sexta-feira, novembro 19

Secretários de Estado por 4 meses, desemprego sobe

Os fenómenos estranhos são apresentados sob a capa da maior normalidade. Um Secretário de Estado de “última hora”, do PSD, “encostado” ao Dr. Portas, no Ministério da Defesa, sai o mais discretamente possível. Pasta sensível: "antigos combatentes."

Ficaram "amigos para sempre". Motivos da saída: "pessoais”. O habitual, mas 4 meses é muito pouco tempo.

Quais serão as verdadeiras razões? Alguma coisa se saberá quando surgir o sucessor?

“O ministro da Defesa elogiou hoje o secretário de Estado dos Antigos Combatentes, que vai deixar o cargo, sublinhando a relação "impecável e excelente" que mantiveram no Governo.
"Agradeço-lhe imenso a colaboração que me deu. Ficámos amigos", disse Paulo Portas para José Pereira da Costa, que anunciou hoje deixar o Governo por motivos pessoais.”


O ex-secretário de estado não é, certamente, mais um desempregado. Mas, por coincidência, foi divulgada a taxa de desemprego referente a Outubro: subida de 4,4%, face a Outubro de 2003.

A propósito sabiam que esta semana foi substituída a equipa dirigente do IEFP?

“O número de desempregados inscritos nos Centros de Emprego aumentou 4,4 por cento em Outubro, face ao mesmo mês do ano anterior, revelou hoje o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP).
No final do mês de Outubro estavam inscritos nos Centros de Emprego do Continente e Regiões Autónomas 467.809 indivíduos, mais 19.892 que no período homólogo de 2003.”


Notícias LUSA

Mário Soares Alerta

Não é a primeira vez que este tema vem à baila. Tenho ouvido, vezes sem conta, da boca das mais diversas categorias de cidadãos esta frase: “um dia destes vai haver uma revolta popular!”.

Tudo tem os seus limites! Estão ultrapassados, em muitas aspectos da vida portuguesa contemporânea, os limites do tolerável pelas pessoas de bom senso. Só não vê que não quiser ver.

Mário Soares, em vésperas de fazer 80 anos, só confirma uma situação de extrema crispação que paira no ar. Assino por baixo.

“Mário Soares alerta para o perigo de "revoltas descontroladas" em Portugal

Mário Soares afirmou ontem à noite, no Porto, que só a restituição da voz aos cidadãos pode evitar "revoltas descontroladas" e que só ainda não houve "aventuras militares" devido à integração de Portugal na União Europeia.”


Referendo - um péssimo começo

A pergunta, segundo surgiu a público, acordada entre a maioria (PSD/PP) e o PS, para colocar aos portugueses no referendo à Constituição para a Europa é esta:

"Concorda com a Carta de Direitos Fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da União Europeia, nos termos constantes da Constituição para a Europa?"

Ninguém percebe nada, não é? Estão a gozar com o pagode, não é? A campanha para o referendo, envolvendo o PR, o “Bloco Central” e alguns europeístas convictos, seria uma penosa tarefa transformando uma questão simples na maior das trapalhadas da história de 30 anos de democracia em Portugal.

A minha antevisão, para o resultado do referendo, se a pergunta fosse esta: 70% de abstenção.

Querem tornear uma revisão constitucional, não é? Mas não é possível a não ser com o sacrifício do mais importante: a plena participação de Portugal no projecto da UE ou a própria UE.

quinta-feira, novembro 18

Os Nossos

Os críticos não têm credibilidade. Os relatórios críticos não têm credibilidade.

Os críticos querem-se amigos e os relatórios previamente concertados.

Com muito contraditório. De confessionário. O pecador ajoelha e confessa os seus pecados.

O confessor, aquele que ouve confissões, decidirá, em consciência, a penitência a prescrever.

Tudo no maior sigilo. Em família. Os negócios sérios fazem-se na grande família. Assim seja.

O grande problema das democracias é a opinião pública. Opinião pública já se sabe que existe.

Mas não abuse das liberdades. As opiniões querem-se diversas mas cumpridoras, contrárias mas escorreitas, contestatárias mas previsíveis.

O sistema democrático só funcionará em pleno com uma informação domesticada.

Trata-se de uma operação muito simples para os audazes mentores do modelo nacional populista: os “nossos” aos lugares de chefia.

Simples. Só isso. Mais nada.

Absorto - Um Ano

No dia 19 de Dezembro de 2003 escrevi, a título experimental as primeiras palavras neste blog: “Estreia absoluta. Um lugar de comunicação. Experiência para a primeira impressão dos outros. Uma primeira audição para inicio de trabalho.”

A propósito do 1º aniversário do absorto, efeméride quase familiar, vou publicar, a partir da próxima 2ª feira, um conjunto de posts com ressonâncias autobiográficas abrangendo acontecimentos de um longo período e sem sequência cronológica. Neles se misturam acontecimentos reais, de muitas épocas, nos quais participaram alguns protagonistas que, por vezes, não refiro.

A ideia nasceu da necessidade, meramente subjectiva, de relatar alguns acontecimentos únicos dos quais nasceram experiências pessoais enriquecedoras, nalguns casos, envolvendo riscos físicos não desprezíveis.

É, aliás, a continuação da série de 32 posts, sob o título genérico “25 de Abril - notas pessoais”, que publiquei nos meses de Março e Abril, aquando do 30º aniversário do 25 de Abril.

Quero, desta forma, assinalar esta aventura quotidiana, puramente individual, de manter vivo e actuante, durante um ano, um blog sem dependências de qualquer natureza.

Vou continuar mesmo que pairem no ar ameaças de censura que se estendem a todos os meios de comunicação, verdadeiramente livres, de que os blogs são, certamente, nos nossos dias, a expressão mais crítica e demolidora face a todos os poderes instalados.

Tenho a convicção de que os poderes convivem mal com a liberdade de crítica, mas que a liberdade de crítica sobreviverá, sempre, a todos os poderes.


terça-feira, novembro 16

Está frio. Acho bem. É o tempo.

Está frio. Acho bem. É o tempo. O PR adiou a agenda. Acho bem. É o tempo.

Fui ao médico. Acho bem. É o tempo. Estou doente. Acho bem. É o tempo.

Não há crise na coligação. Acho bem. Não está no tempo.

O primeiro-ministro disse umas piadas. Acho bem. Antes que se faça tarde.

Que idade terá o Dr. Portas em 2014? Acho bem. A idade dá respeitabilidade.

Que declarações fará o Dr. Portas em 2014?

Umas tiradas de extrema-direita assumida. Acho bem. Mais vale assim.

Ainda existe coligação? O PR acha que sim? Acho bem. Estabilidade! Estabilidade! É precisa!

O orçamento é compatível com a dita? O endividamento das famílias aumentou? Acabou a austeridade?

Acho bem. Já não era sem tempo. Voltaram os tempos do consumo!

A Dra. Manuela Ferreira Leite era uma “bruxa má”. Acho bem. Morte à bruxa má!

Vamos refundar o PSD? Criar o PSL (Partido Social Liberal) como vaticina o Pacheco. Acho bem. Estabilidade! Estabilidade e Segurança!

Vamos partir isto tudo! Como proclama o Alberto João? Acho bem. Isto já chateia!

O PR adiou a agenda devido a uma inflamação nas “vias aéreas superiores”? Acho bem.

Eu adiei a agenda devido a uma inflamação nas “vias subterrâneas inferiores”. Acho bem.

Como cidadão comum as minhas queixas não podiam ganhar outra altura.

Cada um se inflama conforme a sua condição. Não onde quer, mas onde pode.

Está frio. Acho bem. É o tempo.


Ingerência? Qual ingerência?

A propósito da demissão, em bloco, da direcção de informação da RTP.

Está mais que provado que nestas coisas não há ingerência (“interferência”, “intromissão” – Houaiss). Só mesmo coincidência (“ocorrência simultânea”).

Reparei ontem no fluxo de informação acerca da demissão do director de informação da RTP, e equipa, e é assinalável que a LUSA tenha colocado a notícia “no ar” às 19,22 h., depois de todos os outros meios de comunicação, antecedida de uma notícia desmentindo que tinha havido censura ao “Contra-Informação” que no dia anterior foi interrompido por “problemas técnicos".

A própria RTP “omitiu” a notícia remetendo-a para rodapé (pelo menos quase até ao fim do telejornal). A agência noticiosa oficial e o canal público de televisão fizeram objectivamente um bloqueio à notícia, atrasando-a e remetendo-a para o lote das notícias menores.

É a política dos “glutões” aqueles que “lavam mais branco”. Mas qualquer dia não há fazenda para lavar. Pensem nisso.

Direcção de Informação demitiu-se em blocoConselho de Redacção da RTP considera "abusivo" relacionar demissão com ingerências

Noções de linguística

Ouço os meus filhos a falar inglês
entre eles. Não os mais pequenos só
mas os maiores também e conversando
com os mais pequenos. Não nasceram cá,
todos cresceram tendo nos ouvidos
o português. Mas em inglês conversam,
não apenas serão americanos: dissolveram-se,
dissolvem-se num mar que não é deles.
Venham falar-me dos mistérios da poesia,
das tradições de uma linguagem, de uma raça,
daquilo que se não diz com menos que a experiência
de um povo e de uma língua. Bestas.
As línguas, que duram séculos e mesmo sobrevivem
esquecidas noutras, morrem todos os dias
na gaguês daqueles que as herdaram:
e são tão imortais que meia dúzia de anos
as suprime da boca dissolvida
ao peso de outra raça, outra cultura.
Tão metafísicas, tão intraduzíveis,
que se derretem assim, não nos altos céus,
mas na merda quotidiana de outras.

Jorge de Sena

Caliban, 3/4, 1972

segunda-feira, novembro 15

sábado, novembro 13

Discursos significativos

Constâncio falou. Não era sem tempo. Guterres orou. Já era tempo. Análises estruturadas e críticas da situação internacional e nacional. A gestão dos silêncios tem falado mais alto. Constâncio fala limitado pela função. As suas críticas ao Orçamento de Estado para 2005 acolhem o acordo do Ministro das Finanças. São tácticas para neutralizar danos e manter abertas as portas do diálogo. De qualquer modo a margem de manobra do ministro das finanças tem vindo a estreitar-se.

Guterres fala iluminado pela estrada de Belém. Chegou a hora de dar sinais públicos da sua disponibilidade para a candidatura presidencial. O discurso de Guterres é um pré anúncio de uma candidatura. Qual? É só esperar os próximos sinais. Mas as suas últimas palavras são eloquentes:

“Sei que por vezes nos sentimos num plano inclinado, viscoso e escorregadio, com um sentimento de impotência, como se nada pudesse evitar o deslizamento para baixo.

Talvez vivamos num plano inclinado e escorregadio. Mas há pelo menos duas coisas que sempre podemos fazer: Cravar uma estaca a que nos fixemos, seja ela feita de valores, de projectos ou do exemplo da acção e dar as mãos aos que ao nosso lado queiram subir connosco.

