domingo, outubro 8

CONJUNTURAS

Quase todas as manchetes e aberturas de telejornal estão a ser preenchidas pela Catalunha. Já não os incêndios que voltaram em força, nem sequer a sucessão de Passos Coelho na liderança do PSD. Assim parece-me razoável. Mas esperem pelos próximos desenvolvimentos do processo Sócrates para ser-mos soterrados - quantos meses? - por uma única notícia quase sem variantes... Curiosamente em simultâneo com um período de vazio na liderança a que se seguirá a iniciação de uma nova, no PSD... Aguentemo-nos no balanço!

quinta-feira, outubro 5

5 de outubro de 1910


Às 8,30 da manhã passava pela Rua do Ouro, em triunfo, a artilharia, que era delirantemente ovacionada pelo povo.

As ruas acham-se repletas de gente, que se abraça. O júbilo é indescritível!

A essa hora, no Castelo de S. Jorge, que tinha a bandeira azul e branca, foi içada a bandeira republicana.

O povo dirigiu-se para a Câmara Municipal, dando muitos vivas à REPÚBLICA, içando também a bandeira republicana.

(…)

Vê-se muita gente no castelo de S. Jorge acenando com lenços para o povo que anda na baixa. Os membros do directório foram às 8,40 para a Câmara Municipal, onde proclamaram a República com as aclamações entusiásticas do povo.

O governo provisório consta será assim constituído: presidente, Teófilo Braga; interior, António José de Almeida; guerra, Coronel Barreto; marinha, Azevedo Gomes; obras públicas, António Luís Gomes, fazenda, Basílio Telles; justiça, Afonso Costa; estrangeiros, Bernardino Machado.

Governador Civil, Eusébio Leão.

Em quase todos os edifícios públicos estão tremulando bandeiras republicanas. A polícia faz causa comum com o povo, que percorre as ruas conduzindo bandeiras e dando vivas à República.

(Transcrito de O Século, quarta feira, 5 de Outubro de 1910, publicação de última hora.)

Raúl Brandão, in Memórias “O meu diário” – Volume II

Perspectivas & Realidades

segunda-feira, outubro 2

DEPOIS DE ELEIÇÕES

Os resultados das eleições têm a enorme virtualidade de confirmar a evolução da vontade do maior número. Com os estudos de opinião, as sondagens, antecipa-se o sentido dessa vontade. Os resultados das autárquicas realizadas ontem não foram surpreendentes, confirmaram uma tendência. As surpresas podem surgir nos momentos seguintes resultantes das decisões dos diretórios políticos face aos resultados. Se todos os diretórios decidirem com racionalidade as surpresas deverão ser de pouca monta. O povo falou nas urnas, aguardemos, serenamente, o resultado dos debates e reflexões dos diretórios.
Fotografia de Hélder Gonçalves

domingo, outubro 1

LIBERDADE

“Revolta

Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade.

A justiça num mundo silencioso, a justiça dos mundos destrói a cumplicidade, nega a revolta e devolve o consentimento, mas desta vez sob a mais baixa das formas. É aqui que se vê o primado que o valor da liberdade pouco a pouco recebe. Mas o difícil é nunca perder de vista que ele deve exigir ao mesmo tempo a justiça, como foi dito.

Dito isto, há também uma justiça, ainda que muito diferente, fundando o único valor constante na história dos homens que só morreram bem, quando o fizeram pela liberdade.

A liberdade é poder defender o que não penso, mesmo num regime ou num mundo que aprovo. É poder dar razão ao adversário."

