Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, fevereiro 19
ENTRUDO - UMA VIAGEM
Fotografia daqui
Viagem rápida a Luzim (Entre – os – Rios, Penafiel), sábado para domingo de Carnaval, em família, em direcção à casa de campo dos pais da M.A., no meio da paisagem que rejubila de cores, por entre árvores, flores, musgo e águas, à vista do vale do Tâmega que se cobre, pela manhã, de nuvens baixas, brancas com as claras em castelo. Ali onde assoma, a todo o momento, a alegria genuína de quem recebe. Os amigos partilham o espaço e o tempo sem esforço e a gastronomia toma o lugar mais alto na fruição do acolhimento. É difícil imaginar outro prazer mais próximo da perfeição. O lugar, magnífico, anda paredes-meias com outros que me suscitam uma melancolia profunda. À vinda, na estrada, cruzamo-nos com três momos vestidos a rigor qual fragmento de um Entrudo autêntico que persiste.
Viagem rápida a Luzim (Entre – os – Rios, Penafiel), sábado para domingo de Carnaval, em família, em direcção à casa de campo dos pais da M.A., no meio da paisagem que rejubila de cores, por entre árvores, flores, musgo e águas, à vista do vale do Tâmega que se cobre, pela manhã, de nuvens baixas, brancas com as claras em castelo. Ali onde assoma, a todo o momento, a alegria genuína de quem recebe. Os amigos partilham o espaço e o tempo sem esforço e a gastronomia toma o lugar mais alto na fruição do acolhimento. É difícil imaginar outro prazer mais próximo da perfeição. O lugar, magnífico, anda paredes-meias com outros que me suscitam uma melancolia profunda. À vinda, na estrada, cruzamo-nos com três momos vestidos a rigor qual fragmento de um Entrudo autêntico que persiste.
PARA AS CRIANÇAS
Fotografia de Hélder Gonçalves
Para as crianças digo
o verso que faltava.
Menos que o verso, digo
a palavra – ou já não tanto:
a sílaba, o som, o sibilar,
só o tremor do vento
do grito ou gargalhada.
Para as crianças digo
o que faltava, o mais
essencial, o pão do dia
que nos fará crescer
a elas e a nós:
para as crianças digo
um tudo, um nada.
Pedro Tamen
Para as crianças digo
o verso que faltava.
Menos que o verso, digo
a palavra – ou já não tanto:
a sílaba, o som, o sibilar,
só o tremor do vento
do grito ou gargalhada.
Para as crianças digo
o que faltava, o mais
essencial, o pão do dia
que nos fará crescer
a elas e a nós:
para as crianças digo
um tudo, um nada.
Pedro Tamen
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domingo, fevereiro 18
ABSTENÇÃO NA ANDALUZIA
Já agora a propósito da abstenção em referendos.
La participación en el referéndum celebrado este domingo sobre la reforma del Estatuto Andaluz se ha situado en el 36,28% del censo, un índice de afluencia a las urnas muy por debajo del deseado por la clase política y que marca un récord de abstención (63,72%) en esa comunidad autónoma. Con todo, el apoyo a la reforma estatutaria de los que han ido a votar ha sido, como se esperaba, abrumador: el 87,45% ha respaldado con su voto la reforma. El 'no' sólo ha cosechado el 9,48% de apoyo. Ha habido un 3,07% de votos en blanco.
sábado, fevereiro 17
KAVAFIS
Imagem daqui
Citação cristalina de Kavafis, subtraída ao CATATAU, com algumas palavras “retocadas”:
Tenho observado com frequência a pouca atenção que as pessoas dão às palavras. Explico-me. Um homem simples (com simples não quero dizer parvo, e sim não-eminente) tem uma opinião, critica uma instituição ou crença geral; sabendo que a maioria das pessoas não pensa assim, cala-se, na suposição de que não vale a pena falar, pois o que pudesse dizer não mudaria coisa alguma. Trata-se de um erro grave. Eu ajo de outro modo. Por exemplo, sou contra a pena de morte. Sempre que me aparece uma oportunidade, manifesto-me a respeito, não porque ache que, com isso, o Estado a vá abolir, mas porque estou convencido de que assim contribuo para o triunfo das minhas ideias. Pouco me importa que ninguém concorde comigo. O que eu disse não foi em pura perda. Talvez alguém repita minhas palavras e elas cheguem a ouvidos que as ouçam e as perfilhem. Quem sabe se futuramente algum daqueles que ora discordam de mim não se vai lembrar, numa ocasião propícia, daquilo que eu disse e convencer-se ou pelo menos sentir abalada sua opinião em contrário. - O mesmo vale para diversas outras questões sociais, das que exigem acção. Reconheço que sou tímido e não sei agir. Por isso limito-me a falar. Não acho, porém, que minhas palavras sejam em vão. Outro agirá, mas essas palavras – de mim, o tímido, - terão facilitado a acção e limpado o terreno.
