(admirável paciência de quem viu e ouviu o digníssimo dignitário do princípio ao fim. eu não fui capaz que se me atravessou uma azia mental tumultuosa e mudei de canal talvez para a bola ou para os anúncios. não que não tenha dado pela pose de confessionário mais do que de consultório e aquela descrição indescritível de quantos pacientes se lhe têm queixado dos males da nação. o digníssimo mandatário já foi do actual e é irmão do António das cartas de amor. dizem alguns que com as confissões de Filomena essas cartas são o que lhes dá o pão ázimo do natal … teria escrito acerca da prestação do sereníssimo algo de semelhante se tivesse a capacidade de sofrimento para assistir à abertura pública do celebro do neutro cirurgião deus me perdoe cheio de fé e ideias omissas para o bem da nação. Assim seja!)
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, novembro 28
Com o tempo o mandatário vira ... à direita
(admirável paciência de quem viu e ouviu o digníssimo dignitário do princípio ao fim. eu não fui capaz que se me atravessou uma azia mental tumultuosa e mudei de canal talvez para a bola ou para os anúncios. não que não tenha dado pela pose de confessionário mais do que de consultório e aquela descrição indescritível de quantos pacientes se lhe têm queixado dos males da nação. o digníssimo mandatário já foi do actual e é irmão do António das cartas de amor. dizem alguns que com as confissões de Filomena essas cartas são o que lhes dá o pão ázimo do natal … teria escrito acerca da prestação do sereníssimo algo de semelhante se tivesse a capacidade de sofrimento para assistir à abertura pública do celebro do neutro cirurgião deus me perdoe cheio de fé e ideias omissas para o bem da nação. Assim seja!)
Presidenciais: com o tempo o Messias vira besta.
Parece ser claro que se desenharam dois nacionalismos na disputa presidencial: um nacionalismo de direita, encarnado por Cavaco Silva, e um nacionalismo de esquerda, o “quadrado vazio” que Manuel Alegre tenta preencher.
Mário Soares, na verdade, o único verdadeiro patriota, com provas dadas, é esconjurado por aqueles que ele próprio defendeu, na primeira linha, no 25 de Novembro.
Falo com à-vontade pois, à época, estava do outro lado. É verdadeiramente vergonhoso o apagamento de Mário Soares da efeméride – mal amanhada – do 25 de Novembro de 1975. O que seria daqueles militares que se pavoneiam como heróis da vitória da democracia representativa – a chamada ala moderada – incluindo a esfinge que dá pelo nome de Ramalho Eanes – não fora o papel político desempenhado por Mário Soares.
Cavaco não desempenhou papel nenhum, em coisa nenhuma, verdadeiramente importante na história recente de Portugal. Governar 10 anos, com 1 milhão de contos a entrar no país, em cada dia, não é glória para ninguém. Sê-lo-ia se Portugal apresentasse, hoje, níveis de desenvolvimento socio-económico, no mínimo, semelhantes à vizinha Espanha cujo deficit das contas públicas anda ao nível dos 0%.
Alegre, além de poeta e deputado, sempre foi um ajudante de Mário Soares e nada mais.
Representa, nestas presidenciais, uma fracção do PS à qual se juntaram algumas personalidades e cidadãos de boa vontade.
O problema de Mário Soares é estar “entalado” entre dois nacionalismos, de sinais contrários, como no 25 de Novembro, estava “entalado” entre dois radicalismos de sinais opostos.
Soares, no fundo, é um internacionalista. Tem uma visão da Europa próxima do federalismo e uma visão do mundo que se opõe à luta entre todos os radicalismos, sejam de natureza económica, religiosa ou militar.
Os políticos paroquiais levam a melhor sobre os políticos universais. A imagem de um presidente messiânico – autoritário ou sonhador – que vende a panaceia da cura dos males da nação tem vantagens na conjuntura actual. A imagem de um velho político lutador pela justiça e liberdade tem a desvantagem de representar a realidade, pura e dura, dos males da nação arrostando com os malefícios dos efeitos imediatos das políticas destinadas a corrigi-los.
Soares é o candidato da situação. Todos os outros são candidatos da oposição. Irónico!
O problema é quando, mais tarde, passados, no máximo, dois anos todos se derem conta que afinal os males são os mesmos e o Messias, vencedor de hoje, amanhã, virou besta.
Mário Soares, na verdade, o único verdadeiro patriota, com provas dadas, é esconjurado por aqueles que ele próprio defendeu, na primeira linha, no 25 de Novembro.
