sexta-feira, novembro 4

PARIS A ARDER


Paris a ferro e fogo. Procuram-se explicações. Abre-se um debate. Pacheco Pereira insurge-se contra as visões compassivas face aos insurgentes. A sociedade inclusiva falha quando os valores humanistas se afundam. De acordo.

Curioso que me faz lembrar o "discurso ultrapassado" de Soares … Por isso a necessidade de levantar a bandeira da luta pelos valores. Quais? Liberdade, justiça, tolerância, trabalho, paz, ordem democrática? … as imagens lembram-me – só pelo “cheiro” as do Maio de 68.

O presidente da República francesa – em exercício vai para 10 anos – é um homem de direita. O governo actual é um governo de direita … é verdade? Nada de importante! Detalhes …

No Libération : Une huitième nuit de violences dans les banlieues

Quelque 400 voitures brûlées, un dépôt de bus incendié, les voyageurs d'un RER dépouillés… • Côte-d'Or, Seine-Maritime et Bouches-du-Rhône ont également été touchées •

Ler ainda “Paris já está a arder”, de Clara Ferreira Alves

quinta-feira, novembro 3

"Política (continuação)."


Albert Camus

“Política (continuação). Tudo deriva do facto de aqueles que estão encarregados de falar em nome do povo não terem nunca a preocupação real da liberdade. Quando são sinceros, gabam-se mesmo do contrário. Ora a simples preocupação já bastaria …

Por conseguinte esses, raros, que vivem com tal escrúpulo devem perecer mais dia, menos dia (há muitas formas de morrer a este respeito). Se são orgulhosos, não tombarão sem luta. Mas como irão lutar contra irmãos, contra a própria justiça? Deixarão o seu testemunho, eis tudo. E, com dois milénios de intervalo, assistiremos ao sacrifício, várias vezes repetido, de Sócrates. Programa para amanhã: execução solene e significativa das testemunhas da liberdade.”

Albert Camus

Caderno n.º 5 (Setembro 1945/Abril 1948) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

(Terceiro fragmento, dos seis primeiros do Caderno nº5, que venho a reproduzir na íntegra. A referência a Sócrates – o filósofo - no seio deste fragmento não é mais do que uma irónica coincidência.)

COERÊNCIA, ESTABILIDADE E CORAGEM


Já está disponível no site do “Semanário Económico” e no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo com o título em epígrafe, a publicar na sua edição em papel de amanhã, do qual reproduzo a entrada.

"Nas presidenciais escolhe-se, acima de tudo, uma personalidade. É a escolha política mais pura de todas as escolhas. Nas eleições presidencial a minha escolha é a mais politicamente incorrecta do momento. Aquela que, paradoxalmente, está contra a corrente e é disso que eu gosto: Mário Soares."

A DIREITA SABE AO QUE VEM


Mercúrio

Anda toda a gente à volta das questões mais importantes que estão em causa nestas eleições presidenciais. Mas poucos se atrevem a falar claro colocando os pontos nos ii.

A direita que apoiou os governos de Durão Barroso e de Santana Lopes – pois não há outra – é a mesma que apoia Cavaco Silva. O objectivo político da direita – muito legitimamente – é a conquista do poder. A candidatura de Cavaco é um instrumento dessa estratégia. A autonomia da sua candidatura, face ao PSD, é muito limitada. Vide o surgimento de Manuela Ferreira Leite e Dias Loureiro, com todo o destaque, na Comissão Política da candidatura.

O primeiro objectivo, em curso, é isolar Mário Soares. O segundo é ganhar à primeira volta para mostrar força. O terceiro é desgastar o governo socialista de Sócrates. O quarto é tomar o poder no PSD mudando a sua liderança. O quinto é reconstruir uma maioria política a partir dessa nova liderança com, ou sem, o CDS/PP. O sexto é ganhar as próximas eleições legislativas (antecipadas ou não) de preferência depois do governo PS ter saneado as finanças públicas ganhando em troca uma imensa impopularidade.

Em síntese: tornar um facto natural o advento de “Uma Maioria, Um Governo, Um Presidente”.

O reforço da componente presidencialista do regime, a seu tempo, se verá conforme os contornos da desejada maioria presidencial e a dimensão da adesão popular aos seus encantos messiânicos.

Os negócios em vista esses aguardam já impacientes numa interminável fila de espera.

quarta-feira, novembro 2

PIER PAOLO PASOLINI


Pasolini - Assassinado em 2 de Novembro de 1975


Súplica a minha mãe

É difícil com palavras de filho
aquilo a que intimamente bem pouco me pareço.

És a única no mundo que sabe o que esteve sempre
no meu coração, antes de qualquer outro amor.

Por isso tenho de dizer-te o que é horrível saber:
é na tua graça que nasce a minha angústia.

És insubstituível. Por isso está condenada
à solidão a vida que me deste.

E eu não quero estar só. Tenho uma fome infinita
de amor, do amor de corpos sem alma.

Porque a alma está em ti, és tu, mas tu
és minha mãe e o teu amor é a minha servidão:

vivi a infância como escravo desse sentimento
supremo, irremediável, de um fervor imenso.

Era a única maneira de sentir a vida,
a única cor, a única forma: agora terminou.

Sobrevivemos: e é o caos
de uma vida que renasce fora da razão.

Suplico-te, Ah, suplico-te: não queiras morrer.
Estou aqui, sozinho, contigo, num Abril futuro …

Pier Paolo Pasolini

In De “LA REALTÁ” - “Poesia in forma di rosa”, Ed Garzanti 1964
Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo
Assírio & Alvim


Supplica a mia madre
.
È difficile dire con parole di figlio
ciò a cui nel cuore ben poco assomiglio.

Tu sei la sola al mondo che sa, del mio cuore,
ciò che è stato sempre, prima d'ogni altro amore.

Per questo devo dirti ciò ch'è orrendo conoscere:
è dentro la tua grazia che nasce la mia angoscia.

Sei insostituibile. Per questo è dannata
alla solitudine la vita che mi hai data.

E non voglio esser solo. Ho un'infinita fame
d'amore, dell'amore di corpi senza anima.

Perché l'anima è in te, sei tu, ma tu
sei mia madre e il tuo amore è la mia schiavitù:

ho passato l'infanzia schiavo di questo senso
alto, irrimediabile, di un impegno immenso.

Era l'unico modo per sentire la vita,
l'unica tinta, l'unica forma: ora è finita.

Sopravviviamo: ed è la confusione
di una vita rinata fuori dalla ragione.

Ti supplico, ah, ti supplico: non voler morire.
Sono qui, solo, con te, in un futuro aprile...


Súplica a mi madre

Mis palabras de hijo dirán difícilmente
algo a un corazón de mí tan diferente.

Sólo tú en el mundo sabes de mi corazón
lo que siempre fue, antes de cualquier amor.

Por eso tengo que decirte lo que es horrible reconocer:
germina mi angustia en el seno de tu gracia.

Eres insustituible. Por eso está condenada
a la soledad la vida que me diste.

Y no quiero estar solo. Tengo un hambre infinita
de amor, del amor de cuerpos sin alma.

Porque el alma está en ti, eres tú, pero tú
eres mi madre y tu amor es mi esclavitud:

esclava fue mi infancia de este sentimiento
alto, irremediable, de inmenso compromiso.

Era la única manera de sentir la vida,
la única tinta, la única forma. Ahora se acabó.

Sobrevivimos: y es la confusión
de una vida recreada al margen de la razón.

Te lo suplico, ay, te lo suplico, no quieras morir.
Estoy aquí, solo contigo, en un futuro abril…

(Original em italiano – corrigido – e tradução em castelhano retirados daqui.)

O Watergate de George W.


