Se habla español
Sylvia Colombo
(…)
O espanhol é hoje a quarta língua mais falada no mundo (depois do chinês, do indiano e do inglês). Há quem diga que vai logo competir diretamente com o inglês. O lingüista britânico David Graddol, ouvido pelo "Babelia", já cravou a data: 2050. Não está tão longe. Será que dá tempo para saírmos do arroz-com-feijão do nosso diálogo com os vizinhos?
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sexta-feira, março 30
quinta-feira, março 29
CANÇÃO DO RIO PROFUNDO
A IMPORTÂNCIA DAS COISAS
Fotografia daqui
Uma notícia verdadeiramente importante. Ao menos os tons são fortes e os mitos que encarnam não auguram qualquer herança negra da qual nos tenhamos que apartar. Milhares de imagens de ídolos do passado e do presente poderiam hoje ocupar os ecrãs todos do mundo sem nos causarem calafrios pela lembrança dos pesadelos da história. É a vantagem da beleza mesmo quando a sabemos encenada para consumo corrente.
Uma notícia verdadeiramente importante. Ao menos os tons são fortes e os mitos que encarnam não auguram qualquer herança negra da qual nos tenhamos que apartar. Milhares de imagens de ídolos do passado e do presente poderiam hoje ocupar os ecrãs todos do mundo sem nos causarem calafrios pela lembrança dos pesadelos da história. É a vantagem da beleza mesmo quando a sabemos encenada para consumo corrente.
DIALOGICA
Apresentando dialogica
ILHA DAS FLORES
Este no es un Film de ficción - Existe un lugar llamado Isla de Flores - Dios no existe - Trece minutos que dan lugar a mucho que pensar (un mundo)
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ILHA DAS FLORES
Este no es un Film de ficción - Existe un lugar llamado Isla de Flores - Dios no existe - Trece minutos que dan lugar a mucho que pensar (un mundo)
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quarta-feira, março 28
EMPATE
Fotografia daqui
As sondagens dos últimos dias mostram Ségolène Royal e Sarkozi empatados após um longo período em que o candidato da direita surgia na frente. Quererá isto dizer alguma coisa?
Curiosamente Jean Daniel mostra, na sua crónica de ontem, entusiasmo pelo desempenho de Ségolène após ter participado num comício pela primeira vez desde 1981:
“Ségolénistes ou pas, les dernières prestations de la candidate ne devraient ni irriter ni décevoir les Français qui se veulent encore de gauche. Restituer au peuple ses trois couleurs, lui dire que cela le rend plus universel, donc, déjà, plus européen, lui rappeler qu’aimer la France est le meilleur moyen de la faire aimer de ceux que l’on accueille, souligner que pour arracher les conquêtes sociales, il a fallu que la nation eût d’abord, selon le mot de Renan, une « âme », rien de tout cela ne devrait susciter la moindre polémique. J’étais en tout cas sur les lieux du crime. Il ne semble pas qu’à Marseille on ait été choqué ce soir-là par « la Marseillaise ». Il y a longtemps que je ne suis plus familier des meetings. Le dernier était à Toulouse, pour Mitterrand, en 1981. Il s’était surpassé. Il n’en a rien été pour Ségolène, jeudi dernier. Mais c’est précisément ce qui m’a déconcerté : c’est qu’avec une telle économie de moyens elle ait pu si souvent susciter l’enthousiasme.»
As sondagens dos últimos dias mostram Ségolène Royal e Sarkozi empatados após um longo período em que o candidato da direita surgia na frente. Quererá isto dizer alguma coisa?
Curiosamente Jean Daniel mostra, na sua crónica de ontem, entusiasmo pelo desempenho de Ségolène após ter participado num comício pela primeira vez desde 1981:
“Ségolénistes ou pas, les dernières prestations de la candidate ne devraient ni irriter ni décevoir les Français qui se veulent encore de gauche. Restituer au peuple ses trois couleurs, lui dire que cela le rend plus universel, donc, déjà, plus européen, lui rappeler qu’aimer la France est le meilleur moyen de la faire aimer de ceux que l’on accueille, souligner que pour arracher les conquêtes sociales, il a fallu que la nation eût d’abord, selon le mot de Renan, une « âme », rien de tout cela ne devrait susciter la moindre polémique. J’étais en tout cas sur les lieux du crime. Il ne semble pas qu’à Marseille on ait été choqué ce soir-là par « la Marseillaise ». Il y a longtemps que je ne suis plus familier des meetings. Le dernier était à Toulouse, pour Mitterrand, en 1981. Il s’était surpassé. Il n’en a rien été pour Ségolène, jeudi dernier. Mais c’est précisément ce qui m’a déconcerté : c’est qu’avec une telle économie de moyens elle ait pu si souvent susciter l’enthousiasme.»
