Nestes últimos dias o espaço público do nosso país foi ocupado por acontecimentos com significado e impacto na opinião pública. Ao contrário do que tantas vezes tem acontecido nos últimos anos não se trata de desastres, crises, crimes....
Uma parte da intelectualidade de esquerda mantém um ruidoso silêncio ou emite opiniões de desagrado. Julgo que ressoa ainda no seu pensamento o mito dos três efes do Estado Novo: Futebol, Fátima e Fado. Mas os nossos tempos são outros e, neste 13 de maio de 2017, qualquer destes efes não se pode assemelhar ao "soporífero social" do outro tempo.
O Futebol internacionalizou-se, continua a ser uma modalidade desportiva fascinante e não é mais uma bandeira, no plano politico, de uma ditadura. Fátima neste centenário, para além da questão da fé, trouxe a Portugal o Papa Francisco e a sua palavra que está nas antípodas de qualquer totalitarismo. O Fado, neste dia, cedeu o lugar a um estilo musical contemporâneo que se distingue pela diferença, lançando um desafio à própria indústria musical. Os "Velhos do Restelo" não escolhem quadrantes políticos e ideológicos...
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
domingo, maio 14
segunda-feira, maio 8
A minha mãe Tolentina
A minha mãe foi batizada de Tolentina, nascida na freguesia de S. Estêvão de Tavira, de família de camponeses remediados, vivendo dos proventos do cultivo de uma terra de sequeiro a que se juntou, mais tarde, uma horta que, no conjunto, produziam desde os frutos secos aos mimos típicos das produções algarvias. Sempre conheci aquele campo, como lhe chamávamos, convivi com os meus avós maternos, Rosa e José, o meu tio Ventura, os meus primos Gervásio e Ezequiel, todos, sem exceção, dedicados à agricultura. Gente com mãos rugosas e faces marcadas pelas agruras do mister. A minha mãe, pelo casamento, saiu do campo para a cidade cedo, mantendo o espirito de camponesa e fortes os laços que a ligavam à família. Era uma mulher desabrida, obstinada, solidária e crente em que era sempre possível ir mais além. Morreu num dia de aniversário do meu filho Manuel, em minha casa, depois de uma divertida festa na qual animadamente participou. Foi assim cumprido, estou certo, o seu desejo. E vive no meu coração.
segunda-feira, maio 1
1º de maio
Com que então libertos, hein?
Com que então libertos, hein? Falemos de política,
discutamos de política, escrevamos de política,
vivamos quotidianamente o regressar da política à posse de cada um,
essa coisa de cada um que era tratada como propriedade do paizinho.
Tenhamos sempre presente que, em política, os paizinhos
tendem sempre a durar quase cinquenta anos pelo menos.
E aprendamos que, em política, a arte maior é a de exigir a lua
não para tê-la ou ficar numa fúria por não tê-la,
mas como ponto de partida para ganhar-se, do compromisso,
uma boa lâmpada de sala, que ilumine a todos.
Com o país dividido quase meio século entre os donos da verdade e do poder,
para um lado, os réprobos para o outro só porque não aceitavam que
não houvesse liberdade, e o povo todo no meio abandonado à sua solidão
silenciosa, sem poder falar nem poder ouvir mais que discursos de salamaleque,
há que aprender, re-aprender a falar política e a ouvir política.
Não apenas pelo prazer tão grande de poder falar livremente
e poder ouvir em liberdade o que os outros nos dizem,
mas para o trabalho mais duro e mais difícil de - parece incrível -
refazer Portugal sem que se dissipe ou se perca uma parcela só
da energia represa há tanto tempo. Porque é belo e é magnífico
o entusiasmo e é sinal esplêndido de estar viva uma nação inteira.
Mas a vida não é só correria e gritos de entusiasmo, é também
o desafio terrível do ter-se de repente nas mãos
os destinos de uma pátria e de um povo, suspensos sobre o abismo
em que se afundam os povos e as nações que deixaram fugir
a hora miraculosa que uma revolução lhes marcou. Há que caminhar
com cuidado, como quem leva ao colo uma criança:
uma pátria que renasce é como uma criança dormindo,
para quem preparamos tudo, sonhamos tudo, fazemos tudo,
até que ela possa em segurança ensaiar os primeiros passos.