KAVAFIS, K. Reflexões sobre Poesia e Ética. SP: Ática, 1998
Citação cristalina de Kavafis, subtraída ao CATATAU, com algumas palavras “retocadas”:
Tenho observado com frequência a pouca atenção que as pessoas dão às palavras. Explico-me. Um homem simples (com simples não quero dizer parvo, e sim não-eminente) tem uma opinião, critica uma instituição ou crença geral; sabendo que a maioria das pessoas não pensa assim, cala-se, na suposição de que não vale a pena falar, pois o que pudesse dizer não mudaria coisa alguma. Trata-se de um erro grave. Eu ajo de outro modo. Por exemplo, sou contra a pena de morte. Sempre que me aparece uma oportunidade, manifesto-me a respeito, não porque ache que, com isso, o Estado a vá abolir, mas porque estou convencido de que assim contribuo para o triunfo das minhas ideias. Pouco me importa que ninguém concorde comigo. O que eu disse não foi em pura perda. Talvez alguém repita minhas palavras e elas cheguem a ouvidos que as ouçam e as perfilhem. Quem sabe se futuramente algum daqueles que ora discordam de mim não se vai lembrar, numa ocasião propícia, daquilo que eu disse e convencer-se ou pelo menos sentir abalada sua opinião em contrário. - O mesmo vale para diversas outras questões sociais, das que exigem acção. Reconheço que sou tímido e não sei agir. Por isso limito-me a falar. Não acho, porém, que minhas palavras sejam em vão. Outro agirá, mas essas palavras – de mim, o tímido, - terão facilitado a acção e limpado o terreno.
KAVAFIS, K. Reflexões sobre Poesia e Ética. SP: Ática, 1998
sexta-feira, fevereiro 16
EXTRAORDINARIAMENTE INTERESSANTE!
Fotografia de Ernesto Timor
CASA PIA
Advogado abandona defesa das vítimas
A renúncia do advogado José António Barreiros é a terceira mudança, no espaço de três anos, na liderança da equipa que representa as vítimas da Casa Pia e a instituição no processo de pedofilia.
CASA PIA
Advogado abandona defesa das vítimas
A renúncia do advogado José António Barreiros é a terceira mudança, no espaço de três anos, na liderança da equipa que representa as vítimas da Casa Pia e a instituição no processo de pedofilia.
A REVOLUÇÃO DAS FLORES
Fotografia de Hélder Gonçalves
Correspondendo a um apelo subterrâneo há vários dias que as dálias, os lírios, as cravinas e as hortênsias se recusam a florir e os jasmineiros e as violetas a exalarem o seu aroma penetrante. De entre as rosas foram as vermelhas as primeiras a aderir. Comités de flores que se formaram espontaneamente em todos os jardins reivindicam o direito de florir em qualquer estação do ano, medidas eficazes contra as arbitrariedades das floristas, a extinção pura e simples das estufas.
Uma nuvem de pólen cobre a cidade. Em vão a polícia controla os portos e as fronteiras. A exportação de bolbos e sementes foi suspensa entretanto. Na Madeira o movimento foi desencadeado pelas estrelíceas. Tulipas que viajavam de avião e se destinavam a abastecer o mercado londrino murcharam colectivamente. No Extremo Oriente, crisântemos negros invadem as ruas das cidades como Tóquio e Pequim. Apanhadas desprevenidas as borboletas, abelhas, vespas e outros insectos ensaiam agora perigosos voos sobre os transeuntes. Às dezasseis horas TMG, numa conferência de imprensa realizada no Jardim de S. Lázaro, um grupo não identificado de flores, mas entre as quais se podia reconhecer alguns amores-perfeitos, proclamou o estado de felicidade permanente nos jardins.
