Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sexta-feira, junho 29
quinta-feira, junho 28
PLANANDO SOBRE O REFERENDO
Bart Pogoda
"Sócrates tem medo que um referendo à Europa se transforme num teste penalizador para o seu Governo"
"Sócrates tem medo que um referendo à Europa se transforme num teste penalizador para o seu Governo"
Áurea Sampaio, "Visão", 28-06-2007
A Áurea Sampaio lá sabe mas parece-me uma audácia só ao alcance de adivinhos, ou políticos de grande envergadura, atribuir ao actual primeiro-ministro tal medo. O que me parece resultar da realidade das coisas é que ao assumir a Presidência da UE Sócrates não poderia comprometer-se com a realização de um referendo, em Portugal, já que a redacção do chamado Tratado Reformador será o tema central do seu mandato e, como é evidente, a assumpção de tal compromisso referendário, à cabeça, contaminaria todo o processo de negociação.
Pois, ao contrário do que afirma com zelo, Pacheco Pereira, e outros zelotes do compromisso referendário imediato, a negociação destinada à redacção do projecto de Tratado, apesar do compromisso escrito que saiu da reunião do Conselho de 21 e 22 de Junho, não é um trabalho de casa fácil e com sucesso garantido à partida. Para o provar basta atentar na pergunta que um jornalista polaco fez, hoje, ao Secretário de Estado, Lobo Antunes, numa conferência de imprensa em Bruxelas.
Em qualquer caso não há dúvida que, tal como na questão da localização do novo aeroporto de Lisboa, o programa do governo é claro: no que respeita ao aeroporto aquele programa diz, expressamente, que é na OTA; no que respeita ao Tratado europeu diz o seguinte:
“O Governo entende que é necessário reforçar a legitimação democrática do processo de construção europeia, pelo que defende que a aprovação e ratificação do Tratado deva ser precedida de referendo popular, amplamente informado e participado, (…)”
Pela parte que me toca defendo que, salvo qualquer situação absolutamente excepcional que ponha em causa o interesse nacional, o governo, oportunamente, deve propor ao Senhor Presidente da República a realização de um referendo. Para tal será necessário que o Conselho Europeu, previsto para Outubro próximo, aprove o projecto de Tratado que coube à Presidência portuguesa elaborar.
Nesta, como nas matérias decisivas para o futuro de Portugal e da União Europeia, nenhum político que se preze pode ter medo dos grandes desafios e tenho a certeza que se existir algum entrave à realização do referendo não é problema de Sócrates. Será necessário procurar a origem de eventuais resistências noutro lado, porventura, no campo daqueles que, hoje, proclamam a sua urgência!
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quarta-feira, junho 27
OS TEMPLÁRIOS
O Selo dos Templários
“Em Março de 1129, Afonso Henriques confirma a doação que D. Teresa, sua mãe, havia feito do castelo e do termo de Soure à Ordem Militar do Templo de Jerusalém, exactamente um ano antes”. É assim que José Mattoso abre o Capítulo 4, intitulado “O Apelo de Jerusalém”, da sua obra “D. Afonso Henriques”.
Mais à frente prossegue: “O acto a que nos referimos, isto é, a doação de D. Teresa e dos seus barões à Ordem do Templo, e, logo a seguir, a sua confirmação por Afonso Henriques, depois de ter assumido o poder, representam, de facto, a decidida participação do Condado Portucalense nesse amplo movimento de expansão europeia e de projecção da cristandade para fora do espaço onde, até então, tinha estado encerrada.”
(…)
“Trata-se, na verdade, de um acto surpreendente pela sua precocidade, visto que, em Março de 1128, os templários não tinham ainda sido aprovados como uma ordem religiosa, constituíam uma comunidade com pouco mais de uma dúzia de membros e eram desconhecidos na maior parte da Europa.”
