Nestes primeiros dias de agosto ensaiarei um regresso à escrita - quase sem imagens - neste espaço, criado em 19 de dezembro de 2003, com o texto que reproduzo de seguida:
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse
passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no
encontro com eles,
nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do
perdão olhando o mundo e tomando a medida exacta da nossa
pequenez,
atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus,
usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós porque por amor nos
iluminam,
observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra, a dor
e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino e acreditar no
futuro do homem,
louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de
nos pegar, mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte ou à lei
da vida,
guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular ou da
espingarda apontada à fronte do combatente irregular,
incensar o gesto
ameno e contemporizador que se busca e surge isento no labirinto da carnificina
populista,
ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação e
desejar a amizade das mulheres,
admirar a vista do mar azul frente à
terra atapetada de flores de amendoeira em silêncio e paz.
(um programa
para o absorto)
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