A Ler no NEW YORK ON TIME

“Ainda é cedo para prever se o escândalo que levou ao indiciamento do chefe de gabinete do vice Dick Cheney, Scooter Libby, pode se tornar o Watergate de George W. Bush. Mas há paralelos. Nos dois casos, o poder executivo mentiu para encobrir ações ilegais ou impróprias. No caso de Nixon, o uso de "dirty tricks", golpes sujos, contra a oposição. No caso de Bush, algo muito mais grave: o uso deliberado de falsidades para levar o país à guerra.”

ANTINOMIAS POLÍTICAS


Fotografia de CARTIER–BRESSON, H. Albert Camus antes de obter o Nobel.

“Antinomias políticas. Vivemos num mundo em que é preciso escolher sermos vítimas ou carrascos – e nada mais. Esta escolha não é fácil. Pareceu-me sempre que na realidade não há carrascos, há apenas vítimas. No fim de contas, bem entendido. Mas é uma verdade que está pouco espalhada.


Gosto imenso da liberdade. E para todo o intelectual, a liberdade acaba por confundir-se com a liberdade de expressão. Mas compreendo perfeitamente que esta preocupação não está em primeiro lugar para uma grande quantidade de Europeus, porque só a justiça lhes pode dar o mínimo material de que precisamos e que, com ou sem razão, sacrificariam de bom grado a liberdade a essa justiça elementar.

Sei estas coisas há muito tempo. Se me parecia necessário defender a conciliação entre a justiça e a liberdade, era porque aí residia em meu entender a última esperança do Ocidente. Mas essa conciliação apenas pode efectivar-se num certo clima que hoje é praticamente utópico. Será preciso sacrificar um ou outro destes valores? Que deveremos pensar, neste caso?”

Albert Camus

Caderno n.º 5 (Setembro 1945/Abril 1948) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

(Segundo dos seis primeiros fragmentos deste Caderno nº5 que estou a transcrever na íntegra. Nalguns casos podem ter já sido total, ou parcialmente, postados mas nas circunstâncias presentes acho oportuno a sua divulgação porque versam, directamente, as velhas questões da política, da ética e dos valores.)

terça-feira, novembro 1

(Eu tenho ideias e razões, ...)


Chiado - Lisboa - Estátua de Fernando Pessoa

Eu tenho ideias e razões,
Conheço a cor dos argumentos
E nunca chego aos corações.

Fernando Pessoa


Yo tengo ideas y razones,
Conozco el color de los argumentos
Y nunca llego a los corazones.

In site de poesias coligidas de
F E R N A N D O P E S S O A

(Dedicado a Galgata, aliás, Maria Paz Green F., do Caleidoscópio)

TERRAMOTO DE 1755


Lisboa - Fotografia de Angèle

250 anos depois do grande terramoto de 1 de Novembro de 1755

NASCIDO DE TI


Paula Rego – “Entre as Mulheres”

(pelo aniversário de minha mãe)

Vejo que se mexe tudo
à minha volta
desde sempre
o mundo
vi à solta numa revolta
demente

De tudo o que vi
retive a rua
deserta
em que corri
estava nua
a porta aberta

Ainda recordo o que senti
na tua mão
doce
quando sorri
que mais não
fosse

Onde estava eu sem ti?
e tu sem mim
o que eras?
me senti
o jardim
das esperas

Além de tudo
ser
fui um fruto teu
desnudo
que ao nascer
te renasceu

Lisboa, 30 de Maio de 2005

segunda-feira, outubro 31

O Cavaquismo de Saraiva Tem Pés de Barro


LISBOA - Fotografia de Angèle

José António Saraiva, no “Expresso on line” prossegue a sua campanha pró Cavaco. O modelo da sua intervenção parece bastante ingénuo mas é eficaz.

Saraiva faz 3 perguntas e dá três respostas muito pouco surpreendentes. De seguida eu dou, às mesmas perguntas, três respostas, mas de sentido oposto. As minhas respostas são apresentadas a azul.

"As próximas eleições presidenciais, tudo somado, suscitam três perguntas.

Primeira pergunta: Cavaco Silva vai ganhar à primeira volta?

Resposta: sim, bastando-lhe para isso não cometer muitos erros. Em condições normais, conseguirá, no primeiro escrutínio, entre 55 e 60 por cento dos votos. E isto porque grande parte do eleitorado central, aquele que decide eleições, inclinar-se-á para o candidato que hoje surge claramente como mais forte.

Resposta: não, pois, de certeza, cometerá bastantes erros. Em condições normais, no primeiro escrutínio, atendendo ao histórico de todas as eleições presidenciais, em democracia, não conseguirá ultrapassar a barreira dos 50%. E isto, também, porque o eleitorado central distribuirá, à primeira volta, o seu voto por todos os candidatos, guardando para o segundo escrutínio a decisão final.

Segunda pergunta: Manuel Alegre pode ficar à frente de Mário Soares?

Resposta: sim, se fizer uma campanha emotiva dirigida ao coração da esquerda e se se confirmar a reduzida capacidade actual de Mário Soares para mobilizar apoios e criar entusiasmo. Alegre tem hoje mais condições do que Soares para fazer vibrar a esquerda.

Resposta: não, porque mesmo que faça uma campanha emotiva a chamar ao coração da esquerda, se confrontará com a imbatível capacidade de Soares nos debates e na relação directa com as pessoas. Além do mais Alegre não conta com o apoio do PS que mesmo nas suas piores votações de sempre nunca desceu abaixo dos 25% tendo os candidatos por si apoiados ganho todas as eleições presidenciais.

Terceira pergunta: Francisco Louçã pode bater Jerónimo de Sousa?

Resposta: sim, porque tem um perfil mais recortado. O BE perderá sempre com o PCP nas autárquicas, bater-se-á de igual para igual com o PCP nas legislativas e o seu candidato tem hipóteses de vencer o candidato do PCP nas presidenciais.

Resposta: não, porque o perfil de Jerónimo de Sousa é mais forte e consistente do que o de Louçã e a fidelidade do eleitorado do PCP ao seu mais forte candidato de sempre, na hora da verdade, falará mais alto.

(Os argumentos expendidos não se aplicam, naturalmente, às eleições presidenciais nas quais se recandidataram candidatos eleitos nas eleições imediatamente anteriores).


CAMUS


“O único problema contemporâneo: Poderá transformar-se o mundo sem se acreditar no poder absoluto da razão? Apesar das ilusões racionalistas, mesmo marxistas, toda a história do mundo é a história da liberdade. Como poderiam ser determinados os caminhos da liberdade? É decerto falso dizer que o que é determinado, é o que já não vive. Mas só é determinado o que já se viveu. O próprio Deus, se existisse, não poderia modificar o passado. Mas o futuro não lhe pertence nem mais nem menos do que ao homem.”

Albert Camus

Caderno n.º 5 (Setembro 1945/Abril 1948) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

(Este é o primeiro fragmento que surge no “Caderno nº 5” correspondente a um período, iniciado em Setembro de 1945, coincidente com o nascimento, em 5 de Setembro, dos seus filhos gémeos, Jean e Catherine. Camus tinha-se transformado numa figura pública. Neste período publica “A Peste” (Junho de 1947) que obtém um sucesso estrondoso tendo vendido, em primeira edição, cem mil exemplares. Os primeiros fragmentos deste Caderno foram muito relevantes nas minhas próprias leituras de juventude. Vou, nos próximos tempos, em sequência, reproduzi-los na íntegra.)

EXCELENTE


Fotografia in “uma por rolo” (Lisboa, 2005 Out – retroseiro)

O Senhor Belmiro, no jornal de que é proprietário, dá uma entrevista em que diz que Cavaco vai ganhar as presidenciais ... o que vai ser excelente pois irá trabalhar com um primeiro-ministro ... excelente …

Excelente!... Afinal tudo é excelência em Portugal!... Com que então pensavam que viviam numa choldra? Excelente, excelente é a fotografia!