Jorge de Sousa Braga
Correspondendo a um apelo subterrâneo há vários dias que as dálias, os lírios, as cravinas e as hortênsias se recusam a florir e os jasmineiros e as violetas a exalarem o seu aroma penetrante. De entre as rosas foram as vermelhas as primeiras a aderir. Comités de flores que se formaram espontaneamente em todos os jardins reivindicam o direito de florir em qualquer estação do ano, medidas eficazes contra as arbitrariedades das floristas, a extinção pura e simples das estufas.
Uma nuvem de pólen cobre a cidade. Em vão a polícia controla os portos e as fronteiras. A exportação de bolbos e sementes foi suspensa entretanto. Na Madeira o movimento foi desencadeado pelas estrelíceas. Tulipas que viajavam de avião e se destinavam a abastecer o mercado londrino murcharam colectivamente. No Extremo Oriente, crisântemos negros invadem as ruas das cidades como Tóquio e Pequim. Apanhadas desprevenidas as borboletas, abelhas, vespas e outros insectos ensaiam agora perigosos voos sobre os transeuntes. Às dezasseis horas TMG, numa conferência de imprensa realizada no Jardim de S. Lázaro, um grupo não identificado de flores, mas entre as quais se podia reconhecer alguns amores-perfeitos, proclamou o estado de felicidade permanente nos jardins.
Jorge de Sousa Braga
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quinta-feira, fevereiro 15
PÚBLICO
Fotografia de Bart Pogoda
É interessante acompanhar o debate acerca de uma coisa que se conhece somente através do que os outros dizem dela.
É interessante acompanhar o debate acerca de uma coisa que se conhece somente através do que os outros dizem dela.
ALBERT CAMUS - SUBLINHADOS
Imagem daqui
Ressonância de 14 de Fevereiro de 2004. Trata-se do penúltimo post com os meus sublinhados da primeira leitura dos Cadernos de Camus, publicado no absorto. Foi endereçado para o blogue Cadernos de Camus mas, por razões que desconheço, não foi publicado.
O Caderno n.º 6 que integra, na edição portuguesa, o volume Cadernos III da Colecção Miniatura, editada pela Livros do Brasil, respeita ao período de Abril de 1948 a Março de 1951.
Os sublinhados desde caderno n.º 6 serão divididos em duas partes para efeitos de inserção no projecto Cadernos de Camus. Eis a primeira parte dos mesmos:
“Arte moderna. Encontram o objecto porque ignoram a natureza. Refazem a natureza e não lhes resta outro recurso porque a esqueceram. Quando esse trabalho estiver concluído, começarão os grandes anos.”
““Sem uma liberdade ilimitada de imprensa, sem uma liberdade absoluta de reunião e de associação, o domínio de largas massas populares é inconcebível” (Rosa Luxemburgo, a Revolução Russa).””
“”Salvador de Madariaga: “A Europa só recobrará os seus sentidos quando a palavra revolução evocar vergonha e não orgulho. Um país que se ufana da sua gloriosa revolução é tão fátuo e absurdo como um homem que se ufanasse da sua gloriosa apendicite.”
Verdade num certo sentido, mas discutível.””
“Segundo Richelieu, os rebeldes, sendo em tudo iguais, são sempre menos fortes do que os defensores do sistema oficial. Por causa da má consciência.”
“”G. Greene: ...
Id. “Para quem não crê em Deus, se as pessoas não forem tratadas segundo os seus méritos, o mundo é um caos, é-se levado ao desespero””(Sublinhado parcial de um conjunto de citações de G. Green. No final escrevi: “Atenção”)
“Peça. O Orgulho. O orgulho nasce no meio das trevas”
“Os artistas querem ser santos, não artistas. Eu não sou um santo. Queremos o consentimento universal e não o teremos. Então?”(Escrevi “Poema José Gomes Ferreira” cuja Poesia I, de 1948, deveria andar a ler)
““Título da peça. A inquisição em Cádis. Epígrafe: “A Inquisição e a Sociedade são os dois grandes flagelos da verdade.” Pascal””
“Dilaceração por ter aumentado a injustiça julgando-se servir a justiça. Reconhecê-lo pelo menos e descobrir então essa dilaceração maior: reconhecer que a justiça total não existe. Ao cabo da mais terrível revolta, reconhecer que não se é nada, isso é que é trágico.”
