atraiam o investimento estrangeiro, assumir o primado de uma função reguladora e defensora dos consumidores e por aí fora, obtendo, momentaneamente, o apoio daqueles que ainda dias atrás fustigavam os socialistas com as críticas mais ferozes.
Mas o PS, sendo a base de apoio do governo, não pode deixar de ser um partido crítico do próprio governo.
Tudo o que agora são medidas reluzentes e sorrisos radiosos nas faces dos membros do governo se transformarão, a médio prazo, em penosas justificações de insucessos e atrasos e em faces crispadas no momento das respostas às perguntas implacáveis das oposições e da comunicação social.
Tudo o que na fase inicial da governação são despesas virtuosas se transformará, na fase seguinte, em desperdícios evitáveis na boca dos opositores da governação socialista.
Mais valia ao governo dispor de um PS que afirmasse a sua autonomia com uma postura de crítica construtiva desde o início. Vêm estas palavras a propósito da prestação de Jorge Coelho no programa “Quadratura do Círculo”, na SIC Notícias, da noite passada e de muitas outras atitudes de apoio entusiástico e voluntarista que têm surgido nestes primeiros dias da acção do governo.
Ao governo o que é do governo, ao partido do governo o que é do partido do governo. Ao governo cabe cumprir o seu programa, ao partido do governo compete, naturalmente, apoiá-lo sem descurar a vigilância crítica desde a primeira hora.
O ambiente político, nesta fase inicial, não tem apontado para esta dialéctica saudável o que, na minha opinião, pode pressagiar um enfraquecimento do governo a médio prazo. Mais valia começar desde já a preparar o terreno para as dificuldades da concretização de muitas das medidas anunciadas e de outras medidas difíceis que aí virão.
O país real, que dá pelo nome de Portugal, é exactamente o mesmo que no dia 19 de Fevereiro de 2005. Mudou o governo, o que já não é nada pouco, mas não mudaram as dificuldades, os constrangimentos e, como consequência, as condições objectivas da governação. Cuidado que a memória das gentes é curta, a gratidão morreu solteira e o pecúlio escasso.
“Diário do Governo” – 6
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