terça-feira, maio 11

Imigração, Desemprego e Envelhecimento Activo

O artigo com o título em epígrafe pode ser lido aqui, clice em Semanário Económico

XANANA GUSMÃO

Ana Sousa Dias entrevistou Xanana Gusmão . Um Chefe de Estado que enverga as vestes de um cidadão. Uma autêntica lição de vida, bom senso e autenticidade.

Um dia, a propósito das celebrações do 25ª aniversário do 25 de Abril (1999), pedi a Xanana, através de Pascoela Barreto, um poema. Pascoela Barreto é a Embaixadora de Timor em Portugal tendo integrado a "Comissão para o Acolhimento e Integração Social da Comunidade Timorenses em Portugal", à qual presidi, a título gracioso, durante vários anos. O poema destinava-se ao projecto "A Poesia Está na Rua". Ele foi rápido na resposta e o poema original foi integrado na colectânea então organizada.

A humanidade e espírito de tolerância é a característica marcante da personalidade de Xanana Gusmão. Isso mesmo transpareceu ao longo de toda a entrevista. Relembrou a questão que se pôs a si próprio nos meandros da condução da luta de guerrilha: "Serei um assassino?". Uma questão difícil que raros homens de Estado seriam capazes de colocar em público.

Assim como as questões da conciliação do exercício do poder e da humanidade nas relações com os guerrilheiros e as populações: "Chorar ou não chorar". Como ganhar frieza para enfrentar a dizimação de uma força de milhares de homens reduzida a um punhado de 700.

Ficar isolado e esquecer o medo de morrer sem perder o medo de morrer. Entregar-se ao inimigo para salvar a luta de libertação de um povo. Deixar fluir a capacidade de entender todos os lados mesmo aqueles que, aparentemente, estão do outro lado.

Um exercício plenamente assumido de tolerância. Uma arte de ser humano sem perder a autoridade.


Comentários de Leitores

Caro Eduardo Graça:
Apreciei o seu post intitulado:Atrocidades. Pouco tenho a acrescentar ao que nos diz. Lamento, no entanto que não tenha dado um sublinhado maior ao seu último parágrafo sobre a dívida de honra que aquele galarote empertigado (que nunca foi à tropa mas que é hoje ministro de Estado e da Defesa) tem para com o Sr. Ramsfeld.
Permita-me fazer aqui uma pequena chamada de atenção para a declaração, sempre empertigada (claro está) do dito senhor que no dia do funeral do Sr. Champalimau. Dizia ele, que deviam haver 100 homens como Champalimaud em Portugal. Ao ouvi-lo lembrei-me, com ironia, que não me parece que moleques sem carácter e de jeitos amaneirados fossem do gosto do defunto e que Deus tenha a sua alma em descanso
Cumprimentos
MGGR

segunda-feira, maio 10

ATROCIDADES

"Fotos de sevícias a prisioneiros mostradas 2ªfeira a Bush no Pentágono

O presidente norte-americano, George W. Bush, viu segunda- feira uma selecção de fotos que mostram sevícias infligidas a prisioneiros iraquianos, durante a sua reunião no Pentágono com o secretário da Defesa Donald Rumsfeld, indicou um alto responsável da Defesa.

"O secretário (da Defesa) mostrou-lhe uma selecção bastante representativa", declarou este responsável. "Ele (Donald Rumsfeld) mostrou-lhe vários exemplos de actos" que eram cometidos, com fotos a cor de grande formato.

As fotos são descritas por este alto funcionário como "inquietantes" e estão entre aquelas que não foram ainda divulgadas ao público.

As fotos mostram humilhação de prisioneiros e "comportamento impróprio" de natureza sexual, disse a fonte.

Bush e outros altos responsáveis da administração tiveram segunda-feira no Pentágono uma reunião de informação sobre a situação no Iraque, que durou mais de uma hora.

O porta-voz do Pentágono, Larry DiRita, explicou que estavam em curso discussões entre o Pentágono e o Congresso norte-americano sobre a forma de tratar essas fotos e sobre a sua difusão ou não junto do público." - Lusa

As guerras são o horror institucionalizado. As guerras têm os seus heróis, muitas vezes, criminosos legitimados pela necessidade de sobreviver. Todos sabemos isso. Das revoluções se pode dizer o mesmo.