“Gobineau: Não descendemos do macaco, mas aproximamo-nos dele a toda a velocidade.”
Extractos, in “Cadernos” (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, Caderno nº6 (Abril de 1948/ Março de 1951).
Ressonância de 14 de Fevereiro de 2004. Trata-se do penúltimo post com os meus sublinhados da primeira leitura dos Cadernos de Camus, publicado no absorto. Foi endereçado para o blogue Cadernos de Camus mas, por razões que desconheço, não foi publicado.
O Caderno n.º 6 que integra, na edição portuguesa, o volume Cadernos III da Colecção Miniatura, editada pela Livros do Brasil, respeita ao período de Abril de 1948 a Março de 1951.
Os sublinhados desde caderno n.º 6 serão divididos em duas partes para efeitos de inserção no projecto Cadernos de Camus. Eis a primeira parte dos mesmos:
“Arte moderna. Encontram o objecto porque ignoram a natureza. Refazem a natureza e não lhes resta outro recurso porque a esqueceram. Quando esse trabalho estiver concluído, começarão os grandes anos.”
““Sem uma liberdade ilimitada de imprensa, sem uma liberdade absoluta de reunião e de associação, o domínio de largas massas populares é inconcebível” (Rosa Luxemburgo, a Revolução Russa).””
“”Salvador de Madariaga: “A Europa só recobrará os seus sentidos quando a palavra revolução evocar vergonha e não orgulho. Um país que se ufana da sua gloriosa revolução é tão fátuo e absurdo como um homem que se ufanasse da sua gloriosa apendicite.”
Verdade num certo sentido, mas discutível.””
“Segundo Richelieu, os rebeldes, sendo em tudo iguais, são sempre menos fortes do que os defensores do sistema oficial. Por causa da má consciência.”
“”G. Greene: ...
Id. “Para quem não crê em Deus, se as pessoas não forem tratadas segundo os seus méritos, o mundo é um caos, é-se levado ao desespero””(Sublinhado parcial de um conjunto de citações de G. Green. No final escrevi: “Atenção”)
“Peça. O Orgulho. O orgulho nasce no meio das trevas”
“Os artistas querem ser santos, não artistas. Eu não sou um santo. Queremos o consentimento universal e não o teremos. Então?”(Escrevi “Poema José Gomes Ferreira” cuja Poesia I, de 1948, deveria andar a ler)
““Título da peça. A inquisição em Cádis. Epígrafe: “A Inquisição e a Sociedade são os dois grandes flagelos da verdade.” Pascal””
“Dilaceração por ter aumentado a injustiça julgando-se servir a justiça. Reconhecê-lo pelo menos e descobrir então essa dilaceração maior: reconhecer que a justiça total não existe. Ao cabo da mais terrível revolta, reconhecer que não se é nada, isso é que é trágico.”
“Gobineau: Não descendemos do macaco, mas aproximamo-nos dele a toda a velocidade.”
Extractos, in “Cadernos” (1964-Editions Gallimard), tradução de António Ramos Rosa, Colecção Miniatura das Edições “Livros do Brasil”, Caderno nº6 (Abril de 1948/ Março de 1951).
