Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sábado, fevereiro 4
A MÃO NO ARADO
quinta-feira, fevereiro 2
INCÓGNITA
Está disponível, no “Semanário Económico” e no IR AO FUNDO E VOLTAR, o artigo que intitulei: “Cavaco Silva: uma incógnita!” e que será publicado amanhã, dia 3 de Fevereiro, na edição em papel daquele semanário.
Aqui ficam os parágrafos de abertura.
“Mal seria que tendo manifestado o meu apoio, nestas páginas, à candidatura presidencial de Mário Soares, não voltasse ao tema após a eleição de Cavaco Silva.
Desde logo para afirmar, como mandam as regras do jogo democrático, que após o veredicto das urnas, a despeito das divergências políticas e das idiossincrasias pessoais, o candidato eleito passa a ser, como soe dizer-se, o Presidente de todos os portugueses.
Cavaco aguentou a investida das urnas. Ganhou com cerca de 64.000 votos de diferença face à soma dos votos obtidos pelos restantes candidatos. Bastava um só voto mas é, digam o que disserem, uma vitória escassa face às expectativas da direita. Mas em democracia por um voto se ganha, por um voto se perde.
TEMPORA NUBILA
Monna Lisa, 1503-1506 – Huile sur bois/ 77x53 cm – Louvre
(…)
Às flores imóveis vou no vento irrequieto
e regresso a um rosto onde nunca estou
mas passou entretanto tanto tempo
que quando à minha mesa volto não sou já quem dela se ausentou
(…)
Ruy Belo
TEMPORA NUBILA
O problema da Habitação
quarta-feira, fevereiro 1
FUI
Não me manietei. Dei-me totalmente e fui.
Aos deleites, que metade reais,
metade volteantes dentro da minha cabeça estavam,
fui para dentro da noite iluminada.
E bebi dos vinhos fortes, tal
como bebem os denodados do prazer.
[1913]
C. Kavafis
"Em que outros novos olhos..."
(…)
Em que outros novos olhos passageiro brilharás,
ó clandestino seguidor de Deus?
(…)
Ruy Belo
NO TÚMULO DE SARDANAPALO
terça-feira, janeiro 31
CORVOS
Passa exactamente hoje mais um ano (o terceiro) sobre a publicação de uma entrevista que concedi ao “Semanário Económico”.
A propósito da mesma, que serviu de pretexto ao ex-ministro Bagão Félix para me exonerar de presidente da direcção do INATEL, lembrei-me deste fragmento de Camus:
“Morale Pratique
Ne jamais faire appel aux tribunaux
Donner l´argent, ou le perdre. Ne jamais le faire fructifier, ni le rechercher, ni le réclamer.
Titre: Petit traité de morale pratique – ou (pour provoquer) d´aristrocratie quotidienne.”
Albert Camus
“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard
BILL GATES EM LISBOA
Bill Gates hoje em Lisboa para "fórum de líderes" e Plano Tecnológico
Este acontecimento parece ser importante!
Não sei qual a engenharia institucional que presidiu aos projectos anunciados por Bill Gates para os países da UE e para Portugal nem sei dos bastidores do negócio.
Mas não creio que Bill Gates se envolvesse no anúncio de projectos que, por um lado, não lhe assegurassem o retorno do investimento nem, por outro, servissem à propaganda política do Plano Tecnológico do governo português.
Este é um sinal forte de viragem do paradigma do desenvolvimento sócio económico de Portugal. Não pode deixar de o ser. À atenção de todos os descrentes e críticos do governo socialista. E dos próprios dirigentes, militantes, simpatizantes e eleitores do PS.
ACTUALIZAÇÃO (In "Público")
José Sócrates e Bill Gates assinam 18 projectos do Plano Tecnológico
O primeiro-ministro, José Sócrates, e o presidente da multinacional de software Microsoft, Bill Gates, assinam amanhã 18 projectos de parceria, principalmente, nas áreas da educação, inovação e do emprego, incluídos no Plano Tecnológico.
Microsoft vai apoiar formação de 50 mil elementos das forças de segurança
A Microsoft Internacional vai apoiar o Ministério da Administração Interna na formação informática de cerca de 50 mil elementos das forças de segurança portuguesas até 2010.
ANO FINITO
Esta urgência de escrever
Uma palavra
Esta urgência de a lançar
Ao vento
Esta urgência que me toma
Lentamente
*
Sobre um dia inverno
Que dizer?