Talvez venhamos a descobrir que, um pouco mais acima, o plano deixa de ser escorregadio, mas feito de terra firme. Assim, ainda que íngreme, poderemos subi-lo mais depressa, em nome de um Portugal solidário, confiante, seguro de si e do seu futuro, em nome de uma Europa politicamente mais forte, unida e actuante e em nome da justiça nas relações internacionais, ao serviço de um Mundo melhor.”

Ver o discurso de Guterres, na íntegra, em IR AO FUNDO E VOLTAR.

sexta-feira, novembro 12

O PS na Frente

As sondagens, nos próximos tempos, vão apresentar sempre um resultado semelhante a este. Nada que possa constituir surpresa.

O problema não é a maioria absoluta do PS é o PS da maioria absoluta.

"Um mês após a eleição de José Sócrates como secretário-geral do PS, os socialistas registam uma acentuada subida na intenção de voto dos portugueses. Com 40% na sondagem EXPRESSO-SIC-Renascença/Eurosondagem, o PS tem três pontos percentuais de vantagem sobre a soma de votos dos dois partidos da coligação governamental, PSD e CDS. E na projecção da Eurosondagem, com base num exercício meramente matemático de distribuição dos indecisos, os socialistas podem mesmo aspirar à maioria absoluta, com 44,7%, contra 36% do PSD e 5,5% do CDS."

Expresso on line

quinta-feira, novembro 11

"Na morte do palestiniano"

Reparei no post, com o título em epígrafe, na NATUREZA DO MAL. Comungo do seu teor e tomo-o como meu.

"Era um homem com a pátria ocupada. Teve de fugir do Líbano aquando de uma grande matança de que o mundo civilizado e os seus irmãos árabes foram cúmplices e onde se forjaram os terroristas de hoje. Viveu na escuridão de uma antiga prisão colonial britânica. Foi-lhe negado o chão de Jerusalém por sepultura. Também o nosso Afonso Henriques foi brutal, Charles Magne impiedoso, Artur só se comoveu com Guinevere. O ministro da Justiça de Israel disse na sua morte que desaparecia um obstáculo à paz na região. Não sei se é verdade, mas seguramente que a frase se lhe aplica por inteiro a ele, de quem ninguém decorará o nome. Dawkins escreveu um dia que um relativista cultural era um hipócrita e não sei bem se o que sinto é justo. Em Ramallah, o que a Alexandra sentir estará certo.”

Para que se entenda a referência a Alexandra refiro que num post anterior se afirmava:
"(...) Alexandra Lucas Coelho em Ramallah. Descobrindo o que existe entre Deus e o Estado, essa impossibilidade tão necessária. (...)"

Cedo ou tarde

Devias saber
que é sempre tarde
que se nasce, que é
sempre cedo
que se morre. E devias
saber também
que a nenhuma árvore
é lícito escolher
o ramo onde as aves
fazem ninho e as flores
procriam.

Albano Martins
Escrito a vermelho

(Vi ontem uma notícia em que se dava a conhecer que Albano Martins tinha ganho um importante prémio chileno. Pelo que entendi atribuído à sua obra poética e também à sua actividade como tradutor. Assino.)

Piada Certeira

People who do lots of work...
make lots of mistakes

People who do less work...
make less mistakes

People who do no work...
make no mistakes

People who make no mistakes...
get promoted

O Erro de Faluya

No dia em que Arafat foi, oficialmente, dado como morto abrindo as portas a um agravamento da crise no Médio Oriente ou, em alternativa, a uma oportunidade de paz, o editorial do "El País" deixa-nos uma mensagem de pessimismo:

"El error de Faluya

El regreso de imágenes de bombardeos, combates y muertos en el asalto a Faluya, 19 meses después de haber sido derrocado Sadam Husein, refleja el fracaso de la invasión americana de Irak."

quarta-feira, novembro 10

Uma pergunta oportuna

De um email de um amigo a propósito de outro assunto respigo, como comentário, a última frase:

"... aproveito para dar os parabéns pelo seu último artido do SE que antecipou o tópico estes dias na berlinda da vergonhosa propaganda eleitoralista à conta do IRS. Onde anda o Eng. Sócrates ?"
pp

terça-feira, novembro 9

Blogs do Brasil

Dê uma olhadela ao velho conhecido meu PENTIMENTO e aproveite para ver a maravilha MEMORABILIA


O Gozo das Coisas

Ao receber o telefonema imaginem aquele silêncio da espera em que nos queremos tornar simpáticos ao interlocutor que se não identifica. E que confia que seremos capazes de o reconhecer.

Desta vez estava do outro lado o Infante da Costa. Queria à viva força que o reconhecesse pela voz. Mas eu não o vejo, nem falo com ele, vai para 15 anos! Nem a referência a Pombal ajudou.

Mas depois de se identificar viu-o na perfeição com os traços mais carregados do longo tempo que, entretanto, passou. É que somos capazes de desenhar, na nossa cabeça, imagens de que não temos ideia de que somos depositários. Os sonhos explicam-nos isso muito bem.

Ele queria que eu fizesse um depoimento acerca da primeira Escola Profissional criada em Portugal na época moderna. 1989 – Pombal. Assim foi, na verdade. Estava eu no GETAP, do ME, que já não existe, (o GETAP, é claro) a convite da Margarida Marques, que tinha sido convidada pelo Joaquim Azevedo, que tinha sido convidado pelo Roberto Carneiro.

Os principais mentores e entusiastas da Escola Profissional de Pombal foram, à época, o Guilherme Santos, Presidente da Câmara Municipal de Pombal e o Portela Fernandes, Presidente da Associação Industrial de Pombal.

O caso é tanto mais extraordinário pelo facto da Câmara Municipal ser de maioria socialista e o governo ser, em 1989, de maioria (absoluta) social-democrata. E foi esse o projecto escolhido para inaugurar a nova geração de escolas profissionais em Portugal. Em Pombal andaram mais depressa criando as condições para o lançamento do projecto.

Mas o caso ainda é mais dramático se nos lembrarmos que o Guilherme Santos faleceu em 1989, ainda antes da inauguração da escola, e o Portela Fernandes (por coincidência, meu colega de faculdade) faleceu em 1990. Mas o projecto sobreviveu aos seus principais mentores. São muitos ingredientes juntos para não despertarem uma reacção emocional.

Como tenho estado doente – fechado em casa – com estas coisas das febres, dores de cabeça, dores no corpo, falta de apetite …. aproveitando uma aberta, à base de “ben-u-ron”, redigi o depoimento e enviei-o pouco tempo depois para o Infante da Costa que é a verdadeira alma da Escola desde a sua criação.

É que participar na criação, desde a raíz, num projecto “pesado” e inovador, neste pobre país, e poder regozijar-se pelo seu 15º aniversário, não é para todos nem para todos os dias.

Fiz, a despropósito, acompanhar o envio do dito depoimento com um pedido de desculpas pela rapidez. O Infante da Costa vai compreender. É o gozo das coisas.

Cartas e Encartes

“O primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, tenciona dar uma explicação alargada a todos os portugueses sobre as linhas gerais do Orçamento, mas «se é através de uma carta ou de um encarte ainda não está decidido», avançou ao EXPRESSO Online uma fonte do gabinete do primeiro-ministro.”

Se for através de carta sugiro que os portugueses, que tenham posses para pagar um selo de correio, respondam na volta do correio.


Desculpem lá a lembrança

- A guerra no Iraque não tinha já acabado? As notícias do dia são perturbadoras. “Grandes ofensivas”, atentados e mais atentados, “lutas corpo a corpo”…, são, certamente, só notícias para alimentar a falsa ideia dos profetas da desgraça como o Vasco Pulido Valente, na sua crónica inaugural no “Público”, afiançando que a guerra no Iraque está perdida para os EUA;
- Agora que a PT está na berra, por razões que só os superiores desígnios do interesse público podem explicar, com o DN no meio, mais que meio destroçado, coitado, nem sabem o sabor a justiça que esta agonia me provoca, uma pergunta: a PT paga IRC?
Uma notícia antiga, dos idos de finais de Março de 2004, dizia que, apesar dos lucros, a PT, em 2003, não pagou IRC. O mesmo ocorreria em 2004 e 2005. Tudo por conta de uma “engenharia” que consiste em afectar às contas as “menos valias dos investimentos efectuados no Brasil”. Tudo continua na mesma?

segunda-feira, novembro 8

As Surpresas da Minha Terra

Nunca duvidei que a minha terra podia ser um ninho de surpresas. Mas que fosse
possível manter um espólio, oferecido há 60 anos, sem nele achar nada de excepcional valor!

60 anos? Se isto for verdade, como espero, é mais um contributo para explicar muita coisa estranha que se passa no nosso país. A importância que se dá ao supérfluo e o desinteresse pelo importante. Não conheço os meandros da história que pode ter inúmeras peripécias.

Mas é um caso para a história da ingratidão. Então um diplomata, filho da terra, doou à Câmara um espólio, ao que parece, com cerca de mil peças, e deixam-nas ficar encerradas numa sala 60 anos? É de uma ingratidão miserável! Mas não deixa de estar estar conforme o padrão nacional. Nada mal! Viva a Cultura!

Obras de Gauguin, Lautrec e Rembrant descobertas em Faro

"Obras de Gauguin, Toulouse-Lautrec e Rembrandt foram recentemente descobertas numa sala do Museu Municipal de Faro, revelou um especialista, baseando-se em análises da leiloeira internacional Sotheby´s.

«Há um desenho de carvão sobre papel do impressionista francês Paul Gauguin (1848-1903), que data de 1875, e depois de analisadas a assinatura e o traço não restam dúvidas da sua autenticidade», garante o especialista André Bento em declarações à agência Lusa.O estudioso analisa desde Maio passado o espólio que o diplomata algarvio Amadeu Ferreira de Almeida doou à Câmara de Faro em 1944 e tem estado numa sala interdita ao público."


TSF on Line

"Guerra Civil"

As notícias acerca da “guerra civil”, em curso nas estradas portuguesas, surgem com regularidade. Mas deixaram de apresentar comparações com o passado. Omite-se a evolução, positiva ou negativa, dos danos. Escamoteia-se o sucesso, ou insucesso, das políticas de prevenção e de combate à sinistralidade. Enfim, ficamos às cegas.

“Desde o início do ano morreram 863 pessoas
Acidentes nas estradas fizeram 21 mortos na semana passada
Vinte e uma pessoas morreram e 592 ficaram feridas, 46 delas com gravidade, nos 2551 acidentes registados pela Brigada de Trânsito (BT) da GNR durante a semana passada, divulgou hoje a corporação.”

“Público on line”

Duas Citações

“Escreve-se nos momentos de desespero. Mas o que é o desespero?”