"Cavaco vai ganhar e vai ser um excelente Presidente para trabalhar com um excelente primeiro-ministro"

Belmiro de Azevedo, PÚBLICO/Rádio Renascença, 30-10-2005

TURISMO DE NATUREZA EM PORTUGAL


De vez em quando as questões do turismo, em particular, na sua articulação com a preservação da natureza seduzem-me. Desta vez a minha cunhada Isabel Ramos lembrou-se de me enviar esta suculenta e exaustiva informação que, à laia de serviço público, dou a conhecer introduzida com um texto e fotografia de sua autoria. Obrigado.

À semelhança de muitos outros países, nomeadamente da Europa do Norte, em Portugal, o Turismo de Natureza, considerado um produto turístico materializado em estabelecimentos, actividades e serviços de alojamento e animação turística e ambiental que se realiza em zonas integradas na Rede Nacional de Áreas Protegidas, tem vindo a ser cada vez mais procurado como alternativa aos tradicionais produtos turísticos.

Nesta perspectiva, e no sentido de melhor concretizar e propor acções que dêem resposta a esta procura crescente, o Instituto da Conservação da Natureza definiu as potencialidades para o desenvolvimento do Turismo de Natureza em cada uma das Áreas Protegidas sob sua jurisdição.

Pode consultar em Enquadramento Estratégico do Turismo de Natureza.

domingo, outubro 30

COISAS ACABADAS


Imagem de Chafarica Iconoclasta

Konstandinos Kavafis (mais alguns poemas)


Dentro do medo e das suspeitas
com a mente agitada e os olhos aterrados,
fundimos e planeamos o que fazer
para evitar o perigo
certo que desta forma horrenda nos ameaça.
No entanto equivocamo-nos, não está esse no caminho;
falsas eram as mensagens
(ou não as ouvimos, ou não as sentimos bem).
Outra catástrofe, que não imaginávamos,
brusca, torrencial cai sobre nós,
e desprevenidos – como teríamos tempo – arrebata-nos.

[1911]

K. Kavafis

In "Os Poemas", tradução de Joaquim Manuel Magalhães
e Nikos Pratsinis - Relógio d´Água

ARCAÍSMOS


General Ramalho Eanes, inspirador do PRD

O inefável Espada, um dos maiores ex-marxistas leninistas portugueses vivos explica, na sua última crónica no “Expresso”, as razões do apoio a Cavaco em detrimento de Soares que sempre tinha apoiado desde 1985.

Fala dos medos que, hoje em dia, se não justificam, explorando aquele filão da colagem de Soares a um anti fascismo fora de moda. Em resumo a razão da sua viragem, em favor de Cavaco, é simples: em 1985 Soares era moderno, hoje deixou de o ser.

Arrumando as ideias Espada explica que, em 1985, se justificava combater uma esquerda arcaica sendo Soares o porta-estandarte desse combate.

Imaginem uma das principais personagens que, segundo Espada, estava do lado do arcaísmo que era mister combater: Ramalho Eanes. Esse mesmo que, hoje, é presidente da Comissão de Honra da candidatura de Cavaco, “o moderno”. Compreenderam?

A LIBERDADE SEMPRE


Picasso com Françoise Gilot e o sobrinho – 1948
Foto Robert Capa

“Revolta

Finalmente, escolho a liberdade. Pois que, mesmo se a justiça não for realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e salva a comunidade.

A justiça num mundo silencioso, a justiça dos mundos destrói a cumplicidade, nega a revolta e devolve o consentimento, mas desta vez sob a mais baixa das formas. É aqui que se vê o primado que o valor da liberdade pouco a pouco recebe. Mas o difícil é nunca perder de vista que ele deve exigir ao mesmo tempo a justiça, como foi dito.

Dito isto, há também uma justiça, ainda que muito diferente, fundando o único valor constante na história dos homens que só morreram bem, quando o fizeram pela liberdade.


A liberdade é poder defender o que não penso, mesmo num regime ou num mundo que aprovo. É poder dar razão ao adversário."

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

(Mesmo perto do fim do Caderno nº 4, esta releitura, leva-me a retomar uma das citações que melhor explicita uma das preocupações dominantes em todo o pensamento e obra de Camus: a relação entre liberdade e justiça. Quando, nos nossos dias, na vida quotidiana e nos combates cívicos e políticos, se menospreza, ou subalterniza, o valor da liberdade sempre me vem à memória o primeiro parágrafo desta citação: “Finalmente, escolho a liberdade …”)

sábado, outubro 29

À beira da estrada


Placas, Direcções, Efemérides, Lugares, Desculpas

ASNEIRA


Eu também me dei ao trabalho de ler, com atenção, o Manifesto Presidencial de Cavaco que está linkado num post anterior.

VPValente, como de costume, não poupa palavras. Muitas vezes não estou de acordo. Mas desta vez fez-me trazer à memória aquilo que senti ao ler o Manifesto mas que não me ocorreu logo traduzir pela palavra exacta: parece uma redacção, mas não sendo uma redacção, é uma asneira.

Parece que o candidato desconfia da capacidade de entendimento dos seus potenciais eleitores acerca do que está em jogo nas eleições presidenciais. Para Cavaco é um problema ter de falar, afirmar ao que vem, no fundo, as eleições, elas mesmas, são um problema.

E ainda não chegou a hora dos debates!

"Não sendo nem uma redacção, nem um dicionário, o manifesto [de Cavaco Silva] só pode ser uma asneira. Passa por um programa de governo, promete a Lua, acicata a esperança de um milagre para o dia em que o dr. Cavaco subir gloriosamente aos céus. No fundo, agrava o pior problema do presuntivo Presidente Cavaco: a desilusão e a fúria do país quando constatar que ele não mudou, nem consegue mudar, coisa nenhuma. Tretas de agora, penas de amanhã. O manifesto é um mistério"

Vasco Pulido Valente, PÚBLICO, 29-10-2005

Tarde aprendi


Do Pentimento

"bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir.
No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda."

Ana Cristina César

sexta-feira, outubro 28

CAVACO - "UM GOVERNO, DOIS PRIMEIROS-MINISTROS"


Fotografia de Viktor Ivanovski in XUPACABRAS

Para que se compreenda o que está em causa é bom conhecer as ideias e os programas dos candidatos.

O Manifesto Eleitoral de Mário Soares não está, neste momento, disponível no site oficial da candidatura mas pode ser lido aqui.

O Manifesto Eleitoral de Cavaco Silva, ontem apresentado, corresponde, ainda com mais clareza do que seria de esperar, a Cavaco com um acentuado perfil de Primeiro-ministro.

O Manifesto Eleitoral “As Minhas Ambições Para Portugal”, é uma autêntica minuta, ou rascunho, de um programa de governo.

Portugal corre o risco, caso Cavaco seja eleito Presidente da República, de passar a poder vangloriar-se de um modelo institucional do tipo “Um Governo, Dois Primeiros-Ministros”.

UMA NESGA DE CÉU


Teresa Dias Coelho - CLOUDS 2000

Uma nesga de céu no canto superior esquerdo
É o que resta da vista para a cidade com gente
Empilhada pelos andares sem as paredes azuis
De casas que julguei não aceitarem o cinzento

No asfalto em lugar dos bebedouros um regato
Infecto corre em frente e o verde prado a sorrir
Triste se despede já morto a golpes de cimento
Agora não vejo as vacas nem as oiço a ruminar.

Lisboa, 21 de Novembro de 2003

quinta-feira, outubro 27

As Preocupações de JPP


Monica Bellucci

José Pacheco Pereira (JPP) surpreendeu-me com a atenção que deu a duas supostas linhas de ataque dos apoiantes de Soares à candidatura de Cavaco. A razão da surpresa é simples de explicar: pensava eu que JPP não se preocupasse tanto com Soares dando mais atenção crítica ao exercício do governo socialista. Para mim, no lugar de JPP, dava o assunto das presidenciais como arrumado. Cavaco já ganhou. Ponto final.