E em cada um dos campos em confronto, ao nível da propaganda, adoptam-se dispositivos para justificar as atrocidades. Quando se chega ao ponto de reconhecer as atrocidades é porque se não conseguiu escondê-las. Esse reconhecimento, ao contrário do que proclamam os "ex-liberais de esquerda", rendidos ao conservadorismo rastejante, que dominam a comunicação social portuguesa, não é uma vantagem das democracias.

Os chefes políticos, sejam democratas ou autocratas, das mais poderosas potências e dos mais poderosos exércitos consideram, em privado, uma tragédia ter de lidar com a verdade cruel das imagens que não conseguem esconder. Preferem assim usar a táctica do "contra-fogo". É trazer o horror para dentro da própria casa, de forma controlada, para limitar os danos da sua difusão descontrolada.

Bush tenta salvar-se salvando Rumsfeld e mostrando as imagens das atrocidades do seu exército que escolher mostrar. Esta operação de salvamento, em desespero de causa, fez-me lembrar que o nosso Ministro da Defesa recebeu uma visita, de alguns minutos, do seu homólogo Rumsfeld, por acaso, na véspera de ser ouvido como testemunha no "Caso Moderna". Agora é Rumsfeld que passa por uma hora difícil. Espera-se que, a qualquer momento, o nosso Ministro retribua com uma visita breve ao seu amigo americano dando-lhe o conforto de uma palavra de ânimo.

Assim ficariam quites. Mas têm de se "despachar" caso contrário pode ser tarde demais para ambos.

Fragmentos de Leituras

"Ao piano, a dedilhação...

...Ora eu toco mal - além da ausência de velocidade, que é um puro problema muscular - é porque nunca respeito a dedilhação indicada: improviso, em cada nova execução, como posso, o lugar dos meus dados, e por isso não consigo tocar nada sem erros. A razão disto reside evidentemente no facto de eu desejar um prazer sonoro imediato e recusar a massada da amestragem, pois o treino impede o prazer - ainda que, dizem, com vista a um maior prazer ulterior (tal como os Deuses a Orfeu, diz-se ao pianista: não se volte prematuramente para os efeitos da sua execução). A peça, na perfeição sonora que para ela imaginamos sem nunca a atingir realmente, age então como uma ponta de fantasma: submeto-me alegremente à palavra de ordem do fantasma: "imediatamente", ainda que seja à custa duma perda considerável de realidade."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -8
(Fragmento 1 de 3, pag. 5)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Na página cinco deste "livro artesanal" surge o meu primeiro comentário com interesse: "o prazer de comunicar uma leitura (difícil) mas apaixonadamente atraente." Fica, assim, explicada a razão de ser da empresa a que me dediquei.


(Este post é a versão correcta do que surge a seguir que será apagado quando conseguir resolver um inopinado problema técnico)

JOAQUIM AGOSTINHO

Passam hoje vinte anos desde o dia da morte de Joaquim Agostinho. O Diário de Notícias não esqueceu a data. Ainda bem. Uma lenda do desporto português do século XX. O maior ciclista português de sempre.

A sua morte foi um acontecimento traumático para a sociedade portuguesa. Eu senti a sua morte como uma profunda injustiça. Como a pior traição que uma sociedade egoísta de um país atrasado pode perpetrar contra um dos seus melhores filhos.

Esse país tem o nome de Portugal e não mudou assim tanto ao longo destes 20 anos. Hoje abro uma excepção em memória de Joaquim Agostinho. Publico um texto que escrevi no dia da sua morte e que integra o meu livro de estreia.