Perto do mar um rugido
Ecoa
Chovem gotas de longe
Vindas
A luz se adivinha branca
Fria
*
Olho o fundo dos regatos
E vejo no céu
A lua turvada de uma luz
Difusa
Olho a luz na parede branca
E vejo refulgir
A gota de água que escorre
Pura
Azenhas do Mar, 31 de Dezembro de 2005
segunda-feira, janeiro 30
POESIA
(…)
Todos os males contigo nos vieram, poesia,
afasta-te de nós até melhores dias
e deixa ver o que por trás da poesia está
(…)
Ruy Belo
NO TÚMULO DE SARDANAPALO
O Problema da Habitação
domingo, janeiro 29
NEVA EM LISBOA
PRESIDENCIAIS - TRÊS FENÓMENOS
As eleições presidenciais revelaram três fenómenos interessantes dois dos quais têm sido quase esquecidos.
O primeiro fenómeno é a emergência de uma fobia social aos velhos, qualquer coisa que se poderia denominar gerontefobia, [geronte – do grego, “velho” (*)] que a candidatura de Mário Soares revelou. Dir-me-ão que se reuniram no personagem todas as rejeições possíveis de congregar no tempo e no lugar – o máximo denominador comum de todos os descontentamentos.
Não creio que seja só isso e é mais do que isso. É a revelação de um impressionante desprezo social pelos velhos e, mais impressionante ainda, a revelação da acrimónia dos velhos em relação a si próprios. Terrível e monstruoso fenómeno que tenderá a crescer – caso se desmereça a sua abordagem – ao longo dos tempos vindouros.
Os velhos serão os judeus do próximo holocausto e, eles próprios, como os condenados do “Goulag”, se darão por “culpados” apesar de se saberem “inocentes”.
O segundo fenómeno, de sentido contrário, foi o apagamento, nas presidenciais, das expressões políticas do populismo de direita. Os populismos de direita, e extrema-direita, não deixaram de existir mas Cavaco retirou-lhes espaço político aspirando os sentimentos revanchistas para um terreno potencial de concórdia nacional.
Os perigos do bloco central são incomensuravelmente menos ruinosos para a salvaguarda do essencial da democracia e da liberdade do que a tomada de parcelas do poder por facções políticas organizadas expressando os interesses e as ideologias de quaisquer populismos ou extremismos.
O terceiro fenómeno é tudo apontar para que Alegre, e os seus apoiantes, se deram conta do significado do resultado das eleições tendo refreado os ímpetos de alguns arrivistas, que sempre encontram aconchego nos “albergues espanhóis”, no sentido de dividir o PS e abater o governo maioritário socialista em troca da glória efémera de um dia de poder virtual.
Nada substitui a vertigem de um bom combate político mas, chegado o momento da verdade, a realidade é o remédio mais eficaz para combater a mais forte das desilusões. E a realidade é uma Assembleia da República com uma maioria socialista que legisla, um Governo do PS que governa, um Presidente do centro-direita que preside. Cada uma das instituições com o seu papel tendo os seus titulares sido eleitos pelo povo. Não é, convenhamos, nada mau.
Para todos os que desdenham da ordem política vigente o período pós eleitoral é um aborrecimento. Mas, sem prejuízo do dever de condenarmos todas as injustiças que se pratiquem à sombra deste regime, como dizia Winston Churchill: "O preço da grandeza é a responsabilidade."
(*) “cada um dos 28 magistrados , com idade superior a 60 anos, que formavam em Esparta e em outras cidades da Grécia antiga, o Senado, órgão com importantes competências jurisdicionais e políticas” - Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea – Academia das Ciências de Lisboa.
LIVRO DO DESASSOSSEGO
Original dos dois excertos apresentados, na tradução francesa, por Terres de femmes
324
“Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos.
Atingirás assim o ponto supremo da abstenção sonhadora, onde os sentidos se mesclam, os sentimentos se extravasam, as ideias se interpenetram. Assim como as cores e os sons sabem uns a outros, os ódios sabem a amores, e as coisas concretas a abstractas, e as abstractas a concretas. Quebram-se os laços que, ao mesmo tempo que ligavam tudo, separavam tudo, isolando cada elemento. Tudo se funde e confunde.”
325
Ficções do interlúdio, cobrindo coloridamente o marasmo e a desídia da nossa íntima descrença.”