Falo com à-vontade pois, à época, estava do outro lado. É verdadeiramente vergonhoso o apagamento de Mário Soares da efeméride – mal amanhada – do 25 de Novembro de 1975. O que seria daqueles militares que se pavoneiam como heróis da vitória da democracia representativa – a chamada ala moderada – incluindo a esfinge que dá pelo nome de Ramalho Eanes – não fora o papel político desempenhado por Mário Soares.
Cavaco não desempenhou papel nenhum, em coisa nenhuma, verdadeiramente importante na história recente de Portugal. Governar 10 anos, com 1 milhão de contos a entrar no país, em cada dia, não é glória para ninguém. Sê-lo-ia se Portugal apresentasse, hoje, níveis de desenvolvimento socio-económico, no mínimo, semelhantes à vizinha Espanha cujo deficit das contas públicas anda ao nível dos 0%.
Alegre, além de poeta e deputado, sempre foi um ajudante de Mário Soares e nada mais.
Representa, nestas presidenciais, uma fracção do PS à qual se juntaram algumas personalidades e cidadãos de boa vontade.
O problema de Mário Soares é estar “entalado” entre dois nacionalismos, de sinais contrários, como no 25 de Novembro, estava “entalado” entre dois radicalismos de sinais opostos.
Soares, no fundo, é um internacionalista. Tem uma visão da Europa próxima do federalismo e uma visão do mundo que se opõe à luta entre todos os radicalismos, sejam de natureza económica, religiosa ou militar.
Os políticos paroquiais levam a melhor sobre os políticos universais. A imagem de um presidente messiânico – autoritário ou sonhador – que vende a panaceia da cura dos males da nação tem vantagens na conjuntura actual. A imagem de um velho político lutador pela justiça e liberdade tem a desvantagem de representar a realidade, pura e dura, dos males da nação arrostando com os malefícios dos efeitos imediatos das políticas destinadas a corrigi-los.
Soares é o candidato da situação. Todos os outros são candidatos da oposição. Irónico!
O problema é quando, mais tarde, passados, no máximo, dois anos todos se derem conta que afinal os males são os mesmos e o Messias, vencedor de hoje, amanhã, virou besta.
domingo, novembro 27
CÓRDOBA LEJANA Y SOLA
Ana Cristina Leite – S/T de la serie Sugar Cubes. 2003. [Acrílico, dibujo al carbón y resina sobre DM. 30 x 30 cm] – In Galeria ad hoc
(…)
Este céu passará e então
teu riso descerá dos montes pelos rios
até desaguar no nosso coração
(…)
Ruy Belo
CÓRDOBA LEJANA Y SOLA
"Aquele Grande Rio Eufrates"
(…)
Este céu passará e então
teu riso descerá dos montes pelos rios
até desaguar no nosso coração
(…)
Ruy Belo
CÓRDOBA LEJANA Y SOLA
"Aquele Grande Rio Eufrates"
Fernando Pessoa - nos 70 anos de sua morte
Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa...
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas...
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente...
Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.
------------
Encuentro tan natural que no se piense
------------
Encuentro tan natural que no se piense
Que me pongo a reir a veces, solo,
No sé bien de qué, pero es de cualquier cosa
Que tenga que ver con que hay gente que piensa...
¿Qué pensará mi muro de mi sombra?
Pregúntome a veces esto hasta dar en mí
Por preguntarme cosas...
Y entonces me desagrado, y me incomodo
Como si diera en mí con un pie dormido...
¿Qué pensará esto de aquello?
Nada piensa nada.
¿Tendrá la tierra consciencia de las piedras y plantas que tiene?
Si ella la tuviera, que la tenga...
¿Qué me importa eso a mí?
Si yo pensara en esas cosas,
Dejaría de ver los árboles y las plantas
Y dejaría de ver la Tierra,
Para ver sólo mis pensamientos...
Entristecería y quedaría a oscuras.
Alberto Caeiro 13-03-1914
site de poesias coligidas de F E R N A N D O P E S S O A
(Nos 70 anos da morte de Pessoa - 29/11/1935-29/11/2005 - um poema de "O Guardador de Rebanhos", em edição bilingue português/castelhano, antes que me esqueça. Pensando em Galgata e em todos os falantes do espanhol).
site de poesias coligidas de F E R N A N D O P E S S O A
(Nos 70 anos da morte de Pessoa - 29/11/1935-29/11/2005 - um poema de "O Guardador de Rebanhos", em edição bilingue português/castelhano, antes que me esqueça. Pensando em Galgata e em todos os falantes do espanhol).