Albert Camus, in Cadernos

quinta-feira, setembro 28

ELEIÇÕES - VOTAR

As eleições autárquicas terão seu desfecho daqui a pouco mais de 48 horas. Todas as eleições são importantes e tão mais importantes quanto mais aproximam o eleitor do eleito. Nas autárquicas os candidatos são muitos, mais do que em qualquer outra eleição; os eleitores são, no essencial, os mesmos. As comparações sérias dos resultados destas autárquicas serão feitas com os resultados das eleições autárquicas anteriores. As sondagens, como se costuma dizer, valem o que valem. As vitórias e as derrotas são resultados mais que certos e tocam a todos. Mas o que mais interessa nestes dias que antecedem o voto é combater a abstenção. Sempre votei em todas as eleições e também nestas votarei em fidelidade aos meus ideais socialistas de sempre. Mas o voto, em liberdade e democracia, só faz sentido, para mim, no respeito sagrado pelo sentido do voto de todos e de cada um.

segunda-feira, setembro 25

ALEMANHA

A democracia na Alemanha será preservada após as eleições de ontem. A maioria doa alemães não esqueceu a tragédia provocada pelos nazi fascistas que os conduziu ao holocausto. Apesar de todas as vicissitudes da vida dos povos europeus creio que não será nunca mais possível escrever o que Camus escreveu am 1944:

«[…] Acontece-me, por vezes, ao voltar de uma dessas curtas tréguas que nos deixa a luta comum, pensar em todos os recantos da Europa que conheço bem. É uma terra magnífica, feita de sacrifícios e de história. Revejo as peregrinações que fiz com todos os homens do Ocidente. As rosas nos claustros de Florença, as tulipas douradas de Cracóvia, o Hradschin com os seus paços mortos, as estátuas contorcidas da ponte Karl sobre Ultava, os delicados jardins de Salzburgo. Todas essas flores, essas pedras, essas colinas e essas paisagens onde o tempo dos homens e o tempo da natureza confundiram velhas árvores e monumentos! A minha memória fundiu essas imagens sobrepostas para delas formar um rosto único: o da minha pátria maior. Algo me oprime quando penso, então, que sobre esse rosto enérgico e atormentado paira, desde alguns anos, a vossa sombra. E no entanto, há alguns desses lugares que você visitou comigo. Eu não imaginava, nessa altura, que fosse um dia necessário defendê-los contra os vossos. E agora ainda, em certos momentos de raiva e desespero, lamento que as rosas possam ainda crescer no claustro de São Marcos, os pombos lançar-se em bandos da catedral de Salzburgo e os gerânios vermelhos germinarem incessantemente nos pequenos cemitérios da Silésia.

Mas, noutros momentos, e são esses os verdadeiros, sinto-me feliz que assim seja. Porque todas as paisagens, todas as flores e todos os trabalhos, a mais antiga das terras, vos demonstram, em cada Primavera, que há coisas que não podereis abafar no sangue. […] Sei assim que tudo na Europa, a paisagem e a alma, vos rejeitam serenamente, sem ódios desordenados, mas com a força calma das vitórias. As armas de que dispõe o espírito europeu contra as vossas são as mesmas que nesta terra sempre renascente fazem crescer as searas e as corolas. O combate em que nos empenhamos possui a certeza da vitória, porque é teimoso como a Primavera. […] » - pp. 68-71

Albert Camus, in Cartas a um Amigo Alemão, Carta Terceira (Abril de 1944)

sábado, setembro 23

AUTÁRQUICAS - A UMA SEMANA DO DIA DO VOTO

A uma semana do dia da votação para as eleições autárquicas de 2017. Saem sondagens deste e daquele concelho, os mais importantes do ponto de vista demográfico e politico. As sondagens conhecidas nos maiores, como Lisboa, Sintra, Porto, Loures, ... parecem indiciar vitórias dos partidos da esquerda prenunciando, salvo qualquer surpresa, uma derrota severa do PSD. Mas neste tipo de eleição mais se aplica aquela célebra frase: "prognósticos, só no fim do jogo."
Costa, por sua vez, explica que a meio do mandato do governo um bom resultado do PS é crucial para o que falta da legislatura. É mesmo o mais importante na leitura politica que as eleições vão suscitar. Se o PS alcançar o seu objetivo de ganhar mais presidências de Câmaras e Freguesias a gestão da maioria politica que apoia o governo ficará mais confortável desde que o PCP não saia derrotado.
Estas eleições são certamente as mais participadas de todas, aquelas que envolvem um maior número de candidatos, o terreno para o maior número de estreias na ação politica de cidadãos que sempre estiveram arredados delas. Isso é um bom sinal para a democracia seja qual for o resultado final. O meu voto é daqueles que não trás consigo qualquer surpresa. Salvo qualquer situação anormal, que não é o caso, voto sempre no PS. O fio de prumo, o garante do equilíbrio do sistema democrático português e da preservação do estado social.

