Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, janeiro 23
KAVAFIS
Treze poemas de agosto X
Fotografia de Hélder Gonçalves (recorte)
Um pequeno poema
luxuriante.
Um ponto de luz
Incandescente.
É o silêncio ao fundo
da palavra
que não mente.
Faro, Agosto de 2008
domingo, janeiro 22
Treze poemas de agosto IX
Fotografia de Hélder Gonçalves (recorte)
Não me interessa o jogo
puro das palavras
deslizando
no papel branco da folha
que recorto e sujo
com a leveza da pena
que uso.
Não escrevo como quem bebe
um licor e se inebria
mas inebria-me a corrente
das palavras que escrevo.
Faro, Agosto de 2008
Sindicatos de Professores - outubro 2005
Eis a notícia, provavelmente de 30 de Outubro de 2005, da qual já não sei a fonte (Lusa?):
A Fenprof, que teve ontem um encontro com a tutela da Educação, revelou hoje em comunicado que, relativamente a eventuais colocações plurianuais, discordará dos mecanismos que impedirem os professores de tentarem, anualmente, mudar de escola para ficarem mais perto das suas famílias.
sexta-feira, janeiro 20
Treze poemas de agosto VIII
A terra eu sei o que é,
a ruga funda cavada no rosto
eu sei o que é, o mundo
do arado que desbrava o rego
e fende a raiz da semente
eu sei o que é, a levada
de água pura que levanta
a seiva de onde nasce o fruto
eu sei o que é, a terra
que esconde o mistério
da morte eu sei o que é,
a terra ganha sempre
Faro, Agosto de 2008
quinta-feira, janeiro 19
Treze poemas de agosto VII
ao céu da minha infância
vai um mundo de afectos
com princípios e sem fim,
somente me encontro aí.
Faro, Agosto de 2008
PROTOFASCISMO
Os movimentos protofascistas estão aí, com ampla cobertura dos OCS, de fininho ou à descarada, com o seu objetivo de sempre: destruir a democracia tomando o poder usando-o a seu favor. Os alertas são mais que muitos, cuidados e caldos de galinha, muita pedagogia e não temer utilizar os mecanismos democráticos para lhes barrar o caminho, antes que o caldo se entorne... se não se entornou já.
quarta-feira, janeiro 18
ÁRVORES E SOMBRAS
A natureza despe-se sem pudor apesar do olhar dos homens. Nasci com a escassez da água por entre os medos da seca e da fome. Mas a natureza não detém a sua marcha perante os receios do homem. No sul o frio é suave e temperado pelo mar e pela vizinhança de África. A minha terra fica mais próxima de África do que de Lisboa. Sempre nos esquecemos disso quando pensamos nos espanhóis. A sul a neve caiu de 1 para 2 de Fevereiro de 1954. Vi-a cair pela primeira vez debruçado de espanto da janela com vista para o meu mundo. A rua ficou branca e fiz bolas de jogar. Mas a neve na minha memória é quente. A nespereira familiar da minha infância prepara-se para dar frutos. Imagino o seu lugar no quintal de onde nunca saiu e se apresenta sempre viçosa às gerações que passam. Ela renova-se e parece imortal. A figueira do caminho do campo despida de folhas olha-me curiosa. O frio fê-la ficar nua e reparei que não se mexia nem tiritava nem sequer temia a sua morte anunciada. Ela sabe que no próximo verão ainda vai dar frutos suculentos. As árvores são um mundo de vida e de afectos para os artistas. Poetas, pintores, músicos, cineastas, fotógrafos ... muitos dos grandes artistas cantaram a natureza através das árvores. A sombra de cada árvore é diferente conforme a sua natureza. Cada sombra projectada por uma árvore tem vida própria e uma personalidade diferente conforme as espécies. As sombras das árvores são todas diferentes. Ir para a sombra era uma obsessão da minha infância. No sul o sol impõe as suas regras. As árvores no verão eram o lugar da sombra antes de serem o lugar dos frutos e da subsistência.