É intrigante que alguém, tão arguto como JPP, se preocupe com uma candidatura perdedora. Mas o tempo se encarregará de esclarecer o mistério das preocupações de JPP. É provável que seja um exercício de análise demonstrativo do seu apreço face a alguém – Soares – cujas candidaturas presidenciais JPP sempre, até hoje, tinha apoiado.

Mas voltando às duas linhas de ataque a Cavaco, que JPP hoje rechaça, em artigo no “Público” e que deverá ficar, a qualquer momento, disponível no Abrupto, devo dizer que fiquei igualmente surpreendido com uma delas: o argumento do curriculum anti fascista de Soares versus a neutralidade política de Cavaco face ao antigo regime. Se alguém se lembrou de avançar com tal argumento – no caso Medeiros Ferreira – é problema dele. Não valia a pena sequer esboçar um mínimo de esforço a combater tal argumento se não se quisesse torná-lo uma arma de arremesso contra Soares que dele não precisa para nada.

O curriculum de Soares fala por si. Ao contrário de Cavaco que não tem concorrência à direita – e é esse o seu grande problema no meu ponto de vista – Soares confronta-se com pelo menos outras três (3) candidaturas no espaço da esquerda ou, melhor dito, no espaço à sua esquerda. Para quê invocar o argumento da falta de curriculum anti fascista de Cavaco quando é certo e sabido que qualquer dos outros candidatos à esquerda, cada um à sua maneira, o vai abundantemente utilizar.

Cavaco só tem a ganhar com a invocação dessa sua faceta de não anti fascista na justa medida em que a sua base de apoio eleitoral se estende até à extrema direita que muito pesarosa iria ficar se descobrisse que, à última da hora, Cavaco teria esboçado qualquer gesto, mesmo que simplesmente simbólico, contra o antigo regime.

Podemos ficar todos descansados. Cavaco nunca foi fascista nem anti fascista como, aliás, a maioria dos portugueses. Colocar a questão do seu não anti fascismo só o favorece.

Quanto à outra linha de ataque, abordada por JPP, a coisa já fia mais fino. As tentações presidencialistas existem mesmo que Cavaco as desminta e desmentirá, até ao fim, com a maior veemência. Essa é, aliás, uma das grandes linhas de demarcação de Soares em relação a Cavaco.

Compreende-se que JPP se preocupe com este ponto pois alguns ilustres apoiantes de Cavaco já escreveram, preto no branco, acerca do assunto e é sabido e reconhecido pelo próprio JPP que, em eleições presidenciais, vale mais o não dito do que o dito atenta a natureza do cargo em disputa.

Bem pode Cavaco negar a pés juntos a sua tentação presidencialista que ninguém vai acreditar na verosimilhança de tais juras na justa medida em que ele – mesmo que o negue – representa uma corrente de pensamento e de sentimento em prol do reforço dos poderes presidenciais. Ou bem que resiste e desilude a maioria daqueles que nele votarão, ou bem que assume essa pulsão – que vai de bem com a sua personalidade autoritária – e teremos a médio prazo um “golpe de estado” constitucional.

Esta é das poucas linhas de ataque que vale a pena Soares explorar a fundo pois toca no coração que faz mover a maioria dos apoiantes de Cavaco. E Cavaco gosta de alimentar esse pulsar presidencialista negando-o, todas as vezes e em cada momento, para melhor o afirmar junto das massas que sempre anseiam, em épocas de crise, por um messias que anuncie o advento da “salvação”. O pior é depois!

quarta-feira, outubro 26

Crónica de Uma Fidelidade


Fotografia de Angèle

A questão presidencial está na ordem do dia. A minha declaração de interesses nesta matéria é simples de fazer. Não tenho ligação orgânica a qualquer candidatura. É provável que não venha a surgir qualquer outro candidato, com relevância eleitoral, para além de Mário Soares, Cavaco Silva, Manuel Alegre, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã.

É interessante sublinhar que, nestas eleições, só uma mulher, Carmelinda Pereira, surge como candidata mas, aparentemente, o resultado que obtiver não contará para o desfecho final.

Como é público e notório apoio a candidatura de Mário Soares. O assunto interessa-me, desde logo, porque sempre me interessaram, em geral, as eleições e, em particular, as presidenciais.

Mas eu próprio me interroguei acerca da fidelidade do meu voto em Mário Soares. É, no essencial, um percurso político que a justifica. Numa série de posts – sem periodicidade definida - vou fazer uma viagem “impressionista” através desse percurso porque ajuda a avivar a memória dos que não têm vergonha do seu passado, das suas lutas, dúvidas, convicções, rupturas, dissenções e entusiasmos.

As minhas desculpas antecipadas pelos erros e omissões involuntárias nesta breve digressão que não é mais do que uma necessidade de partilhar, com vista ao futuro, algumas memórias de um passado recente que, pela aceleração da passagem do tempo, parecem mais longínquas do que de facto são.

Os Danados


Paula Rego – Pieta, 2002

“Sentido da minha obra: Tantos homens estão privados da graça. Como viver sem a graça. Temos de nos pôr à obra e fazer o que o Cristianismo nunca fez: ocupar-se dos danados.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

Divagando sobre as memórias (2)


1969 - Marianne Faithfull

Motorcycle Girl.

terça-feira, outubro 25

A Guerra e a Paz


Vietnam - 25 de Outubro de 1968

One of the many haunting images from the bloodiest war of the decade. A US infantryman carries a wounded refugee from the carnage of Vietnam, 25 October 1968. It was the year in which millions of americans, appalled by what they had seen on television, began to doubt that the United States would win.

O primeiro de uma série de temas centrais para uma campanha presidencial. Exactamente 37 anos passados sobre esta imagem o que terão os candidatos presidenciais a dizer acerca do tema da guerra e da paz na Europa e no Mundo?

"Substrato - um blog Endrominado"


Apresentando “Substrato – um blog Endrominado”

Vejam “isto”, que também me comoveu, e o post intitulado “Aníbal – o Boçal”.

PREVINAM-SE


Napoleão Bonaparte


O “povo de esquerda” está muito crítico em relação à candidatura presidencial de Mário Soares. Dizem que, após 30 anos de democracia, Soares representa “zero”, “nada”, o “vazio”, o contrário da renovação. Que, tendo sido já presidente, a candidatura de Soares fere o espírito republicano. Que, além do mais, a idade do candidato é um estorvo.

Os velhos são uns inúteis. Simbolizam a falta de energia, a irreparável antiguidade, a fatalidade da morte, uma insuperável maçada. Temo que alguns dos meus amigos de esquerda não gostem do que direi daqui até ao fim do processo das presidenciais – lá para 15 de Janeiro de 2006.

Não tem importância nenhuma pois também já se aborreceram com o que eu disse, nos últimos tempos, acerca do pontificado do Papa João Paulo II. Os velhos são o futuro mas, no ocidente, é difícil admitir que exerçam actividade profissional e, muito menos, que exerçam o poder.

Sabemos todos o que está em jogo nestas eleições presidenciais. A partir do momento em que Cavaco Silva se apresentou como candidato elas transformaram-se numa escolha entre duas personalidades com ideias e comportamentos muito distintos: Soares e Cavaco. Pela simples razão de que eles foram protagonistas cimeiros de acontecimentos relevantes na história portuguesa contemporânea.

Mas convém ter presente que as eleições, em democracia, são actos normais que não comportam escolher entre revolução e situação. Uma parte do “povo de esquerda” e, em particular, os intelectuais vivem na nostalgia dos “amanhãs que cantam” mas, para sua tristeza infinda, as “eleições burguesas” são simples escolhas pacíficas e livres de uma entre várias alternativas.

Soares e Cavaco representam, respectivamente, o “centro esquerda” e o “centro direita” mas as suas personalidades são diametralmente opostas. Soares é um cosmopolita, um “homem do mundo”. Cavaco é um provinciano, um “homem da terra”.