sábado, setembro 16

DESVIOS

Nas nossas sociedades, e a portuguesa não é exceção, o fenómeno mais preocupante é o da emergência, ameaçando tomar expressão politica institucional, do ideário fascista, sob diversas capas, albergado em partidos que nasceram, e cresceram, com o advento da democracia liberal. No caso português não deixa de ser perturbante - as coisas são como são - que a liderança do PSD apoie um candidato a uma autarquia que integra no seu programa de ação posições racistas e xenófobas. Tomo-o na minha boa fé como um epifenómeno, mas nunca fiando, na espera que os sociais democratas autênticos, que os há muitos e bons no PSD, ponham cobro ao desaforo.

ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS - 1 OUTUBRO

Mais uma pincelada acerca das eleições autárquicas que se avizinham. Dia 1 de outubro. Será um domingo como é da tradição portuguesa, mas poderiam realizar-se num dia de semana como acontece noutros países. Para mim seria indiferente pois sempre votei em todas as eleições em democracia (e mesmo nalgumas farsas eleitorais em ditadura). Gosto de votar, não só por dever mas por prazer. (Talvez fosse um dia destes, no entanto, de fazer uma revisão profunda à lei eleitoral no âmbito da modernização administrativa, para tornar o voto mais presto e atraente - vamos a isso senhor Governo e/ou Senhoras e senhores deputados?). Mesmo que rebentem as mais desvairadas borbulhas caluniosas, ou floresçam alguns populismos protofascistas, a opinião e o debate são livres em Portugal, o que alguns não valorizam o suficiente. A falta da liberdade não é uma experiência que se recomende, nem é de ter comiseração pela falta de memória de suas nefastas consequências. O meu pai, nascido em 1910, só conheceu, na idade adulta, a cor da liberdade com 63 anos de idade...é algo inexplicável mas que aconteceu mesmo!
E quanto ao próximo voto aqui fica a minha declaração de interesses: em conformidade com o meu ideário, vou votar, em Lisboa, no PS. (Outra nunca poderia ser a minha opção pois, desta vez, até pertenço à comissão de honra cujo convite aceitei com muito gosto.)

quinta-feira, setembro 7

AUTÁRQUICAS

Umas pinceladas acerca das eleições autárquicas, se não me engano foi o Pacheco Pereira que escreveu no Efémera, ou num artigo, que estas eram as eleições autárquicas com o maior número de candidatos de sempre. É um sinal de vitalidade da nossa democracia; mas o que queria dizer é do meu apreço, em geral, pelos candidatos, vão em listas partidárias, ou independentes (falsos ou verdadeiros independentes, pois nunca se sabe!), que encaram todos os dias os cidadãos e a imensa multidão de problemas que eles exigem sejam resolvidos. Não me preocupa uma borbulha que rebente na face da democracia, o que me preocupa é a limpeza ostentada na mascara dos populismos.

