sexta-feira, novembro 6

EDGAR MORIN



A propósito de uma notícia e das tentativas de agendar um encontro (físico) entre os fazedores do blogue A Regra do Jogo.


A vida é, portanto, um processo de desordem permanente, de desorganização, de desintegração, inseparável da reintegração. A sociedade não é um rochedo num mar de desordem. É antes feita de esforços sempre recomeçados, por parte de indivíduos que, eles próprios, se reorganizam incessantemente. Tudo o que existe deve viver no risco permanente, no limiar da sua própria morte. Devemos adquirir uma concepção pela qual assumamos muito mais o risco, as potencialidades da existência. É esta uma concepção que deve romper totalmente com a visão burocrática e a falsa ideia de segurança contra todos os riscos. Isto não quer dizer que seja preciso suprimir os seguros, a segurança social … É preciso, antes pelo contrário, ter seguranças materiais, mas a nossa vida mental, psíquica, é uma vida decorrida no risco profundo. A criatividade constitui-se nas fronteiras da loucura e da morte. É preciso mudar de visão. Aceitar na vida o risco, o inevitável, porque isso é a oportunidade de criar, de se expandir, de comunicar e de amar.

Edgar Morin In “Pensar o Milénio com Edgar Morin” (excerto de uma entrevista de João Fatela.)
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quinta-feira, novembro 5

DEMOCRACIA, LIBERDADE, DEBATE ...


                                        Deborah Luster


A Assembleia da República debate o programa do governo – após a intervenção inicial do 1º Ministroum debate puro e duro dando início a uma longa batalha política da qual, espero, não saiamos todos vencidos. A grande vantagem da democracia parlamentar é acolher as mais diversas opiniões organizadas, mais ou menos virulentas, mais ou menos assertivas, mais ou menos coloridas, mais ou menos cínicas; a grande vantagem da democracia é servir de palco à liberdade, através da livre expressão de opiniões diversas, que se confrontam, e da afirmação dos espíritos críticos que, sem reserva mental, criam espaços de confluência mesmo quando no ruído imediato tudo parece ser divergência. É um labirinto que cada um de nós pode entender melhor se for capaz de reflectir um tempinho acerca da sua experiência pessoal, profissional ou familiar. Tudo se ganha, e nada se perde, com o exercício da liberdade. Essa liberdade que os mais jovens consideram natural e os mais velhos ostentam como uma conquista. Mas mesmo na democracia é preciso exercitá-la pois a democracia é um lugar que, por ausência do exercício da liberdade, se pode tornar a antecâmara da tirania. A história ensina-nos, com abundantes ilustrações de eventos trágicos, que não vale a pena citar, como a democracia é delicada.  Por isso, neste debate, como noutros, compreendo bem, e aprecio, a energia, e a plasticidade discursiva, aliás notáveis, do 1º ministro, e as réplicas não menos notáveis, e tenazes, de alguns dos tenores da actual oposição parlamentar. O debate político exige uma forte capacidade de argumentação, fundadas convicções, conhecimento dos detalhes, fina sensibilidade para passar no crivo do julgamento público, instantâneo, que a mediatização absoluta dos nossos dias,  impõe, de forma implacável, como uma espécie de ditadura que, paradoxalmente é, ao mesmo tempo, a última salvaguarda da liberdade.

quarta-feira, novembro 4

terça-feira, novembro 3

VAI COMEÇAR O JOGO!


                                      Rania Matar

Já li o suficiente do Programa do XVIII Governo, ontem entregue na Assembleia da República, para perceber que corresponde ao programa de governo do PS apresentado a sufrágio nas últimas eleições legislativas. Onde está o espanto? Como muitos outros já escreveram o contrário é que seria de espantar. A um governo de um só partido corresponde o programa apresentado a sufrágio por esse partido. Haveria lugar a negociação prévia do programa no caso de se tratar de um governo de coligação ou, de um só partido, resultante de acordo político com incidência parlamentar. Não é o caso. No entanto não está escrito nas estrelas, antes pelo contrário, que não venham a celebrar-se acordos parlamentares destinados a viabilizar o programa de governo. Não pode ser, aliás, de outra maneira. Chegou a hora das oposições “mostrarem a sua raça”. Estabilidade ou instabilidade? Governabilidade ou ingovernabilidade? Oposição de esquerda, oposição de direita. Iguais? Diferentes? … O governo tem um programa que ocupa o vértice de um triângulo: governo, oposições, presidente. Vai começar o jogo! A regra do jogo: a democracia! O lugar do jogo: o Parlamento!

segunda-feira, novembro 2

ESTÓRIA

David Torcoletti

SENA, JORGE


A minha homenagem a Jorge de Sena que, se fosse vivo, celebraria hoje o seu 90º aniversário.