Homenagem a Joaquim Agostinho no dia da sua morte

De repente damo-nos conta de que país é este, pequeno pobre e triste país. O sul fica a milhares de kilómetros do centro, o norte toca no pólo, as fronteiras alargam-se de ponta a ponta do universo. Um deserto com gente de sentimentos, esquimós e ursos, um requinte de civilização universal, modelo último que todos procuram seguir. Gente atenta e versátil olhando a comunidade e honrando as responsabilidades e os deveres. Para quê tarefas e lugares definidos? A todos a sua opinião! Para quê iniciativas e esforços abnegados? Todos temos projectos sem fim, grandiosos e bem sucedidos! Tudo marcha à medida da nossa grandeza! Para quê heróis e mitos ou gerações triunfantes? Todos somos candidatos a heróis e todas as gerações tiveram os seus dias de glória! Preservar as riquezas para quê? Só há um tipo de riqueza: a nossa própria. Um só tipo de liberdade: a de lhe fazermos o que nos apetecer de preferência não a gozar nem deixar que o país dela goze. Empresários somos dos nossos próprios detritos. Libertadores somos das nossas responsabilidades. Deixemos morrer os heróis às suas mãos! O país morrerá com eles na incúria dos seus gestos envergonhados que se crispam de espanto a cada nova perda. Um país que morre em paz. Um coma profundo de que poucos se dão conta. Um horizonte de desesperança sem fim. Deixem-no morrer em paz. Ele se fez a si próprio. Atravessou gerações sempre no topo. Conquistou admirações em todo o lugar que regou com o seu suor. Fez-nos sonhar e nada lhe podemos dar agora. Oito horas são muito tempo. De quem é a culpa? De todos e de ninguém!

(In "Ir pela sua mão" - Editora Ausência)

Despromoções e Sucessos

A minha escassa informação desportiva deste fim-de-semana deu para perceber que o F.C. Porto fez a festa de campeão, o Benfica arrancou um segundo lugar, o Sporting foi o grande derrotado da época e o Belenenses não desceu. Parabéns ao Ludgero. Esta foi, certamente, a mais importante notícia do dia para ele. Do Farense não sei nada mas o destino deve estar traçado: 3ª Divisão.

Mas verdadeiramente importante foi a classificação para os Jogos Olímpicos de Atenas da Naide Gomes que vai ser uma fonte de alegrias para os portugueses nos próximos anos. Espera-se, é claro, ter alguma informação acerca dos seus sucessos sempre "tapados" pelas notícias vorazes do futebol.

Aniversário

Hoje (9 de Maio) é o dia de aniversário da Guida. Juntando outro compromisso familiar fizemos, no fim-de-semana, uma viagem "cá dentro". A comemoração foi cumprida como ela queria. Sem festejos, assumidos como tal, mas num ambiente de viagem. Aqui ficam os meus parabéns (versão publica). Pois sabem que ela não tem um blog mas foi a principal responsável pelo título do Abébia (depois vadia).

O passeio foi descontraído e ameno. De feição (es)cultural na designação de meu filho MM. De comboio e com a chuva a ameaçar de princípio. Mas com o passar do tempo o sol facilitou as deambulações. O comboio é um amigo do viajante e os táxis cumprem quando se tem sorte e foi o caso. Converso com os taxistas. Compreende-se, nessas conversas, o Estado da Nação. É mau. Está confirmado. O estado da "família alargada" é, pelo contrário, razoável, senão mesmo bom.

Até encontrei, como já sabia que ia encontrar, a "Miúda" que edita um blog estupendo. Conversamos pouco. Fica para a próxima. As prendas foram compradas no destino e ofertadas na hora. Não falhamos os objectivos traçados. No balanço comprei, para mim, o último livro editado do Gastão Cruz:"Repercussão". É um poeta universal mas natural da minha terra, que é a terra da Guida, Faro. Ele foi até meu explicador, julgo que de Francês, certamente, no meu atribulado 4º ano do liceu.

Na viagem de regresso li-o. Tem muitas ressonâncias que eu próprio identifico com os lugares que adivinho conhecer e os ambientes que foram aqueles em que vivi a infância e adolescência. Aqui fica um poema, curto, desse livro:

ENTÃO A VOZ

Então a voz passou por cima
do oceano
e era som de vagas

o mesmo som ouvido nos verões
quando a luz sobre a pele
se transformava em água


quinta-feira, maio 6

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

É surpreendente a capacidade para descobrir o já descoberto. As notícias da presidência aberta acerca do "estado da educação" são pontuadas, aqui e ali, por uma ignorância profunda dos jornalistas que asseguram a cobertura. A realidade resiste a ser descoberta desde que não esteja no terreno do interdito, ou seja, do socialmente escandaloso.

