Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, maio 7
OSCAR MASCARENHAS
José Pedro Castanheira, no Expresso, traça com precisão a biografia de Oscar Mascarenhas que ontem nos deixou. Vivo na minha memória e no meu coração. Coisas antigas que a razão não explica e deixam marcas dentro de nós. Com um abraço para a Natal Vaz.
Antigo presidente do Conselho Deontológico dos jornalistas portugueses, Oscar Mascarenhas faleceu na manhã de dia 6 de maio, vítima de um fulminante ataque cardíaco. Provedor do Leitor do “Diário de Notícias” até ao final do ano passado, tinha 65 anos. Casado com a também jornalista Natal Vaz, deixa uma filha.
Professor na Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa, ainda deu aulas na segunda-feira, mas na terça, sentindo-se mal, preferiu ficar em casa. Membro do Conselho Deontológico dos jornalistas portugueses (para o qual fora eleito no ano passado), na noite de dia 5 trocou emails com a presidente do Sindicato dos Jornalistas, Sofia Branco, a propósito da legislação relativa à cobertura mediática das campanhas eleitorais.
Um email com uma lista de jornalistas imortais
Na manhã seguinte, como era seu hábito, sentou-se ao computador. Tinha aprazado um almoço com um grupo de pessoas ligadas ao jornalismo, destinado a discutir uma lista de nomes para um futuro panteão criado no âmbito do Museu das Notícias, a ser inaugurado no próximo ano em Sintra. Completavam o grupo os jornalistas Adelino Gomes e Alexandre Manuel, e Luís Paixão Martins, o proprietário da agência de comunicação com o seu nome e principal “motor” do referido museu. Foi para esse pequeno “comité” que Mascarenhas terá enviado o seu último email (eram 7h44 horas), com uma lista anexa de 32 nomes de jornalistas “imortais”, e que vão desde Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós, a Manuel António Pina e Carlos Pinto Coelho.
Pouco depois, sentindo-se mal, foi chamada uma ambulância, para a qual subiu ainda pelo seu pé. Foi já no interior do veículo do INEM que teve um ataque cardíaco fulminante, que lhe provocou uma paragem cardiorrespiratória, de que não recuperou.
De Goa à Faculdade de Direito de Lisboa
Oscar José Mascarenhas nasceu a 9 de dezembro de 1949 na freguesia de Ribandar, em Goa, um dos territórios que faziam parte do então Estado Português da Índia. Veio para Portugal em 1957, antes ainda da invasão de Goa, Damão e Diu pela União Indiana.
Fez o ensino secundário na Externato Frei Luís de Sousa (em Almada) e no Liceu Gil Vicente (em Lisboa). Neste último estabelecimento, foi colega de Carlos Cáceres Monteiro, Luís Almeida Martins e João Vaz – um quarteto de futuros jornalistas que haveriam de trabalhar em conjunto no vespertino “A Capital”.
Frequentou depois, e durante três anos, a Faculdade de Direito de Lisboa, tendo sido colega, para além de Cáceres Monteiro, de Marcelo Rebelo de Sousa, Leonor Beleza, do franciscano Vítor Melícias e do também jornalista Luís Pinheiro de Almeida, bem como de Carlos Veiga, futuro primeiro-ministro de Cabo Verde. Na faculdade, fez parte da lista candidata à Associação de Estudantes que se apresentou sob o lema “Ousar Lutar, Ousar vencer”, liderada por Arnaldo de Matos, que viria a ser o secretário-geral do MRPP.
Interrompeu o curso de Direito e alistou-se como voluntário na Força Aérea Portuguesa, tendo sido colocado nos Açores.