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DONO DO BAR
BLOG DO DONO DO BAR
Não sei como cheguei a este lugar ordinário, porém limpinho... mas cheguei … e ele diz o que tantas vezes me apetece dizer …
Não sei como cheguei a este lugar ordinário, porém limpinho... mas cheguei … e ele diz o que tantas vezes me apetece dizer …
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PRESIDENCIAIS FRANCESAS
Ségolène Royal
Síntese das últimas sondagens no Margens de Erro.
Está à vista uma segunda volta entre Ségo e Sarko com Bayrou por perto.
Síntese das últimas sondagens no Margens de Erro.
Está à vista uma segunda volta entre Ségo e Sarko com Bayrou por perto.
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terça-feira, março 27
Fotografia de Hélder Gonçalves
Bendito sejas arado
que lavras
neste chão sagrado
por odisseias mil
as palavras
rubras e secretas
na boca dos poetas
proclamando Abril.
6/1/99
Papiniano Carloshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Papiniano_Carlos
Bendito sejas arado
que lavras
neste chão sagrado
por odisseias mil
as palavras
rubras e secretas
na boca dos poetas
proclamando Abril.
6/1/99
Papiniano Carloshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Papiniano_Carlos
A RASURA DA MEMÓRIA
A propósito dos convites de Cavaco para a celebração dos 50 anos da UE Porfírio Silva, na Machina Speculatrix, ilustra uma tradição que vem de longe: a rasura da memória, técnica mais ou menos brutal, mais ou menos subtil, mas sempre desprezível.
Cavaco, Estaline, Soares, Trotsky e o Adobe Photoshop
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Cavaco, Estaline, Soares, Trotsky e o Adobe Photoshop
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DIA MUNDIAL DO TEATRO
Emílio de Campos Coroa – Pormenor da medalha evocativa da inauguração da sede do INATEL em Faro – “Casa Emílio de Campos Coroa”
Um dia muitos anos atrás, por iniciativa do meu irmão que achava que eu devia participar em actividades culturais para me ilustrar, ocupando o tempo e gastando as energias, entrei para o grupo de teatro do Circulo Cultural do Algarve, companhia amadora, dirigida, em Faro, pelo médico oftalmologista Emílio de Campos Coroa.
Já não é a primeira vez que me refiro a essa personagem fascinante que era o Dr. Coroa, um humanista desabrido, democrata da escola coimbrã, capaz de abrir caminhos por entre os mais duros obstáculos, um homem excessivo em tudo, inclusive como fazedor de obras difíceis.
Ele fez com que eu subisse ao palco, decorasse papéis, colocasse a voz e me afeiçoasse, o melhor possível, às personagens que me distribuía a maioria das quais criações de Gil Vicente aquele que dizem ter sido o criador do teatro português.
Um dia, muito mais tarde, dei comigo a pensar por que carga de água não existe em Portugal um teatro que se dedique em permanência a pôr em cena a obra vicentina que haveria de ser o Teatro Nacional D. Maria mas não é nem, quase certamente, será no futuro.
O teatro de Gil Vicente não cabe nos nossos teatros como no nosso país não cabem os grandes talentos que nele minguam à falta de espaço ou se retiram com descrição, ou estrondo, para a estranja.
E é isto que me soe dizer neste dia mundial do teatro que tantas prazeres me deu, e dá, e fascínio me suscitou, e suscita, quando dele me aproximo e nas suas diversas facetas se apresenta, com autenticidade, representando a vida das gentes e as tramas das sociedades. Bem hajam os criadores!
Um dia muitos anos atrás, por iniciativa do meu irmão que achava que eu devia participar em actividades culturais para me ilustrar, ocupando o tempo e gastando as energias, entrei para o grupo de teatro do Circulo Cultural do Algarve, companhia amadora, dirigida, em Faro, pelo médico oftalmologista Emílio de Campos Coroa.