domingo, setembro 3

COREIA DO NORTE

Hoje, pela manhã, a Coreia do Norte realizou um teste nuclear de primeiro grau. Um pequeno país, pobre, dotado de um regime politico autocrático, ameaça o domínio das grandes potências. Um enigma, ou talvez não. Uma tese para explicar o fenómeno, aparentemente demasiadamente linear, é a de que a Coreia do Norte será uma marionete da China. Os seus avanços tecnológicos na área militar, em particular, na produção da bomba atómica e de misseis balísticos de grande alcance carecem de quem lhe forneça o "saber fazer" e a matéria prima. Além disso carecem de uma proteção politica a todos os níveis que somente a vizinha China pode propiciar. A Coreia do Norte estaria a ameaçar os Estados Unidos, e seus aliados na região, em resposta às ameaças explicitas da nova administração dos USA. É conhecida a relação desigual, em diversos planos, USA/China. A disputa é estratégica na justa medida em que estão em confronto as duas maiores potências mundiais e, ao que parece, no plano militar, a China fez nos últimos anos avanços que deixaram os USA para trás. Uma coisa é certa e vem com o certificado de garantia de uma história antiga: a China nunca foi derrotada no plano militar por razões demográficas e territoriais, de cultura e sageza, a que junta a sua infinita paciência. Os portugueses no século XV, um pequeno país pobre, ameaçou o domínio da China nos mares e territórios nos quais a China já antes navegava, mas eram outros os tempos, embora Portugal tenha tido sucesso não só à custa da sua ousadia fundada no conhecimento, mas também no avanço tecnológico das suas armas nos combates pelo domínio das rotas marítimas. A China, no plano estratégico, em que o tempo conta mais que do que o espaço, acabará sempre por vencer.

sexta-feira, agosto 25

ANGOLA

Eleições em Angola com resultado pré anunciado. Os crédulos acreditam que algo vai mudar. Creio que nada, de essencial, mudará. De qualquer forma a realização de eleições é um sinal favorável para a emergência do modelo democrático. Os portugueses precisam ter esperança no futuro de Angola.

segunda-feira, agosto 21

O anúncio do calor

Calor abrasador. Quando sinto este bafo quente na rua, em lisboa, sei que ardem os campos de arvoredo por esse país fora. Além do desastre da destruição da natureza, seja qual for a sua estrutura física, os incêndios florestais põem a nu a pobreza que a longura dos campos, por vezes tão perto das cidades, em vão dá a ilusão de esconder. O desastre situa-se de ambos os lados da barricada, tal como nas guerras, pois um incêndio, afinal, não é mais do que uma batalha perdida de que sobram os escombros que o tempo removerá. Que me lembre nunca vi um incêndio florestal a não ser ao longe como no outro dia pelos lados de Canal Caveira visto da autoestrada do sul. Nem todos podemos ter acesso direto ao inferno na terra, nem sequer a encarar o diabo feito labareda vociferante. Como já tem sido dito, e escrito, por quem sabe o país paga, com regular falta de parcimónia, o preço pelo desprezo a que vota o tempo e pela gula endeusada do sucesso (lucro) imediato. Haja saúde!

quinta-feira, agosto 17

Verão Quente

Verão quente! Onde já ouvi esta frase? O mundo mediterrânico arde como se fosse uma terra maldita, em desertificação, abandonada pelo seu povo, ressequida, em boa parte a caminho de ser deserto. Incluindo o sul de Portugal. Alguns falam em terrorismo. Não creio. As mortes dramatizam. Mas os incêndios são recorrentes nestas regiões. Desde que escrevo nas redes sociais com regularidade, pelos finais de 2003, já escrevi inúmeras vezes acerca de incêndios florestais. Não conheço o suficiente do assunto para pronunciamentos de saber feito. Creio somente, por intuição, que a raiz da irrupção dos incêndios está na conjugação da seca com a desertificação humana. Como combater o fenómeno? Invertendo o ciclo da seca e da desertificação. Ocupar humanamente o território e irrigá-lo. Tudo são ideias que levam a politicas consideradas impossíveis ou mesmo utópicas. Esta arreigada descrença em mudanças profundas, assumidas coletivamente, assentes em politicas que valorizem modelos de organização coletiva (não coletivistas), é o travão a qualquer verdadeira mudança. Verão quente! Numa das suas primeiras obras, de juventude, Camus escreveu no capítulo “As amendoeiras”, de Núpcias, o Verão: (…) A primeira coisa é não desesperar. Não prestemos ouvidos demasiadamente àqueles que gritam, anunciando o fim do mundo. As civilizações não morrem assim tão facilmente; e mesmo que o mundo estivesse a ponto de vir abaixo, isso só ocorreria depois de ruírem outros. É bem verdade que vivemos numa época trágica. Contudo, muita gente, confunde o trágico com o desespero. “O trágico”, dizia Lawrence, “deveria ser uma espécie de grande pontapé dado na infelicidade”

terça-feira, agosto 8

Férias...