“O homem que eu seria se não houvesse sido a criança que fui!”

Albert Camus, Cadernos

domingo, novembro 7

"O IRS para os pobres"

Já está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo com o título em epígrafe publicado, na sexta feira passada, no "Semanário Económico"

sexta-feira, novembro 5

"Desaparecimento"

Já tinha reparado no desaparecimento do PM, Pedro Santana Lopes. Passam os dias e nada, nem uma palavra ao país, nem uma visita, de estado ou privada, nem uma reunião do Conselho de Ministros. Nada. É o Congresso do PSD que aí vem? É cansaço? É desânimo?

Sem comparar o incomparável sei que Salazar tinha largos períodos de “nojo” em que se recolhia e não falava com ninguém, muito menos com os ministros. (salvo com a D. Maria!). Mas os recolhimentos de Salazar não tinham eco público pois não havia liberdade de informação. Além do mais faziam parte da sua imagem que ninguém, verdadeiramente, se atrevia a questionar.

Santana Lopes tem a imagem oposta. Do “eremita” ao “homem de sociedade” vai um abismo de diferenças. Por isso ao “desaparecer” de cena Santana Lopes corre o risco de "morrer" para a política ao contrário de Salazar que fazia das suas escassas viagens e intervenções publicas autenticas liturgias que o tornavam omnipresente.

Eis uma questão interessante que o jumento aborda ao seu estilo.


quinta-feira, novembro 4

A morte anunciada de Arafat

Quando Arafat morrer, dir-se-á, secretamente, nos meios da “inteligência” israelita, americana, e de outras mais discretas, que “morreu um terrorista”. Para alguns será um alívio, para outros o início de um pesadelo. Mas pergunto, por antecipação: se um “terrorista” tem um povo inteiro, em revolta, a chorar no seu funeral, o que é afinal o “terrorismo”? Quem é, afinal, aquele "terrorista"?

Porque razão se dão conselhos aos soldados e ao povo de Israel para “evitar qualquer expressão de alegria no caso do anúncio da morte”? Têm medo de quê? Passaram muitos anos mas alguns nada aprenderam com o holocausto!

“Yasser Arafat em estado de coma


Yasser Arafat está em estado de coma, depois de a sua saúde se ter subitamente deteriorado nas últimas horas. O líder palestiniano foi ontem internado na Unidade de Cuidados Intensivos do hospital militar francês onde recebe tratamento.
Os soldados têm ordens para fazer tudo o que puderem para travar eventuais motins ou explosões de violência, e sobretudo para evitar que manifestantes palestinianos tentem entrar nos colonatos ou ultrapassar os "checkpoints". Mas foram também aconselhados a respeitar as manifestações de luto e a evitar qualquer expressão de alegria no caso do anúncio da morte.”

Público on line

quarta-feira, novembro 3

Bush ganhou, não é?

A derrota de Kerry é a nossa derrota. Mesmo que muitos tenham dito que nada seria muito diferente com a vitória do candidato democrata tudo seria, de facto, diferente.

Ganhou quem tinha de ganhar. O normal é que o Presidente candidato ganhe a reeleição. Agora vamos ter de aturar, o mundo vai ter de aturar, a política imperial e belicista da administração Bush e a sua arrogância, assim como a dos seus próceres europeus e domésticos.

Agora mais do que nunca a UE não pode quebrar apesar de todas as suas dificuldades. Incluindo a desastrosa prestação inicial do nosso JMB. Quanto aos efeitos colaterais da vitória de Bush o mundo não ganhará mais estabilidade; os conflitos, entre regiões, estados e religiões, não serão contidos; a estratégia ambiental, no plano global, caminhará para o desastre anunciado e a paz e concórdia entre os povos e as nações dançará ao som do cornetim dos senhores da Casa Branca.

Bush ganhou, não é? Assim seja. As escolhas democráticas não deixam de ser legítimas mesmo quando não nos agradam. Já temos muita experiência e, como dizia o outro, “calos no cu” para aguentar a parada. Venham eles!

ARRE, que tanto é muito pouco!

ARRE, que tanto é muito pouco!
Arre, que tanta besta é muito pouca gente!
Arre, que o Portugal que se vê é só isto!
Deixem ver o Portugal que não deixam ver!
Deixem que se veja, que esse é que é Portugal!
Ponto.

Agora começa o Manifesto:
Arre!
Arre!
Oiçam bem:
ARRRRRE!

Álvaro de Campos
Poesias


"Finanças dão depósitos de tesouraria ao BCP"

Isto tem um nome que não digo qual é. Talvez o Dr. Víctor Constâncio, que nada diz, há tanto tempo, acerca de coisa nenhuma, ao contrário de outros tempos, possa esclarecer cabalmente o assunto.

De facto, o processo de concentração dos recursos financeiros, em particular, dos organismos e fundos autónomos, na Direcção Geral do Tesouro, é antigo. Foi uma medida do governo socialista controversa ou, pelo menos discutível, mas tinha fundamentos técnicos e financeiros razoáveis. Agora esta, se for verdade, de entregar, directamente, ao BCP o negócio da “Tesouraria do Estado” é inimaginável. Bom, mas já nos vamos habituando.

Veja aqui a notícia do "DN".

"Os milhões de euros de organismos públicos passam para o BCP. Concorrência critica protocolo. Bagão Félix autorizou a entrada do banco liderado por Jardim Gonçalves no negócio da Tesouraria do Estado. Restante banca fica à espera

O ministério das Finanças concedeu ao Millennium bcp o direito de captar depósitos dos «organismos públicos» dependentes da Direcção-Geral do Tesouro (DGT). Serão centenas de milhões de euros mobilizados em depósitos e geridos via banco tutelado por Jardim Gonçalves e que, até ontem, passavam pela Caixa Geral de Depósitos, CGD. De fora do «negócio» acordado com o Estado estão os restantes bancos privados."

terça-feira, novembro 2

O medo da verdade

Um dia fora de Lisboa, a trabalhar, sem notícias e logo no dia das eleições na América. Original. Agora que vejo as notícias não encontro nada de novo. Reparo que JA Barreiros se despediu de colunista do DN e que todos descobrem o que eu já tinha experimentado vai para 2 anos. Bolas, estavam todos ceguinhos ou quê?

Essa teia promíscua entre os poderes político, económico e mediático, que agora tantos condenam, não é dos tempos deste governo. Já vem do anterior. A diferença está na gestão que se tornou, dia a dia, mais grosseira, descarada e disparatada. Nada de essencial mudou. Mas atenção que muitos dos que agora clamam contra a manipulação desesperada dos “media”, em favor da maioria governamental, amanhã a defenderão se ela satisfizer os seus próprios interesses.

Os únicos que podem ser os verdadeiros detentores do equilíbrio entre a verdade, a justiça e a liberdade, na gestão comunicacional, são os fazedores da própria notícia, ou sejam, os jornalistas. Os jornalistas profissionais, não os comentadores ou colaboradores de ocasião.

Quando se revoltam os jornalistas? Quando decidem tomar a palavra e colocá-la ao serviço da denúncia da corrupção dos seus próprios órgãos de comunicação? Têm medo? A democracia faz medo aos jornalistas? Que estranha democracia é esta em que os jornalistas têm medo da verdade?

Diários de Motocicleta - título original

Tempo atrás dei a notícia de que tinha estreado, no Festival de Cannes, o filme brasileiro “Diários de Motocicleta”, de que tinha lido muitas referências positivas na blogosfera do Brasil.

Fui ontem, finalmente, ver o filme que já está em exibição em Portugal. A sala, ao contrário da minha expectativa, estava quase cheia. Não esperava uma profunda reflexão filosófica acerca da revolução. Nem sequer um retrato da mitologia criada em torno de Che Guevara. O filme não caíu nessas tentações.

É simplesmente um filme. Uma sequência de belas imagens da américa latina e da situação social nela vivida no início do anos 50. Gostei porque me suscitou prazer e me comoveu. É o que me interessa, simplesmente. Além do mais o meu pai, na mesma época, tinha uma Norton, igualzinha à "Poderosa" na qual viajaram os dois amigos até certa altura da acção.

Vão ver que vale a pena.


domingo, outubro 31

Cavafy na hora roubada

Eu aproveitei a hora para Federico Garcia Lorca. Preciso, de vez em quando, lá ir. Não sei explicar muito bem a razão mas isso também não interessa para nada.

Mas verifiquei que Pacheco Pereira no Abrupto voltou a Cavafy com o poema “O prazo de Nero”.

Entendi, embora estejam prometidas, para depois, outras notas. E, como da outra vez, eu volto com a tradução, diversa, de Jorge de Sena:

O PRAZO DE NERO

Inquieto, Nero não ficou, ouvindo,
do oráculo a resposta em Delfos:
“Que devia temer setenta anos mais três”.
Pois tem imenso tempo de gozar a vida.
Com trinta anos de idade! Como ainda vem longe
o prazo que o Deus lhe demarcou
para temer de perigos iminentes.

Voltará para Roma, cansado um pouco,
mas tão deliciosamente cansado de uma viagem
que nada foi que dias de prazer –
- nos teatros, nos parques, nos estádios…
o entardecer das cidades da Acaia…
E mais: a volúpia da nudez dos corpos…

Assim Nero pensava. Mas na Espanha Galba
secretamente reúne e prepara um exército:
um velho de setenta e mais três anos.

[1918]

Nota de Jorge de Sena dedicada a este poema:

“É o outro poema que tem Nero como personagem (ou outro intitula-se “As passadas”, anterior a 1911). A fonte pode ser qualquer história romana suficientemente vasta, mas o episódio vem narrado por Seutónio (70-c.122), no De Vita Caesarum, em que conta as biografias dos Césares, desde Júlio César até ao Imperador Domiciano. É histórico que Nero fez uma viagem triunfal à Grécia, em 67, de onde foi chamado, porque as conspirações se sucediam. Galba, general de alta linhagem e governador em Espanha, aceitou, nos princípios de 68, chefiar a revolução que derrubou Nero e o levou ao poder, quando Nero se suicidou. Mas Galba, por sua vez, foi assassinado no ano seguinte. Parece que ou o oráculo de Delfos ou Seutóneo (que recolhia tudo quanto há para a sua deliciosa e pérfida história) se enganaram quanto à idade de Galba que tinha cerca de 62 anos ao conspirar e reinar. Mas isso é de somenos importância para o belo poema."

Poema e Nota in “90 e Mais Quatro Poemas”, Constantino Cavafy, com tradução, prefácio, comentários e notas de Jorge de Sena, Edições ASA.

O não blog de Clara Ferreira Alves

Trancrevo a crónica de Clara Ferreira Alves publicada, ontem, no "Expresso". Serei um, entre muitos, a dar blog a Clara.

"O meu «blog»

«Aqui para nós que ninguém nos ouve, seria uma péssima ideia ser directora do 'Diário de Notícias'.»