terça-feira, janeiro 17
Treze poemas de agosto V
Não escrevo palavras
pensamentos
desenho os sons delas
que por momentos
se inscrevem num lugar,
de mim ausentes
Faro, Agosto de 2008
segunda-feira, janeiro 16
A GUERRA
Fotografia de "Público"
“É sempre vão pretender quebrar um laço de solidariedade, apesar da estupidez e da crueldade dos outros. Não se pode dizer: “Ignoro-o”. Colabora-se ou combate-se. Nada é menos perdoável que a guerra e o apelo aos ódios nacionais. Mas uma vez surgida a guerra, é vão e cobarde querer afastar-se a pretexto de que se não é responsável. As torres de marfim acabaram. A benevolência é interdita. Por si própria e para os outros. Julgar um acontecimento é impossível e imoral se se está de fora. É no seio dessa absurda desgraça que se mantém o direito de a desprezar. A reacção de um indivíduo não tem qualquer importância. Pode servir para qualquer coisa mas nada a justifica. Pretender, por diletantismo, afastar-se e separar-se do seu ambiente, é dar prova da mais absurda das liberdades. Eis porque motivo era necessário que eu tentasse servir. E se não me quiserem, é igualmente necessário que eu aceite a posição do civil desprezado. Em ambos os casos estou no centro da guerra e tenho o direito de a julgar. De a julgar e de agir.”
Albert Camus, in Caderno” n.º 3 (Abril de 1939/Fevereiro 1942) – Tradução de Gina de Freitas. Edição “Livros do Brasil” (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).
Treze poemas de agosto IV
Ouço o som da terra
que freme
e se move
de encontro ao meu mar azul,
cor da felicidade
Faro, Agosto de 2008
domingo, janeiro 15
sexta-feira, janeiro 13
CONTRA A PENA DE MORTE, SEMPRE!
Em Lisboa, nos arrabaldes de Belém, o Duque de Aveiro e alguns membros da família dos Távoras foram publicamente executados, em 13 de Janeiro de 1759, por estarem implicados no atentado contra o rei D. José. A sentença foi aplicada de uma forma tão brutal e selvagem que foi muito criticada pela opinião pública internacional. Na gravura vê-se o patíbulo com os condenados a serem sentenciados e os seus carrascos; magistrados com as suas varas encarnadas e tropas de infantaria, com os seus tradicionais uniformes brancos com granadeiros de gorro de pele à direita da bandeira regimental, assim como de tropas de artilharia com os seus uniformes azuis. A legenda da gravura enumera os condenados.
quinta-feira, janeiro 12
quarta-feira, janeiro 11
POEMA ARGENTINO
Alfonsina Storni
Olho a minha família toda,
com a memória a abraço,
as mãos já não lhes chegam
perto e ao longe a aperto,
Olho nos olhos os que olhei
no dia escasso, mesmo que fosse
juvenil o abraço, sinto as mãos
nas minhas mãos e as aqueço,
Olho dentro de meus olhos
reflexos da luz branca, oiço vozes
amigas ao longe e as conheço,
Olho em volta e a todos vejo,
e na alegria sublime de os ver
é como se os tivera sempre perto.
Buenos Aires, 27/6/2011
terça-feira, janeiro 10
VEJO COISAS MUITO BONITAS
Vejo coisas muito bonitas por aí quando olho
À volta nos intervalos do tempo que me dá
De folga a atenção que depositam em mim
O mínimo gesto uma interjeição o silêncio
O bater do coração o resfolegar o protesto
No meio do tempo que vai a mais de metade
Acredito que as coisas bonitas que vejo por aí
São mesmo a verdade que invento e assim
Não me podem causar desalento nem sequer
No dia em que as achar as coisas mais ruins
2/5/2007
segunda-feira, janeiro 9
NO ANIVERSÁRIO DA MORTE DE MEU PAI DIMAS
Por aqueles dias da primavera de 1958 o meu pai perdeu o medo. Pegou-me pela mão e levou-me a ver a passagem por Faro de Humberto Delgado. Estávamos em plena campanha presidencial. Pela primeira vez, desde o imediato pós guerra, o poder de Salazar tremia. Delgado era destemido, até à beira da loucura, segundo os seus detractores. A sua candidatura forçou à desistência de Arlindo Vicente, candidato apoiado pelo Partido Comunista. Humberto Delgado fez-se ao caminho e arrastou multidões até às urnas. Eu também lá estive pela mão do meu pai. Seguimos de Faro para Olhão onde a recepção foi apoteótica. Nunca hei-de esquecer a mão quente de meu pai apertando a minha. Eu não sabia ainda o significado da palavra fascismo. Mais tarde Humberto Delgado foi assassinado pelos esbirros da PIDE. Os assassinos morreram na cama. É revoltante. Tenho medo de sentir esta sensação de revolta perante a tolerância da democracia. Mas a tolerância, afinal, nunca é excessiva. Aprendi isso com o meu pai. Era um comerciante honrado. Morreu no dia 9 de Janeiro de 1992.
domingo, janeiro 8
PRIMEIRA IMAGEM
Em 8 de janeiro de 2005 a primeira imagem publicada neste blogue. Fotografia do meu amigo Hélder Gonçalves (um grande fotógrafo!).