sexta-feira, setembro 29

O TEMPO ...

Posted by Picasa Gisela Cañamero

O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora.

O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.

O tempo o claro dia torna escuro,
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo a tempestade em grã bonança.

Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.

Luís de Camões

[Sonetos. Retirado do livro “Com o Poema no Corpo”, de Gisela Cañamero. Muitíssimo interessante, pode ser encontrado aqui.]

quinta-feira, setembro 28

IN THE MORNING YOU ALWAYS COME BACK

Posted by Picasa Fotografia de sophie thouvenin

[Para a Monica]

A fresta da madrugada
respira pela tua boca
ao fundo das ruas desertas.
Luz gris os teus olhos,
doces gotas da madrugada
nas colinas escuras.
O teu passo e o teu hálito
como o vento da madrugada
submergem as casas.
A cidade arrepia-se,
exalam cheiro as pedras –
és a vida, o despertar.

Estrela perdida
na luz da madrugada,
brisa que zune,
calidez, hálito –
a noite chegou ao fim.

És a luz e a manhã.

Cesare Pavese

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Lo spiraglio dell’alba
respira con la tua bocca
in fondo alle vie vuote.
Luce grigia i tuoi occhi,
dolci gocce dell’alba
sulle colline scure.
Il tuo passo e il tuo fiato
come il vento dell´alba
sommergono le case.
La città abbrividisce,
odorano le pietre –
sei la vita, il risveglio.

Stella sperduta
nella luce dell’alba,
cigolío della brezza,
tepore, respiro –
è finita la notte.

Sei la luce e il mattino.

20 marzo’ 50

Cesare Pavese

In “Trabalhar Cansa”
Tradução de Carlos Leite
Edições Cotovia

28 SETEMBRO - 1974

Posted by Picasa Imagem daqui

28 de Setembro de 1974 – “Em resposta à anunciada manifestação da Maioria Silenciosa são organizadas barricadas populares junto às saídas de Lisboa e um pouco por todo o país. No final dessa noite, os militares substituem os civis nas barricadas. Mais de uma centena de pessoas, entre figuras gratas ao regime deposto, quadros da Legião Portuguesa e participantes activos da manifestação abortada da Maioria Silenciosa, são detidas por Forças Militares.”

In Cronologia do “Centro de Documentação 25 de Abril” da Universidade de Coimbra

Actualização: ver o trabalho de investigação de José Pedro Castanheira.

quarta-feira, setembro 27

"O JUDEU"

Posted by Picasa Imagem Daqui

Ressonância de 27 de Setembro de 2004 (excerto). Na sequência de uma série de posts nos quais, sob o pretexto da arrumação das estantes, enumerei os livros da minha vida. Este é um deles. Ver mais informação aqui.


“O Judeu – Narrativa dramática em três actos”Bernardo Santareno – Edições Ática, edição de 1966; (livro que sempre me acompanhou desde a época das minhas práticas teatrais contemporâneas desta primeira edição).
Para os menos relacionados com o conhecimento do teatro português e com o teor desta obra, que versa o sacrifício às mãos da inquisição de António José da Silva – o Judeu, aqui reproduzo um excerto do final do 3º Acto:

“Olhai que o Santo Tribunal da Inquisição mais não é que o corpo visível, a aparência mortal dum espírito de trevas, e que este espírito … vivo por certo persistirá, neste Nação, muito tempo ainda após a morte do Santo Ofício!”
E, ainda, o último parágrafo da narrativa: “À medida que a obscuridade vai tomando o palco, ilumina-se o vitral de fundo: este deixar-nos-á ver as chamas duma fogueira, cada vez mais altas, até que por inteiro o enchem. Atingem o máximo, o canto inquisitorial e o ódio sanguinário do povo.”
Dedico esta evocação ao meu amigo Eduardo Ferro Rodrigues que, por estes dias, cessou as funções de Secretário-geral do Partido Socialista."

TAILÂNDIA

LULA - AINDA NA FRENTE

segunda-feira, setembro 25

ALDINA DUARTE

A VERDADE E A MENTIRA ...

"A cena"

Posted by Picasa Fotografia Daqui

Ressonância de 25 de Setembro de 2004. Transcrição parcial de um excerto de “Roland Barthes por Roland Barthes” em que se discorre acerca de um tema, pouco glosado, mas que está presente no quotidiano de (quase) toda a gente.

“Ele sempre considerou a “cena” (doméstica) como uma experiência pura de violência, a tal ponto que, onde quer que ouça uma, tem sempre medo, como uma criança tomada de pânico por causa das discussões dos pais (foge sempre dela, descaradamente). A cena tem uma repercussão assim tão grave porque põe a nu o cancro da linguagem. O que a cena diz é que a linguagem é impotente para fechar a linguagem: engendram-se as réplicas sem qualquer outra conclusão que não seja a do assassínio; e é por estar inteiramente voltada para esta última violência que a cena, todavia, nunca assume (pelo menos entre pessoas “civilizadas”) o facto de ser uma violência essencial, uma violência que tem prazer em se alimentar: terrível e ridícula, à maneira dum homeostato de ficção científica.
(Passando para o teatro, a cena domestica-se. O teatro doma-a quando a obriga a terminar: uma paragem da linguagem é a maior violência que se pode exercer na violência da linguagem.)”