Não tenho um «blog» mas, há alturas em que um «blog» dá muito jeito. Se eu tivesse um «blog» faria estes breves apontamentos.

1. Quem me convidou ao certo para dirigir o «Diário de Notícias»? O Governo, o primeiro-ministro, o presidente da PT, os accionistas da PT, ou o Mário Bettencourt Resendes e o Luís Delgado? Ou será que sonhei? Porque esse lugar de director não estava vago.

2. Uns dias antes da minha recusa em dirigir o «Diário de Notícias» apareceu publicado nesse jornal um texto de uma assessora política do primeiro-ministro. Eis o tipo de texto que eu jamais publicaria se fosse directora do «Diário de Notícias» mas, curiosamente, enquanto os jornalistas se afadigavam a atacar-me e ao meu famoso «santanismo», ninguém com excepção de José Pacheco Pereira no seu «blog» (o jeito que dá um «blog») reparou neste exemplo de independência, isenção e critério jornalístico do «Diário de Notícias».

3. No dia seguinte à minha recusa em dirigir o «Diário de Notícias», o mesmo «Diário de Notícias» não dava uma única notícia sobre o assunto, ignorando-o jornalisticamente, olimpicamente. Foi o único órgão de comunicação social a fazê-lo. No «Diário de Notícias», que fui convidada para dirigir, eu não sou notícia nem breve nem «fait-divers». Coisa interessante. E tudo na mesma como dantes. Mais isenção.

4. Na mesma semana agitada, daquelas semanas em que mais valia estarmos, como dizia o cómico W. C. Fields, em Filadélfia, uma «fonte governamental» confirmou que a minha decisão «estava tomada». Coisa interessante. Como é que a «fonte governamental» sabe o que eu estou a pensar? E como é que se arroga o direito de responder por mim? Aqui, remeto para a minha carta ao Abrigo do Direito de Resposta que o EXPRESSO publica neste número.

5. O wittgensteiniano Não sei Quantos Cintra Torres, que sempre confundo com alguém que vendia parabólicas, e que para escrever sobre um «reality show» cita Kant, Hegel e o neo-confusionismo, presume de culto e de saber de tudo. E lá veio ele, lesto e molesto, acusar-me de ser uma «santanete» colocada no «Diário de Notícias» para manipular e controlar o jornal a favor do Governo. É bom que Cintra Torres, que também posso confundir com o homem das cervejas Cintra, deixe de se meter comigo, o que ele tem feito modestamente até aqui. Porque eu, ao contrário do que ele pensa, sou incontrolável, e escrevo melhor do que ele (sem citar Wittgenstein). E já agora, Cintra Torres está a fazer um projecto de uma série, ou um filme, ou lá o que é, com o actual director do «Diário de Notícias», (não, não sou eu, não seria, não fui...) para a RTP. A mesma RTP para quem Cintra Torres trabalha como colaborador e crítico imparcial. Será que é ele que vai criticar o trabalho dele na RTP? Mais um caso de isenção e imparcialidade nos «media».

6. Aqui para nós que ninguém nos ouve, seria uma péssima ideia ser directora do «Diário de Notícias», porque deixava de poder escrever estas coisas. Ou então, arranjava um «blog» (o jeito que dá um «blog»).

7. Mudando de assunto, para refrescar, o actual procurador da República veio dizer esta frase «Eu seria o último a prejudicar o PS». Isto, porque foi o PS que lhe deu este emprego. Eis um dos raríssimos casos dos últimos tempos em que não foi Santana Lopes o culpado de tudo. Imaginem se o procurador dissesse «Eu seria o último a prejudicar o PSD». Era mau, não era?

8. Conheço o Pedro Santana Lopes há muitos anos e nem ele nem eu temos culpa disso. Mas, se eu sou «santanete», por que não há-de ele ser «clarete»? Eis mais um caso flagrante de discriminação e perseguição das mulheres. Nunca teremos poder suficiente para... E, com mulheres a recusarem cargos de chefia de jornais, nunca teremos. Porque, vê-se bem que todos os jornais em Portugal são feitos por homens (e quase todos os «blogs» também, embora elas comecem a crescer e multiplicar-se.).

9. Na melhor tradição machista e misógina da praça portuguesa, ou melhor, da praceta portuguesa, assim que se soube por esses jornais fora que eu tinha sido convidada para directora do «Diário de Notícias», coisa que todos os jornais sabiam menos o «Diário de Notícias» (coisa interessante), começaram logo a debochar sobre o meu corte e cor de cabelo e os meus «bâtons» berrantes e por aí fora. Nos «blogs». Um tal Luís Nazaré escreve uma palhaçada sobre mim por causa disso. Será o mesmo homem simpático e educado que me convidou há tempos (e à minha probidade intelectual) para um Encontro sobre Educação do Partido Socialista? Não deve ser. Devo dizer que sem um bom corte de cabelo e um bom «bâton», considero impossível dirigir um jornal sério como o «Diário de Notícias». É uma condição contratual tão importante como a garantia da autonomia, independência e isenção.

10. E, a finalizar, por que é que eu não fui afinal dirigir o «Diário de Notícias»? Bom, esperem pelas minhas Memórias. Ou talvez nem seja preciso. Depois do tempo perdido com o jornalismo português contemporâneo, que tão doente anda, bem preciso de regressar aos livros. E escrever um livro é um acto solitário perfeito, como o onanismo.

11. Finalizo em tom nostálgico e «esquerdista», naquele estilo que os meus inimigos literários abominam. Tenho saudades do tempo português em que existiam Natálias Correias (e Veras Lagoas). Muita saudade. O que por aí anda não presta. Muito silêncio, muito medo, muita agenda política disfarçada, muito emprego a segurar. Muita ambição sem talento. Muito cabotinismo.

Romance de la guardia civil española

A Juan Guerrero
Cónsul General de la Poesía

Los caballos negros son.
Las herraduras son negras.
Sobre las capes relucen
manchas de tinta y de cera.
Tienen, por eso no lloran,
de plomo las calaveras.
Con el alma de charol
vienen por la carretera.
Jorobados y nocturnos,
por donde animan ordenan
silencios de goma oscura
y miedos de fina arena.
Pasan, si quieren pasar,
y ocultan en la cabeza
una vaga astronomía
de pistolas inconcretas.

*
¡Oh ciudad de los gitanos!
En las esquinas banderas.
La luna y la calabaza
con las guindas en conserva.
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Ciudad de dolor y almizcle,
con las torres de canela.

*
Cuando llegaba la noche,
noche que noche nochera,
los gitanos en sus fraguas
forjaban soles y flechas.
Un caballo malherido,
llamaba a todas las puertas.
Gallos de vidrio cantaban
por Jerez de la Frontera.
El viento vuelve desnudo
la esquina de la sorpresa,
en la noche platinoche
noche, que noche nochera.

*
La Virgen y San José,
perdieron sus castañuelas,
y buscan a los gitanos
para ver si las encuentran.
La Virgen viene vestida
con un traje de alcaldesa
de papel de chocolate
con los collares de almendras.
San José mueve los brazos
bajo una capa de seda.
Detrás va Pedro Domecq
con tres sultanes de Persia.
La media luna soñaba
un éxtasis de cigüeña.
Estandartes y faroles
invaden las azoteas.
Por los espejos sollozan
bailarinas sin caderas.
Agua y sombra, sombra y agua
por Jerez de la Frontera.

*
¡Oh ciudad de los gitanos!
En las esquinas banderas.
Apaga tus verdes luces
que viene la benemérita.
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Dejadla lejos del mar, sin
peines para sus crenchas.

*
Avanzan de dos en fondo
a la ciudad de la fiesta.
Un rumor de siemprevivas
invade las cartucheras.
Avanzan de dos en fondo.
Doble nocturno de tela.
El cielo, se les antoja,
una vitrina de espuelas.

*
La ciudad libre de miedo,
multiplicaba sus puertas.
Cuarenta guardias civiles
entran a saco por ellas.
Los relojes se pararon,
y el coñac de las botellas
se disfrazó de noviembre
para no infundir sospechas.
Un vuelo de gritos largos
se levantó en las veletas.
Los sables cortan las brisas
que los cascos atropellan.
Por las calles de penumbra
huyen las gitanas viejas
con los caballos dormidos
y las orzas de monedas.
Por las calles empinadas
suben las capas siniestras,
dejando atrás fugaces
remolinos de tijeras.
En el portal de Belén
los gitanos se congregan.
San José, lleno de heridas,
amortaja a una doncella.
Tercos fusiles agudos
por toda la noche suenan.
La Virgen cura a los niños
con salivilla de estrella.
Pero la Guardia Civil
avanza sembrando hogueras,
donde joven y desnuda
la imaginación se quema.
Rosa la de los Camborios,
gime sentada en su puerta
con sus dos pechos cortados
puestos en una bandeja.
Y otras muchachas corrían
perseguidas por sus trenzas,
en un aire donde estallan
rosas de pólvora negra.
Cuando todos los tejados
eran surcos en la sierra,
el alba meció sus hombros
en largo perfil de piedra.

*
¡Oh ciudad de los gitanos!
La Guardia Civil se aleja
por un túnel de silencio
mientras las llamas te cercan.
¡Oh ciudad de los gitanos!
¿Quién te vio y no te recuerda?
Que te busquen en mi frente.
Juego de luna y arena.

Federico Garcia Lorca

Um poema longo de Federico Garcia Lorca

Um poema longo significa um intervalo e uma dificuldade.

Os posts querem-se curtos tal como o instante em que a hora mudou. Foi há momentos atrás. Passou a ser uma hora mais cedo.

Vale a pena conhecer Federico Garcia Lorca.

sábado, outubro 30

União Europeia - um fracasso e o que está para vir

Está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo “ELEIÇÕES EUROPEIAS – SINAIS DE PREOCUPAÇÃO” publicado no rescaldo das eleições europeias de Junho de 2004.

O recente fracasso de José Manuel Barroso, na aprovação da proposta de Comissão pelo Parlamento Europeu, é só um primeiro sinal das dificuldades que se vão seguir.

Os processos de ratificação da Constituição Europeia, ontem assinada em Roma, pelos Chefes de Estado e de Governo, de cada um dos 25 países membros, revelarão que, como se afirma, na parte final do artigo, “os sentimentos euro-cépticos e euro-fóbicos, assim como os nacionalismos radicais, que afloraram, com veemência, nas últimas eleições europeias, podem transformar-se em verdadeiras ameaças ao desenvolvimento do projecto europeu e à própria democracia representativa que gerações sucessivas construíram à custa de milhões de mortos e de sacrifícios sem fim.”

E concluo: “A propósito destas preocupações lembro sempre o que Albert Camus escreveu e que é a chave para entender muitas mudanças que, à primeira vista, nos podem surpreender: “Organiza-se tudo: É simples e evidente. Mas o sofrimento humano intervém e altera todos os planos”

Um ano é muito tempo - II

Nicolau Santos, no Expresso, faz qualquer pessoa de bom senso alinhar nas críticas de Cavaco Silva. É uma ironia da história. Mas a realidade tem mais força do que a ideologia.