De regresso de umas curtas férias na terra, no meu caso no Algarve, quase retemperado de longos meses de trabalho extenuantes e pejados de dificuldades. Nas organizações são as pessoas o mais importante ativo mesmo que se anuncie, reiteradamente, o discurso do fim trabalho feito diretamente pelo homem. O tempo não tem parança. Nem a energia é inesgotável. As convicções autenticas não morrem. A vontade de participar não esmorece. O verão continua, as férias serão repartidas, imprevisíveis, tal como a vida em sociedade. Continuar a trabalhar, alongar o tempo todo o tempo.

sábado, julho 22

NOVO TEMPO

A politica em Portugal sofreu uma mudança de qualidade com a entrada em cena da fórmula politica pós eleições legislativas de 4 de outubro de 2015. Quanto mais tempo ela durar, ao que tudo indica poderá durar a legislatura completa, mais se acentuará a deriva populista com expressão partidária - à falta de um partido de extrema direita - nos partidos mais à direita do espetro politico tradicional. Estamos a assistir, no nosso país, a um fenómeno novo que consiste na emergência de um discurso populista, explorando temas, desde há muito assumidos por partidos da extrema direita europeia, mas que em Portugal parece encontrarem acolhimento em partidos do sistema. Poderá tratar-se de um fenómeno pontual ou, provavelmente, o inicio do processo de criação de uma formação politica assumidamente de extrema direita. Não creio que o PSD possa vir a transformar-se nessa formação quer pela sua história, quer pela natureza da sua base social, quer pelo seu enquadramento internacional. Mas no presente contexto algo terá que acontecer no sentido do reajustamento partidário. Estamos no inicio de um novo tempo politico.

quarta-feira, julho 19

ALBERTO MARTINS

A luta politica é uma expressão do debate de ideias em torno de interesses materiais conflituantes, ou opostos, de conceções doutrinárias, ou filosóficas, divergentes no que respeita à organização da sociedade ou à própria vivência individual. Em democracia o debate, e combate politico, é realizado de forma pacifica, ou seja, pelo confronto de ideias sendo as decisões tomadas através do voto.
Hoje o Alberto Martins, exercendo o mandato de deputado eleito pelo PS, anunciou no Parlamento, para minha surpresa, o abandono da vida politica ativa.
Dei por mim a pensar que a democracia representativa em Portugal atingiu, com todos os seus defeitos, a idade madura. Pois foi possível que um ativista da luta contra a ditadura (que ganhou reconhecimento, e notoriedade, por ter, publicamente, desafiado a autoridade do "mais alto magistrado da nação", na crise académica de Coimbra, em 1969) tenha encerrado um ciclo completo de intervenção politica, desde os anos 60 do século passado, através de sucessivas conquistas, num ambiente de normalidade institucional, em plena liberdade.
Acrescento para os menos bem informados, que são quase todos os fazedores de opinião, jornalistas profissionais, ou outros, como hoje ficou demonstrado, que Alberto Martins não foi sempre militante do PS.
Após o 25 de abril de 1974, durante largos anos,(não sei precisar até quando)foi destacado militante, e dirigente do MES (Movimento de Esquerda Socialista),tendo, posteriormente, aderido ao PS, por opção própria, tal muitos outros entre os quais me incluo.
Para o Alberto Martins os meus desejos de felicidades pessoais, com um abraço fraternal.

domingo, julho 9

SMO

Republico um post de 29 de setembro de 2004. Acerca de um tema pouco popular - o Serviço Militar Obrigatório - que ganhou atualidade pelas piores razões, que sempre defendi ou, em alternativa, o serviço civico obrigatório. Qualquer dos modelos, em diversas modalidades, existe em países da UE desde há muito ou está a ser retomado.