O que não deixa de ser interessante é os intelectuais de esquerda denegrirem as características de Soares contra os fundamentos das suas próprias convicções. Soares é um político puro, protagonista de duas aquisições decisivas na história portuguesa contemporânea: a democracia representativa e a plena adesão à UE. Soares intervém na política por prazer e, ao contrário de Cavaco, já foi tudo o que nela se pode ser.

Cavaco é um académico e tecnocrata, protagonista de um período de 10 anos de governo, com obra feita e controversa. Afirma-se o contrário do político profissional, mas nunca deixou de ser o que afirma nunca ter sido. Mostra enfado pelo protagonismo político que, para ele, é um dever mais que um prazer, um sacrifício pessoal a que “a salvação da pátria” obriga.

O que querem, afinal, à esquerda, os defensores da liberdade e da democracia? Querem “muscular” a democracia pela acção de um Presidente com poderes reforçados? Preferem um Presidente autoritário que dê voz aos detractores da política e dos partidos? Querem, afinal, bailar ao ritmo dos cantos de sereia de todos os populismos que sempre, com escândalo, repudiam?

São extraordinárias as revelações com que este período pré eleitoral nos tem presenteado.

Uma significativa parte da esquerda e, em particular, as elites, mostra não ter feito, afinal, as pazes com Mário Soares.

Eanes e os destroços do PRD, ao contrário de todas as evidências, não estão enterrados e os seus sobreviventes acotovelam-se dividindo-se entre o apoio a Alegre e a Cavaco.

Manuel Alegre sonha com um PS de “esquerda” com laivos populistas (“não preciso do apoio do PS para nada!”).

Em torno de Cavaco surge um movimento plebiscitário tentando reduzir as eleições presidenciais a um “sim ou não” ao “candidato único” ou ao “único candidato” que pode salvar Portugal. Não é, pois, de estranhar a natureza das gafes de Cavaco na primeira declaração pública, não encenada, que proferiu.

Elas são um pequeno sinal revelador da natureza do seu carácter e pensamento autoritários: à primeira pergunta respondeu como se já fosse presidente, mesmo antes da eleição – tão o seu subconsciente as dispensa – e, de seguida, referiu-se à Assembleia da República, o coração do poder político democrático, como a “Assembleia Nacional”, designação da caricatura democrática da instância legislativa da ditadura.

Previnam-se!

segunda-feira, outubro 24

"...coisas do conhecimento."


Imagens e Biografia de Roger Bacon

“Rogério Bacon foi condenado a doze anos de prisão por ter afirmado o primado da experiência nas coisas do conhecimento.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

A Rua


“Rua” – Maria Helena Vieira da Silva – [1953 gouache on board - 39 x 31 cm - Galerie Jeanne Bucher, Paris] Collection dr. Georges Jaeger

A rua era uma linha recta nascida de meus olhos.
Olhava-a da minha janela predilecta
e ela mudava de lugar a cada novo olhado.

A rua olhada de frente era uma linha recta.
Olhada de lado se perdia na esquina
e o êxtase imaculado era subir descalço ao telhado.

Do alto eu ganhava a liberdade de olhar o mundo.
Olhada de cima a linha recta era uma rua
e a descoberta era que havia uma curva ao fundo.

Lisboa, 25 de Agosto de 2005

O 18 de Brumário da CGTP, PCP e BE


O Juramento dos Horácios - Jacques-Louis David, 1784 [Musée du Louvre, Paris] Image from Cgfa

O 18 de Brumário da CGTP, PCP e BE

Estou, por uma vez, no essencial, de acordo com o que João César das Neves escreve, hoje, no DN com o título em epígrafe.

Ler, na íntegra, no IR AO FUNDO E VOLTAR.

HOMENAGEM À LINHA EDITORIAL DO "EXPRESSO"


"FUCK YOU!" (Grace Slick, 1967)

Em 1967 não era época de eleições livres em Portugal. O Estado Novo organizava um arremedo de eleições mas que tinham essa característica única de já se saberem os resultados antes de votar. Eram mesmo enviadas às redacções, na véspera das eleições, as notícias com os resultados que haviam de ser publicadas após os mesmos serem conhecidos. Um bocado como a direita, e certos sectores da esquerda, estão a fazer agora com o Prof. Cavaco.

Suponho que o “Expresso” por exemplo, já deve ter a notícia a publicar na edição do sábado imediatamente a seguir ao dia 15 de Janeiro de 2006. Se quiserem eu edito aqui uma versão dessa notícia e vão ver se andará muito longe da verdadeira. Também havia sempre um presidente da comissão de honra das candidaturas da UN (União Nacional) e depois da ANP (Acção Nacional Popular). Agora é o General Ramalho Eanes que é apresentado como presidente da comissão de honra da candidatura do Prof. Cavaco, uma grande novidade, com excepção do facto de já o ter sido na candidatura do mesmo Prof. Cavaco em 1995.

Pelas minhas contas, nos tempos mais recentes, eleições assim só em 1965, 1969 e 1973, todas para a Assembleia Nacional instituição de que falou, recentemente, o Prof. Cavaco. As últimas eleições Presidenciais às quais não concorreu o Prof. Cavaco, com um desfecho tão imprevisível, para o Expresso e para o Dr. Joaquim Aguiar, tiveram lugar em Outubro de 1972.

O Prof. Cavaco já devia estar em Inglaterra, depois do susto que lhe preguei, e as eleições presidenciais foram ganhas pelo saudoso Almirante Américo Thomás (com Th) que também concorreu sozinho pois o Manuel Alegre devia estar para fora, em Argel, e o Dr. Soares estava, se não erro, a “passar férias” em S. Tomé e Príncipe ou andaria por Paris a criar o PS que só tem contribuído para a desgraça da Pátria portuguesa.

O Jerónimo acho que andava a afinar máquinas e o Louçã devia andar no liceu a pregar o Trotskysmo. (O pai dele já devia ser Almiramte).

Infelizmente, em 1972, ainda não havia o “Expresso” para dar a notícia e explicar que o Almirante Thomás era quase tão velho como o Dr. Soares e representava o fim de um ciclo e que ninguém quis, à semelhança do que se passa na actualidade, ser candidato e que se o Prof. Cavaco, que é um jovem economista moderno e promissor, além de hirto e seco, quis fazer esse sacrifício, honra seja feita, é de aproveitar.

O Dr. Soares é acusado de ser um candidato, à semelhança do Almirante Thomás, de fim de regime, que só o Prof. Cavaco, se for eleito, salvará. Só espero que depois não tenham de chamar o Dr. Soares, de novo, para resolver as embrulhadas todas que o Prof. Cavaco vai criar e nunca mais saímos disto pois o Dr. Soares não é eterno.

(E a propósito de Generais e Almirantes lembrei-me daquela jovem artista americana que, em 1967, tomou a liberdade de exibir um gesto de desencanto perante a situação da vida dela e porventura da política na América, pois havia a guerra do Vietnam, face á qual o Dr. Soares havia de ser contra e o Prof. Cavaco a favor, e que achei que ilustrava a preceito o que eu sinto a respeito da linha editorial do “Expresso” mesmo com o saudoso arquitecto Saraiva de partida.)

domingo, outubro 23

ESQUECIMENTO ...


“Olhando o Gilão” – Fotografia de Hélder Gonçalves

“Trinta anos.
A primeira faculdade do homem é o esquecimento. Mas é justo dizer que esquece mesmo o bem que fez.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

(Fragmento, certamente, escrito a 7 de Novembro de 1943 dia do 30º aniversário de Camus. Por essa data Camus começou a trabalhar, como leitor, na “Gallimard”. Em simultâneo inicia a colaboração com a redacção do jornal da resistência “Combat” que acabara de mudar a sua redacção de Lyon para Paris. Pouco tempo depois assume a direcção do jornal. No meio de tantas recordações do meu empenhamento político, por coincidência, 30 anos atrás, entre despedidas de amigos, desilusões e esperanças, o teor daquele fragmento, na sua simplicidade, apesar de todas as lutas, é um lúcido apelo à concórdia entre os homens.)