A política económica de um governo tomado por uma deriva eleitoralista pode colocar Portugal numa situação ainda mais difícil não só face ao cumprimento dos critérios da UE mas à criação de condições para a criação de riqueza nacional e a uma sua mais justa distribuição.

Não é o programa da direita no poder que está em causa é o futuro de uma outra qualquer política económica de um futuro governo socialista.

"Já estamos todos a rezar, professor - Cavaco dá sinal de que não gosta do OE 2005

CAVACO Silva pediu esta semana aos portugueses para rezarem para que o poder político não lance Portugal noutra crise de finanças públicas. Eu, pela minha parte, já comecei. Mas em verdade lhe digo, professor, que embora os ventos divinos sempre tenham estado connosco - e é ver o caso do «Prestige», que só não poluiu as águas marítimas portuguesas por intervenção de Nossa Senhora de Fátima, segundo o ministro Paulo Portas - desta vez o milagre vai ser mais difícil do que o Sporting ganhar jogos com o auxílio do Além, por interposto padre Vítor Melícias.

É que, logo por azar, no mesmo dia em que Cavaco fazia tão lancinante apelo, o comissário europeu Joaquín Almunia, divulgava as previsões de Outono da Comissão Europeia, onde se afirma que em 2005 Portugal não vai violar um, mas os três critérios do Pacto de Estabilidade. Não vamos cumprir o défice de 3%, a dívida será superior a 60% do PIB (já vai em 62%) e o défice estrutural não descerá meio ponto do produto como nos dois anos anteriores.

Sejamos justos: dois dos critérios não vamos cumprir. Mas o défice, com mais alguma desorçamentação, com mais algum fundo de pensões transferido para a Caixa Geral de Aposentações, com mais alguma venda de património, acabará por ser cumprido.
O mais importante, contudo, é que já se deitou por terra todo o trabalho de contenção feito nos dois anos anteriores e a política económica mudou radicalmente.


Como Cavaco disse, tem dúvidas sobre o rumo do país e as grandes orientações estratégicas da política económica. Nós também, professor. E uma única certeza: isto não é obra do Demo, mas de um Governo e de um ministro das Finanças que vão andar por cá até ao final de 2006."

Nicolau Santos

"Expresso"

sexta-feira, outubro 29

Um ano é muito tempo

Dizem-se palavras cada vez mais duras. Surgem apelos à revolta da pena de intelectuais, artistas, políticos e comentadores conceituados mesmo que deles, aqui e ali, discordemos.

Este clamor não tem paralelo nos tempos mais recentes. Talvez só se encontrem semelhanças nos confrontos do período pós revolucionário de 1975. Tenho dito, citando conversas que oiço no quotidiano: “um dia vai haver uma revolta popular”.

Não é preciso saber muito de economia, nem de política, para entender que a corda, se esticar mais, vai partir. Não são as medidas reformistas que indignam, mas as injustiças, os linchamentos públicos, a descarada partilha partidária do poder, as negociatas e a promiscuidade entre os poderes económico, político e mediático. Toda a gente já percebeu tudo.

A igreja já o denunciou a propósito do agravamento dos fenómenos de extrema pobreza. Todos os dias milhões de conversas e frases reproduzem, pelo país fora, sentimentos profundos de desilusão, amargura e desespero.

As eleições podiam ser um escape e uma resposta para retemperar a esperança perdida. Mas em tempo normal as próximas eleições – autárquicas – serão daqui a um ano. Mas um ano, nestas condições, é muito tempo!

Pequeño Poema Infinito

Para Luis Cardoza y Aragón

Equivocar el camino
es llegar a la nieve
y llegar a la nieve
es pacer durante veinte siglos las hierbas de los cementerios.

Equivocar el camino
es llegar a la mujer,
la mujer que no teme la luz,
la mujer que mata dos gallos en un segundo,
y luz que no teme a los gallos
y los gallos que no saben cantar sobre la nieve.

Pero si la nieve se equivoca de corazón
puede llegar el viento Austro
y como el aire no hace caso de los gemidos
tendremos que pacer otra vez las hierbas de los cementerios.

Yo vi dos dolorosas espigas de cera
que enterraban un paisaje de volcanes
y vi dos niños locos que empujaban llorando las pupilas de un asesino.

Pero el dos no ha sido nunca un número
porque es una angustia y su sombra,
porque es la guitarra donde el amor se desespera,
porque es la demostración de otro infinito que no es suyo
y es las murallas del muerto
y el castigo de la nueva resurrección sin finales.
Los muertos odian el número dos,
pero el número dos adormece a las mujeres
y como la mujer teme la luz
la luz tiembla delante de los gallos
y los gallos sólo saben volar sobre la nieve
tendremos que pacer sin descanso las hierbas de los cementerios

10 de enero de 1930. Nueva York


Federico Garcia Lorca

Eleições na Améica

O caso não se passa na Venezuela. Nem no Sudão. O caso passa-se no país que se intitula a Pátria da Liberdade e da Democracia: Os Estados Unidos da América!

Roubo de boletins de voto na Florida




De ambos os lados da barricada

Esta história faz-me lembrar tanta coisa. Li e assustei-me. Não conhecesse as personagens e seria capaz de efabular.

José Manuel Barroso, em dificuldades, regressa a Lisboa para dirigir o DN.

Santana Lopes, em dificuldades no Governo, assume a direcção de informação da TVI, acumulando com os comentários de domingo à noite.

Portas, em dificuldades no governo, regressa ao Independente. E assim por aí adiante.

Desta forma ficaria garantido o controle da comunicação social. E o governo não duraria muito tempo sob o fogo cruzado dos mais violentos e implacáveis ataques da comunicação social. Até ir ao tapete.

Não estejam a pensar que desgraçado governo seria esse. Era este mesmo, que está em funções, ainda com mais legitimidade pois teria os seus mais ferozes inimigos e críticos lá dentro. Só assim a sua ânsia de protagonismo ficaria saciada... de ambos os lados da barricada.

Como dizia hoje Freitas do Amaral, citando uma frase de época, “de vitória em vitória até à derrota final…”

quinta-feira, outubro 28

Frank O´Hara

“The days lady deid” un poema de Frank O'Hara, representativo de su estilo, escrito en recuerdo de la muerte de la célebre cantante Billie Holliday.
(La traduccion es propiedad de Hartz.)

EL DIA EN QUE MURIO UNA DAMA

Son las 12:20 en Nueva york un viernes
tres días después del día de la Bastilla
en 1959 y voy a hacerme limpiar los zapatos
porque marcharé en el de las 4:19 para estar en Easthampton
a las 7:15, después voy derecho a cenar
y no conozco a la gente que me dará de comer

subo por la sofocante calle que empieza a asolearse
y tomo una hamburguesa, una cerveza negra y compro
un feo NEW WORLD WRITING para ver lo que hacen
actualmente los poetas de Ghana
continúo hacia el banco
donde Miss Stillwagon (de nombre de pila Linda según me he enterado)
ni siquiera comprueba mi saldo por una vez en su vida
y en el GOLDEN GRIFFIN compro un breve Verlaine
para Patsy con dibujos de Bonnard, aunque en verdad
pienso en Hesíodo, trad. de Richmond Lattimore,en
el nuevo drama de Brendan Behan, en Le Balcon o Les Nègres
de Genet, pero no, me quedo con Verlaine
después de casi dormirme en la indecisión

y por Mike deambulo hasta la Tienda de Licores
PARK LANE, pido una botella de Strega y
después vuelvo de donde vine a la Sexta Avenida
y al estanquero del Teatro Ziegfield y
pido distraído una caja de Gauloises, una caja
de Picayunes y un NEW YORK POST que trae la cara de ella

y sudo mucho ahora, recuerdo
haberme apoyado en la puerta del wáter en el 5 SPOT
mientras ella le susurraba una canción a lo largo del teclado
a Mel Waldron, y todo el mundo y yo suspendíamos la respiración


(Versão portuguesa)

The day lady died

São 12.20 em Nova Yorque uma sexta feira
três dias depois do dia da Bastilha, sim
é 1959 e vou engraxar os sapatos
porque sairei do das 4:19 em Easthampton
às 7:15 e depois vou direito ao jantar
e nem conheço as pessoas que me convidaram

caminho pela rua sufocante onde o sol começa a aparecer
e como um hamburguer e um malte e compro
um feio NEW WORLD WRITING para ver o que os poetas
do Gana escrevem por estes dias
entro no banco
e Miss Stillwagon (nome próprio Linda ouvi dizer)
nem sequer olha para o meu saldo por uma vez na vida
e no GOLDEN GRIFFIN compro um pequeno Verlaine
para Patsy com desenhos de Bonnard embora hesite
quanto ao Hesíodo, trad. Richond Lattimore ou
a nova peça de Brendan Behan ou Le Balcon ou Les Nègres
de Genet, mas não, permaneço com Verlaine
depois de quase adormecer de embaraço

e para Mike limito-me a passar pela Loja de Bebidas
de PARK LANE e compro uma garrafa de Strega e
então regresso por onde vim para a 6ª Avenida
e a tabacaria no Ziegfield Theatre e
distraidamente peço um maço de Gauloises e um maço
de Picayunes, e um NEW YORK POST que trás a cara dela

e agora já estou a suar muito e pensando em
encostar-me à porta da retrete do 5 SPOT
enquanto ela sussurava uma canção ao correr ao teclado
para Mal Waldron e eu e todos deixámos de respirar.

In “Vinte e cinco poemas à hora do almoço”, Assírio e Alvim,
Tradução de José Alberto Oliveira

Marcelo, outra vez

Não se passa nada. Tinha lido comentários acerca das declarações de Marcelo. Vi ontem ,finalmente, excertos mais alargados, das suas declarações. O assunto é político. Não é uma matéria cor de rosa. É a liberdade de opinião e informação que está em casa. Condicionar a liberdade é matá-la. Nunca repararam nisso? É grave. Esperam-se uns desabafos do PR. Gemidos. Desvanecidos ais. Mas não se passa nada. Como dizia Sena: “Liberdade, liberdade, tem cuidado que te matam...”

quarta-feira, outubro 27

Marcelo confirma pressões

A gravidade do "caso Marcelo" foi confirmada por Marcelo de viva voz. O modelo e o conteúdo dos comentários políticos que Marcelo realizava na TVI não eram bem aceites pelo Governo.

O governo se encarregou de pressionar a TVI que, por sua vez, pressionou Marcelo. Está tudo às claras. Só não entende quem não quiser entender.

O Comissário Delgado dirá que é tudo normal, não é? O Director do DN também se demitiu porque a administração convidou, sem o seu conhecimento, uma nova directora que entretanto resolveu não aceitar. O comissário Delgado dirá que é tudo normal, não?