E logo de seguida Mattoso faz uma distinção muito interessante: “Além disso, nunca ninguém tinha tido a ideia de criar um exército de monges nem um convento de soldados. O estado de vida religiosa opunha-se à profissão das armas. A função dos milites (os que combatem) considerava-se não só diferente da função dos oratores (os que rezam) mas era incompatível com ela. (…) “Unir num só “estado” cavaleiros e monges parecia uma inovação absurda”.
“Em Março de 1129, Afonso Henriques confirma a doação que D. Teresa, sua mãe, havia feito do castelo e do termo de Soure à Ordem Militar do Templo de Jerusalém, exactamente um ano antes”. É assim que José Mattoso abre o Capítulo 4, intitulado “O Apelo de Jerusalém”, da sua obra “D. Afonso Henriques”.
Mais à frente prossegue: “O acto a que nos referimos, isto é, a doação de D. Teresa e dos seus barões à Ordem do Templo, e, logo a seguir, a sua confirmação por Afonso Henriques, depois de ter assumido o poder, representam, de facto, a decidida participação do Condado Portucalense nesse amplo movimento de expansão europeia e de projecção da cristandade para fora do espaço onde, até então, tinha estado encerrada.”
(…)
“Trata-se, na verdade, de um acto surpreendente pela sua precocidade, visto que, em Março de 1128, os templários não tinham ainda sido aprovados como uma ordem religiosa, constituíam uma comunidade com pouco mais de uma dúzia de membros e eram desconhecidos na maior parte da Europa.”
E logo de seguida Mattoso faz uma distinção muito interessante: “Além disso, nunca ninguém tinha tido a ideia de criar um exército de monges nem um convento de soldados. O estado de vida religiosa opunha-se à profissão das armas. A função dos milites (os que combatem) considerava-se não só diferente da função dos oratores (os que rezam) mas era incompatível com ela. (…) “Unir num só “estado” cavaleiros e monges parecia uma inovação absurda”.
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In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”4. O Apelo de Jerusalém”, “Entre o oriente e o ocidente” e “Uma novidade no mundo cristão””, pgs. 58/59 (16).
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terça-feira, junho 26
CAMUS/CHAR - HUNGRIA 1956
Fotografia daqui
«Correspondência – 1946-1959" trocada entre Albert Camus /René Char. Uma carta curta, dirigida por Camus a Char, após ter recebido, enviada por este, a primeira página do France Soir, de 30 de Outubro de 1956, com a manchete: “Budapest: Staline Abattu”, ilustrada com uma fotografia mostrando o derrube de uma estátua de Staline, que Char anotara com diversas frases de regozijo. Acrescento uma nota do organizador da edição na qual descreve, abreviadamente, os acontecimentos da Revolução Húngara de 1956.
«Correspondência – 1946-1959" trocada entre Albert Camus /René Char. Uma carta curta, dirigida por Camus a Char, após ter recebido, enviada por este, a primeira página do France Soir, de 30 de Outubro de 1956, com a manchete: “Budapest: Staline Abattu”, ilustrada com uma fotografia mostrando o derrube de uma estátua de Staline, que Char anotara com diversas frases de regozijo. Acrescento uma nota do organizador da edição na qual descreve, abreviadamente, os acontecimentos da Revolução Húngara de 1956.
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Albert Camus a René Char – 30 octobre 1956
Cher René:
«La terre tourne» a dit Chepilov.* Oui, elle tourne, et la liberté est le soleil levant. Je garde ce tyran débotté, ces moustaches pleines de sang, en souvenir de nous, de notre long combat, fraternel. Le monde a bon goût, soudain!
Votre ami
A.C.