Eu sinto um frio por dentro


Paula Rego - Monkey hypnotising a Chicken, 1982

Eu sinto um frio por dentro
Quando estremece o mundo
Ou alguém morre ou cai doente
O corpo desfalece e vai ao fundo
Quanto mais amadurece a vida
Em mim mais me entristeço
Lendo a mesma página lida
Se instala a dúvida se me mereço
Olho e revejo desfilar a gente
Que me amou e que se me deu
Receio receber a dor finalmente
Que se recebe e diz ela morreu
Não quero saber da angústia
Que me toma e subo a estrada
Devagar imaginando a busca
Final em que se perde a alma
Eu sinto um frio por dentro
Eu sinto o que não se ouve
Nem mesmo uivar o vento
E o que acontece eu já soube

Lisboa, 15 de Outubro de 2005

sexta-feira, outubro 21

ESTABILIDADE


Scarlett Johansson

Estabilidade foi a palavra mais usada por Cavaco Silva na sua declaração como candidato presidencial. Julgo não errar se disser que não usou uma única vez as palavras liberdade e justiça. Muito menos as palavras igualdade e equidade. E ainda muito menos, nem nunca usará, a palavra beleza.

Na sua linguagem de político, que se afirma o seu contrário, estabilidade significa não perturbar a acção reformista do governo socialista em funções.

Mas vamos chamar “os bois pelos nomes”. A palavra estabilidade na boca de Cavaco é um instrumento táctico para neutralizar a ideia, subjacente à sua candidatura, de se constituir como pólo aglutinador de uma alternativa de governo de direita.

Na verdade o que todos estão a pensar é que Cavaco, caso venha a ganhar as presidenciais, se assumirá, por acção ou omissão, como oposição de direita ao governo socialista.

Desiludam-se os que pensam, beatificamente, que o melhor Presidente para o governo de Sócrates será Cavaco pois, para a sua estratégia presidencial, Sócrates é um “idiota útil” que executa a componente dura das políticas de estabilização orçamental e as facetas impopulares das reformas do estado.

Após essa obra meritória, digo-o sem ironia, “Cavaco Presidente” agradecerá, grandiloquente, dando lugar a um governo do PSD dirigido, quase certamente, por Manuela Ferreira Leite.

A proclamada estabilidade soçobrará no momento julgado mais oportuno para derrubar o governo socialista. O derrube ocorrerá antes do fim do seu mandato, caso acorram factos excepcionais que o justifiquem, pois Cavaco, como qualquer outro Presidente, nunca descartará o exercício desse poder constitucional.

Em alternativa, caso chegue ao fim do mandato, o governo socialista carregará a cruz de ter sacrificado os “direitos adquiridos” que os portugueses deverão agradecer ao Prof. Cavaco e que este não deixará de lembrar, a toda a hora, através da afirmação da natureza social-democrata da sua ideologia.

Cavaco não garante a estabilidade governativa pela razão simples que não resistirá às pressões para intervir nas funções do governo. Quanto mais for o candidato único da direita menos margem de manobra terá para prosseguir um magistério independente que se constitua como fautor de estabilidade.

Não garante, por outro lado, a estabilidade do PSD pois minará a liderança de Marques Mendes em favor de uma liderança alternativa que possa vir a garantir a consagração da velha máxima, nunca antes alcançada pela direita, uma maioria, um governo, um presidente. E Marques Mendes é demasiado fraco para garantir um futuro governo social-democrata forte.

A palavra estabilidade, na boca de Cavaco é, em linguagem política, um instrumento táctico e não um desígnio estratégico. Em linguagem popular é uma pura mentira.

Só vale a pena a estabilidade com LIBERDADE, JUSTIÇA E BELEZA. Cavaco não encarnará nunca, de forma autêntica, estes valores. Não é por nada, não é capaz!

Sobre a Juventude


Fotografia de Angèle

“Há um momento em que a juventude se perde. É o momento em que os seres se perdem. E é preciso saber aceitar. Mas esse momento é duro.”

Albert Camus

Caderno n.º 4 (Janeiro 1942/Setembro 1945) – Tradução de António Quadros. Edição “Livros do Brasil”. (A partir da “Carnets”, 1962, Éditions Gallimard).

Bom Gosto


Uma nova obra prima de Margarida Delgado
no sabor a sal

CORAGEM


Che Guevara - Fotografia daqui

One of the most famous photographs of the 60's (and maybe of all times). It was taken in Cuba by Alberto Korda and was later the main theme of a documentary by Pedro Chaskel, "A Photo Turns Around The World". Guevara was captured and murdered in Bolivia, on October 1967

Devo avisar que nada me move, a título pessoal, contra o Prof. Cavaco Silva apesar de ter sido, seguramente, o primeiro português que o afrontou, politica e fisicamente, nos longínquos idos de um combate estudantil que fez história. Percebi as suas fraquezas que as rugas não apagaram nem a apresentação da candidatura presidencial, de ontem, esconde.

Ainda para mais Cavaco é meu conterrâneo, o seu perfil físico e humano, seco e hirto, está presente no meu imaginário desde a infância. Muitos homens do campo algarvio, pequenos agricultores, comerciantes, pescadores, trabalhadores, com os quais convivi, ostentavam o mesmo tipo físico, a mesma fisionomia, o mesmo carácter ao qual, na gíria, sempre se apelidou, com bonomia, de manhoso.

Nada que não se encaixe, com perfeição, no perfil da maioria dos portugueses. Somos uma espécie de “chicos espertos” a meio caminho entre o sacana e o sonso. Há-os em todas as famílias políticas e em todos os extractos sociais e profissionais. Não me refiro, em exclusivo, ao dito cujo pois à direita e à esquerda, entre políticos e empresários, gente da alta e da baixa, é uma espécie que está plenamente credenciada.

Por vezes, a espécie a que me refiro, associa a estas características a do puro sacana nacional, tão bem descrito por Sena no seu genial poema “No País dos sacanas”. Ele concentra, no seu ser mais profundo, o medo pânico ao contraditório, um desvelado apego à ordem natural das coisas, o desprezo pela prática da compaixão e um verdadeiro alheamento das coisas do espírito.

Por mais que se contorçam em espasmos de leitura e em aceitação de conselhos sábios estes homens e mulheres podem ser democratas, quando todos são democratas, mas preencheriam o perfil dos tiranos se a nação lhes solicitasse, em desespero, o favor de tomar em mãos os destinos da Pátria em perigo.

Quando se escolhe um Presidente, um pormenor ou um detalhe, absolutamente insignificantes, podem fazer toda a diferença. É uma questão de estilo? De idade? De experiência? De competência? De carácter? De tradição? De política? É de tudo isto um pouco.

Nas presidenciais escolhe-se, acima de tudo, a personalidade. É a escolha política mais pura de todas as escolhas. A minha escolha é a mais politicamente incorrecta do momento. Aquela que, paradoxalmente, está contra a corrente e é disso que eu gosto: Mário Soares. Sabem porquê? Entre muitas outras razões pela CORAGEM que Soares tem e Cavaco, apesar de hirto e seco, não tem.

(As imagens que integram estes posts serão, por vezes, aparentemente dissonantes dos textos mas isso é uma liberdade que me ofereço a mim próprio.)

quinta-feira, outubro 20

O ESTATUTO DOS DOCENTES


Apresentando INSÓNIA

“Uma rápida passagem pelo sítio da FENPROF deixa claro que os sindicatos dos professores estão mais contra o Governo do que a favor do ensino. E estão contra o Governo de uma forma absolutamente obtusa.”