“Livro do Desassossego” – Fernando Pessoa, aliás, Bernardo Soares, Ajudante de Guarda-Livros na Cidade de Lisboa
Edição Richard Zenith, Parque Expo 98 SA
Assírio e Alvim
sábado, janeiro 28
SOM
Mais o som do silêncio se adensa
E a linha do horizonte se faz pura
Lisboa, 27 de Janeiro de 2006
[Nos 250 anos do nascimento de Mozart]
1952 - CAMUS/SARTRE
« L´enfer, c´est le paradis plus la mort. »
« L´enfer est ici, à vivre. Seuls échappent ceux qui s´extraient de la vie. »
« Qui témoignera pour nous ? Nos œuvres. Hélas ! Qui donc alors ? Personne, personne sinon ceux qui nos amis qui nous ont vus dans cette seconde du don où le cœur tout entier se vouait à un autre. Ceux qui nous aiment donc. Mais l´amour est silence : Chaque homme meurt inconnu. »
« Septembre 52. Polémique avec T. M. (**). Attaques « Arts » « Carrefour » « Rivarol ». Paris est une jungle, et les fauves y sont miteux. »
« Parvenu de l´esprit révolutionnaire nouveaux riches et pharisiens de la justice. Sartre, l´homme et l´esprit, déloyal. »
(*) Il s´agit de la revue de Jean-Paul Sartre
“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
(Uma série de excertos, ao contrário do habitual, contendo parte da sequência de reflexões de Camus no auge da sua polémica com J.P. Sartre.)
RUA DO SOL A SANT´ANA
Ruy Belo
[Na sequência de um comentário e sugestão da Helena, da Linha de Cabotagem, em sua homenagem, transcrevo aqui os versos finais do poema de Ruy Belo, “Rua do Sol a Sant´ana”, disponível, na íntegra, no IR AO FUNDO E VOLTAR, o que deve constituir uma estreia absoluta na blogosfera pois o não encontrei, senão na versão publicada em livro, após afanosas pesquisas]
sexta-feira, janeiro 27
Acerca da Crise da Justiça - Duarte Lima na A.R.
“Tal como na prisão preventiva, as escutas telefónicas começaram por ser usadas como método de excepção para combater determinado tipo de crimes graves. Progressivamente, o seu âmbito foi-se alargando, até chegarmos à situação que hoje vivemos, em que a excepção se transformou a regra. Torna-se, por isso, imperativo tomar uma medida de sanidade elementar, que é a de restringir a admissibilidade das escutas telefónicas àquelas situações de gravidade extrema em que está em causa a vida e a segurança das pessoas, nomeadamente os crimes de terrorismo organizado, de tráfico de droga e os crimes de sangue. E, conhecidos os abusos de que se falou, tal utilização não pode deixar de ser fiscalizada por um órgão independente, eleito pelo Parlamento, com poderes de conhecer e verificar as circunstâncias em que as escutas se processam, garantindo a todos e a cada um que só naqueles casos excepcionais é admissível violar a intimidade da vida pessoal.”
(Leia, na íntegra, no IR AO FUNDO E VOLTAR, a corajosa intervenção, acerca da crise na justiça portuguesa, proferida pelo deputado eleito pelo PSD, Duarte Lima, aplaudida de pé por todas as bancadas parlamentares - excerto acima.)
DILEMA
"O problema é que os partidos já não estão no centro da vida democrática, descentraram-se, perderam esse papel, e uma defesa a outrance do sistema partidário versus o populismo não chega".
Pacheco Pereira, PÚBLICO, 26-01-2006
Diria exactamente o contrário. Os partidos, para o bem e para o mal, estão no centro da vida democrática. A não ser que com a ascensão de Cavaco Silva a Presidente, do qual JPP é um apoiante, se pretenda “deslocalizar” o centro da vida democrática para a Presidência da República.
Estaríamos, então, perante uma perversão do regime democrático que, salvo as ficções da democracia directa, participativa, cidadã, ou o que se quiser chamar, só encontra alternativa nas tiranias.
Que se saiba em todos os países da OCDE, da UE, do designado “mundo livre”, ou seja democrático, embora com diferenciação nas relações entre as diversas instâncias do poder, os partidos “estão no centro da vida democrática”.
Se os partidos deixarem de ocupar o “centro da vida democrática” quem o ocupará? Uma pergunta à procura de resposta.