quinta-feira, janeiro 29

O espaço está cheio de aves cruéis e perigosas.


Ouvi dizer a caminho de casa, no meio da repetição ensurdecedora de um slogan criado a partir de uma carta rogatória oriunda da polícia inglesa (a polícia inglesa?): o 1º ministro vai falar ao país. Acabou de falar. O 1º ministro resiste. Faz bem, embora como escreveu Camus: “Ir até ao fim, não é apenas resistir mas também não resistir.”

O poema que se segue, do meu último livrinho, tem como epígrafe uma outra frase de Camus que vem mesmo a propósito: “O espaço está cheio de aves cruéis e perigosas”. Foi escrito numa época de outras campanhas negras e tem só dois versos:

As aves volteiam em torno de nossas cabeças:
o espaço está cheio de aves cruéis e perigosas. *
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quarta-feira, janeiro 28

MÚSICA DA NOVA GERAÇÃO

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A tentação comum de todas as inteligências:o cinismo.

“A tentação comum de todas as inteligências: o cinismo.”

“La tentation commune à toutes les intelligences: le cynisme.”



Do outro lado de um coração que pensa

insidiosa

a tirania elogia o caos à beira do abismo

e conclama

a tentação comum de todas as inteligências:

o cinismo.


* Citação de 1938, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 2 (Setembro de 1937 – Abril de 1939) - página 85, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier II (Septembre 1937 – avril 1939) – página 855, Oeuvres complètes – II. [In Caderno de Poesia]
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terça-feira, janeiro 27

MANUEL COELHO

Conheço o Manuel Coelho desde os tempos do movimento estudantil, tempos de rebeldia, vai para muitos anos, e sempre o tive na conta de uma pessoa afável, séria e solidária. Passei a vê-lo, de quando em vez, na televisão, no exercício das funções de Presidente da Câmara Municipal de Sines respondendo a críticas à sua gestão da autarquia e uma vez, ao que pude entender, defendendo-se de uma torpe acusação relacionada com o exercício da sua profissão de médico. Confesso que sempre me interroguei como seria a sua relação com o Partido ao qual, certamente por convicção, tinha aderido e em cujas listas tem sido eleito Presidente da CM de Sines. Hoje, de forma inesperada, voltei a encontrar-me com o Manuel Coelho dos tempos da nossa rebeldia. É preciso coragem para romper com 35 anos de militância partidária, seja qual for o partido, ainda para mais tratando-se do PCP. A luta pela liberdade vale sempre a pena. Um abraço.
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segunda-feira, janeiro 26

Políticas de valorização do primeiro ciclo do ensino básico em Portugal

Jason DeMarte

AVALIAÇÃO INTERNACIONAL PARA O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – 2008 (OCDE)

Peter Matthews, Elisabeth Klaver, Judit Lannert, Gearóid Ó Conluain e Alexandre Ventura

A abordagem de Portugal à reforma educativa está também a atrair a atenção internacional. O presente relatório merece ser estudado por outros países que enfrentam questões e desafios semelhantes, porque apresenta um excelente estudo de caso sobre como implementar uma reforma com êxito, e, simultaneamente, como conseguir melhorias efectivas dos resultados educativos. Na verdade, este relatório constituirá uma fonte valiosa para a OCDE ter em consideração no trabalho a realizar para apoiar outros países nos seus esforços para reformular políticas educativas que promovam a melhoria dos resultados dos alunos. (Do prefácio).

O Ministério pediu – e nós realizámos – uma avaliação totalmente imparcial e independente dos elementos mais importantes relativos à reorganização do primeiro ciclo do ensino básico. Queremos felicitar o governo pelo enorme sucesso alcançado nos últimos três anos, mas também chamar a atenção, nas nossas recomendações, para aspectos que acreditamos que podem ser melhorados ou mais desenvolvidos à medida que o sistema for evoluindo. Verificámos que o Ministério tem um conhecimento preciso e está bem informado dos pontos fortes do sistema e das áreas que devem ser melhoradas ou desenvolvidas. Esperamos que as nossas observações sejam úteis.(Da Introdução)
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domingo, janeiro 25

A CRISE NO CENTRO DO SISTEMA

Dois apontamentos, através da comunicação social, acerca da crise. Obama reclama meios excepcionais para atacar uma crise sem precedentes. O Reino Unido que, com a Islândia e a Suíça, está fora da moeda única, enfrenta o risco da bancarrota.
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sábado, janeiro 24

O BLOG DE OBAMA

Este é o WhiteHouse Blog de Obama. Em Change has come to WhiteHouse.gov, Macon Phillips, Director da “New Media”, apresenta as três prioridades da administração Obama nesta área:

Communication -- Americans are eager for information about the state of the economy, national security and a host of other issues. This site will feature timely and in-depth content meant to keep everyone up-to-date and educated. Check out the briefing room, keep tabs on the blog (RSS feed) and take a moment to sign up for e-mail updates from the President and his administration so you can be sure to know about major announcements and decisions.
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Transparency -- President Obama has committed to making his administration the most open and transparent in history, and WhiteHouse.gov will play a major role in delivering on that promise. The President's executive orders and proclamations will be published for everyone to review, and that’s just the beginning of our efforts to provide a window for all Americans into the business of the government. You can also learn about some of the senior leadership in the new administration and about the President’s policy priorities.
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Participation -- President Obama started his career as a community organizer on the South Side of Chicago, where he saw firsthand what people can do when they come together for a common cause. Citizen participation will be a priority for the Administration, and the internet will play an important role in that. One significant addition to WhiteHouse.gov reflects a campaign promise from the President: we will publish all non-emergency legislation to the website for five days, and allow the public to review and comment before the President signs it.
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UMA QUESTÃO DE OPORTUNIDADE


Uma explicação para a oportunidade de certas notícias. Um exercício estimulante para a compreensão do papel dos “escândalos” políticos no comportamento do eleitorado. As datas, os calendários, as instituições, os “média”, os personagens, as perdas milionárias, a crise, os sentimentos, os gráficos, o sentido das curvas … anteriores “escândalos” são sempre, curiosa e oportunamente, lembrados, o que me fez lembrar Camus, citando Molière (no Prefácio do Tartufo): “Não há coisa suficientemente inocente a que os homens não possam juntar o crime.” Estar atento, por experiência própria, a este detalhe e não embarcar nas derivas populistas sejam quais forem os alvos da sua fúria assassina.
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quinta-feira, janeiro 22

HAJA VERGONHA!

Esta é uma daquelas notícias que mereceria o caixote do lixo não fosse o caso de me despertar um profundo enojamento. O partido dirigido pelo ex-ministro da defesa Paulo Portas condecorado, em 4 de Maio de 2005, por Donald Rumsfeld, ex-ministro da defesa de Bush, saúda a política e os princípios que sempre condenou. Haja vergonha!
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OBAMA: O REGRESSO AOS VELHOS VALORES

O que mais me impressionou no discurso de posse de Obama, 44º Presidente dos Estados Unidos, foi a coragem de enunciar velhos valores que receava terem sido arredados para sempre do centro do discurso político. São os valores que orientaram a vida de meus pais, e dos pais dos meus pais, e que quero deixar de herança a meu filho. Pode ser que a palavra, ao mesmo tempo, erudita e cidadã, de Obama, Presidente, seja a semente da qual nasça uma nova esperança para o futuro do homem: “trabalho árduo e honestidade, coragem e fair play, tolerância e curiosidade, lealdade e patriotismo”. Que viva!

Porque, por mais que o governo possa e deva fazer, a nação assenta na fé e na determinação do povo americano. É a generosidade de acomodar o desconhecido quando os diques rebentam, o altruísmo dos trabalhadores que preferem reduzir os seus horários a ver um amigo perder o emprego que nos revelam quem somos nas nossas horas mais sombrias. É a coragem do bombeiro ao entrar por uma escada cheia de fumo, mas também a disponibilidade dos pais para criar um filho, que acabará por selar o nosso destino. Os nossos desafios podem ser novos. Os instrumentos com que os enfrentamos podem ser novos. Mas os valores de que depende o nosso sucesso – trabalho árduo e honestidade, coragem e fair play, tolerância e curiosidade, lealdade e patriotismo – estas coisas são antigas. Estas coisas são verdadeiras. Têm sido a força silenciosa do progresso ao longo da nossa história. O que é pedido, então, é o regresso a essas verdades. O que nos é exigido agora é uma nova era de responsabilidade – um reconhecimento, da parte de cada americano, de que temos obrigações para connosco, com a nossa nação, e com o mundo, deveres que aceitamos com satisfação e não com má vontade, firmes no conhecimento de que nada satisfaz mais o espírito, nem define o nosso carácter, do que entregarmo-nos todos a uma tarefa difícil. Este é o preço e a promessa da cidadania.
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A AMIZADE SUAVE E DISCRETA DAS MULHERES

“31 de Março.
Tenho a sensação de emergir pouco a pouco.
A amizade suave e discreta das mulheres.”

“31 mars.
Il me semble que j´émerge peu à peu.
L´amitié douce et retenue des femmes. »*


Sei do teu prazer em desejar a amizade

suave, à distância e dela te bastares sem

dizer nada, discreta a arte de ser mulher.


* Citação de 1936, in versão portuguesa dos Cadernos de Albert Camus – Caderno Nº 1 (Maio de 1935 – Setembro de 1937) - página 24, edição Livros do Brasil; in versão original francesa “Carnets (Mai 1935 – Décembre 1948) ” – “Cahier I (Mai 1935 – septembre 1937) – página 806, Oeuvres complètes – II.