Crónica de uma fidelidade (2)
Imagem daqui
Prosseguindo o percurso que explica a minha adesão à candidatura de Mário Soares remeto para a memória arquivada neste mesmo espaço. Aquando do 30º aniversário do 25 de Abril de 1974, o verdadeiro dia da libertação de Portugal e da vitória da democracia, relatei algumas facetas da minha participação pessoal nos acontecimentos.
Esse relato está disponível, no arquivo deste blogue, entre os dias 14 de Março e 28 de Abril de 2004. Ao contrário do que alguns poderão pensar é importante falar acerca da nossa memória pessoal embora, como sempre, se corram os riscos inerentes à tarefa.
(Continua)
Prosseguindo o percurso que explica a minha adesão à candidatura de Mário Soares remeto para a memória arquivada neste mesmo espaço. Aquando do 30º aniversário do 25 de Abril de 1974, o verdadeiro dia da libertação de Portugal e da vitória da democracia, relatei algumas facetas da minha participação pessoal nos acontecimentos.
Esse relato está disponível, no arquivo deste blogue, entre os dias 14 de Março e 28 de Abril de 2004. Ao contrário do que alguns poderão pensar é importante falar acerca da nossa memória pessoal embora, como sempre, se corram os riscos inerentes à tarefa.
(Continua)
sábado, novembro 26
GIL VICENTE
Imagem daqui
Gil Vicente já foi (e é) uma paixão minha. Imaginem só! Pela mão do Dr. Emílio Campos Coroa participei como actor (e “faz tudo”), ainda no final do liceu, em muitas representações de peças de Mestre Gil.
Isto é um tema de cultura um pouquinho pesado assim do género daquela do Dr. Soares ter dito que era de toda a conveniência que o Presidente da República conhecesse os “Lusíadas”.
Todos aqueles que choramingam sobre o leite derramado da nossa falta de competitividade se fartaram de zurzir, mesmo através do silêncio, nas palavras de Soares. Se alguém se lembrasse de Gil Vicente cairia o Carmo e a Trindade. Já o disse, e repito, que é uma vergonha nacional não haver um teatro nacional (talvez o “Teatro Nacional”, que anda a fazer?...) que mantenha em cena, de forma permanente e continuada, o vasto e rico reportório de Gil Vicente.
Pensei fazer isso no INATEL mas não me deram tempo. Fiz até um esboço de projecto, que ficou no meu exclusivo conhecimento, acerca desse e de outros dois projectos que muito me entusiasmavam. Mas, bem vistas as coisas, à distância, como diria o povo, eram “pérolas a porcos”.
Pois hoje fui comprar os “Autos das Barcas!” O meu filho precisa de estudar o “Auto da Barca do Inferno”. Faz parte integrante do programa de português do 9º ano. E muito bem, acrescento eu.
Representei vezes sem conta, pelo “Círculo Cultural do Algarve”, “Os Autos das Barcas” que são três: “Auto da Barca do Inferno”, “Auto da Barca do Purgatório” e “Auto da Barca da Glória”. Desempenhava 3 personagens, um em cada uma das barcas, o que me dava uma trabalheira dos diabos, com a particularidade de nunca as cabeleiras me caberem na cabeça… Ficavam apertadas e faziam-me sentir desconfortável. Só aí descobri que tenho um perímetro de cabeça descomunal, mas o espectáculo tinha de continuar!
Pois fui ler, hoje, as “falas” em cada um dos meus personagens tendo em vista verificar quais os excertos que resistiram à usura do tempo e ainda se mantêm reconhecíveis por mim próprio na relação com a memória de um passado longínquo.
Na “Barca do Inferno” fazia de “Procurador”. Entrava carregado de livros e, deparando-se com o “Corregedor”, iniciava este diálogo, aliás muito actual …:
Corregedor: Ó senhor procurador!
Procurador: Beijo-vo-las mãos, Juiz!
Que diz este arrais? Que diz?
Diabo: Que sereis bom remador.
Entrai, bacharel doutor,
e ireis dando à bomba.
Procurador: E este barqueiro zomba?
Jogatais de zombador?
Essa gente que aí está,
para onde a levais?
Diabo: Para as penas infernais.
Procurador: Disse! Não vou eu para lá!
Outro navio está cá
muito melhor assombrado.
Diabo: Ora estais bem aviado!
Entrai, muitieramá!
(…)
(O Procurador foi parar ao Inferno …)
Na “Barca do Purgatório” fazia de Taful (Jogador), última personagem desta “Barca”, com diálogos muito mais interessantes dos quais alguns fragmentos me ficaram profundamente gravados na memória.
A cena inicia-se com a entrada do Taful.
Diabo: Ó meu sócio e meu amigo,
meu bem e meu cabedal!
Vós, irmão, ireis comigo,
que não temeste o perigo
da viagem infernal!