Já não é a primeira vez que me refiro a essa personagem fascinante que era o Dr. Coroa, um humanista desabrido, democrata da escola coimbrã, capaz de abrir caminhos por entre os mais duros obstáculos, um homem excessivo em tudo, inclusive como fazedor de obras difíceis.
Ele fez com que eu subisse ao palco, decorasse papéis, colocasse a voz e me afeiçoasse, o melhor possível, às personagens que me distribuía a maioria das quais criações de Gil Vicente aquele que dizem ter sido o criador do teatro português.
Um dia, muito mais tarde, dei comigo a pensar por que carga de água não existe em Portugal um teatro que se dedique em permanência a pôr em cena a obra vicentina que haveria de ser o Teatro Nacional D. Maria mas não é nem, quase certamente, será no futuro.
O teatro de Gil Vicente não cabe nos nossos teatros como no nosso país não cabem os grandes talentos que nele minguam à falta de espaço ou se retiram com descrição, ou estrondo, para a estranja.
E é isto que me soe dizer neste dia mundial do teatro que tantas prazeres me deu, e dá, e fascínio me suscitou, e suscita, quando dele me aproximo e nas suas diversas facetas se apresenta, com autenticidade, representando a vida das gentes e as tramas das sociedades. Bem hajam os criadores!
segunda-feira, março 26
UMA ENCRUZILHADA TERRÍVEL
Fotografia de Angelle
As classificações de serviço na administração pública, com aplicação de quotas, visam introduzir diferenciação entre os funcionários com base na qualidade do seu desempenho. É a velha questão de que nem todos podem ser muito bons. É verdade.
Mas a aplicação desta política, na fase inaugural, está a criar um fosso entre a classe dirigente e a maioria esmagadora dos funcionários. Uma guerra sem quartel. Esta é a simples constatação de um facto. Se lhe juntarmos a execução da política de excedentários a guerra agrava-se. Só há que saber quais os critérios objectivos adoptados para classificar e excluir.
Se os dirigentes conseguirem explicar os critérios, caso a caso, o governo ganha a guerra. Mas são mais de 700.000 casos numa população que não deve exceder um total de 3 milhões de activos. Este é o lado negro da política de consolidação orçamental, ou seja, o seu custo mais pesado e dramático.
É que não se podem colocar as pessoas na posição de declarar: “se for preciso, para melhorar a situação do país, suicido-me!”. Pois, na verdade, o que é o país senão a comunidade das pessoas, de todas as pessoas, que são, no fundo, com seus defeitos e virtudes, o seu mais precioso tesouro!Uma encruzilhada terrível!
As classificações de serviço na administração pública, com aplicação de quotas, visam introduzir diferenciação entre os funcionários com base na qualidade do seu desempenho. É a velha questão de que nem todos podem ser muito bons. É verdade.
Mas a aplicação desta política, na fase inaugural, está a criar um fosso entre a classe dirigente e a maioria esmagadora dos funcionários. Uma guerra sem quartel. Esta é a simples constatação de um facto. Se lhe juntarmos a execução da política de excedentários a guerra agrava-se. Só há que saber quais os critérios objectivos adoptados para classificar e excluir.
Se os dirigentes conseguirem explicar os critérios, caso a caso, o governo ganha a guerra. Mas são mais de 700.000 casos numa população que não deve exceder um total de 3 milhões de activos. Este é o lado negro da política de consolidação orçamental, ou seja, o seu custo mais pesado e dramático.
É que não se podem colocar as pessoas na posição de declarar: “se for preciso, para melhorar a situação do país, suicido-me!”. Pois, na verdade, o que é o país senão a comunidade das pessoas, de todas as pessoas, que são, no fundo, com seus defeitos e virtudes, o seu mais precioso tesouro!Uma encruzilhada terrível!
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O MAR A GALGAR O PAREDÃO
O parque de campismo, o INAG, o Neves e o paredão. Não há paciência! Conheço todos, menos o INAG. O campismo porque fica ao lado do parque do INATEL. O Neves porque trabalhou comigo no GEBEI* e o paredão porque sim. O mar a galgar o paredão tem uma intensa ressonância erótica. É o único aspecto interessante no caso. O mar a galgar o paredão. O mar tem sempre razão!
*Dizem-me que foi no GETAP!!!
*Dizem-me que foi no GETAP!!!