De “A Capital” à Lusa, passando pelo “Diário de Notícias”
Entrou na profissão a 2 de janeiro de 1975, no vespertino “A Capital”, dia em que conheceu a sua futura mulher, Natal Vaz, que entrara para o jornal no verão anterior. Militante do Movimento de Esquerda Socialista (MES) – o único partido a que pertenceu -, colaborou no seu jornal, “Poder Popular”. Já em 1976, pertenceu à redação do semanário “Página Um”, que apoiou a candidatura de Otelo Saraiva de Carvalho às eleições presidenciais. Era um jornal por onde passaram jornalistas como Fernando de Sousa, Henrique Garcia, Artur Albarran e João Vaz, o cartoonista Vasco, o pintor Leonel Moura e o jurista Francisco Teixeira da Mota.
Em 1982 trocou “A Capital” pelo "Diário de Notícias", onde trabalhou durante dois períodos: 1982-2002 (como repórter e redator principal) e 2012-2014 (como provedor do leitor). Trabalhou ainda no “Jornal do Fundão” e na agência Lusa (entre 2003 e 2009, altura em que passou à situação de pré-reforma, em que ainda se encontrava).
Dois livros na forja
Tirou o primeiro curso de pós-graduação em jornalismo, promovido pelo ISCTE e pela Escola Superior de Comunicação Social. Seguiu-se o mestrado e admitira recentemente avançar para o doutoramento, em Ciências da Comunicação, ainda pelo ISCTE.
Foi durante várias décadas dirigente do Sindicato dos Jornalistas, tendo presidido ao Conselho Deontológico durante oito anos. Fez parte igualmente da Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas.
Publicara dois livros: “O Poder Corporativo Contra a Informação” (2001, Minerva Coimbra) e “Nuvem de Chumbo. O Processo Casa Pia na Imprensa” (com Nuno Ivo, 2004, Dom Quixote). Deixou em fase de publicação a tese de mestrado, a que dera o título sugestivo de “O Detetive historiador. O jornalismo de investigação e a sua ética”, bem como um livro com uma vasta seleção de citações.
O corpo de Oscar Mascarenhas vai às 15h desta quinta-feira, 7, para a capela mortuária da Igreja de São João de Deus (à Praça de Londres). Será cremado às 12h de sexta-feira, no cemitério do Alto de São João.
32 nomes para o Panteão de Jornalistas
Segue-se a publicação da sua proposta de 32 nomes para o futuro Panteão de jornalistas, com algumas anotações que fez:
Adolfo Simões Müller – jornalismo didático
António Paulouro – jornalismo regional
Artur Agostinho
Augusto de Castro – direção e editorialismo
Camilo Castelo Branco – folhetinismo
Cândido de Oliveira – jornalismo desportivo^
Carlos Pinhão
Carlos Pinto Coelho – jornalismo cultural televisivo
Eça de Queiroz – crónica de viagem
Eduardo Coelho – pioneiro do noticiarismo e novas tecnologias
Fernando Assis Pacheco
Fernando Pessa – jornalismo radiofónico e televisivo
Fialho de Almeida – jornalismo de crítica de costumes
Joshua Benoliel – fotografia
Leitão de Barros – jornalismo da nota do dia, “Os Corvos”
Manuel António Pina
Maria Lamas – jornalismo no feminino
Mário Castrim – jornalismo para jovens e pioneiro da crítica de televisão
Mons. Moreira das Neves – jornalismo religioso
Norberto de Araújo – olisipógrafo
Norberto Lopes – repórter de guerra e entrevistador
Rafael Bordalo Pinheiro – caricaturista
Ramalho Ortigão – polemista
Raul Proença – fundador da “Seara Nova” e criador do “Guia de Portugal”
Raul Rego – jornalismo oposicionista
Reynaldo Ferreira – “Repórter X”
Roby Amorim – jornalismo enciclopédico
Rodrigues Sampaio – jornalismo político
Sousa Veloso – jornalismo televisivo de divulgação da agricultura
Stuart Carvalhais – cartoon
Vera Lagoa
Vítor Direito – jornalismo popular
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1 comentário:
Um Homem que fez o seu percurso , que cunhou o seu Nome no universo da Comunicação Social Nacional , e que deixa imensas saudades a todos os que o conheceram .
Abraço
Luis Sousa
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