De todo o coração, gritemos o nosso júbilo, aclamemos gratos
os que o fizeram possível. Mas, com toda a inteligência
que se deve exigir do amadurecimento doloroso desta liberdade
tão longamente esperada e desejada, trabalhemos cautelosamente,
politicamente, para conduzir a porto de salvamento esta pátria
por entre a floresta de armas e de interesses medonhos
que, de todos os cantos do mundo, nos espreitam e a ela.
Jorge de Sena
SB, 2/5/74
POEMAS "POLÍTICOS E AFINS" (1972-1977)
In "40 ANOS DE SERVIDÃO"
Com que então libertos, hein? Falemos de política,
discutamos de política, escrevamos de política,
vivamos quotidianamente o regressar da política à posse de cada um,
essa coisa de cada um que era tratada como propriedade do paizinho.
Tenhamos sempre presente que, em política, os paizinhos
tendem sempre a durar quase cinquenta anos pelo menos.
E aprendamos que, em política, a arte maior é a de exigir a lua
não para tê-la ou ficar numa fúria por não tê-la,
mas como ponto de partida para ganhar-se, do compromisso,
uma boa lâmpada de sala, que ilumine a todos.
Com o país dividido quase meio século entre os donos da verdade e do poder,
para um lado, os réprobos para o outro só porque não aceitavam que
não houvesse liberdade, e o povo todo no meio abandonado à sua solidão
silenciosa, sem poder falar nem poder ouvir mais que discursos de salamaleque,
há que aprender, re-aprender a falar política e a ouvir política.
Não apenas pelo prazer tão grande de poder falar livremente
e poder ouvir em liberdade o que os outros nos dizem,
mas para o trabalho mais duro e mais difícil de - parece incrível -
refazer Portugal sem que se dissipe ou se perca uma parcela só
da energia represa há tanto tempo. Porque é belo e é magnífico
o entusiasmo e é sinal esplêndido de estar viva uma nação inteira.
Mas a vida não é só correria e gritos de entusiasmo, é também
o desafio terrível do ter-se de repente nas mãos
os destinos de uma pátria e de um povo, suspensos sobre o abismo
em que se afundam os povos e as nações que deixaram fugir
a hora miraculosa que uma revolução lhes marcou. Há que caminhar
com cuidado, como quem leva ao colo uma criança:
uma pátria que renasce é como uma criança dormindo,
para quem preparamos tudo, sonhamos tudo, fazemos tudo,
até que ela possa em segurança ensaiar os primeiros passos.
De todo o coração, gritemos o nosso júbilo, aclamemos gratos
os que o fizeram possível. Mas, com toda a inteligência
que se deve exigir do amadurecimento doloroso desta liberdade
tão longamente esperada e desejada, trabalhemos cautelosamente,
politicamente, para conduzir a porto de salvamento esta pátria
por entre a floresta de armas e de interesses medonhos
que, de todos os cantos do mundo, nos espreitam e a ela.
Jorge de Sena
SB, 2/5/74
POEMAS "POLÍTICOS E AFINS" (1972-1977)
In "40 ANOS DE SERVIDÃO"
sábado, abril 29
ANIVERSÁRIO
Ontem. Não é todos os dias que se comemoram 70 anos de vida. Continuar a trabalhar, obviar ao cansaço da gestão do que me compete gerir, restaurar todos os dias a capacidade de tolerância, não desmerecer da confiança que em mim depositam aqueles que me olham. Seguir em frente com prudência mas sem temor. Obrigada à família e aos amigos que me têm desde sempre apoiado. E sempre a lembrança de meus pais, presentes no meu coração.