(…)

domingo, setembro 24

VIAGEM NO TEMPO

Posted by Picasa SONJA THOMSEN

Sinto as ruas da infância as pedras gotas de água
Ângulos gritos silêncios de dorida e surda mágoa

A terra fremente nos pés o pó do carvão ardendo
Frio da manhã fumos soltos vento o sol nascendo

As suas mãos tão firmes tomando as minhas mãos
E as rugas do tempo na sua face ao longe sorrindo

Lisboa, 24 de Setembro de 2006

sábado, setembro 23

O PROCURADOR

Posted by Picasa Fernando Pinto Ribeiro

A indigitação do novo Procurador-geral da República tem sido notícia. Essa decisão é sucedânea ou, pelo menos, surge imediatamente após o anúncio do chamado “Acordo para a Justiça”. Digam o que disserem está na cara que já lá estava implícito.

Basta reparar como o governo está calado, o PR afirma que foi uma escolha consensual e o PSD saltita de contentamento. Alguém escreveu que se trata do “PGR do nosso contentamento”. Sem ironia também acho!

Apesar desta proposta, tal como a anterior, ser da iniciativa de um governo socialista o director do DN escreve, hoje, a propósito dos últimos episódios, que a prática do anterior “PGR do nosso contentamento” foi degradante. A diferença está em que o anterior PR era socialista e agora não é. Em democracia a confrontação das diferenças traz quase sempre vantagens quando se tratam de escolhas partilhadas como é o caso.

O novo PGR é juiz de carreira, tem opiniões críticas, publicadas recentemente, acerca do estado da justiça em Portugal e não integra os quadros do ministério público. Ter opiniões críticas, face ao governo e aos seus pares, e ser escolhido pelo governo é um bom sinal. Esse sinal é reforçado quando são evidentes os sinais de amargura, e mesmo de crítica, na “unanimidade” dos aplausos. Notam-se sorrisos forçados e palavras rebuscadas excessivamente laudatórias.

Pinto Ribeiro tem 64 anos de idade, ou seja, estará próximo da idade da reforma se considerarmos o paradigma vulgar do tempo de serviço público. Como o mandato tem a duração de seis (6) anos quando terminar o seu mandato terá 70 anos de idade. Positivo. Neste tipo de funções, e não só, é como o vinho do porto: quanto mais velho melhor.

Fernando Pinto Ribeiro, curiosamente, passou pelos órgãos jurisdicionais do futebol. Agora só resta esperar pelo início do jogo e pelo resultado final. Nestas coisas, mostra a experiência recente, é como no futebol: prognósticos só no fim.

"Pense Pequeno"

Posted by Picasa Volkswagen, "Think Small", Doyle Dane Bernbach, 1959

As maiores 100 campanhas publicitárias de sempre. A maior de todas foi a que ficou conhecida pela frase “Think Small” (“Pense Pequeno”) e tornou o modelo “Carocha”, da VW, num pigmeu de vendas num sucesso estrondoso...

EPÍGRAFE PARA A ARTE DE FURTAR

Posted by Picasa SONJA THOMSEN

Roubam-me deus,
outros o diabo
- quem cantarei?

roubam-me a pátria;
e a humanidade
outros ma roubam
- quem cantarei?

sempre há quem roube
quem eu deseje;
e de mim mesmo
todos me roubam
- quem cantarei?

roubam-me a voz
quando me calo,
ou o silêncio
mesmo se falo
- aqui del-rei!

Jorge de Sena

3/6/952

In “Cadernos de Poesia”
Campo das Letras

A UMA SEMANA DAS PRESIDENCIAIS - LULA NA FRENTE

Posted by Picasa Fotografia Daqui

Apesar de todas as tentativas, de última hora, para “encharcar” a campanha presidencial no Brasil com escândalos envolvendo o PT, e enfraquecer Lula, as sondagens mais recentes continuam a mostrar Lula destacado na frente. Falta uma semana.