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quarta-feira, fevereiro 14
Ségolène Royal - Assumer son choix
Imagem daqui
Jean Daniel sobre Ségolène Royal :
« Reste que, dimanche dernier, j’ai eu le sentiment d’assister au spectacle d’une femme qui avait quelque chose à dire et qui le disait bien. Dans le rôle où elle avait eu l’audace de se hisser et où elle avait eu le talent de s’imposer, Ségolène Royal était tout simplement en état de grâce. Une lumineuse sérénité, une confiance tranquille en elle-même, une vraie capacité d’émouvoir lorsqu’elle évoque la détresse de la jeunesse mais aussi ses devoirs, la misère des enfants mais aussi la responsabilité des parents, et les violences faite aux femmes. En tout cas, sur tous ces thèmes, elle s’est imposée comme une femme de conviction. On ne s’y attendait plus. Je ne m’y attendais pas. Alors, sans prévoir ce que je penserai demain, je veux dire aujourd’hui combien j’ai apprécié ce commencement de réconfort que, pendant deux belles heures, Ségolène Royal a enfin procuré à ceux des Français qui ne demandent qu’à demeurer fidèles à la gauche. »
Jean Daniel sobre Ségolène Royal :
« Reste que, dimanche dernier, j’ai eu le sentiment d’assister au spectacle d’une femme qui avait quelque chose à dire et qui le disait bien. Dans le rôle où elle avait eu l’audace de se hisser et où elle avait eu le talent de s’imposer, Ségolène Royal était tout simplement en état de grâce. Une lumineuse sérénité, une confiance tranquille en elle-même, une vraie capacité d’émouvoir lorsqu’elle évoque la détresse de la jeunesse mais aussi ses devoirs, la misère des enfants mais aussi la responsabilité des parents, et les violences faite aux femmes. En tout cas, sur tous ces thèmes, elle s’est imposée comme une femme de conviction. On ne s’y attendait plus. Je ne m’y attendais pas. Alors, sans prévoir ce que je penserai demain, je veux dire aujourd’hui combien j’ai apprécié ce commencement de réconfort que, pendant deux belles heures, Ségolène Royal a enfin procuré à ceux des Français qui ne demandent qu’à demeurer fidèles à la gauche. »
A VERDADE
Fotografia daqui
O cerco aperta-se. Esperam-se, a qualquer momento, declarações de José Manuel Barroso e Paulo Portas. O tema interessa-lhes.
O cerco aperta-se. Esperam-se, a qualquer momento, declarações de José Manuel Barroso e Paulo Portas. O tema interessa-lhes.
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O ESQUECIMENTO
Fotografia de Hélder Gonçalves
Os meus amigos que nasceram depois
do vinte e cinco de abril chegam a
pensar que a tortura do sono é não ter pedalada
para ficar na discoteca até às
cinco da manhã por falta
de pastilhas
e que uma falha na corrente
eléctrica a meio da noite é o que
melhor pode definir o
conceito de Sombra.
José Carlos Barros
Os meus amigos que nasceram depois
do vinte e cinco de abril chegam a
pensar que a tortura do sono é não ter pedalada
para ficar na discoteca até às
cinco da manhã por falta
de pastilhas
e que uma falha na corrente
eléctrica a meio da noite é o que
melhor pode definir o
conceito de Sombra.
José Carlos Barros
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terça-feira, fevereiro 13
JORNAIS
Imagem daqui
Pois é. Pela parte que me toca já deixei de comprar jornais em papel há muito tempo. Rompi com uma tradição de juventude. Já sei que os jornais noutros suportes assumirão os mesmos vícios. Não há volta a dar. Toda a despesa crítica fica do lado do leitor.
Devemos tomar como adquirido que o que lemos é uma ínfima parte da informação disponível. Uma gota de água no oceano. Resta-nos escolher a gota de água que verdadeiramente nos interessa e que nos dê prazer. A Internet permite escolher mais, mais longe e mais depressa.
Tudo já está decidido quanto ao futuro da imprensa escrita: o museu. Alguma coisa vai sobreviver dela: os jornais gratuitos, os semanários especializados e, provavelmente, os jornais que assumam a forma de objectos de arte. Durante mais algum tempo a Internet…e mais tarde …
Pois é. Pela parte que me toca já deixei de comprar jornais em papel há muito tempo. Rompi com uma tradição de juventude. Já sei que os jornais noutros suportes assumirão os mesmos vícios. Não há volta a dar. Toda a despesa crítica fica do lado do leitor.
Devemos tomar como adquirido que o que lemos é uma ínfima parte da informação disponível. Uma gota de água no oceano. Resta-nos escolher a gota de água que verdadeiramente nos interessa e que nos dê prazer. A Internet permite escolher mais, mais longe e mais depressa.