terça-feira, abril 25
sábado, abril 15
SINAIS DE GUERRA
O ambiente está povoado de sinais de guerra. Ataques militares mediatizados, além dos esquecidos combates no terreno, estreias mundiais na utilização de armas, discursos, e mensagens, ameaçadoras afirmadas, e feitas divulgar, por lideres políticos, as potências militares mostram as garras, os povos ainda não se deram conta das danças de guerra nas quais participam sem convite nem convocatória. Pode ser somente a vozearia do medo, ou a cortina que esconde a fraqueza oriunda das interdependências entre os grandes do mundo. Acreditemos que assim seja. Caso contrário a guerra não poupará nada, nem ninguém. Os sinais, por mais que imaginemos a emergência de forças contemporizadoras, assinalam os perigo típicos dos tempos que antecedem as guerras.
terça-feira, abril 11
Guerra, qual guerra?
Estamos sempre no princípio e no fim de qualquer coisa, incluindo a própria vida. Mesmo quando atravessamos períodos considerados pacíficos, livres de guerras ou revoluções violentas, não deixam de ocorrer mudanças profundas nas sociedades. Cada um de nós, nos nossos grupos de pertença, no mais íntimo das nossas convicções religiosas (mesmo quando proclamamos a ausência de qualquer crença religiosa), nos confrontamos todo o tempo com o fim e o principio de qualquer coisa. Desde logo da vida, o bem mais sagrado que nos compete preservar. O ambiente que se respira por todo o lado, a sul e a norte, a oriente e a ocidente, no nosso mundo globalizado, está cravado de atos e declarações de responsáveis políticos (fiquemos por estes) ameaçadoras para a paz e a concórdia entre os povos e as nações. Guerra, qual guerra?
sábado, abril 8
MISÉRIA MORAL
A agenda do dia é todos os dias, sem exceção, preenchida por notícias, relatos e opiniões que nos dão conta das mais variadas formas de miséria moral. Basta observar o preenchimento intensivo dos noticiários, em todas as áreas de atividade, por acontecimentos associados à criminalidade explicita ou insinuada. Tudo apresentado como um novo normal retirando da agenda os acontecimentos da vida quotidiana da maioria das comunidades e dos cidadãos. Todos aqueles que se encontram, nos mais diversos setores de atividades, a trabalhar na gestão de processos que interessam à maioria, e que influenciam, no essencial, no sentido positivo, a vida económica e social, têm dificuldades inultrapassáveis para se fazer ouvir. Todos sabem que é assim, ou seja, que caminhamos para uma ditadura de novo tipo na qual cada vez menos a verdade, e a decência, têm lugar num mercado onde dominam os grandes, e globais, manipuladores da opinião pública e publicada. A miséria moral medra neste lodaçal e é um sinal mais da guerra que se anuncia.
sábado, abril 1
BOLA
Falando um pouco de bola, de futebol,uma paixão antiga. Após o fim de um jogo de futebol dito como decisivo que não vi porque não sou assinante, nem serei, da Benfica TV. Não dou para esse peditório por razões diversas entre eles o de não ter qualquer apreço, antes pelo contrário, pelos dirigentes que dirigem tal canal. O que mais me espanta no futebol profissional português é a natureza, comportamento e cultura, dos seus dirigentes. É provável que seja assim em muitos outros países mas tal não mingua o desgosto pelo baixo nível dos que por cá acedem aos lugres dirigentes do futebol. Como é natural todas as estruturas dirigentes, em sentido ascendente, sofrem dos mesmos males. Incluindo as claques autorizadas, e consentidas, que deveriam, em minha opinião, ser proibidas por lei pois fomentam a violência e estimulam sentimentos contrários aos que estão inscritos na matriz do nosso regime fundado nos princípios e valores da paz e da concórdia.