Mais longe, o que é mais longe?
Ficar no lugar, que é ficar perto?

Sena, Jorge, o homem de letras
esse mesmo que a marinha expulsou,
pai de muitos filhos, emigrante, poeta
quase eterno, amante de várias
Pátrias, morreu longe da sua,
mas nunca a esqueceu, antes quis
ser amado por ela
e ela, ingrata, o renegou.

Este é o último dos “20 Poemas de Cuba”, manuscritos a lápis, entre 23 e 27 de Julho de 2007, nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.

domingo, novembro 1

Marcelo: o silêncio eterno dos sonhos adiados!
























O que é mais assinalável, e chocante, na luta de facções no PSD, como hoje lhe chamou Marcelo, é um dos protagonistas ser ele próprio tendo ao dispôs, como tribuna, o canal público de televisão. Ao que assistimos é a uma refrega partidária e, suponho, Marcelo recebe cachet! Queira-se, ou não, Marcelo promove-se à custa de um debate acerca da futura liderança do seu partido, gera expectativas, frustra expectativas, impulsiona a luta de facções e condena a luta de facções, encena a política espectáculo de que ele próprio é actor principal. O desfecho da trama é a própria incerteza do desfecho da trama. Fascinante mas, como dizem os mais entendidos, conhecedores dos bastidores e do personagem, Marcelo nunca virá a ser, de novo, líder do PSD. Marcelo nem chegará a ser candidato pois sabe que só sairia vencedor através de uma entronização. E os partidos, em regime democrático, escolhem os seus líderes por via de eleições internas que exigem o que Marcelo insiste em recusar: “ringue”, ou seja, o debate miúdo e o voto viscoso das bases que, no PSD, ele sabe que não mobiliza. O candidato que defrontará Passos Coelho afinal será outro! Então ao que vem Marcelo? Alimenta as luzes da ribalta para alumiar uma eventual futura candidatura presidencial. Mas para tornar esse sonho realidade, para as próximas presidenciais, teria que retirar Cavaco do caminho, ou beneficiar da sua falta de comparência, pois nas seguintes já tem Durão Barroso na fila de espera. Depois seguir-se-á o silêncio eterno dos sonhos adiados!

COM CAMUS



















A propósito da série “sublinhados de leitura” recomendo para uma iniciação a Albert Camus a edição portuguesa, recentemente lançada, de “Avec Camus” (“Com Camus”), de Jean Daniel.

sábado, outubro 31

JORGE DE SENA - AS EVIDÊNCIAS (pelos 90 anos do seu nascimento)


XVIII

Deixai que a vida sobre nós repouse
qual como só de vós é consentida
enquanto em vós o que não sois não ouse


erguê-la ao nada a que regressa a vida.
Que única seja, e uma vez mais aquela
que nunca veio e nunca foi perdida.


Deixai-a ser a que se não revela
senão no ardor de não supor iguais
seus olhos de pensá-la outra mais bela.


Deixai-a ser a que não volta mais,
a ansiosa, inadiável, insegura,
a que se esquece dos sinais fatais,


a que é do tempo a ideia da formosura,
a que se encontra se se não procura.

26-3-1954

Jorge de Sena


CAMUS - DISCURSOS DA SUÉCIA


C’est pourquoi les vrais artistes ne méprisent rien ; ils s’obligent à comprendre au lieu de juger. Et, s’ils ont un parti à prendre en ce monde, ce ne peut être que celui d’une société où, selon le grand mot de Nietzsche, ne régnera plus le juge, mais le créateur, qu’il soit travailleur ou intellectuel.

Albert Camus, Discours de réception du Prix Nobel de littérature, prononcé à Oslo, le 10 décembre 1957

Para A Regra do Jogo
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sexta-feira, outubro 30

AS EVIDÊNCIAS - XVII (pelos 90 anos do nascimento de Jorge de Sena)


Ronald Cowie

Jorge de Sena nasceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1919, e faleceu em Santa Barbara, na Califórnia, a 4 de Junho de 1978.