O que virá a seguir?

Veja a qui a notícia da SIC on line Repensar os comentários

"Marcelo Rebelo de Sousa diz que foi convidado a mudar intervenções na TVI

Marcelo Rebelo de Sousa afirmou hoje, perante a Alta Autoridade para a Comunicação Social, que foi convidado pelo presidente da TVI a repensar a orientação das suas intervenções de domingo no canal de Queluz."

Crise política na UE

A Manchete do "El País" - tal como de todos os órgãos de comunicação da Europa e do munndo - é dedicada à acção de José Manuel Barroso à frente dos destinos da UE. O impacto negativo da notícia é, como se calcula, brutal. Promissor...

Barroso retira su equipo de Gobierno y pide aplazar la votación en el Parlamento
Lo más probable es que el equipo de Prodi siga en funciones hasta que el portugués presente una nueva propuesta.

El presidente electo de la Comisión Europea, Durão Barroso, ha abierto una crisis política sin precedentes en el seno de la UE. Momentos antes de la sesión de investidura, Barroso ha retirado la propuesta de su polémico equipo de Gobierno y ha solicitado un aplazamiento. La legislación europea no recoge una situación como ésta y es previsible que por el momento, el Ejecutivo de Romando Prodi siga en funciones.

Os Avisos de Cavaco Silva

A crise política aberta na direita tem muitos protagonistas: o PR, Santana, Cavaco, Marcelo, Portas, Bagão ... No horizonte estão as eleições presidenciais ainda antes das legislativas.

A pouco mais de um ano de vista as forças e as personalidades políticas alinham-se e medem forças. Quase todos os episódios fazem parte da novela presidencial a exibir a partir de finais deste ano com o último episódio previsto para Janeiro de 2006.

É a esta luz que se deve ler esta tomada de posição crítica de Cavaco face ao projecto de orçamento de Estado para 2005, eleborado sob a influência dominante do PP e obedecendo à sua ideologia e calendário:

"Análise pessimista da economia portuguesa"

Cavaco Silva não acredita nas previsões do Governo para o crescimento da economia portuguesa. O ex-primeiro-ministro fez hoje uma análise muito pessimista e deixou o aviso de que uma nova crise de finanças públicas levará Portugal a mais quatro anos de divergência com Espanha e a União Europeia).”

terça-feira, outubro 26

Diário de Notícias - o declínio inevitável

Desde há muito tempo, vai para mais de dois anos, que o DN é um instrumento de propaganda do governo. Certamente que nenhum dos seus responsáveis (Direcção e jornalistas) desconhecem essa situação que o comunicado do "conselho de redacção" denuncia com factos concretos. Muitos outros haveria, certamente, para revelar mas que se mantêm reservados por razões que só os próprios responsáveis e jornalistas poderão explicar. O declínio irreversível do DN não é nada que se não pusesse prever. Esse declínio corresponde a uma orientação editorial continuada e persistente de subserviência aos interesses dos poderes economicos e políticos dominantes. A liberdade de informação deixou há muito de morar no DN.

DN: conselho de redacção alerta para o descrédito "irreversível" do jornal

Reproduz-se o primeiro ponto do "Comunicado dos membros eleitos do Conselho de Redacção" que pode ser lido, na íntegra, no link que se disponibiliza.

1. Os membros eleitos do Conselho de Redacção, confrontados com a inacreditável sucessão de acontecimentos que têm posto o Diário de Notícias na primeira linha da actualidade informativa, pelos piores motivos, manifestam por este meio a sua extrema preocupação pela situação do jornal, que tende a desacreditar-se irreversivelmente perante a opinião pública por razões alheias à vontade, à intervenção e à actuação dos seus jornalistas.

14 anos, tanto tempo e tão pouco...

O meu filho Manuel faz amanhã 14 anos. Estou proibido de falar nele neste blog. Mas estas palavras não falam dele mas numa data que representa o início da sua emancipação.

Além do mais a data fez-me lembrar, além de muitas coisas que não são para aqui chamadas, duas citações que só aparentemente nada têm a ver com ela.

"A espessura das nuvens diminuiu. Logo que o sol se libertou, as terras começaram a fumegar."

"Esse vento singular que corre sempre à borda da floresta. Curioso ideal do homem: no próprio seio da natureza, possuir uma casa."

A ele as dedico neste aniversário em homenagem ao seu interesse pela natureza e à defesa intransigente dos animais.

As citações são de Albert Camus, in Cadernos.

A Morte dos Velhos Ditadores e os Valores da Democracia

Não é que a notícia me tenha passado despercebida. Como diz um amigo meu as notícias são tantas, e tão desconcertantes, que, muitas vezes, não sabemos por onde lhes pegar. A política atinge o seu mais baixo nível quando se proclama a morte dos adversários ou, mesmo, inimigos. O desejo mal disfarçado de vingança através da eliminação física, seja lá de quem for, não é próprio dos democratas, ou mais prosaicamente, das pessoas de bem.

Eu sei que os políticos lidam, mais do que os seus ingénuos eleitores pensam, com a morte dos outros. A morte política está bem de ver. Mas quando uma alta responsável da UE proclama, sob diversos disfarces mal alinhavados, a morte como solução final para um problema da democracia, estamos no fim da linha.

Se Fidel Castro é um ditador e não foi derrubado pelo seu povo, qual a razão? Se Fidel Castro é um ditador e não foi derrubado por uma intervenção armada dos EUA, qual a razão? Se em Cuba vigora, há decénios, uma ditadura, às portas dos EUA, só se pode dever às fraquezas da democracia americana e não à força dessa ditadura. Se o império da liberdade tolera, à sua porta, uma tirania algo está mal. Se em Cuba o império da liberdade mantém uma prisão na qual não se respeitam os mais elementares direitos humanos, “algo está mal no reino da Dinamarca”.

Defendo a liberdade e repugna-me a tirania. Mas nem por isso os amantes da liberdade podem aceitar que se proclame como um valor aceitável a humilhação e a morte física de um velho ditador. Esta é uma longa história mas existe um precedente que devia dar que pensar aos dirigentes das sábias democracias contemporâneas: em Portugal, Salazar morreu mas nem por isso a ditadura morreu com ele.

É preciso ser implacável na condenação política das ditaduras e prudente no julgamento dos velhos ditadores. É uma diferença subtil? Mas tem jurisprudência. Basta atentar no caso de Pinochet, um velho ditador, apoiado pelo império da liberdade que, contra todos os vaticínios, tem escapado ao julgamento, proclama a sua inocência, está vivo e em liberdade.

Não me parece que a ex-Comissário De Palácio tenha valorizado a cultura democrática e os valores da liberdade e da tolerância ao fazer as declarações que se transcrevem a seguir. Deus nos guarde destes dirigentes conservadores para conceber e executar os programas políticos das democracias.

“A vice-presidente cessante da Comissão Europeia, a espanhola Loyola de Palácio, afirmou hoje que está à "espera que (Fidel) Castro morra", porque a morte do presidente cubano é "a única solução para a democratização de Cuba.
"Todos estamos à espera que Castro morra", afirmou De Palácio numa conversa informal com um grupo de jornalistas, defendendo que a morte do histórico líder cubano é a única forma de mudar a situação e de a democracia chegar à Ilha.
"Esperamos, mas não desejamos" o falecimento de Castro, ressalvou.
"Não digo que o matem, digo é que morra, porque duvido que mude enquanto viver", acrescentou a vice-presidente da Comissão numa reunião de despedida com os jornalistas espanhóis em Bruxelas antes de finalizar o seu mandato, no próximo dia 31 de Outubro.”

Lusa



Desemprego cai em Espanha

O "El País" dá notícias acerca do desemprego em Espanha. Os socialistas desenvolvem estranhas políticas que deviam ser estudadas ou, quem sabe, investigadas. À consideração superior.

"El paro cae al 10,54% en el tercer trimestre, la tasa más baja en tres años La EPA comunica 61.300 parados menos de julio a septiembre - Las mujeres se benefician de la mayor parte del empleo creado, aunque el paro femenino duplica al masculino.

El paro se redujo en 61.300 personas durante el tercer trimestre del año, un periodo en el que se crearon 190.400 puestos de trabajo. Con ello se redujo el número total de parados a 2.031.300, el 10,54% del total de personas en disposición de trabajar.


Según la Encuesta de Población Activa (EPA) difundida hoy por el Instituto Nacional de Estadística (INE), el empleo generado ha llevado la cifra de ocupados a rebasar los 17,24 millones de personas aunque aumenta fuertemente la precariedad laboral: de los casi 200.000 nuevos asalariados, 179.600 son temporales."

El País

segunda-feira, outubro 25

Clara Ferreira Alves

A admirável coragem de dizer não. Neste caso ao Diário de Notícias. Os meus aplausos.

O IRS para os pobres

Sou um contribuinte vulgar e cumpridor. Julgo eu. Estou à espera que me seja enviada a “via verde” do Dr. Bagão Félix. Também pertenço àquela minoria de ricos do PS que não estão representados pelo partido dos pobres do Dr. Paulo Portas.

Mas, como se sabe, os pobres são mal agradecidos como ficou provado pelos recentes resultados eleitorais nos Açores e na Madeira. Os pobres na expectativa de ficarem ricos, com as benesses do governo do Dr.Portas, começam a preparar-se para votar no Partido dos ricos. Antecipam, simplesmente, uma expectativa. Vem nos livros. O Dr. Sócrates rejubila.

O Dr. Portas e o Dr. Bagão com os seus anúncios de combate aos ricos e remediados acabarão por não satisfazer ninguém. A minha experiência diz-me que os pobres são uns ingratos. Dá-se-lhes uma sopa, daquelas suculentas, e começam logo a reclamar pelo bife e a encontrar defeitos na sopa, que está aguada, que está requentada, quente, azeda...vejam o caso dos ex-combatentes.

Mas, hoje, preocupa-me, como contribuinte, a comezinha questão do calendário. Recebi, um destes dias, a “nota de liquidação” do IRS referente a 2003. Hoje, dia 25 de Outubro, é o último dia do prazo de pagamento desse IRS do meu agregado familiar. Pelo sim pelo não paguei ontem. Tudo bem. Está pago.

Vejamos o que se vai passar a partir de 2005 deixando de lado esses detalhes menores que preocupam os economistas e comentadores, tais como a coerência da política económica no decurso do tempo, a utilização repetida de receitas extraordinárias para cumprir o déficit, a criação da “polícia fiscal” ou os critérios para a formação da nova super estrutura dirigente da administração fiscal.

O IRS, referente a 2005, é apresentado como beneficiando todos os contribuintes com excepção de uma minoria estimada, hoje no Público”, em 165.000. São os tais ricos que o PP diz que o PS defende. Não vou discutir os méritos ou deméritos da política fiscal em sede de IRS pois não conheço senão anúncios. Interessa-me, neste momento, a questão do calendário.