[*“René Char découpe la une de France-Soir du 30 octobre 1956 et la met sous enveloppe pour Camus. Le 23 octobre, le soulèvement de la Hongrie fait reculer un temps l’URSS. Le 30 octobre, les troupes soviétiques se retirent de Budapest. Nagy annonce la fin du parti unique et la préparation d’élections libres. Mais après un revirement du gouvernement soviétique, le 1 novembre les troupes soviétiques, encerclent à nouveau Budapest. Le 3, le gouvernement demande l’aide de la communauté internationale, le 4 les troupes soviétiques attaquent à l’aube. Des milliers de réfugiés quittent le pays. La résistance hongroise se poursuivra malgré les déportations et les exécutions. Chepilov faisait partie de la vieille garde soviétique qui fut limogée par Khrouchtchev après que celui-ci eut condamné la bureaucratie et le culte de la personnalité sous Staline. Cependant Chepilov revint vite aux affaires. Il fut notamment envoyé à Budapest aux premiers temps de l’insurrection. Ce 30 octobre, Albert Camus prend la parole à un meeting organisé en l’honneur de Salvador de Mandariaga et fait aussi référence à l’héroïque et bouleversante insurrection des étudiants et des ouvrier de Hongrie”.]
Albert Camus a René Char – 30 octobre 1956
Cher René:
«La terre tourne» a dit Chepilov.* Oui, elle tourne, et la liberté est le soleil levant. Je garde ce tyran débotté, ces moustaches pleines de sang, en souvenir de nous, de notre long combat, fraternel. Le monde a bon goût, soudain!
Votre ami
A.C.
[*“René Char découpe la une de France-Soir du 30 octobre 1956 et la met sous enveloppe pour Camus. Le 23 octobre, le soulèvement de la Hongrie fait reculer un temps l’URSS. Le 30 octobre, les troupes soviétiques se retirent de Budapest. Nagy annonce la fin du parti unique et la préparation d’élections libres. Mais après un revirement du gouvernement soviétique, le 1 novembre les troupes soviétiques, encerclent à nouveau Budapest. Le 3, le gouvernement demande l’aide de la communauté internationale, le 4 les troupes soviétiques attaquent à l’aube. Des milliers de réfugiés quittent le pays. La résistance hongroise se poursuivra malgré les déportations et les exécutions. Chepilov faisait partie de la vieille garde soviétique qui fut limogée par Khrouchtchev après que celui-ci eut condamné la bureaucratie et le culte de la personnalité sous Staline. Cependant Chepilov revint vite aux affaires. Il fut notamment envoyé à Budapest aux premiers temps de l’insurrection. Ce 30 octobre, Albert Camus prend la parole à un meeting organisé en l’honneur de Salvador de Mandariaga et fait aussi référence à l’héroïque et bouleversante insurrection des étudiants et des ouvrier de Hongrie”.]
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ROLLING STONES
Imagem daqui
O tempo passa e deixa as suas marcas mas os Rolling Stones surpreendem pela vitalidade que persiste na sua prestação em palco. Acabei de os rever, dezasseis anos depois, e pensei para comigo o que todos nós pensamos: que pena teria sido perder esta oportunidade de os rever. Comovente a evocação de James Brown assim como a mistura de todos os públicos possíveis que, hoje, constitui o seu público. Além do mais uma lição de profissionalismo!
O tempo passa e deixa as suas marcas mas os Rolling Stones surpreendem pela vitalidade que persiste na sua prestação em palco. Acabei de os rever, dezasseis anos depois, e pensei para comigo o que todos nós pensamos: que pena teria sido perder esta oportunidade de os rever. Comovente a evocação de James Brown assim como a mistura de todos os públicos possíveis que, hoje, constitui o seu público. Além do mais uma lição de profissionalismo!
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segunda-feira, junho 25
POLÍTICOS E CIDADÃOS
Bart Pogoda
Quando um político se considera atingido na sua honra e dignidade pessoal está, pelos deveres da função, inibido de se defender tal como qualquer cidadão? Dizem alguns que ser insultado faz parte dos “ossos do ofício” de um político que se preze.
Caso acontecesse que os detentores de cargos políticos – eleitos ou não eleitos – abdicassem da defesa da sua honra e dignidade, enquanto cidadãos, estaríamos a admitir que a política é uma actividade destinada a ser exercida por heróis ou por crápulas.