Taful: Eis aqui flux de um metal.
Diabo: Pois sabe que eu te ganhei.
Taful: Mostra se tens jogo tal.
Diabo: Baralha o jogo e partamos.
Taful: Paga, que eu não jogo em vão …
(…)
Na “Barca da Glória” desempenhava o papel de “Cardeal”, penúltimo a entrar em cena, trazido pela “Morte” e recordo uma “fala” extraordinária, demonstrativa do génio de Gil Vicente, em resposta à determinação do “Diabo” que se lhe dirige nestes termos:
Diabo: (…) E não quero declarar
mais coisas para dizer.
Determinai de embarcar,
e logo, sem dilatar,
que não tendes que arguir.
Sois perdido!
Ouvis aquel´ grão ruído
lá no lago dos leões?
Apurai bem o ouvido:
vós sereis ali comido
Pelos cães, pelos dragões.
Lição
Cardeal: Todo o homem que é nascido
de mulher tem breve a vida,
que quasi flos é saído,
e prestes logo abatido,
e sua alma perseguida.
E não pensamos,
quando na vida gozamos,
como dela nos partimos,
e como sombras passamos,
e com dores acabamos,
pois em dores já nascemos!
(…)
Texto reproduzido da 7ª edição de bolso da “Europa-América”, de “Os Autos das Barcas”, da responsabilidade de J. Tomaz Ferreira.
(Será um prazer representar, a sós, com o meu filho o “Auto da Barca do Inferno” – ele fará de “Diabo” e eu todas as restantes personagens.)
Gil Vicente já foi (e é) uma paixão minha. Imaginem só! Pela mão do Dr. Emílio Campos Coroa participei como actor (e “faz tudo”), ainda no final do liceu, em muitas representações de peças de Mestre Gil.
Isto é um tema de cultura um pouquinho pesado assim do género daquela do Dr. Soares ter dito que era de toda a conveniência que o Presidente da República conhecesse os “Lusíadas”.
Todos aqueles que choramingam sobre o leite derramado da nossa falta de competitividade se fartaram de zurzir, mesmo através do silêncio, nas palavras de Soares. Se alguém se lembrasse de Gil Vicente cairia o Carmo e a Trindade. Já o disse, e repito, que é uma vergonha nacional não haver um teatro nacional (talvez o “Teatro Nacional”, que anda a fazer?...) que mantenha em cena, de forma permanente e continuada, o vasto e rico reportório de Gil Vicente.
Pensei fazer isso no INATEL mas não me deram tempo. Fiz até um esboço de projecto, que ficou no meu exclusivo conhecimento, acerca desse e de outros dois projectos que muito me entusiasmavam. Mas, bem vistas as coisas, à distância, como diria o povo, eram “pérolas a porcos”.
Pois hoje fui comprar os “Autos das Barcas!” O meu filho precisa de estudar o “Auto da Barca do Inferno”. Faz parte integrante do programa de português do 9º ano. E muito bem, acrescento eu.
Representei vezes sem conta, pelo “Círculo Cultural do Algarve”, “Os Autos das Barcas” que são três: “Auto da Barca do Inferno”, “Auto da Barca do Purgatório” e “Auto da Barca da Glória”. Desempenhava 3 personagens, um em cada uma das barcas, o que me dava uma trabalheira dos diabos, com a particularidade de nunca as cabeleiras me caberem na cabeça… Ficavam apertadas e faziam-me sentir desconfortável. Só aí descobri que tenho um perímetro de cabeça descomunal, mas o espectáculo tinha de continuar!
Pois fui ler, hoje, as “falas” em cada um dos meus personagens tendo em vista verificar quais os excertos que resistiram à usura do tempo e ainda se mantêm reconhecíveis por mim próprio na relação com a memória de um passado longínquo.
Na “Barca do Inferno” fazia de “Procurador”. Entrava carregado de livros e, deparando-se com o “Corregedor”, iniciava este diálogo, aliás muito actual …:
Corregedor: Ó senhor procurador!
Procurador: Beijo-vo-las mãos, Juiz!
Que diz este arrais? Que diz?
Diabo: Que sereis bom remador.
Entrai, bacharel doutor,
e ireis dando à bomba.
Procurador: E este barqueiro zomba?
Jogatais de zombador?
Essa gente que aí está,
para onde a levais?
Diabo: Para as penas infernais.
Procurador: Disse! Não vou eu para lá!
Outro navio está cá
muito melhor assombrado.
Diabo: Ora estais bem aviado!
Entrai, muitieramá!