A LER NO INSÓNIA

ÍTACA


Leonardo da Vinci - La Belle Ferronniere - Louvre, Paris

Quando saíres a caminho da ida para Ítaca,
faz votos para que seja longo o caminho,
cheio de aventuras, cheio de conhecimentos.
Os Lestrígones e os Ciclopes,
o zangado Poséidon não temas,
coisas assim no teu caminho não acharás nunca,
se o teu pensamento permanecer elevado, se emoção
requintada o teu espírito e o teu corpo tocar.
Os Lestrígones e os Ciclopes,
o selvagem Poséidon não encontrarás,
se com eles não carregares na tua alma,
se a tua alma não os colocar à tua frente.

Faz votos para que seja longo o caminho.
Para que sejam muitas as manhãs de verão
nas quais com que contentamento, com que alegria
entrarás em portos vistos pela primeira vez;
para que páres em feitorias fenícias,
e para que adquiras as boas compras
coisas de nácar e coral, de âmbar e de ébano,
e essências de prazer de qualquer espécie,
quanto mais abundantes puderes essências de prazer;
para que vás a muitas cidades egípcias,
para que aprendas e aprendas com os letrados.

Deves ter sempre Ítaca na tua mente.
A chegada ali é o teu destino.
mas não apresses em nada a tua viagem.
É melhor durar muitos anos;
e já velho fundeares na ilha,
rico do que ganhaste no caminho,
sem esperares que dê Ítaca riquezas.

Ítaca deu-te a bela viagem.
Sem Ítaca não terias saído do caminho.
Mas já não tem para te dar.

E se um tanto pobre a encontrares, Ítaca não te enganou.
Sábio como te tornaste, com tanta experiência,
já hás-de de compreender o que significam Ítacas.

[1911]

Konstandinos Kavafis

In “Os Poemas” – Tradução de Joaquim Manuel Magalhães e Nikos Pratsinis - Relógio d´Água, Julho de 2005. (Nesta publicação é dada a conhecer a última tradução credível, em língua portuguesa, da poesia de Kavakis).

Aqui deixo o poema Ítaca e o acesso ao mesmo na sua língua original e também traduzido noutras línguas.

Paquistão - 49.739 mortos, 74.000 feridos e 3 milhões de desalojados


Fotografia do Pakistan Times

Reproduzo, no IR AO FUNDO E VOLTAR, na íntegra, o "despacho" da LUSA acerca da situação que persiste após o sismo no Paquistão.

Sismo: ONU vive "pior pesadelo logístico" de sempre no Paquistão

Segundo a ONU, cerca de três milhões de pessoas estão desalojadas desde o sismo que, de acordo com um balanço hoje divulgado pelo chefe de operações de auxílio, general Farooq Ahmad Khan, fez 49.739 mortos e 74.000 feridos.

"O sismo, que abalou três países, torna-se pior a cada dia que passa, à medida que surge a necessidade de auxílio", disse Egeland.

Espera-se ajuda, em particular, do "grande império do bem" a um dos países aliados mais importantes na guerra do Iraque!

WILMA O FURACÃO MAIS FORTE


A LER NO NEW YORK ON TIME

"Wilma é o furacão mais intenso já registrado no Atlântico, categoria cinco, a mais forte. Não se sabe ainda onde o olho do furacão vai bater em terra firme, mas todo o Caribe, de Cuba e a Flórida à costa do México e da América Central, está em alerta, com previsão de chuvas torrenciais.

Ao mesmo tempo, anuncia-se que este último mês de setembro foi o mais quente jamais registrado no planeta desde que as temperaturas começaram a ser medidas. Nos Estados Unidos, apesar dos furacões, este setembro foi o mais quente e mais seco jamais registrado."

quarta-feira, outubro 19

DE KENNEDY A SOARES


A Biography of John F. Kennedy: The 35th President of the United States

Esta era a campanha que me apetecia fazer. Apetece-nos muita coisa, não é? Mas, assim por assim, como vamos entrar, a sério, na pré-campanha presidencial em Portugal aviso a navegação que vou, sem compromissos de espécie nenhuma, em plena liberdade, apoiar a candidatura de Mário Soares.

Os amigos que estão a apoiar outras candidaturas não levem a mal algumas palavras, porventura, mais contundentes, desabrimentos variados, desabafos, “bocas”, mas isto de eleger um presidente não é brincadeira nenhuma.

Eu apoio o mais velho em nome dos valores mais jovens.

TURISMHOTEL


Lisboa – Fotografia de Angèle

A revista TURISMHOTEL do grupo Editel, dirigida ao trade turístico, na edição de Setembro, destaca, por sua iniciativa própria, o artigo “O Seu a Seu Dono”, publicado no “Semanário Económico”, disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR.

Ao seu director Russo Cabrita, a quem não falta a memória, os meus agradecimentos e parabéns pela persistência na sua actividade editorial e qualidade das publicações que dirige.

O GRITO DO SILÊNCIO


Paula Rego – “Salazar”

“um povo corrompido que atinge a liberdade
tem a maior dificuldade em mantê-la”.

Maquiavel

Como te calas, poesia, longamente
deixando-me em silêncio dentro de ti.
Tenho esperado amargurado e triste
por um sinal que faças, despertando,
e nada vem dizer-me do que penso e vivo
na solidão do longe em tempo ou espaço,
onde a tua voz lembrava ou distinguia
memórias ou ideias que o vivido já
lançava como luz no não-vivido ainda,
ou no que dia a dia em terra nos transforma.
Eu sei porque te calas. Não é só
que os anos vão passando e nos despindo
de quanto se imagina ou vai julgando
que importa à ciência vácua de pesar-se
nessa balança de palavras tuas
o não pensado acerca de experiências
tão sem-valia no existir sem ti.
Ah não é só. Inquieta-te outra coisa
como um terror além da solidão.
Tu calas-te de angústia. Aquele país
em que nasceste, e sempre tu quiseste
como teu mundo, ainda que no mundo
sempre hás pensado mais que em mundo teu,
se despedaça: os gritos e estalidos
de um povo e um lar abrindo-se em chagas
de irreparáveis ódios e desastres
(quando tanto sonhas-te vê-los livres,
fraternamente em lutas por destinos
tão desde sempre merecidos na desgraça
de ser-se uma nação sempre dos outros),
atingem-te na face, nos ouvidos,
cobrem-te os olhos de visões sangrentas,
e cruzam na tua boca mãos diversas
que tão contrárias tudo calam. Como
hás-de falar da simples vida humana,
ou do viver-se só do amor perdido?
Mas como hás-de de cantar (cantaste outrora)
de uma revolta agora a desfazer-se
em lutas suicidas que condenas?
Mas que hás-de condenar que não pareça
traição aquilo mesmo que aguardavas?
E que aguardavas tu nessa ilusão
de que uma paz é quanto prevalece,
se se abrem de uma vez as portas todas
a mais que à liberdade, a quanto é fúria cega,
ou é sonhar-se negramente a vida
como revolução dos impossíveis?
Eu sei que não tens medo. Mas, perplexa,
recusas misturar-te a uma desordem
em que todos se perdem. Todavia,
é teu dever gritar além os gritos.
Ao menos grita o teu protesto agudo.
O grito do silêncio que te amarra.
A liberdade, a paz, a ordem necessária
a que um país resista ao próprio mal
que leva no seu sangue secular.
Grita por isso a voz do teu silêncio.
Não pela História que as nações inventam.
Mas pelo povo que se esquece inteiro
de que viver-se povo e ser-se povo é mais
que apenas desejar-se morte e sombras,
em nome seja do que for. Ah grita:
importa pouco se te escuta alguém,
no redemoinho tenso da surdez danada.
Porque há-de haver quem ouça, ainda há-de haver
quem ouça. E pouco a pouco pode ser
que o ter ouvido seja como as águas sobem,
cobrindo tudo num cansaço enorme
por essas mesmas águas consumido.
Que as águas venham límpidas, lavando
este veneno antigo do fascismo vil
que nos pensou desordem quando livres fôssemos.
Que as águas venham para a terra seca
em séculos de glória e mesquinhez,
e em décadas de medo e de vergonha.
Tão seca há-de bebê-las. E a verdura
virá de verde recobri-la toda
(como à maldade como somos duros
de tanto ter bebido sangue humano),
trazendo sobre si aquele mundo
em que mesmo dos ódios se construa a casa
para um só povo que dos ódios faça
o espaço e o tempo de existir tranquilo,
com toda a raiva de viver que sempre
fez que viver nos fosse sendo a vida.