O MEU IRMÃO DIMAS ENTRE COLEGAS
Fotografia de Família
(Clicar para aumentar)
Fotografia do meu irmão Dimas (o primeiro em baixo à direita) com um grupo de colegas do Liceu obtida, quase de certeza, na Alameda de Faro. Pela data, manuscrita na fotografia, o meu irmão andava pelos seus 16/17 anos, a fase mais difícil da sua adolescência. Tinha, curiosamente, a mesma idade que o meu filho tem agora.
Pouco tempo depois, no ano seguinte (?), abandonaria os estudos liceais a caminho do Porto onde aprenderia as duas profissões (gravador e óptico) que lhe granjearam, até ao fim da vida, prestígio social e sucesso empresarial.
Anoto a sua tez morena, face compenetrada, fato completo, camisa branca, gravata decorada, relógio de pulso e o relevo das mãos, grandes e finas, suspensas do seu corpo, alto e esguio, com uma medida a mais para a época.
O grupo partilhava um momento de confraternização, todos igualmente bem vestidos, apertados para caberem na fotografia, usufruindo, unidos, os favores do tempo e os prazeres do lugar numa ambiência típica dos anos 50 do século passado.
(Clicar para aumentar)
Fotografia do meu irmão Dimas (o primeiro em baixo à direita) com um grupo de colegas do Liceu obtida, quase de certeza, na Alameda de Faro. Pela data, manuscrita na fotografia, o meu irmão andava pelos seus 16/17 anos, a fase mais difícil da sua adolescência. Tinha, curiosamente, a mesma idade que o meu filho tem agora.
Pouco tempo depois, no ano seguinte (?), abandonaria os estudos liceais a caminho do Porto onde aprenderia as duas profissões (gravador e óptico) que lhe granjearam, até ao fim da vida, prestígio social e sucesso empresarial.
Anoto a sua tez morena, face compenetrada, fato completo, camisa branca, gravata decorada, relógio de pulso e o relevo das mãos, grandes e finas, suspensas do seu corpo, alto e esguio, com uma medida a mais para a época.
O grupo partilhava um momento de confraternização, todos igualmente bem vestidos, apertados para caberem na fotografia, usufruindo, unidos, os favores do tempo e os prazeres do lugar numa ambiência típica dos anos 50 do século passado.
domingo, março 25
O QUE PENSA SIM E O QUE PENSA NÃO
Fotografia de Hélder Gonçalves
Há o que pensa sim e diz que não
há o que pensa não e diz que sim
há aquele que decerto me odeia
e não faz senão rir-se para mim
Há o que diz que sim e diz que não
conforme a meia-cara com que fala
e aquele que diz sim que sim que sim
sem saber o motivo que o embala
Há o que pensa sim e diz que sim
e esse é concerteza meu irmão
esse que diz sim pensando sim
é o que luta por uma razão.
Fernando Miguel Bernardes
Há o que pensa sim e diz que não
há o que pensa não e diz que sim
há aquele que decerto me odeia
e não faz senão rir-se para mim
Há o que diz que sim e diz que não
conforme a meia-cara com que fala
e aquele que diz sim que sim que sim
sem saber o motivo que o embala
Há o que pensa sim e diz que sim
e esse é concerteza meu irmão
esse que diz sim pensando sim
é o que luta por uma razão.
Fernando Miguel Bernardes
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sábado, março 24
LEITURAS
Peter Sloterdijk
A minha mulher pediu-me para comprar o “Expresso” e eu comprei. Antes disso, logo pela manhã, o Madrinha do “Expresso”, no café onde tomo o pequeno-almoço, olhou-me com melancolia quando peguei no “Sol”, disponibilizado gratuitamente, e o folheie com um certo sentimento de náusea. O Madrinha deve ter ficado com pena e eu fiquei com pena que ele não pudesse, apesar de tudo, ter acesso ao meu estado de alma.
A ideia, ou pretexto, para comprar o “Expresso” era uma entrevista com o Jacques Delors. Acabei de a ler. Nada de novo a não ser que o “velho” Delors fala com sabedoria do que sabe … e sabe muito. A Europa a 27 é, ao mesmo tempo, uma dificuldade e uma inevitabilidade. Pode ser esta uma síntese do que ele diz.
Mas o que retive e mais me interessou foi a sua última afirmação, essa sim verdadeiramente importante mesmo para o Portugal dos nossos dias: “à pergunta: “qual foi a decisão política mais importante da sua vida?”, respondeu: “Foi conseguir que o Governo francês aceitasse, em 1970/71, a educação contínua, tornando o ensino possível ao longo de toda a vida. Foi uma decisão de vanguarda que permitiu às pessoas de todas as idades o regresso à escola, para receber formação, enriquecendo-se cultural e profissionalmente. Foi a decisão mais importante da minha vida, porque tal como afirmei há pouco: em cada pessoa existe um tesouro.”