O estereótipo das antigas "escolas técnicas" substitui no imaginário colectivo a realidade do presente ensino profissional. Não há já em lado nenhum o antigo "ensino técnico". Deixou marcas mas morreu. Não se recomenda. Era fruto de uma cultura elitista. Eu fiz exame de admissão, como os jovens da minha geração que concluíam a 4ª classe, ao liceu e à "escola técnica". Passei nos dois. Fui para o liceu!

Havia uma profunda diferenciação social e de expectativas de futuro entre uma e outra opção. O acesso à escola massificou-se, ao longo dos anos 60, explodindo depois do 25 de Abril.

Hoje existe, em Portugal, ensino tecnológico e profissional, frequentado por 30% dos alunos do Ensino Secundário. No ano lectivo de 2003/2004 frequentavam o Ensino Secundário Regular 277.883 alunos, sendo que destes 83.469 frequentaram o ensino tecnológico e profissional. Destes, 31.702 frequentam 264 Escolas Profissionais. (Os números são referentes a Portugal Continental).

Em 1989 o número de alunos que frequentavam o Ensino profissional era próximo de zero. Estamos afastados da meta dos 50% mas em 14 anos atingir os 30% é obra. Não sejamos masoquistas. A questão do abandono escolar é outro assunto. Mas o ensino profissional á uma boa ajuda também para esse combate. A sociedade portuguesa vive na expectativa de acolher jovens quadros técnicos formados no ensino tecnológico e profissional. Aí completam o ensino secundário, ou seja, o 12º ano.

Conheço essa realidade. Estive associado, de 1989 até 1993, à criação das Escolas Profissionais. Não são uma alternativa menor. São sim uma alternativa maior. Este projecto já está descoberto e no terreno há muitos anos. É preciso é que lhe seja dada a devida importância política e apoio institucional para que possa crescer e desenvolver-se no interesse nacional e prosseguindo os objectivos definidos pela chamada estratégia de Lisboa da U.E..

Fragmentos de Leituras

A relação privilegiada


Ele não procurava a relação exclusiva (possessão, ciúme, cenas); também não procurava a relação generalizada, comunitária; o que ele queria era, de todas as vezes, uma relação privilegiada, assinalada por uma diferença sensível, remetida ao estado de uma espécie de inflexão afectiva absolutamente singular, como a de uma voz de timbre incomparável; e, coisa paradoxal, ele não via qualquer obstáculo a que essa relação privilegiada fosse multiplicada: nada senão privilégios, em suma; a esfera da amizade era assim povoada por relações dualistas (donde uma grande perda de tempo: era preciso estar com os amigos um por um: resistência ao grupo, ao bando, ao magote). O que era procurado era um plural sem igualdade, sem in-diferença.

Como diz Freud (Moisés), um pouco de diferença leva ao racismo. Mas muitas diferenças afastam dele, irremediavelmente. Igualar, democratizar, massificar, todos estes esforços não conseguem expulsar "a mais pequena diferença", gérmen da intolerância racial. O que era preciso era pluralizar, subtilizar desenfreadamente."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -7
(Fragmento 2 de 2, pag. 4)

Edição portuguesa: "Edições 70"

As sevícias

Homem nú com trela: A notícia é perturbadora.

Dar lições de civilização ao mundo árabe é algo que se está a mostrar uma tarefa complexa para os EUA e seus aliados. Aliás as civilizações são algo muito complexo.

Não sei se os altos responsáveis dos EUA percebem algo da matéria. Mas devem dispor de conselheiros e especialistas. Acontece que existem diversas civilizações, diversas religiões, diversas tradições, línguas, ou famílias de línguas, em suma, diversidade.

A diversidade carece de ser reconhecida e certamente que os altos responsáveis de todas as partes em conflito a reconhecem. Mas falta a capacidade de aceitação das diferenças. Aí está a fronteira entre o fanatismo e a tolerância.