Tudo já está decidido quanto ao futuro da imprensa escrita: o museu. Alguma coisa vai sobreviver dela: os jornais gratuitos, os semanários especializados e, provavelmente, os jornais que assumam a forma de objectos de arte. Durante mais algum tempo a Internet…e mais tarde …
segunda-feira, fevereiro 12
KANT
Ressonância de 12 de Fevereiro de 2004. Nesse dia publiquei um post intitulado: KANT – um chumbo humilhante! Trata-se uma episódio real, passado na minha juventude, do qual, ironicamente, se podem retirar ensinamentos úteis para entender as posições de muitos apoiantes do “Não” no referendo de ontem.
CONHECIMENTO
Fotografia de Hélder Gonçalves
De pouco vale o chamado
conhecimento: um figo
vale mais se tenho fome,
ou uma lágrima
tímida
num rosto sem nome.
Casimiro de Brito
De pouco vale o chamado
conhecimento: um figo
vale mais se tenho fome,
ou uma lágrima
tímida
num rosto sem nome.
Casimiro de Brito
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domingo, fevereiro 11
Ségolène Royal
Fotografia daqui
A candidata presidencial Ségolène Royal lançou hoje, em França, o seu programa eleitoral. A prioridade vai para a “educação, ainda a educação, sempre a educação”. Seja qual for o destino da sua candidatura, bons sinais…
(…) Ségolène Royal a assuré, dimanche 11 février à Villepinte, que "c'est l'éducation qui tient tout l'édifice", promettant qu'avec elle, "ce sera l'éducation, encore l'éducation, toujours l'éducation".
"Tout se tient: l'emploi, la famille et l'Ecole, c'est l'éducation qui tient tout l'édifice, c'est pourquoi, avec moi, ce sera l'éducation, encore l'éducation, toujours l'éducation", a déclaré la candidate sous de forts applaudissements.
"Ce sera au cœur de tout et en avant de tout: l'Ecole est le cœur battant de la République, le lieu où se transmettent tous les savoirs et les valeurs républicaines, le creuset où se forment les futurs citoyens", a-t-elle lancé, constatant que "l'Ecole traverse une crise profonde".
Le discours de Ségolène Royal à Villepinte
A candidata presidencial Ségolène Royal lançou hoje, em França, o seu programa eleitoral. A prioridade vai para a “educação, ainda a educação, sempre a educação”. Seja qual for o destino da sua candidatura, bons sinais…
(…) Ségolène Royal a assuré, dimanche 11 février à Villepinte, que "c'est l'éducation qui tient tout l'édifice", promettant qu'avec elle, "ce sera l'éducation, encore l'éducation, toujours l'éducation".
"Tout se tient: l'emploi, la famille et l'Ecole, c'est l'éducation qui tient tout l'édifice, c'est pourquoi, avec moi, ce sera l'éducation, encore l'éducation, toujours l'éducation", a déclaré la candidate sous de forts applaudissements.
"Ce sera au cœur de tout et en avant de tout: l'Ecole est le cœur battant de la République, le lieu où se transmettent tous les savoirs et les valeurs républicaines, le creuset où se forment les futurs citoyens", a-t-elle lancé, constatant que "l'Ecole traverse une crise profonde".
Le discours de Ségolène Royal à Villepinte
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VITÓRIA DO SIM
sophie thouvenin
O SIM ganhou abrindo o caminho para a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
Mas, por mais que se diga que, neste referendo, a abstenção recuou, a verdade é que foi ainda superior a 50%.
Está, pois, aberta a discussão política acerca da legitimidade de legislar apesar do carácter não vinculativo do referendo.
Ora se a Assembleia da República já tinha legitimidade para legislar, mesmo sem referendo, com a vitória do SIM fica, politica e eticamente, obrigada a legislar no sentido da maioria expressa no referendo.
O SIM ganhou abrindo o caminho para a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
Mas, por mais que se diga que, neste referendo, a abstenção recuou, a verdade é que foi ainda superior a 50%.
Está, pois, aberta a discussão política acerca da legitimidade de legislar apesar do carácter não vinculativo do referendo.
Ora se a Assembleia da República já tinha legitimidade para legislar, mesmo sem referendo, com a vitória do SIM fica, politica e eticamente, obrigada a legislar no sentido da maioria expressa no referendo.
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SIM
sophie thouvenin
Fim da manhã. Não chove em Lisboa. Esta deve ter sido a última vez que o meu filho me acompanhou à mesa de voto como espectador. Nas próximas eleições, segundo o calendário normal, ele já votará. O nº da minha mesa baixou drasticamente. O tempo passa.