Os primeiros, pelas suas qualidades de excepção, sairiam sempre incólumes de todos os ataques, os segundos, sairiam, igualmente, incólumes, por serem protegidos pelas regras da indignidade de que seriam eles próprios os mentores e os gestores.
Mas como a democracia é um regime de cidadãos que respondem em igualdade, de direitos e deveres, perante a lei, os políticos são, regra geral, cidadãos comuns, embora empossados, pelo voto da comunidade, em funções executivas ou de representação.
Por esse facto não perdem os seus direitos de cidadania e mal seria se abdicassem de os exercer da mesma forma que a comunicação social é livre de criticar a acção dos políticos, mas não pode, impunemente, manipular e mentir, pondo em causa a sua honra e dignidade, enquanto cidadãos.
É bom não esquecer que estão a correr nas instâncias judiciais muitos processos, além deste, mais recente, resultante de uma acção de José Sócrates, e que reportam a acontecimentos anteriores nos quais foram envolvidos diversos dirigentes políticos socialistas! Ou já se esqueceram?
[A propósito desta citação de António Barreto feita pelo Tomas Vasques.]
Quando um político se considera atingido na sua honra e dignidade pessoal está, pelos deveres da função, inibido de se defender tal como qualquer cidadão? Dizem alguns que ser insultado faz parte dos “ossos do ofício” de um político que se preze.
Caso acontecesse que os detentores de cargos políticos – eleitos ou não eleitos – abdicassem da defesa da sua honra e dignidade, enquanto cidadãos, estaríamos a admitir que a política é uma actividade destinada a ser exercida por heróis ou por crápulas.
Os primeiros, pelas suas qualidades de excepção, sairiam sempre incólumes de todos os ataques, os segundos, sairiam, igualmente, incólumes, por serem protegidos pelas regras da indignidade de que seriam eles próprios os mentores e os gestores.
Mas como a democracia é um regime de cidadãos que respondem em igualdade, de direitos e deveres, perante a lei, os políticos são, regra geral, cidadãos comuns, embora empossados, pelo voto da comunidade, em funções executivas ou de representação.
Por esse facto não perdem os seus direitos de cidadania e mal seria se abdicassem de os exercer da mesma forma que a comunicação social é livre de criticar a acção dos políticos, mas não pode, impunemente, manipular e mentir, pondo em causa a sua honra e dignidade, enquanto cidadãos.
É bom não esquecer que estão a correr nas instâncias judiciais muitos processos, além deste, mais recente, resultante de uma acção de José Sócrates, e que reportam a acontecimentos anteriores nos quais foram envolvidos diversos dirigentes políticos socialistas! Ou já se esqueceram?
[A propósito desta citação de António Barreto feita pelo Tomas Vasques.]
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domingo, junho 24
BATALHA DE SÃO MAMEDE - UMA EFEMÉRIDE ANTIGA
Imagem daqui
Há exactamente 879 anos, no dia 24 de Junho de 1128, travou-se a batalha de São Mamede que é tomada como tendo sido o início do reinado de Afonso Henriques. Diz a lenda que, ao primeiro embate, com as forças do conde de Trava, seu padrasto, Afonso Henriques teria fugido. O relato mais conhecido acerca do começo do reinado de Afonso Henriques atribuía a vitória de São Mamede aos nobres e não ao Infante:
É este o relato na versão mais antiga da IV Crónica Breve de Santa Cruz em texto que data do princípio do século XIV:
“A fazenda foi feita, e foi arrincado Afonso Anriques e foi mui maltreito. E el, indo a ua légua de Guimarães, achou-se com Soeiro Meedes Mãos d’Água, que o viinha ajudar em a fazenda, e disse-lhe: “como viides, senhor, assi?” Respondeu Afonso Henriques: “Venho mui mal, ca me arrincou meu padrasto e minha madre, que está na fazenda com ele.” E Soeiro Meedes lhe disse: “Nom fezeste siso, que aa batalha fostes sem mim, mas tornade-vos comigo e prenderemos vosso padrasto e vossa madre co ele”. E el disse: “Deus aguise que seja assi,” E Soeiro Mendes lhe disse: “ vós verêes que assi seerá.” E tornou-se entonces com el a batalha, e venceu-a e prendeu seu padrasto e sua madre.” (Simplifiquei alguma pontuação.)