Serviço Militar Obrigatório

O Dr. Portas surge, ufano, a proclamar o fim do Serviço Militar Obrigatório (SMO). O acontecimento aparece aos olhos da grande maioria como uma grande conquista civilizacional. Em particular aos olhos da juventude. As juventudes partidárias rejubilam.

O Dr. Portas ostenta um orgulho que estaria nas antípodas das suas próprias convicções caso fosse um verdadeiro patriota. No momento em que se consagra o fim do SMO quero afirmar que sempre fui a favor da conscrição, ou seja, do “alistamento militar”.

Acho que o fim do SMO é uma cobardia moral e um sinal de resignação patriótica.

A partir de agora o país ficará a dispor de forças militares profissionais. A maioria dos jovens nunca terá acesso à experiência militar. Nunca saberá manejar uma arma. Nunca terá a noção real do que é a defesa nacional. O país perderá um dos últimos redutos onde se exercitava o sentimento de pertença à comunidade nacional.

Ficam os ex-combatentes para o exercício da demagogia patrioteira. Ficam as compras de armamento para o aumento da despesa pública. Ficam os edifícios e os terrenos militares devolutos para combater o deficit.

O patriotismo virou negócio por grosso e a retalho. E negócio chorudo!

sexta-feira, julho 7

CATIVAÇÕES

Escrevo após um intervalo demasiadamente grande para meu gosto que se deve a sobrecarga de trabalho profissional. Nem os acontecimentos que têm feito as notícias nas últimas duas semanas, nem qualquer menos interesse em preencher este espaço que persiste, a duas mãos (as minhas)desde 2003.
O que me apetece escrever tem a ver com a politica que me envolve, fascina ou revolta, conforme os estados de espirito e a disponibilidade de cada momento. Para dizer que os mesmos que reclamavam por cortes na despesa pública (atacar as chamadas "gorduras do estado") não têm autoridade para atacar o governo em funções por ter adotado uma orientação na gestão orçamental que vai nesse sentido - mas por outro caminho diverso do que foi seguido no tempo da troika.
Como muitos economistas já explicaram as cativações não são cortes, são um espécie de suspensão de parte da despesa que, em qualquer momento, pode vir a ser executada permitindo medir, ao longo do tempo, os seus efeitos no deficit. Somente resta um debate técnico acerca da qualidade da execução que quase nunca se faz. Mas isso é um debate sério pelo qual a politica não se interessa.

domingo, junho 25

INCÊNDIOS/


Uma semana passada sobre o fatídico incêndio de Pedrógão sucedem-se as ondas de choque. Faltam apurar, da forma mais rigorosa possível, as causas e as falhas. Tratar-se-á de um desastre natural? É o mais certo. Que tenham confluído no tempo e no espaço todas as condições adversas incluindo falhas no sistema de prevenção? É possível. Que vão resultar consequências a todos os níveis? É inevitável. O mais importante é não perder tempo a tomar medidas para evitar, da forma mais certeira possível, próximas catástrofes. Que podem resultar das mais diversas origens e assumir as mais diversas formas. As pessoas em primeiro lugar, desde os responsáveis aos cidadãos comuns. E nas eleições autárquicas, cuja campanha já está em marcha, que se faça o escrutínio dos programas e respetivas ações concretas na prevenção de catástrofes. Será que alguém vai reparar nesse pormenor?
(Está neste momento a ocorrer um incêndio calamitoso no sul de Espanha - Huelva. A ver se o jornal El Mundo encomenda artigo ou reportagem ao seu jornalista anónimo especialista na matéria!)