domingo, março 26
DIA MUNDIAL DO TEATRO
O dia 27 de março é consagrado como Dia Mundial do Teatro. Sempre assinalo esta data não por mera celebração de uma efeméride mas porque o teatro desempenhou um papel muito importante na minha vida. Na alta adolescência, por altura do meu 6ª ano do liceu, num tempo de trevas culturais, o meu irmão deve ter impulsionado a minha aproximação à atividade teatral. As relações com o Dr. Emílio Campos Coroa haviam sido estreitadas e daí deve ter resultado a minha integração no Grupo de Teatro do Circulo Cultural do Algarve - mais tarde "Teatro Lethes" - após ter já sido iniciado pelo Dr. Joaquim Magalhães nas atividades teatrais do liceu. Foi uma oportunidade de intensa sociabilização, aprendizagem da arte do teatro e exigente exercício de enfrentamento dos públicos. Muito entrada em cena, muito palco e fala e necessário conhecimento de dramaturgos de referência. Somente a minha saída da cidade de Faro para Lisboa me separou desta experiência que marcou a minha formação pessoal e cultural para sempre. Bem hajam aqueles que me impulsionaram e acompanharam nessa formalizável experiência teatral.
(As fotografias mostram o símbolo do GTCCA e a mim próprio - pelos meus vinte e poucos anos - numa cena de "Histórias para serem contadas", do dramaturgo argentino Osvaldo Dragun.)
(As fotografias mostram o símbolo do GTCCA e a mim próprio - pelos meus vinte e poucos anos - numa cena de "Histórias para serem contadas", do dramaturgo argentino Osvaldo Dragun.)
terça-feira, março 21
GRATIDÃO
Neste inicio de primavera umas palavras de gratidão. Nos últimos dias ficou a conhecer-se publicamente uma senhora de nome Luísa Ucha. Fiquei a saber, pelas notícias, que está a exercer funções no gabinete do Secretário de Estado da Educação. Conheço-a pessoal e profissionalmente da minha última estadia (em modo prateleira), numa direção geral do ME designada por DGIDC (julgo não me enganar). Ora é para dizer que, à época, conhecendo-me a Luísa havia pouco tempo, logo se disponibilizou para ser minha testemunha numa providência cautelar no âmbito de processo disciplinar que me foi movido pelas artes da santidade do Dr. Bagão Félix. Ganhei o processo, ganhei todos os processos, mas neste a Luísa Ucha, mostrou-se mulher intuitiva, inteligente e corajosa. Nunca mais esqueci o seu gesto e aproveito este incidente em que a envolveram para lhe demonstrar toda a minha gratidão. Acredito nela acima de todas as notícias que a queiram denegrir.
segunda-feira, março 20
domingo, março 19
Meu pai na janela do mundo
O meu pai Dimas à janela da casa onde nasci. Foi através dela que conheci um mundo banhado pela claridade da luz do sul. Vivi debruçado nesta janela até aos oito anos. Todo o tempo necessário para aprender a natureza.
Paredes brancas de cal. Ladrilhos coloridos. Ruas de terra batida. Vistas de campos espraiados até ao mar. Recantos floridos. Sombras de árvores de frutos. Mãos carinhosas. Telhas de barro quente. O azul transparente do mar.
A família sobreviveu a todas as adversidades próprias das épocas de guerra. Razão mais que suficiente para, apesar da tirania, se sentir feliz. O meu pai era uma pessoa honrada e ensinou-me a liberdade. Honra e liberdade. Foi essa a herança que dele recebi. Fica-lhe bem a moldura daquela janela na qual aprendi a sonhar.
A casa permanece intacta e habitada e esta é uma das suas duas janelas térreas. O encanto que lhe encontrava estendia-se à vizinhança, aos corredores internos e às ruas circundantes.
Paredes brancas de cal. Ladrilhos coloridos. Ruas de terra batida. Vistas de campos espraiados até ao mar. Recantos floridos. Sombras de árvores de frutos. Mãos carinhosas. Telhas de barro quente. O azul transparente do mar.
A família sobreviveu a todas as adversidades próprias das épocas de guerra. Razão mais que suficiente para, apesar da tirania, se sentir feliz. O meu pai era uma pessoa honrada e ensinou-me a liberdade. Honra e liberdade. Foi essa a herança que dele recebi. Fica-lhe bem a moldura daquela janela na qual aprendi a sonhar.