Eis o relato que concede à lenda o seu lugar na história da batalha de São Mamede e aos nobres o papel decisivo na vitória de Afonso Henriques que, assim, teria ficado na sua dependência.
José Mattoso, de cuja biografia de Afonso Henriques retiro os elementos que aqui vos deixo, remata o capítulo 3 da sua obra, intitulado: “Os primeiros passos de um jovem príncipe”, com as seguintes palavras:
“ (…) Tomando como fundamento a evolução dos sinais de validação usados na chancelaria régia, dir-se-ia que só mais tarde, a partir dos anos 1150-1160, se atribuiria à autoridade do fundador da monarquia o carácter de um carisma pessoal. Estes indícios devem relacionar-se com o papel que os barões portucalenses desempenharam na “revolução” que expulsou os Travas e deu o poder a Afonso Henriques, deixando-o, todavia, dependente da nobreza nortenha até ele se emancipar da sua influência, à medida que foi assumindo um papel cada vez mais decisivo na condução da guerra santa.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”3. Os primeiros passos de um jovem príncipe”, pgs. 47 e 57 (15).
Há exactamente 879 anos, no dia 24 de Junho de 1128, travou-se a batalha de São Mamede que é tomada como tendo sido o início do reinado de Afonso Henriques. Diz a lenda que, ao primeiro embate, com as forças do conde de Trava, seu padrasto, Afonso Henriques teria fugido. O relato mais conhecido acerca do começo do reinado de Afonso Henriques atribuía a vitória de São Mamede aos nobres e não ao Infante:
É este o relato na versão mais antiga da IV Crónica Breve de Santa Cruz em texto que data do princípio do século XIV:
“A fazenda foi feita, e foi arrincado Afonso Anriques e foi mui maltreito. E el, indo a ua légua de Guimarães, achou-se com Soeiro Meedes Mãos d’Água, que o viinha ajudar em a fazenda, e disse-lhe: “como viides, senhor, assi?” Respondeu Afonso Henriques: “Venho mui mal, ca me arrincou meu padrasto e minha madre, que está na fazenda com ele.” E Soeiro Meedes lhe disse: “Nom fezeste siso, que aa batalha fostes sem mim, mas tornade-vos comigo e prenderemos vosso padrasto e vossa madre co ele”. E el disse: “Deus aguise que seja assi,” E Soeiro Mendes lhe disse: “ vós verêes que assi seerá.” E tornou-se entonces com el a batalha, e venceu-a e prendeu seu padrasto e sua madre.” (Simplifiquei alguma pontuação.)
Eis o relato que concede à lenda o seu lugar na história da batalha de São Mamede e aos nobres o papel decisivo na vitória de Afonso Henriques que, assim, teria ficado na sua dependência.
José Mattoso, de cuja biografia de Afonso Henriques retiro os elementos que aqui vos deixo, remata o capítulo 3 da sua obra, intitulado: “Os primeiros passos de um jovem príncipe”, com as seguintes palavras:
“ (…) Tomando como fundamento a evolução dos sinais de validação usados na chancelaria régia, dir-se-ia que só mais tarde, a partir dos anos 1150-1160, se atribuiria à autoridade do fundador da monarquia o carácter de um carisma pessoal. Estes indícios devem relacionar-se com o papel que os barões portucalenses desempenharam na “revolução” que expulsou os Travas e deu o poder a Afonso Henriques, deixando-o, todavia, dependente da nobreza nortenha até ele se emancipar da sua influência, à medida que foi assumindo um papel cada vez mais decisivo na condução da guerra santa.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”3. Os primeiros passos de um jovem príncipe”, pgs. 47 e 57 (15).
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