Ora o calendário das cobranças e notificações do IRS é determinado pelo Governo. No caso do IRS, referente ao ano fiscal de 2005, essas notificações, naturalmente, ocorrerão no ano de 2006. As “notas de liquidação” chegarão, pois, às mãos dos contribuintes no decurso de 2006. O segredo está na determinação do momento exacto mas essa decisão ficará nas mãos do governo. Dir-se-á sempre que calendário é calendário.

Mas sempre se poderá dizer, sem risco de errar, que, para além de outras medidas emblemáticas em "benefício dos pobres" que, a seu tempo, virão a lume, os contribuintes a reembolsar receberão o cheque no tempo oportuno e os que tiverem que pagar receberão a conta no tempo certo. É que as eleições legislativas, em calendário normal, terão lugar exactamente em Outubro de 2006.

Aqui está a política económica, neste caso, na sua vertente fiscal, reduzida a uma mera operação de propaganda eleitoral. Tudo ao contrário do programa anunciado pelo Dr. José Manuel Barroso que foi em quem os portugueses, por uma maioria escassa, votaram para ser governo. Tudo preparado com antecedência e requinte. E a procissão ainda vai no adro.

Guerra Junqueiro

Aproveitando para apresentar o blog Ilhas um texto magnífico de Guerra Junqueiro.

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;

um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta(...)

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...)

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, - como da roda duma lotaria.A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;

Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"

Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896


Germana Tânger e o poema "Aniversário" de Álvaro de Campos

Acabo de ver e ouvir, por acaso, na “SIC Mulher”, uma entrevista com Germana Tânger. Grande declamadora de poesia, como me apetece dizer, agora com 84 anos e muitas histórias para contar.

Mora numa casa ao lado daquela onde nasceu Pessoa. Pessoa e os poetas do Orfeu foram os que mais disse na sua longa vida de divulgadora infatigável da poesia. Vai ser agora editado um “audio-livro”, pela Assírio e Alvim, com poemas de Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Mário Sá Carneiro ditos por ela.

O programa acabou com Germana Tânger dizendo o poema de Álvaro de Campos, “Aniversário”.

Recusou o livro para o dizer de cor. O que na televisão pode ser uma tragédia para um artista vulgar não o foi para ela. Esqueceu-se de um verso e, provavelmente, enganou-se noutros. Mas disse o poema de cor. E o essencial estava lá. Aqui está o poema com as desculpas por algum erro pois é tarde e não tenho tempo de o rever em todo o seu detalhe.


Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,

Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,

O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,

Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...

A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


Álvaro de Campos




domingo, outubro 24

Centro Integrado de Lazer do Alamal - Gavião

As pesquisas, buscando informação acerca deste Centro, têm sido sempre muito abundantes desde a publicação de um post anterior referindo o seu projecto de arquitectura e os autores do mesmo.

Correspondendo a essa curiosidade disponibilizo no IR AO FUNDO E VOLTAR o texto da minha intervenção aquando da sua inauguração.

Nesse texto são definidos os contornos do conceito subjacente à realização daquele projecto que se mantem plenamente actual e é um contributo concreto para uma estratégia de desenvolvimento sustentável muito "badalada", no nosso país, mas muito pouco praticada.

Pobres e Ricos

Vale a pena ler no "Público".
Artigo de FREI BENTO DOMINGUES com o título em epígrafe.

Kerry avança

POST EDITORIAL
John F. Kerry for President
The Washington Post endorses Sen. John F. Kerry for president.

EUA: Washington Post anuncia apoio a John Kerry

Washington, 24 Out (Lusa) - O Washington Post, um dos mais importantes e influentes jornais norte-americanos, anunciou hoje o seu apoio à eleição de John Kerry para presidente dos Estados Unidos.
O Post, que segue o exemplo de jornais igualmente influentes com o New York Times e o Chicago Tribune, faz uma análise aos pontos fortes e fracos de cada um dos dois candidatos para concluir que a melhor opção de voto é no senador democrata do Masachusetts.
"Acreditamos que John Kerry, com a sua promessa de decisão, temperada por sabedoria e abertura de espírito, é o que dá mais garantias em termos de confiança do país para o liderar nos próximos quatro anos", escreve o jornal, em editorial.

sábado, outubro 23

Abandono Escolar em Espanha

"El 26% de los alumnos no logra acabar la enseñanza obligatoria
Asturias, País Vasco y Navarra obtienen los mejores resultados frente a Canarias y Extremadura

Finalizado el desarrollo de la educación secundaria obligatoria (ESO) como único sistema educativo de los 12 a los 16 años, el fracaso escolar no ha disminuido. Los chicos que abandonan las aulas sin conseguir el título oficial rondan el 26% (la media europeo es del 20%), según un estudio presentado ayer. El fracaso escolar sube hasta un 32% en Canarias y baja casi al 14% en Asturias. Entre una y otra comunidad discurren todas las demás con resultados dispares que responden a la inversión pública en educación, a la renta per cápita y la cultura de las familias o al gasto por alumno."

El País

Segundo este estudo em Espanha não se tem verificado uma evolução positiva no que respeita ao "abandono escolar". Qual terá sido a evolução mais recente em Portugal? Num trabalho que publiquei, tempos atrás, disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR, Portugal apresentava, segundo as últimas estatísticas da UE, uma taxa de abandono escolar mais que dupla da média da UE.


Preocupações para quê?

Não vale a pena estarem preocupados. A liberdade não está em risco. Um dia um insígne dirigente político do continente, afecto à maioria de direita, disse que Portugal ainda se iria transformar numa imensa Madeira. A liberdade não está em risco. Mas vamos a caminho da Madeira em marchas forçadas. Resta o problema dos conceitos de liberdade, justiça e democracia. Quem cuida de assegurar que as práticas dos governantes correspondem aos conceitos e princípios consagrados na Constituição e nas leis? Alguém, hoje, tem a certeza de saber responder?

sexta-feira, outubro 22

O Nobel de Economia, o Orçamento e o Fórum

O artigo, com o título em epígrafe, publicado na edição de hoje do "Semanário Económico" está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR.

"A estratégia da Aranha"

Miguel Sousa Tavares descreve, hoje, no Público, de forma directa e sem meias palavras, o que se está a passar no nosso país. Claro que há gente séria e impoluta na comunicação social mas a minha experiência pessoal permite-me confirmar as palavras certeiras de MST e “assinar por baixo”.

“O processo está em curso, a intimidação e o medo estão instalados e o objectivo claro é garantir a reeleição deste Governo, não pelos seus méritos, mas pela propaganda maciça, e com menos "contraditório" quanto possível dos seus supostos ou reais méritos.

É a "italianização" da vida política portuguesa, umas vezes feita subtilmente, outras vezes com a falta de jeito que caracteriza os ministros Gomes da Silva ou Morais Sarmento.

A teia vai-se tecendo e não dispensa coisas tão rasteiras como o suborno de jornalistas e de chefias, os "avisos de amigos" ou as soluções finais de silenciamento e afastamento, quando nada mais resulta.

Acreditem: sei do que falo, conheço esta gente e os seus métodos, sei o que os move e aquilo de que são capazes.”

Imortalidade

A única notícia que, verdadeiramente, me assustou, nos últimos tempo, foi uma nota necrológica, num jornal de referência, que anunciava a minha morte. FALECEU – EDUARDO GRAÇA.

Depois do destaque vinha o real desmentido através do título de nobreza do falecido.

Alguns políticos deveriam ser confrontados com notas necrológicas deste tipo mas sempre nos jornais de referência. Seguidas, é claro, de um desmentido oficial preparado cuidadosamente pela “central de informações”. Dessa forma quando se finassem mesmo, no plano político, claro, ninguém acreditaria e, dessa forma, sentir-se-iam imortais.

quinta-feira, outubro 21

Ranking da corrupção

Veja ranking completo de países sobre corrupção no mundo

In "Diário de Lisboa"



Uma realidade surreal

Isto parecem ideias demais, excesso nos erros e erros excessivos, frenética descoordenação, exercícios de fogo real com tiros de pólvora seca e de balas perdidas. São erros demais para ser verdade. Não se passa nada? A realidade foi suspensa? Decisões políticas? Negócios? Nomeações? Não estão a acontecer? O fogo de artifício serve para esconder a realidade! Ou é mesmo este o modelo de governação de que são capazes? São maus ou fingem que são maus? É um exercício para nos mostrar o que é um bom governo? Por negação! Uma realidade surreal! Ler hoje “pobre país” no abrupto.

quarta-feira, outubro 20

Luta Estudantil

As notícias acerca dos acontecimentos na Universidade de Coimbra não têm tido grande destaque na comunicação social. Têm mesmo suscitado um tipo de comentários que me fazem lembrar aqueles que os “ultras” do Estado Novo aplicavam a todas as movimentações de contestação estudantil: “grupos minoritários”, “perturbadores de ordem pública” e por aí adiante.

Para meu espanto ninguém parece dar a devida importância aos sinais que estas manifestações enviam às autoridades universitárias, governamentais e, em geral, à sociedade portuguesa. Mal-estar profundo, sentimentos de frustração e de revolta, desespero face às perspectivas de futuro, desconfiança no sistema político-administrativo, enfim, crise de regime. As manifestações das chamadas minorias estudantis espelham um profundo mal estar de que está impregnada toda a sociedade portuguesa.

O governo não entendem ou fazem por não entender; as autoridades universitárias não entendem ou fazem por não entender, mas os acontecimentos que estão em curso, que já atingiram o estádio da violência, independentemente das suas causas imediatas, fazem-me lembrar qualquer coisa…

"Universidade de Coimbra Um estudante ferido

Pelo menos um estudante da Universidade de Coimbra (UC) sofreu hoje ferimentos, na sequência da intervenção da PSP, quando cerca de duas centenas de alunos tentavam entrar na sala onde decorre a reunião do Senado.

De acordo com relatos de alguns manifestantes, o forte contingente policial destacado no local terá usado 'gás-pimenta' para dispersar os estudantes, o que desencadeou confrontos entre universitários e agentes policiais.

Uma força do Corpo de Intervenção da PSP chegou entretanto às instalações da Faculdade de Ciências e Tecnologia, no Pinhal de Marrocos.

A reunião extraordinária do Senado foi convocada pelo reitor, Seabra Santos, para analisar a interrupção da abertura solene das aulas, na Sala dos Capelos, na semana passada, por um grupo de estudantes em representação do Conselho de Repúblicas.

Posteriormente, os senadores foram informados de que a ordem de trabalhos incluía um ponto relativo à fixação das propinas, o que foi interpretado por alguns alunos, na Assembleia Magna da madrugada de hoje, «como uma retaliação» pelos acontecimentos do dia 13, na Sala dos Capelos".