A casa permanece intacta e habitada e esta é uma das suas duas janelas térreas. O encanto que lhe encontrava estendia-se à vizinhança, aos corredores internos e às ruas circundantes.
domingo, março 12
GUERRA?
Imensa gente das mais variadas qualidades tem dito, e redito, sempre e, recentemente, com maior insistência e densidade: o mundo está perigoso! Qual é o espanto pelos reais sinais de guerra?
terça-feira, março 7
Foi bonita a festa ....
A minha tia Lucília mostrou-se, na festa do seu centenário, lúcida e resistente como sempre ao longo da sua vida. A família, e os amigos, marcaram presença e a Maria da Conceição (minha prima, organizadora da festa) "obrigou-me" a falar aos presentes. O prazer foi todo meu!
(Fotografias de Margarida Ramos)
(Fotografias de Margarida Ramos)
sexta-feira, março 3
O centenário da minha tia Lucília
Da esquerda para a direita: o meu irmão Dimas de flor na lapela. O meu pai Dimas, vestido a rigor, de fato e gravata. Minha mãe, Tolentina, de fina camisa branca. A avó, Maria da Conceição, já doente, austera no seu vestido preto. A tia Lucília, uma beleza cinéfila, brilha à luz quente que envolve o Algarve de todas as estações. O mais pequeno, eu próprio, circunspecto, talvez, pela contrariedade do traje.
A minha tia Lucília faz amanhã 100 anos e arrisco evocar o seu aniversário de véspera. Esta é a mais comovente de todas as celebrações. Irmã mais nova de meu pai. Nascida em 1917. Os fragmentos de suas memórias sempre me surpreenderam. A primeira mulher que me beijou chamada às pressas para ajudar no meu nascimento. Uma mulher linda que se desprende ao encontro dos outros. Nesta fotografia, no largo quintal de sua casa, somos os sobreviventes do grupo que mostra uma família feliz.
A minha tia Lucília faz amanhã 100 anos e arrisco evocar o seu aniversário de véspera. Esta é a mais comovente de todas as celebrações. Irmã mais nova de meu pai. Nascida em 1917. Os fragmentos de suas memórias sempre me surpreenderam. A primeira mulher que me beijou chamada às pressas para ajudar no meu nascimento. Uma mulher linda que se desprende ao encontro dos outros. Nesta fotografia, no largo quintal de sua casa, somos os sobreviventes do grupo que mostra uma família feliz.
sábado, fevereiro 25
Pelo 12º aniversário da morte do meu irmão Dimas
O meu irmão Dimas morreu faz hoje 12 anos. No outro dia, ao despertar de um sonho, ouvi a sua voz, clara, distinta e plena, seria eu criança - ele adolescente - indo ao mais fundo de minhas memórias.
quinta-feira, fevereiro 23
José Afonso - pelo 30º aniversário da sua morte
Passam hoje 30 anos sobre a morte de José Afonso. Mais que tudo o resto que da sua vida imana é ser um grande artista da nossa história contemporânea. Um grande poeta, poucas vezes reconhecido como tal, um grande músico, e intérprete, em que avultada a singularidade do timbre da sua voz. Uma personalidade simples, fraterna e solidária. A sua obra está viva, transborda de modernidade, e é apropriada pela juventude. Diversas gerações o admiram e ele merece ser admirado.
domingo, fevereiro 19
Um dia - vai para muitos anos ...
A propósito de notícias recentes que colocaram nas primeiras páginas as memórias de Cavaco, reproduzo grande parte de um post antigo - de novembro de 2005:
Um dia – vai para muitos anos – estava a assistir a uma aula do dito cujo no meio da maior das contestações que é possível imaginar – devia ser de finanças públicas que era (e é) a sua única especialidade – ele explicava a coisa com base no exemplo da ilha onde a comunidade era reduzida a um humano, ou a um casal de humanos, já não me lembro muito bem.
