sábado, janeiro 9

ALBERT CAMUS: O LUGAR DO MORTO



“ATENÇÃO FLASH O ESCRITOR ALBERT CAMUS MORTO NUM ACIDENTE DE AUTOMÓVEL EM YONNE, PERTO DE SENS”.

A notícia caía assim sumariamente, a meio da tarde de 4 de Janeiro de 1960, divulgada pela France-Presse. Os pormenores viriam mais tarde. O acidente ocorrera sem causas aparentes: Michel Gallimard vinha a conduzir com Albert Camus ao lado. Atrás, a mulher e a filha de Michel. Velocidade excessiva? Lençol húmido no asfalto? Depois da derrapagem e do choque com um plátano, os ocupantes do banco de trás seriam projectados e sobreviveriam. Michel morrerá alguns dias depois. Albert Camus terá tido morte imediata. Ocupava o lugar do morto. Fez, na passada 2.ª feira, 50 anos.

Maria Luísa Malato Borralho (Faculdade de Letras da Universidade do Porto)

[Artigo publicado, hoje, no “Expresso”. Na íntegra AQUI E AQUI.]
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EM MEMÓRIA DE MEU PAI

Não posso deixar mais tempo esta folha em branco por assinalar com um rabisco qualquer, o desejo de participar, estar presente, testemunhar, o medo da folha em branco, por esquecimento de nela assinar a palavra, uma palavra, qualquer palavra, o desejo de pertencer a um espaço, comunidade, lugar, escrever depressa, sem errar, sem entrar no trilho da escrita automática de que tenho ouvido falar e da qual às vezes sinto que passo mesmo a rasar, como agora, cansado, ao fim da noite, com a cabeça a tombar no teclado, num último estertor de energia, no fim do dia, cansado, como o meu pai se devia sentir cansado no fim do seu tempo, MANTENDO A VONTADE DE SE MOSTRAR DIGNO, RECONHENDO-SE, REZANDO, REGRESSANDO AO TEMPO DAS ÁRVORES DE FRUTOS A CUJA SOMBRA DESFRUTAVA DE TODO O TEMPO DO MUNDO, PARA PENSAR COMO FUGIR À MISÉRIA E CRIAR FAMÍLIA, QUE CRIOU, como tantos homens e mulheres do seu tempo que aprendi a admirar, DEIXANDO-ME A MIM QUASE PARA O FIM, como me sinto ligado a todas as tradições que os meus em mim depositaram sem saber e interrogo-me se serei capaz de legar a mesmo doce áurea de uma vida impoluta de fazer tudo o que se exige a um homem fazer. [Em memória de meu pai pelo aniversário da sua morte.]
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quinta-feira, janeiro 7

CAMUS, CINQUENTA ANOS DEPOIS


Le Figaro : Albert Camus, l'homme intranquille


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UNIDOSE



Nenhuma farmácia hospitalar ou de oficina em Portugal aderiu à venda de medicamentos em unidose, seis meses após a entrada em vigor da lei, disse à Lusa a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed).

Os mistérios dos negócios da saúde! A indústria se puder vender 20 nunca aceitará vender 1. Sugestão: que cada um faça uma inspecção ao stock de medicamentos, fora do prazo de validade, que lá tem em casa. A chamada unidose, tão reclamada, não interessa senão aos consumidores finais. Quem os defende? Em última instância o estado! Ninguém reclama que se discuta a unidose no parlamento?
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quarta-feira, janeiro 6

ALBERT CAMUS, BREVE BALANÇO


O cinquentenário da morte de Albert Camus foi evocado em muitos blogues portugueses. A maior parte fez referência à cronologia biográfica que elaborei e publiquei. A todos agradeço as palavras amáveis que me dirigiram. Não nomeio ninguém para não cometer a inevitável injustiça do esquecimento. Assinalo, isso sim, o esquecimento generalizado da efeméride pelos meios de comunicação tradicionais portugueses, uma espécie de rasura da memória da criação artística e acção cívica, e política, de um homem que não transigiu, no seu tempo, com o totalitarismo fosse qual fosse a sua natureza. Entre as excepções o Expresso publicará, no próximo sábado, um artigo da Prof. ª Maria Luísa Malato Borralho autora nos anos 80 de um livro, provavelmente o único publicado em Portugal, por autor português acerca de Camus, por sinal, de muita qualidade que bem merecia ser reeditado. Republico a Cronologia, após revisão, por esta autora, AQUI.

segunda-feira, janeiro 4

ALBERT CAMUS POR ANA VIDIGAL


Albert Camus - Hoje no Nouvel Obs.com


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ALBERT CAMUS – UMA CRONOLOGIA PELO CINQUENTENÁRIO DA SUA MORTE









Em 4 de Janeiro de 1960 Albert Camus morreu vítima de um violento desastre de automóvel. A propósito do cinquentenário da sua morte escrevi uma cronologia para que se não esqueça a obra e o pensamento de um grande escritor, jornalista, dramaturgo e cidadão atento aos problemas do seu tempo. Um livre-pensador que defendeu, acima de tudo, a liberdade contra todas as formas de totalitarismo.

LER A CRONOLOGIA, NA ÍNTEGRA, AQUI.


sábado, janeiro 2

OS DEVERES DA AMIZADE AJUDAM A SUPORTAR OS PRAZERES DA SOCIEDADE



























Fotografias de Hélder Gonçalves (Nova York e Chicago)
A frase em título, respigada dos meus sublinhados dos Cadernos, é uma das que mais me marcou, aquando da primeira leitura da obra de Camus, pelos meus 20 anos, era ele somente um pouco mais velho, como autor, do que eu como seu leitor. Aquela frase contém todo um programa de vida, que tentei tomar como meu, e sublinhei-a a traço grosso. Sei, hoje, como o esquecimento mata as ilusões da juventude. Mas nunca me esqueci dessa leitura inaugural de Camus, através dos Cadernos, e entendi, mais tarde, o significado profundo da sua obra que, ao longo dos anos, fui sendo capaz de ler, e reler, penetrando mais fundo no âmago da sua interpretação dos acontecimentos do seu tempo e da visão de um homem confrontado com o absurdo da existência. Adiante … na próxima 2ª feira passam 50 anos sobre a sua morte e Camus ficará fora do Panteão. [Descobri, entretanto, este excelente texto de Vicente Jorge Silva.]
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domingo, dezembro 27

Luís de Camões - Sonnets and others poems


Outra prenda, em livro, do meu filho Manuel, sabendo do meu gosto: “Luís de CamõesSonnets and others poems”, edição bilingue, tradução e introdução de Richard Zenith.


Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n´alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e doi não sei porquê.
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Let Love devise new ways, new wiles
to kill me, and new forms of disdain;
he´ll take away no hope of mine,
since he can´t take what I don´t have.

Look at the hopes that hold me up!
See how precarious my defenses!
For I, not fearing reverses or changes,
am tossed by the sea, having lost my ship.

Though disappointment can´t exist
where there´s no hope, there Love has hidden
a bane that kills and remains unseen,

for he placed in my soul some time ago
I don´t know what, nor where it was born,
nor how it got there, nor why it aches.
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