É esta capacidade de aceitação que está em deficit nos conflitos no Iraque e, em geral, no Médio Oriente. Ninguém, de boa fé, acredita que a paz se alcance, neste caso, com a guerra. Não se trata de combater uma ideologia totalitária, expansionista e alucinada, como no caso do nazismo, mas uma tendência, ou uma corrente, radical do Islão. A religião estabelece toda a diferença.

Combatem-se os extremistas e os fanáticos isolando-os dos povos de que são originários e não dando razões aos povos para apoiar os extremistas e os fanáticos. As notícias de violência sobre prisioneiros e, em particular, as sevícias são mais uma acha para a fogueira do fanatismo.




quarta-feira, maio 5

ABANDONO ESCOLAR

A propósito deste importante tema, abordado pelo Presidente da República na "presidência aberta" em curso, podem ler o artigo que publiquei no dia 2 de Abril passado clicando em Semanário Económico

Trabalhar faz mal à saúde

Manchete do Expresso online refrente aos dados de um estudo do Eurostat acerca da "segurança e saúde no trabalho" nos países da UE ainda a 15.

Este é um exemplo de "manchete enganosa" que vai ao encontro de um sentimento comum que em nada abona o jornalismo nem estimula as boas práticas sociais.

VEJA A NOTÍCIA AQUI

Fragmentos de Leituras

"Os amigos


Por vezes, na antiga literatura, encontramos esta expressão aparentemente estúpida: a religião da amizade (fidelidade, heroísmo, ausência de sexualidade). Mas, uma vez que da religião apenas subsiste ainda o fascínio do rito, ele gostava de conservar os pequenos ritos da amizade: festejar com um amigo a conclusão dum trabalho, o afastamento de uma preocupação; a celebração reforça o acontecimento, acrescenta-lhe um suplemento inútil, um prazer perverso. Assim, por magia, este fragmento foi escrito em último lugar, após todos os outros, como que à maneira de dedicatória (3 de Setembro de 1974).

É preciso fazer esforço para falar da amizade como de uma pura tópica: isso liberta-me do campo da afectividade - que não poderia ser referida sem embaraço, já que é da ordem do imaginário (ou melhor, reconheço pelo meu embaraço que o imaginário está muito perto: estou a escaldar)."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -6
(Fragmento 1 de 2, pag. 4)

Edição portuguesa: "Edições 70"

Abandono escolar: o Presidente tem Razão

Hoje na Escola Profissional de Idanha-a-Nova o Presidente disse aquilo que tem de ser dito acerca do abandono escolar. O abandono escolar é uma tragédia nacional.

Divulguei no absorto e no Semanário Económico, tempos atrás, os dados desta tragédia. Dando um forte sinal público da gravidade da situação o Presidente da República cumpre a preceito a sua função.

A mim, em particular, muito me apraz que o tenha feito numa escola profissional pois fui, desde 1989, coordenador da equipa de projecto que no Ministério da Educação dinamizou a criação das escolas profissionais no nosso país.

O desenvolvimento e crescimento da oferta de ensino profissional é uma das respostas mais eficazes para combater o abandono precoce da escola.

BELENENSES

Tenho o mesmo problema!!! Sou do Belenenses e os meus amigos do Sporting, Benfica ou do FCP não acreditam que alguém possa ser de um clube que nunca será Campeão Nacional. Porquê??? Pela mesma razão dos que acham que não se deve votar num partido que não poderá ganhar eleições.

"É o único clube que me faz sofrer." Discordo desta tua frase. O Belenenses é o clube que mais me faz sofrer: tenho andado angustiado sempre que penso no jogo decisivo que ocorrerá no próximo domingo com o Braga. Só ganhando teremos a certeza de não baixar de divisão!!! Mas discordo do único porque tenho sofrido muito com os jogos do FCP na Liga dos Campeões.

De resto, estou de acordo contigo. Temos amigos comuns que pensam de outra forma!!! Teremos de continuar a ter paciência com eles...