20 Outubro 2004

Expresso on line

Diálogo no Metro

Duas amigas encontram-se no Metro, por acaso, e sentam-se, lado a lado, à minha frente:
-Então a tua filhota?
-Tudo bem. Anda no 4º ano e continua sem aulas!
-Porquê?
-A professora está de baixa de parto e ainda não foi substituída. Dão-lhe umas fichas para entreter. (Encolhe os ombros).
-Chatice!
-Dizem que isto pode ir até Janeiro.
(O tom da conversa é de natural aceitação como se fosse uma fatalidade.)


terça-feira, outubro 19

De mal a pior

O "caso Marcelo", mais a cabala do Ministro Gomes da Silva, mais esta afirmação, convicta, do Ministro Morais Sarmento, mais a "central de Comunicação", e o que adiante se verá,...demonstram um muito peculiar conceito da liberdade de informação!

"O ministro da Presidência, Nuno Morais Sarmento, defendeu hoje que deve ser o Governo a definir o modelo de programação da RTP, porque é o Executivo que responde pelas decisões praticadas na televisão pública.
«Deve haver uma definição por parte do poder político acerca do modelo de programação do operador de serviço público», afirmou Morais Sarmento, durante o primeiro colóquio da Rádio e Televisão de Portugal, que decorreu em Lisboa.
O ministro reagia às palavras do deputado socialista e ex-secretário de Estado da Comunicação Social Alberto Arons de Carvalho, que, segunda-feira, pediu a Morais Sarmento que se pronunciasse acerca da notícia do EXPRESSO em que se anunciava a substituição para breve do actual director de informação da RTP, José Rodrigues dos Santos.
Apesar de sublinhar que o papel do Governo «não pode envolver o que são as competências da administração, como seja a escolha dos responsáveis» pelas áreas de programas ou de informação, o ministro que tutela a pasta da Comunicação Social lembrou serem «os responsáveis políticos que respondem perante o povo».
«Não são os jornalistas nem as administrações que vão responder perante os eleitores» pela informação ou pela programação da estação pública, sublinhou o ministro.
Por isso, defendeu, é necessário «haver limites à independência» dos operadores públicos sob pena de ser adoptado «um modelo perverso», que exige responsabilidades a quem não toma as decisões.
«Não tenho direito a mandar, mas tenho direito a ter opinião», sublinhou Morais Sarmento, defendendo que «a RTP ainda tem um longo percurso [a percorrer] a nível dos conteúdos» que transmite."


Expresso on line


Lá vamos cantando e rindo...

O GIC
Gastos com novo gabinete estão previstos no Orçamento de Estado"Central de comunicação" do Governo custa dois milhões de euros

Segundo o decreto regulamentar que foi aprovado, o GIC irá "elaborar planos de comunicação relativos às políticas públicas aprovadas e à acção governativa; estabelecer as relações com os meios de comunicação social; apoiar assessorias e outras estruturas de imprensa; planear e apoiar campanhas de informação a promover; organizar e apoiar conferências de imprensa dos membros do Governo, bem como sessões de informação e esclarecimento; elaborar conteúdos internos para plataformas de informação e comunicação governamentais; elaborar relatórios de imprensa; promover a formação profissional na área da informação e comunicação e tratar, arquivar e divulgar a informação produzida pelos órgãos de comunicação social".

O SNI
Deixo um conselho de amigo. Estudem o SNI e o papel de António Ferro. Aprendam com a história para não fazerem asneira. Aqui ficam uns tópicos breves.

A criação do Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo (conhecido como SNI) e a extinção do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) é concretizada pelo Decreto-lei n.º 33545, 28 de Fevereiro.

O regulamento dos serviços do SNI (Decreto-Lei n.º 34334) atribui-lhe, entre outras, a competência para "promover no País e no estrangeiro a divulgação e exacta compreensão dos factos mais importantes da vida portuguesa,... a defesa da opinião pública contra tudo o que possa desviá-la do sentido da verdade, da justiça e do bem comum".

Na noite escura se fez luz

Sem comentários!

TVI/Marcelo: Gomes da Silva sugere cabala Expresso/Público/Marcelo

Lisboa, 19 Out (Lusa) - O ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, sugeriu hoje a existência de uma cabala contra o Governo entre o semanário Expresso, o jornal Público e o ex-comentador da TVI Marcelo Rebelo de Sousa.

Ouvido hoje de manhã pela Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS) a propósito das declarações que proferiu dois dias antes da saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI, Rui Gomes da Silva negou qualquer relação causal entre os dois acontecimentos.

O ministro dos Assuntos Parlamentares rejeitou também que as suas afirmações tenham constituído, intencionalmente ou não, qualquer forma de pressão sobre a TVI, apesar de admitir que gostaria que aquela estação de televisão passasse a incluir comentadores com outras opiniões.

"O que o Expresso trazia ao sábado era, no dia seguinte, glosado no Público, e Marcelo Rebelo de Sousa domingo à noite desenvolvia o tema", disse Rui Gomes da Silva, queixando-se de afirmações "falsas" e "constantemente negativas" por parte do ex- presidente do PSD em relação à actuação do Governo.

Questionado pela AACS sobre se estava a referir-se a "um conluio ou a uma cabala", o ministro respondeu que "as cabalas existem independentemente da vontade subjectiva de as constituir".

"Eu posso entender que há...", acrescentou.

Na próxima quinta-feira, a AACS ouvirá o presidente da administração da TVI, Miguel Paes do Amaral, de manhã, e o director de informação da estação, José Eduardo Moniz, da parte da tarde.

A Alta Autoridade indicou que deverá ouvir na próxima semana Marcelo Rebelo de Sousa.

www.lusa.pt


segunda-feira, outubro 18

Vilancete

- Meu corpo, que mais receias?
- Receio quem não escolhi.

- Na treva que as mãos repelem
os corpos crescem trementes.
Ao toque leve e ligeiro
o corpo torna-se inteiro,
todos os outros ausentes.

Os olhos olham no vago
das luzes brandas e alheias;
joelhos, dentes e dedos
se cravam por sobre os medos…
Meu corpo, que mais receias?

- Receio quem não escolhi,
quem pela escolha afastei.
De longe, os corpos que vi
me lembram quantos perdi
por este outro que terei.

Jorge de Sena

“Pedra Filosofal” (1950)
Incluído em Poesia I, Moraes Editores
(2ª edição), 1977

Um exemplo brasileiro à consideração superior

"Quem financia a Baixaria é Contra a Cidadania"

Uma campanha da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e organizações da sociedade civil para promoção dos direitos humanos e da dignidade do cidadão na mídia.



Nobel da Economia - 2004

O "Público" de hoje publica um artigo, bastante claro, acerca da natureza dos estudos que justificaram a atribuição do Nobel de Economia de 2004.

“Nobel de 2004: Corte com o Keynesianismo”

Os sete pecados mortais do OE 2005

Nicolau Santos, no Expresso on line, desmonta, de forma certeira, a proposta do OE 2005.

A proposta de lei do Orçamento do Estado para 2005 traz um conjunto de boas intenções em matéria de combate à fraude e evasão fiscal que merece ser devidamente saudado. Mas esse é o verniz que esconde um outro conjunto de sinais para os agentes económicos que são errados e contraditórios com o que se fez nos dois últimos anos.

Saúde-se, pois, a criação do Conselho de Administração das Contribuições e Impostos, a criação de um corpo especial de elite para combater a fraude e evasão fiscal (embora seja discutível a sua colocação na dependência do ministro das Finanças), o fim ou uma grande restrição da utilização de talões sem nenhum valor para efeitos fiscais, a inversão do ónus da prova quando houver uma discrepância de um terço entre os rendimentos declarados e o acréscimo de património e de consumo, rever o regime de acesso ao sigilo bancário, etc.
Tudo isto é muito bonito mas, como o ministro das Finanças reconheceu, só produzirá efeitos em 2006. Até lá, temos os sinais errados - e que são sete.

1) Este orçamento não cumpre a redução estrutural de meio ponto do défice, como tinha sido acordado com Bruxelas. A consolidação orçamental abranda em relação aos dois últimos anos. A mensagem é que podemos alargar o cinto da contenção nos gastos públicos. Como está dito e redito, não é por causa da União Europeia que devemos reduzir a despesa do Estado. É por nossa causa e por causa dos nossos filhos e netos. É porque só assim teremos uma economia mais sã e equilibrada.

2) Este orçamento assenta em bases optimistas, para não dizer irrealistas, em relação ao crescimento económico, ao apontar para 2,4%. É verdade que o FMI ainda é mais optimista (2,7%), mas quem se tem notabilizado por mais se aproximar da realidade é o Banco de Portugal, que prevê 1,7%. Se assim for, vamos ter uma derrapagem das contas públicas, que será atirada para cima das costas largas do petróleo.

3) Este orçamento troca a poupança e o investimento pelo consumo. É isso que decorre do desagravamento do IRS, do fim dos benefícios fiscais dos PPR e da decisão de não voltar a descer as taxas de IRC. É um erro, com fins claros: vencer as eleições de 2006.

4) Este orçamento tira muito a poucos para dar pouco a muitos. É com base no corte dos benefícios à classe média e na evolução das taxas de IRS (em que, como o ministro reconheceu, nos três últimos decis um em cada três contribuintes perde, sendo ainda mais fantástico que nos sete primeiros decis ainda haja um que perde em cada nove - e veremos se é mesmo este o resultado final) que o ministro espera encontrar o dinheiro para suportar os custos com a descida dos escalões mais baixos do IRS. Deve conseguir: é que espera que, mesmo assim, a receita global de IRS cresça 4,9%.

5) Este orçamento é contra as empresas e o investimento. Por um lado, suspende a descida do IRC, que visava atrair investimento estrangeiro e tornar Portugal um país fiscalmente mais competitivo em relação aos países do Leste europeu. Em segundo, acaba com os benefícios para reestruturações de empresas, estimulando a deslocalização das sedes dos grupos nacionais por razões fiscais.

6) Este orçamento ignora olimpicamente a existência do mercado de capitais. Não pelo fim dos Planos Poupança Acções, embora esse seja também um sinal - mas porque não há uma única medida para estimular a entrada de novas empresas em bolsa.

7) Este orçamento alarga o regime de excepções à regra do endividamento de saldo nulo para as autarquias, uma orientação que vinha de Manuela Ferreira Leite e que deveria acabar com todas as excepções no próximo ano. Não é assim e há um retrocesso. O objectivo é claro: vencer as eleições autárquicas de 2005. As derrapagens vêem-se no fim dos próximos doze meses.

18 Outubro 2004

(A transcrição integral deve-se ao facto do acesso ao "Expresso on line" ser reservado a assinantes.
Pode consultar aqui. )


Eleições regionais - Açores

Atendendo às expectativas, criadas nos últimos dias, os resultados das eleições regionais nos Açores - maioria absoluta reforçada do PS - têm um especial significado. Não só regional mas também nacional.

Comentários e resultados finais aqui.