Pelos noventa anos do seu nascimento divulgo, por estes dias, com replicação no Caderno de Poesia, os últimos 5 poemas de “As Evidências” [1955], uma das suas primeiras e maiores obras poéticas. Neste soneto XVII, dos 21 que compõem “As Evidências”, aquando da minha leitura inicial, logo após a sua morte, sublinhei, a lápis, um verso que sempre me tem acompanhado: “É pequena a margem pura onde só há tristeza”.

XVII
Na noite funda em que das nuvens corre
interceptado o luar prateando a vida,
de tudo a forma é sombra desmedida
como do corpo a contrição qual morre.


Últimas fezes do estertor, na espuma
que aos lábios sobe envidraçando o olhar,
crispam-se os dedos, quanto devagar
memórias se desatam uma a uma.


De súbito explodido, ou na serena
e distendida muscular dureza,
o espírito se quebra nas miríades

que o foram sucessivas. É pequena
a margem pura onde só há tristeza.
Da podridão logo renascem tríades.

25-3-1954

Jorge de Sena
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SHAKIRA




















Shakira na Revista Rolling Stone

Para desanuviar nada como mostrar uma face nada oculta: Shakira ansiosa por ter filhos
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quarta-feira, outubro 28

SIMPLEX - FIM


No dia da tomada de posse do governo, saído das eleições legislativas de 27 de Fevereiro passado, foi encerrado o blogue SIMPLEX. Hoje a maioria daquelas, e daqueles, que participaram nesse blogue, que encarnou uma modalidade de participação política ainda sem grandes tradições no nosso país, vão juntar-se num jantar de confraternização.

Tenho a certeza, que, no futuro, a intervenção política, através da internet, que a campanha de Obama tornou irreversível, vai ganhar cada vez mais espaço nos debates e combates democráticos. Quem estiver melhor preparado para a utilização das ferramentas da “democracia electrónica”, incluindo a defesa da liberdade da sua plena utilização, estará melhor preparado para vencer os desafios políticos do futuro.

Nos dois meses de existência na blogosfera a defender o voto no Partido Socialista atraímos mais de 200.000 visitas, publicámos 1285 posts que suscitaram 6645 comentários. Conseguimos entrar e ganhar o debate político na blogosfera portuguesa (continuamente dominada pela direita e pela extrema esquerda) e fomos mesmo uma das atracções da campanha eleitoral.

As imagens criadas pelo autor João Coisas apenas poderão ser utilizadas em blogues sem objectivo comercial, e desde que citada a respectiva origem.
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terça-feira, outubro 27

ANIVERSÁRIO


Faz muito tempo o meu filho Manuel criava desenhos como este.

Imaginem! Hoje, já homem,,,,,,,,,,,,,,,,,cumpre dezanove anos.


domingo, outubro 25

O exercício paciente da espera ...


Desde o dia que foi inventada a ideia propagandística da “asfixia democrática”, não sei ao certo por quem – Paulo Rangel (?) - servindo de muleta para a campanha política de Manuela Ferreira Leite, me veio à memória o ambiente vivido na universidade nos tempos em que eu era estudante e Manuela Ferreira Leite era assistente de Cavaco Silva. Não pretendo pôr em causa as qualidades técnicas de lentes, e respectivos ajudantes, naquela época já bastante longínqua. Mas no meu íntimo, e certamente de todos os que partilharam das lutas contra o autoritarismo na universidade, nos tempos do estado novo, ressoam os ecos do silêncio ensurdecedor a que se remeteram muitas daqueles que hoje clamam contra a chamada “asfixia democrática”. A preservação das condições para o exercício da liberdade, nos nossos dias, está na capacidade de forjar um consenso popular acerca das vantagens da democracia representativa, apesar de todos os seus defeitos. Essa liberdade não caiu do céu, antes foi conquistado pela acção daqueles que arriscaram a sua própria liberdade. Compreendo que nem todos pudessem, face aos ditames da tirania, usufruir da capacidade de autodeterminação individual, outros diriam lucidez, ou coragem, para levantarem a voz na defesa dos valores que hoje proclamam estar ameaçados. A insistência da propagação da consigna da “asfixia democrática”, rebaixando o PS à condição de inimigo da liberdade, é obra de fanáticos que vivem no desespero que assalta, em regra, os poderosos arruinados. Nada que se não resolva, entre homens cultos, e de boa vontade, com umas boas leituras e a cuidada, séria e paciente, construção de um projecto alternativo, e credível, ao poder do governo socialista democrático. Ao longo do tempo, sucessivamente, no tempo próprio, em eleições livres, o povo escolhe os governos. E o povo português já mostrou que raramente se engana.
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