Jorge de Sena

Santa Bárbara, 19/10/75
(aniversário de um dia sangrento da história portuguesa)

In “40 Anos de Servidão” “Poemas Políticos e Afins "
(1972-1977) - Moraes Editores


(Um longo poema, no dia do 30º aniversário em que foi
escrito, pois um espaço público destes que mais pode ser
senão para dar a conhecer o que é tão raro ter-se
disponível à mesa dos telejornais e das bancas dos jornais.
Além do mais é, para mim, uma gota de água transparente
na reconciliação com a história que, nos dias
em que foi dado à luz este poema, tão extremados
estavam os campos nos quais, afinal, haviam simplesmente
portugueses que, na sua maioria, lutavam para restaurar
a dignidade de um povo e de um país que tinham sido
humilhados, e se deixaram humilhar, quantas vezes,
pelo fascismo. Isso mesmo o fascismo de Salazar
cuja triste memória tantos, ainda hoje, tentam
empurrar para debaixo do tapete.)



terça-feira, outubro 18

PORTUGAL ENTRE OS MENOS CORRUPTOS


ACABOU DE "CAIR" O "DESPACHO" DA LUSA QUE, NA ÍNTEGRA, REPRODUZO. APÓS TER OUVIDO A NOTÍCIA DE QUE KATIA GUERREIRO - A MÉDICA FADISTA - VAI SER MANDATÁRIA DA JUVENTUDE DO FUTURO CANDIDATO PRESIDENCIAL, NÃO RESISTI A REPRODUZIR O DITO "DESPACHO" QUE NOS ANUNCIA QUE, AFINAL, AO CONTRÁRIO DE TODA A PROPAGANDA, OPINIÃO, DITO CORRENTE, CONVICÇÃO, CERTEZA, JURA E CONJECTURA, PORTUGAL ESTÁ ENTRE OS PAÍSES MENOS CORRUPTOS DO MUNDO. ORA BOLAS CAVACO! COMEÇO A ACHAR QUE O PAÍS, DE FACTO, NÃO PRECISA DE TI.


Corrupção: "Muito grave" em 70 países, Portugal entre os menos corruptos

Lisboa, 18 Out (Lusa) – Setenta países têm um "problema muito grave de corrupção", segundo o Índice 2005 de Percepção da Corrupção, hoje divulgado pela organização não-governamental Transparency International, que coloca Portugal entre os 30 países menos corruptos do mundo.


O índice, elaborado anualmente pela organização com base na avaliação da percepção de corrupção por empresários e analistas, aponta como mais corruptos de um conjunto de 159 países o Chade e o Bangladesh, que obtiveram 1,7 pontos numa escala de 10, em que o valor máximo corresponde ao menor grau de corrupção.

Portugal, o 26/o mais transparente, subiu um lugar em relação a 2004, obtendo este ano 6,5 pontos na avaliação feita por nove fontes, entre as quais o Fórum Económico Mundial e o Centro de Pesquisa dos Mercados Mundiais.

Os membros da União Europeia (UE) mais bem classificados são a Finlândia (2/o lugar), Dinamarca (4), Suécia (6), Áustria (10), Holanda e Reino Unido (11), Luxemburgo (13), Alemanha (16), França (18), Bélgica e Irlanda (19), Espanha (23) e Malta (25).

Portugal está atrás destes, mas classifica-se à frente de dois dos quinze países da UE pré-alargamento - Itália (40/o lugar) e Grécia (47) - e de nove dos dez novos membros - Estónia (27), Eslovénia (31), Chipre (37), Hungria (40) Lituânia (44), República Checa e Eslováquia (47), Letónia (51) e Polónia, o mais corrupto dos países europeus, que se classifica em 70/0 lugar.

Destes, merecem "nota negativa" (abaixo de cinco pontos) a Lituânia, a República Checa, a Grécia, a Eslováquia, a Letónia e a Polónia.

E quatro - Finlândia, Dinamarca, Suécia e Áustria - integram o grupo dos "dez mais" transparentes: Islândia, Finlândia, Nova Zelândia, Dinamarca, Singapura, Suécia, Suíça, Noruega, Austrália e Áustria.

Mais de dois terços dos países da lista têm nota negativa, mas os casos qualificados de "muito graves" pela organização são 70 e correspondem aos países que obtiveram menos de três pontos na avaliação feita.

Entre eles figuram, além de Moçambique e Angola, países como a Índia, a Argentina, a Rússia, a Indonésia, o Paquistão, o Afeganistão e o Iraque.

No fundo da lista estão o Bangladesh e o Chade, como uma nota de 1,7 pontos, seguindo-se o Haiti, Birmânia e Turquemenistão, com 1,8 pontos, a Costa do Marfim, Guiné Equatorial e Nigéria, com 1.9 pontos, e Angola, com 2 pontos.

Para a organização, o índice "testemunha o duplo fardo da corrupção e da pobreza carregado pelos países menos desenvolvidos do mundo": "A corrupção é a principal causa da pobreza e, ao mesmo tempo, o maior obstáculo à sua eliminação", disse Peter Eigen, presidente da Transparency International.

No comunicado que acompanha a divulgação do relatório, a organização refere que todos os 19 países que beneficiaram de perdões parciais da sua dívida ao abrigo da Iniciativa para os Países Altamente Endividados do FMI e do Banco Mundial, obtiveram uma pontuação de quatro ou menos pontos, que corresponde a "níveis graves ou muito graves de corrupção".

O texto refere, por outro lado, que se registaram "progressos assinaláveis" no último ano na Estónia, França, Hong Kong, Japão, Jordânia, Cazaquistão, Nigéria, Qatar, Taiwan e Turquia.

Em contrapartida, sofreram retrocessos ao nível da corrupção países como o Brasil, que passou do 59/o lugar em 2004 para o 62/o, Moçambique (do 90/o para o 97/o), Angola (do 133/o para o 151/o), e ainda Rússia, Costa Rica, Gabão, Nepal, Papuásia Nova-Guiné, Seicheles, Sri Lanka, Suriname, Trinidade e Tobago e Uruguai.


MDR.
Lusa/fim


(Os sublinhados são meus e as minhas desculpas pela imensidão do post mas já sei que a comunicação social vai tornar esta notícia, provavelmente, noutra notícia...).

CARLO E SOPFIA


Carlo Ponti e Sophia Loren (1966)

Uma imagem extraordinária de ternura (ou pura pose?) de duas figuras marcantes do cinema europeu de duas décadas. A ligação perfeita entre a capacidade de produzir e de seduzir!

Espanha - El inaplazable reto del "made in Spain"


Continuando a reflexão acerca da situação espanhola no âmbito da tecnologia, ciência e inovação, o "El País", de hoje, aprofunda o seu diagnóstico implacável.

"España es un 20% menos rica por la falta de inversión en I+DEl - conjunto de las empresas privadas 'tira' de la investigación mucho menos que la media de los países de la Unión Europea.

El salto adelante que propone el Gobierno sólo tendrá éxito si la empresa privada abandona su tibieza investigadora y acompaña a los poderes públicos en ese esfuerzo extraordinario. España precisa, desde luego, de una mayor y mejor financiación pública, pero, sobre todo, de una cultura empresarial de compromiso con la investigación aplicada.

El fútbol goza de mayor relevancia social en España que la ciência

La mayoría de los ejecutivos no ve en la Universidad un motor de desarrollo económico

La tibieza investigadora de la empresa privada obliga al sector público a cargar con el esfuerzo”.

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