quarta-feira, agosto 15

A pobreza segundo Camus

A pobreza nunca foi para mim uma infelicidade – a luz do Sol vertia nela as suas riquezas. O magnífico calor que reinava na minha infância não me deixou o mínimo ressentimento. Vivia na incomodidade, mas, ao mesmo tempo, numa espécie de gozo da alma.

Albert Camus, citação do prefácio a O Avesso e o Direito, edição de 1957, no ensaio de Paul Viallaneix aos “escritos de juventude”.

Queen

terça-feira, agosto 14

D. AFONSO HENRIQUES - REI DE PORTUGAL

Na véspera de um feriado - 15 de agosto - e para que se entenda a importância dos feriados, e deste em particular, como marcos simbólicos na história de Portugal. [Repetindo uma posta antiga.]

Na verdade, o título de rei aparece pela primeira vez num documento autêntico em 10 de Abril de 1140, por sinal o primeiro dos que hoje se conhecem entre os bem datados produzidos pela chancelaria régia depois da batalha de Ourique. (...)

Os cronistas do século XVII puderam ainda consultar uma memória, hoje perdida, procedente do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, na qual se descreve a celebração de grandes festas em Coimbra no dia da Assunção da Virgem Maria ao céu, a 15 de Agosto de 1139, e nos dias seguintes. A solene missa desse dia foi celebrada por D. Bernardo, bispo da dioceses, e o sermão pregado por D. João Peculiar. Os eruditos modernos, como Rui de Azevedo e A. de J. da Costa, fiados na autoridade de Frei António Brandão, que menciona a referida memória, admitem a autenticidade desta informação. Depois de termos examinados os vários indícios que apontámos acerca das celebrações feitas em Coimbra por ocasião do regresso de Ourique, essa notícia só vem confirmar os elementos que descobrimos por via dedutiva. Tivesse ou não havido aclamação no campo de batalha, é lógico admitir que o povo de Coimbra quisesse também aclamar o vencedor e passasse a chamar-lhe rei. Não faltavam os motivos para isso.

In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”12 – Rei de Portugal”, pgs 120 e 126/127.

segunda-feira, agosto 13

JORGE PALMA / VITORINO

Camus: uma rara confidência

Nunca esqueci esse belo livro (La Douleur, de André de Richaud) que foi o primeiro a falar-me de coisas que eu conhecia: de uma mãe, da pobreza, das belas tardes e do céu. Ele desatava no fundo de mim um nó formado por obscuras ligações, libertava-me de obstáculos que eu sentia sem poder nomeá-los. Li-o todo numa noite, como acontece em casos semelhantes e, ao acordar, repleto de uma nova e estranha liberdade, comecei a caminhar, hesitante, numa terra desconhecida. Acabava de aprender que os livros não proporcionam só o esquecimento e a distracção. Os meus teimosos silêncios, esses vagos e despóticos sofrimentos, o mundo estranho que me rodeava, a dignidade dos meus e a sua miséria, os meus segredos, enfim, tudo isso podia, afinal de contas, ser dito! Havia nesse livro uma libertação, um grau de verdade onde a pobreza, por exemplo, assumia repentinamente o seu verdadeiro rosto, aquele que eu suspeitava e venerava obscuramente.

Albert Camus, citação referida no “Ensaio” de Paul Viallaneix para “escritos de juventude” (Uma das raras, e preciosas, confidências de Camus, colhida in "Encontros com André Gide", Plêiade.)

domingo, agosto 12

Sibelius - Symphony No. 5

A Queda da Luz

Amaciadas pelo calor, as grandes lajes convidavam ao repouso. E saboreava-se o esquecimento num tecido de sol, vivendo sem pensar e sobretudo sem agir, estendido preguiçosamente e absorto na total sensação do calor envolvente. Por sobre tudo isto, via-se o céu de um azul orgulhoso e arejado. Nenhum ruído, nenhum canto de ave, nenhum coaxar de rãs – apenas o zumbido indistinto e entorpecedor do grande calor. (…) Não se importava de acolher as paixões e as loucuras, o que o não impedia de se voltar para o infinito azul e repousante, na deliciosa bruma do longe.