Ver aqui.

sexta-feira, setembro 22

"A BRASILEIRA"

Posted by Picasa Fotografia de “A Defesa de Faro”

Havia uma bandeja de latão ou de níquel um metal qualquer e nela luziam depositados os copos escorrendo aquele suor da água gelada que se engolia de um trago sem mais. E gelados com o sabor dos gelados artesanais que não eram para comprar todos os dias mas só nos dias de festa. Como quando fiz a comunhão solene ou o crisma já não sei que me desculpe a minha boa mãe que tanto insistiu e lhe fiz a vontade e sozinho já não sei porquê fui tentado e pequei com um deles comendo-o antes do tempo devido. No sopé da avenida do liceu na brasileira de um lado sentavam-se os clientes normais e do outro os pides e os distraídos desta divisória da casa. É um lugar de todas as encruzilhadas da minha vida na cidade de Faro onde nasci. Por ali passa o caminho trilhado anos sem fim a caminho de todos os caminhos ali nasce a rua João Lúcio o grande poeta algarvio esquecido onde sobrevive cercada pelo vandalismo urbanístico a vivenda de família de minha mulher por ali deambulei a caminho do cinema ao ar livre da esplanada de s. Luís uma preciosidade de que a cidade se deixou espoliar ou a caminho do velho estádio com o mesmo nome que acolhia o farense que a cidade abandonou. O progresso secou as gotículas de água que escorriam dos copos pousados na bandeja de latão ou de níquel que me saciavam a sede nos dias de calor. A encruzilhada ainda lá está mas morreu. Parece que o espaço envolvente encolheu. Sem a afirmação de um gosto alternativo ao passado a que vulgarmente se chama modernidade o progresso é nada. É no que se transformou aquela encruzilhada.

[Post publicado em “A Defesa de Faro. A fotografia retrata o espaço físico no qual existia o café “A Brasileira” mas não é, evidentemente, nem da época das minhas deambulações nem contemporânea.]

ONDE

Posted by Picasa SONJA THOMSEN

A quem pergunte
por ti, responde:
Procurem onde,
só, me dirijo.
O chão que pizo
o ar que bebo
não me pertencem
e não me lembro.
Noutros lugares?
Desde o princípio
que vejo, esqueço,
e nunca volto.
Aqui não busquem
consentimento
para um encontro.
Porque indiferente,
remoto, auzente,
me encontrarão
apenas onde
de vós se esconde
meu coração.

Raul de Carvalho

In “Cadernos de Poesia” – Setembro de 1951
“Campo das Letras”

quinta-feira, setembro 21

POSTERS RUSSOS

O HUMANÍSSIMO BAGÃO E A REFORMA DA SEGURANÇA SOCIAL

Posted by Picasa sophie thouvenin

O humaníssimo Bagão Félix veio a terreiro, com seu ar seráfico, dissertar acerca da reforma da segurança social. Exibindo um discurso político em prol do chamado “sistema misto”, sem propostas concretas, ninguém ficou a saber mais do que já sabia.

A ideia desta tomada de posição é fácil de apreender: radicalizar para abrir brechas no campo socialista até porque neste campo, todos o sabemos, há quem defenda o “sistema misto” paradoxalmente, ou talvez não, gente que é oriunda da “esquerda socialista”.

A direita ataca o “sistema de repartição”, a opção da esquerda, e defende o “sistema misto”, a opção da direita. Faz lógica, não é? Sabemos que não existem sistemas puros mas também sabemos que, nesta questão, as diferenças político/ideológicas são radicais ou, pelo menos, muito marcadas o que é, aliás, essencial à própria lógica do regime democrático.

Ler na íntegra aqui. Ver ponto de situação. Posição oficial do PP. Posição oficial do PSD.

O ritmo

Posted by Picasa albert lemoine

Ressonância de 21 de Setembro de 2004. Desta vez o fragmento que seleccionei de “Roland Barthes por Roland Barthes” vem acompanhado com uma nota da minha lavra: "Barthes, o autor, não é o meu ídolo. É um pretexto agora instrumento do meu desejo de ser identificado com uma reflexão que se propõe essencialmente para agradar".

Depois de esclarecido o jogo aqui vai o fragmento:

“Ele sempre acreditou nesse ritmo grego, na sucessão da Ascese e da Festa, no desencadeamento duma pela outra (e de forma alguma no ritmo insípido da modernidade: trabalho/lazer). Era precisamente o ritmo de Michelet ao passar, na sua vida e no seu texto, por uma série de mortes e ressurreições, enxaquecas e entusiasmos, narrativas (ele "remava" em Luís XI) e quadros (aí a sua escrita desabrochava). Foi o ritmo que de certo modo conheceu na Roménia, onde, por virtude de um costume eslavo ou balcânico, as pessoas se encerravam periodicamente, durante três dias na Festa (jogos, comida, vigília e o resto: era o "Kef").
Assim, na sua própria vida, esse ritmo é permanentemente procurado; não só é necessário que durante o dia de trabalho haja em vista o prazer à noite (o que é banal) como também, complementarmente, surja da noite feliz, mais para o fim dela, o desejo de chegar muito depressa ao dia seguinte a fim de recomeçar o trabalho (de escrita).
(De reparar que o ritmo não é obrigatoriamente regular: Casals dizia muito bem que o ritmo é o retardo.)”

quarta-feira, setembro 20

SOFIA LOREN

Posted by Picasa Federico Fellini, Marcello Mastroianni e Sofia Loren

Sofia Loren nasceu a 20 de Setembro de 1934. É uma das mulheres mais fotografadas de sempre. Um traço forte gravado no meu imaginário. Parabéns.