Estávamos fartos, como os jovens estão sempre fartos de formalismos e trejeitos autoritários, se forem jovens normais, claro, quando o dito a propósito de uma reivindicação, certamente exagerada, como são todas as reivindicações dos jovens, disse uma mentira cuja já não me lembro qual foi.
O homem, naquele momento, revelou-se, a meus olhos e ouvidos, um mentiroso compulsivo, e apossou-se de mim um desassossego fulminante que deu no que deu, ou seja, numa refrega forte e feia que o fez vacilar e, dizem, cair desmaiado mas eu não vi, ou já não me lembro, pois me debatia nos braços de quem me susteve os ímpetos.
Quem estava presente e assistiu à cena, digna de um filme de acção, a preto e branco, género série B, sabe melhor do que eu descrevê-la, que já mo têm feito, mas eu não acredito em nada do que se passou, passa e passará, com o dito cujo desde a ocorrência do infausto acontecimento.
Fiquei em estado de amnésia intermitente face à criatura – que sofre do mesmo mal mas do ramo político – e fiquei possuído por uma descrença, em geral, acerca do saber dos professores e, ainda mais, dos métodos por eles utilizados. É um clássico na matéria mas, graças a Deus, há excepções.
Toda esta prédica é para dizer que me preocupa, ligeiramente, ter de me assumir como concidadão da mentira elevada à mais alta dignidade do estado.
A pobrezinha da Nação merece melhor, na mais alta magistratura, que mais não seja, alguém, do cuja verdade sempre se possa duvidar, mas que assuma a política pelos cornos, sem vergonha e com coragem, elevando-se ao nível do que ela é, a mais nobre arte de transformar o homem e o mundo.
Desculpai o desabafo. A bem da Nação. Aos 14 de Novembro de 2005.
Um dia – vai para muitos anos – estava a assistir a uma aula do dito cujo no meio da maior das contestações que é possível imaginar – devia ser de finanças públicas que era (e é) a sua única especialidade – ele explicava a coisa com base no exemplo da ilha onde a comunidade era reduzida a um humano, ou a um casal de humanos, já não me lembro muito bem.
Estávamos fartos, como os jovens estão sempre fartos de formalismos e trejeitos autoritários, se forem jovens normais, claro, quando o dito a propósito de uma reivindicação, certamente exagerada, como são todas as reivindicações dos jovens, disse uma mentira cuja já não me lembro qual foi.
O homem, naquele momento, revelou-se, a meus olhos e ouvidos, um mentiroso compulsivo, e apossou-se de mim um desassossego fulminante que deu no que deu, ou seja, numa refrega forte e feia que o fez vacilar e, dizem, cair desmaiado mas eu não vi, ou já não me lembro, pois me debatia nos braços de quem me susteve os ímpetos.
Quem estava presente e assistiu à cena, digna de um filme de acção, a preto e branco, género série B, sabe melhor do que eu descrevê-la, que já mo têm feito, mas eu não acredito em nada do que se passou, passa e passará, com o dito cujo desde a ocorrência do infausto acontecimento.
Fiquei em estado de amnésia intermitente face à criatura – que sofre do mesmo mal mas do ramo político – e fiquei possuído por uma descrença, em geral, acerca do saber dos professores e, ainda mais, dos métodos por eles utilizados. É um clássico na matéria mas, graças a Deus, há excepções.
Toda esta prédica é para dizer que me preocupa, ligeiramente, ter de me assumir como concidadão da mentira elevada à mais alta dignidade do estado.
A pobrezinha da Nação merece melhor, na mais alta magistratura, que mais não seja, alguém, do cuja verdade sempre se possa duvidar, mas que assuma a política pelos cornos, sem vergonha e com coragem, elevando-se ao nível do que ela é, a mais nobre arte de transformar o homem e o mundo.
Desculpai o desabafo. A bem da Nação. Aos 14 de Novembro de 2005.
segunda-feira, fevereiro 13
HUMBERTO DELGADO
13 de Fevereiro de 1965 – A minha homenagem à memória do General Humberto Delgado pelo 52º aniversário do seu assassinato.
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