Albert Camus In “escritos de juventude”, A queda da Luz – Notas de Leitura (Abril 1933)

sábado, agosto 11

Arabella Steinbacher

"Há rostos ...

Comprei ontem dez livros (edições portuguesas) de Albert Camus a um alfarrabista que faz venda de rua aqui na esquina – de seu nome Simões. Alguns deles não tinha como é o caso da edição dos “escritos de juventude” (tomo II) da qual respigo – com dedicatória – este excerto de “O PÁTIO”, In Notas de Leitura (Abril de 1933):

“Há rostos que se casam estreitamente com uma parte inteira dos nossos impulsos e com os quais comunicamos tão bem desde o princípio, que se torna impossível pensar séria e justamente diante deles, mas unicamente falar docemente, silenciosamente, utilizando palavras gastas e baças, às quais só o sentimento de uma íntima cumplicidade confere um novo valor”.

Maria Bethânia

sexta-feira, agosto 10

Chavela Vargas

UMA QUERELA DE VERÃO

Quem está na ribalta da discussão pública? Os defensores e simpatizantes desse passado longínquo dos amanhãs que cantam. Agora na versão hardcore dos negócios com ajustes de contas entre ex-comunistas e simpatizantes fascinados e, ao mesmo tempo traídos, pelo capitalismo. Os comunistas podem mudar de partido (ou de negócio) mas nunca deixam de ser comunistas…

quinta-feira, agosto 9

ELEIÇÕES AMERICANAS

Os americanos vão às urnas escolher entre o actual presidente e um candidato conservador que faz comparações depreciando a Europa, em particular, os países do sul. Mas os países do sul da Europa são aliados estratégicos dos Estados Unidos e, para não ir mais longe, a NATO não poderá nunca prescindir da sua presença. É uma questão de geografia e de domínio por terra, mar e ar. Coisas objectivas … não ideológicas.

terça-feira, agosto 7

TAXA DE MARMITA

Não conheço o diploma, a norma, seja o que for, somente ouço falar do assunto através das notícias. Em Espanha, Catalunha, os pais vão pagar para os filhos levarem as refeições de casa para a escola. Não entendo. Uma "taxa de marmita". Não vale a pena discorrer acerca de um assunto  do qual não entendo os fundamentos nem o alcançe. Vou procurar explicações por aí. Mas que os estados, os poderes públicos, andam fazendo experiências preocupantes para a própria democracia, isso parece evidente.  

CAETANO VELOSO - 70 anos (?)

NOTÍCIA de um roubo ...

Acontecimentos deste género pululam, sem mediatização, em todos os países e regiões, desde o pequeno roubo no supermercado ao grande roubo, sob as mais diversas capas institucionais, magnânimo, tolerado e, quantas vezes, aplaudido. Aqui estamos na presença de um sinal público do que antes se designava por embrião de uma “forma superior de luta” das classes trabalhadoras. Este é um fato não menosprezável, que deve dar que pensar aos responsáveis políticos a todos os níveis. (interroguei-me, a propósito, das razões de não serem investigados os prejuízos apresentados pelos bancos no 1º semestre de 2012, em particular, o maior banco público português – mas admito que o BP esteja a fazer o seu trabalho. – Desculpem o incómodo!)  

Jogos Olímpicos - sinais de manipulação

Quando o público, e a comunidade, são confrontados com notícias que insinuam que existem jogos de bastidores destinados a manipular os resultados, o que fazer? Perder? Quando o objectivo é ganhar! Nos jogos olímpicos? A simples insinuação é sinal da miséria encoberta pela realidade mediática sumptuosa dos jogos.

segunda-feira, agosto 6

FÉRIAS PAGAS

As férias pagas, ou seja o direito a usufruir de um tempo de lazer sem perda de remuneração, é uma realidade recente. Esse direito foi instituído por uma lei do governo de frente popular, em França, no ano de 1936. Ainda beneficio dessa conquista. Mas o debate na Europa acerca do futuro da UE é, na verdade, um eufemismo para designar o debate acerca do futuro do estado social. Em época de escassez as férias pagas podem, em breve, voltar a ser uma reivindicação das classes trabalhadoras. Se não o forem já para a maioria!