Mas mais importante do que a entrevista com Delors reparei no “Expresso” numa outra com o filósofo alemão Peter Sloterdijk. Respigo algumas passagens das suas respostas que vão ao encontro das minhas próprias preocupações:
“A estagnação demográfica da Europa é acompanhada por uma espécie de diminuição do papel e do potencial intelectuais deste continente. Então compreendemos por que é que há uma espécie de melancolia generalizada nos europeus. A Europa podia ser algo de muito mais entusiasmante se possuísse uma juventude disposta a entusiasmar-se.”
“Para os nazis havia um “povo sem espaço”. Hoje, temos espaço sem povo.”
“O romantismo do político é a ideia de que uma pequena guerra civil – a agitação de massas, os movimentos políticos na rua – não tem nada de nocivo. Nessa pequena guerra civil os intelectuais estão como o peixe na água. E agora os intelectuais estão em terreno seco. Daí, o facto de alguns querem (quererem) reinventar a política para obterem um papel a desempenhar nessa guerra divertida.”
“Continuamos a habitar na Europa, mas emigramos para um outro país. Por vezes, também utilizo o conceito de velha Europa como sinónimo de Europa do pensamento metafísico. E a nova Europa é uma Europa filisteia e pragmática, onde a paixão metafísica se evaporou.”
A minha mulher pediu-me para comprar o “Expresso” e eu comprei. Antes disso, logo pela manhã, o Madrinha do “Expresso”, no café onde tomo o pequeno-almoço, olhou-me com melancolia quando peguei no “Sol”, disponibilizado gratuitamente, e o folheie com um certo sentimento de náusea. O Madrinha deve ter ficado com pena e eu fiquei com pena que ele não pudesse, apesar de tudo, ter acesso ao meu estado de alma.
A ideia, ou pretexto, para comprar o “Expresso” era uma entrevista com o Jacques Delors. Acabei de a ler. Nada de novo a não ser que o “velho” Delors fala com sabedoria do que sabe … e sabe muito. A Europa a 27 é, ao mesmo tempo, uma dificuldade e uma inevitabilidade. Pode ser esta uma síntese do que ele diz.
Mas o que retive e mais me interessou foi a sua última afirmação, essa sim verdadeiramente importante mesmo para o Portugal dos nossos dias: “à pergunta: “qual foi a decisão política mais importante da sua vida?”, respondeu: “Foi conseguir que o Governo francês aceitasse, em 1970/71, a educação contínua, tornando o ensino possível ao longo de toda a vida. Foi uma decisão de vanguarda que permitiu às pessoas de todas as idades o regresso à escola, para receber formação, enriquecendo-se cultural e profissionalmente. Foi a decisão mais importante da minha vida, porque tal como afirmei há pouco: em cada pessoa existe um tesouro.”
Mas mais importante do que a entrevista com Delors reparei no “Expresso” numa outra com o filósofo alemão Peter Sloterdijk. Respigo algumas passagens das suas respostas que vão ao encontro das minhas próprias preocupações:
“A estagnação demográfica da Europa é acompanhada por uma espécie de diminuição do papel e do potencial intelectuais deste continente. Então compreendemos por que é que há uma espécie de melancolia generalizada nos europeus. A Europa podia ser algo de muito mais entusiasmante se possuísse uma juventude disposta a entusiasmar-se.”
“Para os nazis havia um “povo sem espaço”. Hoje, temos espaço sem povo.”
“O romantismo do político é a ideia de que uma pequena guerra civil – a agitação de massas, os movimentos políticos na rua – não tem nada de nocivo. Nessa pequena guerra civil os intelectuais estão como o peixe na água. E agora os intelectuais estão em terreno seco. Daí, o facto de alguns querem (quererem) reinventar a política para obterem um papel a desempenhar nessa guerra divertida.”
“Continuamos a habitar na Europa, mas emigramos para um outro país. Por vezes, também utilizo o conceito de velha Europa como sinónimo de Europa do pensamento metafísico. E a nova Europa é uma Europa filisteia e pragmática, onde a paixão metafísica se evaporou.”
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