[No Caderno de Poesia]
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terça-feira, janeiro 20

OBAMA - DIA 0

Escrevo no momento histórico da investidura do Obama no palco do mundo em que se transformou aquele pequeno espaço ocupado por um só homem que, em breve, será um homem só. A sua cabeça encher-se-á de cabelos brancos e o seu rosto vincar-se-á com a passagem do tempo e o peso das responsabilidades. Não duvido que Obama é um homem diferente e será um Presidente diferente; que existirá uma América antes de Obama e outra América depois de Obama; que o mundo olhará para a América com mais esperança no futuro e menos reverência pelo passado; que milhões de cidadãos, sem distinção de pátria, género, raça e condição social, que não tinham em quem acreditar, ao menos por um momento, se sentirão irmanados por uma fé que lhes iluminará os rostos; que muitas lágrimas serão vertidas no pressentimento que um novo coração baterá, a partir de hoje, no corpo da velha política. Policy!
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segunda-feira, janeiro 19

AMOR E RELIGIÃO

Fotografia do final da segunda década do século passado - ramo materno da minha família, com os meus avós, na ponta esquerda, a minha mãe e meu tio, crianças, sentadas, em baixo, à esquerda. [Clique para aumentar]

Tenho uma convicção muito forte – que os meus traços físicos não desmentem - de que sou fruto do amor longínquo entre um(a) muçulmano(a) e um(a) cristão (ã). O que hei-de pensar dos amores trilhados, a sul, pelos meus antepassados? Como foi possível o amor sobreviver no seio de tão fundas diferenças religiosas? Será que o amor é mais forte que a religião?
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domingo, janeiro 18

CARTA DE OBAMA A SUAS FILHAS

These are the things I want for you - to grow up in a world with no limits on your dreams and no achievements beyond your reach, and to grow into compassionate, committed women who will help build that world. And I want every child to have the same chances to learn and dream and grow and thrive that you girls have. That's why I've taken our family on this great adventure.

(Texto integral no IR AO FUNDO E VOLTAR com uma tradução para português de um sítio brasileiro do qual reproduzo a fotografia.)
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OBAMA: FALTAM 2 DIAS

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sábado, janeiro 17

MANUELA: PRESA NO SEU LABIRINTO


Uma nota para o estado da arte das sondagens com a ajuda do Margens de Erro. A última que foi divulgada confirma, no essencial, que o PSD, com Manuela Ferreira Leite, não descola. Com pequenas oscilações a posição relativa dos vários partidos apresenta uma tendência de estabilidade com o PS sempre na frente com intenções de voto em torno dos 40%. O outro facto notável é a ascensão do Bloco de Esquerda. Para o partido de oposição que, no nosso regime rotativista, é candidato a ser governo, a liderança de Ferreira Leite tem mostrado ser demasiado fraca, apresentando intenções de voto sempre abaixo dos 30%. Para agravar a situação os indicadores de popularidade dos líderes apontam para uma sistemática descida de Ferreira Leite. Não é de admirar que se pressagie, a curto prazo, um cenário de queda da actual liderança do PSD. Na política não há milagres e mesmo o agravamento da crise económica, com significativos impactos sociais, não favorece Manuela Ferreira Leite que, a cada prestação pública, transmite a imagem de se debater num ciclo infernal de luta pela sobrevivência. Parece mais próxima do seu fim, presa no labirinto do partido, do que do início de uma caminhada para uma vitória eleitoral nas próximas eleições legislativas. O assunto é sério!
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sexta-feira, janeiro 16

Sully


Desde que, ontem, comecei a ver, em directo, as estranhas imagens do avião flutuante e, mais tarde, as que mostravam a ilusão dos passageiros a caminhar sobre a água, que me lembrei da tripulação que havia de ter conduzido a manobra desesperada e salvadora. Eis aqui um herói desconhecido e, ainda por cima, cinquentão. Dá para continuar a acreditar na capacidade do homem na luta contra a adversidade.
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quarta-feira, janeiro 14

O PATRIARCA TEM QUE ESCLARECER

Pensava eu que Portugal era um dos países da Europa com maior capacidade de aceitação das diferenças, incluindo as religiosas, mau grado o cinismo que encobre certas formas de aceitação das diferenças; pensava eu que conhecia o patriarca de Lisboa como um homem aberto às diferenças e ao diálogo, tolerante perante todos os perigos que sempre acompanham os audazes; pensava eu que Portugal era um país que se podia ufanar de contar com um líder da Igreja Católica afável no trato, clarividente nas ideias e moderado na apreciação das outras religiões. Não creio ter-me enganado. Espero que o Patriarca esclareça, de viva voz, perante os portugueses, e o mundo, o que quis dizer pois não deve ter cuidado o suficiente a expressão do seu pensamento.
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