Daqui a pouco já será possível saber da afluência às urnas. Se estiver disponível a comparação com a afluência no referendo de 1998, às 12 horas, saberemos como vai ser, desta vez, a abstenção.
Podem ver essa informação aqui. Entretanto para quem quiser saber acerca do histórico das sondagens pode ver aqui.
Fim da manhã. Não chove em Lisboa. Esta deve ter sido a última vez que o meu filho me acompanhou à mesa de voto como espectador. Nas próximas eleições, segundo o calendário normal, ele já votará. O nº da minha mesa baixou drasticamente. O tempo passa.
Daqui a pouco já será possível saber da afluência às urnas. Se estiver disponível a comparação com a afluência no referendo de 1998, às 12 horas, saberemos como vai ser, desta vez, a abstenção.
Podem ver essa informação aqui. Entretanto para quem quiser saber acerca do histórico das sondagens pode ver aqui.
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O METRO DO PORTO VAI SER A DESCOBERTO
Fotografia de Hélder Gonçalves
À entrada do metro de Lisboa está o cobridor
de damas e cavalheiros
de pé e perna cruzada a coçar os testículos
e a fumar para o chão em escarros
pouco límpidos.
O metro pede que chova em cima
do cobridor
que encena a sua rábula cinéfila
e leva aos tomates uma estranha fome
de afecto
melancólica.
Já viajei de metro cobridor um ror de vezes
e eu próprio já supus
que nos meus testículos
o mundo vinha adormecer
com mãos suadas.
Às vezes trocávamos de papel,
cobertos éramos todos
por uma tristeza
severa
que o metro transporta no ar
irrespirável.
Hoje, tomates são de importação ou virtuais
e os cobridores
uma espécie em vias de extinção
na esquina fluorescente do dia descaído
na cabeça da noite que já nem dá para nada.
E sei que no Porto o metro vai ser a descoberto.
Armando Silva Carvalho
[Encontrei aqui uma variante.]
À entrada do metro de Lisboa está o cobridor
de damas e cavalheiros
de pé e perna cruzada a coçar os testículos
e a fumar para o chão em escarros
pouco límpidos.
O metro pede que chova em cima
do cobridor
que encena a sua rábula cinéfila
e leva aos tomates uma estranha fome
de afecto
melancólica.
Já viajei de metro cobridor um ror de vezes
e eu próprio já supus
que nos meus testículos
o mundo vinha adormecer
com mãos suadas.
Às vezes trocávamos de papel,
cobertos éramos todos
por uma tristeza
severa
que o metro transporta no ar
irrespirável.
Hoje, tomates são de importação ou virtuais
e os cobridores
uma espécie em vias de extinção
na esquina fluorescente do dia descaído
na cabeça da noite que já nem dá para nada.
E sei que no Porto o metro vai ser a descoberto.
Armando Silva Carvalho
[Encontrei aqui uma variante.]
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sábado, fevereiro 10
ESPLANADA
Praia de Faro – Anos 60
A imagem da esplanada é-me familiar. Passei lá muitas horas e lá sonhei muitos sonhos. Tinha ao fundo, junto ao balcão, uma caixa de discos daquelas de moeda. Tocava os êxitos da época, música francesa, Sylvie Vartan, Françoise Hardy, talvez Ray Charles …
O charme dela era o ambiente. Juntávamo-nos na esplanada da praia para trocar roupas, olhares e afectos. Olhando a sua imagem compreendo a razão do seu desaparecimento: era uma estrutura leve que não sobreviveu à selvajaria do betão.
A imagem da esplanada é-me familiar. Passei lá muitas horas e lá sonhei muitos sonhos. Tinha ao fundo, junto ao balcão, uma caixa de discos daquelas de moeda. Tocava os êxitos da época, música francesa, Sylvie Vartan, Françoise Hardy, talvez Ray Charles …
O charme dela era o ambiente. Juntávamo-nos na esplanada da praia para trocar roupas, olhares e afectos. Olhando a sua imagem compreendo a razão do seu desaparecimento: era uma estrutura leve que não sobreviveu à selvajaria do betão.
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