(Texto enviado pelo meu amigo Ludgero Pinto Basto comentando o post FCP)


FCP

Hoje não podia deixar passar em claro o FCP. Quando digo que sou do Farense todos pensam que pretendo esconder um secreto fervor benfiquista. Não é verdade. Sou mesmo do Farense. Desde a mais tenra idade. É o único clube que me faz sofrer. É, ao que suponho, pelo sofrimento que se mede a temperatura do fulgor clubista.

Mas é bom que exista em Portugal, hoje e agora, o FCP. O FCP em campo é tudo ao contrário do espírito da época que se vive em Portugal. Organização e estratégia, crença na vitória e espírito de luta, optimismo e realismo, trabalho e risco…uma imagem de um grupo sem fama universal que ganha mesmo e parece crescer em determinação com a adversidade.

Haverá quem não sinta orgulho ou mesmo que se corroa de inveja com os êxitos do FCP. Mas esses são os mesmos que tornam Portugal mais pequeno, mais triste e mais pobre. É deixá-los morrer desde que não queiram levar consigo para o fundo o melhor de nós e do nosso Portugal.

terça-feira, maio 4

Fragmentos de Leituras

"Decompor/destruir


Admitamos que a tarefa histórica do intelectual (ou do escritor) seja hoje em dia acentuar a decomposição da consciência burguesa. Será então necessário conservar na imagem toda a sua precisão; isto quer dizer que fingimos voluntariamente permanecer no interior dessa consciência e que vamos a seguir corroê-la, rebaixá-la, fazê-la ruir, no próprio local, como faríamos com um bocado de açúcar ao embebê-lo em água.

A decomposição opõe-se portanto aqui à destruição: para destruir a consciência burguesa é preciso estar ausente dela, e essa exterioridade só é possível numa situação revolucionária: na China, hoje em dia, a consciência de classe está em vias de destruição, não de decomposição; mas noutros lados (aqui e agora) destruir não seria afinal senão reconstruir uma ligação de palavra cujo carácter exclusivo seria a exterioridade: exterior e imóvel, assim é a linguagem dogmática.

Para destruir é preciso, em suma, poder saltar. Mas saltar para onde? Para que linguagem? Para que centro da boa-consciência e da má-fé? Ao passo que, decompondo, aceito acompanhar essa decomposição, decompondo-me a mim mesmo a par e passo: escorrego, agarro-me e arrasto."

"Roland Barthes por Roland Barthes" -5
(Fragmento 3 de 3, pag. 3)

Edição portuguesa das "Edições 70"

AMIGOS

O Eurico que me enviou o texto abaixo publicado é o melhor amigo da minha primeira juventude vivida em Faro. Ele e o Assis. Os três, anos a fio, fomos companheiros inseparáveis. Na escola, na rua e na praia que frequentamos na nossa cidade de Faro.

Lembro as aulas de piano da D. Simone, mãe do Eurico, na sua casa, à Pontinha. Ao contrário dele, exímio pianista, nunca cheguei verdadeiramente a aprender. Mas fiz o gosto a minha própria mãe. Partilhamos um longo percurso de vida repleta das discussões, estudos, descobertas e perplexidades próprias da juventude.

No dia em que me desloquei a Lisboa para fazer o exame de admissão a Económicas foi acolhido em casa de seu pai. Nunca deixou de me dar todas as atenções. Não esqueço. Descobri depois que divergimos nas opções ideológicas e políticas. Coisa de somenos. Mas não divergimos na estima recíproca e na difícil disciplina da verdadeira amizade.

Obesidade mental

Foi em 2001 que o Prof. Andrew Oitke publicou o seu polémico livro Mental Obesity, que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral. Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.

"Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada. Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses."

Segundo o autor, "a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada. Os cozinheiros desta magna fast-food intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema. Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação."


O problema central está na família e na escola. "Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate. Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas. Com uma "alimentação intelectual" tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada."


Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado Os abutres, afirma: "O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular."

O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante. "Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais." Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura. "O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades. Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy. Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve. Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê. Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto."

As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras. "Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo. Não se trata de uma decadência, uma "idade das trevas" ou o fim da civilização, como tantos apregoam. É só uma questão de obesidade. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos. O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa sobretudo de dieta mental."

(Texto enviado pelo meu amigo Eurico Pimenta de Brito)