(…)
(O Procurador foi parar ao Inferno …)
Na “Barca do Purgatório” fazia de Taful (Jogador), última personagem desta “Barca”, com diálogos muito mais interessantes dos quais alguns fragmentos me ficaram profundamente gravados na memória.
A cena inicia-se com a entrada do Taful.
Diabo: Ó meu sócio e meu amigo,
meu bem e meu cabedal!
Vós, irmão, ireis comigo,
que não temeste o perigo
da viagem infernal!
Taful: Eis aqui flux de um metal.
Diabo: Pois sabe que eu te ganhei.
Taful: Mostra se tens jogo tal.
Diabo: Baralha o jogo e partamos.
Taful: Paga, que eu não jogo em vão …
(…)
Na “Barca da Glória” desempenhava o papel de “Cardeal”, penúltimo a entrar em cena, trazido pela “Morte” e recordo uma “fala” extraordinária, demonstrativa do génio de Gil Vicente, em resposta à determinação do “Diabo” que se lhe dirige nestes termos:
Diabo: (…) E não quero declarar
mais coisas para dizer.
Determinai de embarcar,
e logo, sem dilatar,
que não tendes que arguir.
Sois perdido!
Ouvis aquel´ grão ruído
lá no lago dos leões?
Apurai bem o ouvido:
vós sereis ali comido
Pelos cães, pelos dragões.
Lição
Cardeal: Todo o homem que é nascido
de mulher tem breve a vida,
que quasi flos é saído,
e prestes logo abatido,
e sua alma perseguida.
E não pensamos,
quando na vida gozamos,
como dela nos partimos,
e como sombras passamos,
e com dores acabamos,
pois em dores já nascemos!
(…)
Texto reproduzido da 7ª edição de bolso da “Europa-América”, de “Os Autos das Barcas”, da responsabilidade de J. Tomaz Ferreira.
(Será um prazer representar, a sós, com o meu filho o “Auto da Barca do Inferno” – ele fará de “Diabo” e eu todas as restantes personagens.)
ABRIL EM LISBOA
Fotografia daqui
Pelas ruas ouve-se o silêncio estranho da espera
Ou será de quem desespera por esperar o dia
Que há-de vir de novo e lhes traga uma alegria
Pelas ruas rareia o movimento como um regresso
Ao passado que se não reconhece no presente
Os homens transformados na sua sombra ausente
Pelas ruas não se notam sinais do riso de mulheres
Nem os fumos de verão saídos dos seus decotes
E nada se parece com as cores dos dias felizes
Pelas ruas não vagueiam os cães nem as carroças
Puxadas a cavalo nem quase uma só bicicleta
E os cheiros são vagamente inodoros de vícios
Pelas ruas corre o vento e o sol por vezes abrasa
Nada faz dormir a natureza e levá-la para casa
É decerto impossível mesmo a golpes de espada
Pelas ruas caminho com pressa ou devagarinho
E olho com fervor aqueles que em certos dias
Me olham com atenção que em outros dias não
Pelas ruas ouve-se um silêncio estranho de espera
Do dia em que desfilem às arrecuas as fanfarras
Anunciando uma boa nova porque se desespera
Pelas ruas por vezes acontece a solidão das mãos
Estendidas mas nada de notícias de boas vindas
Nem braços de polícias sinaleiros nas esquinas
Pelas ruas secou o rio do formigueiro humano
Vejo filas de espera por um lugar no autocarro
Que é feito do teu coração cidade que eu amo?
Lisboa, 12 de Abril de 2005
Pelas ruas ouve-se o silêncio estranho da espera
Ou será de quem desespera por esperar o dia
Que há-de vir de novo e lhes traga uma alegria
Pelas ruas rareia o movimento como um regresso
Ao passado que se não reconhece no presente
Os homens transformados na sua sombra ausente
Pelas ruas não se notam sinais do riso de mulheres
Nem os fumos de verão saídos dos seus decotes
E nada se parece com as cores dos dias felizes
Pelas ruas não vagueiam os cães nem as carroças
Puxadas a cavalo nem quase uma só bicicleta
E os cheiros são vagamente inodoros de vícios
Pelas ruas corre o vento e o sol por vezes abrasa
Nada faz dormir a natureza e levá-la para casa
É decerto impossível mesmo a golpes de espada
Pelas ruas caminho com pressa ou devagarinho
E olho com fervor aqueles que em certos dias
Me olham com atenção que em outros dias não
Pelas ruas ouve-se um silêncio estranho de espera
Do dia em que desfilem às arrecuas as fanfarras
Anunciando uma boa nova porque se desespera
Pelas ruas por vezes acontece a solidão das mãos
Estendidas mas nada de notícias de boas vindas
Nem braços de polícias sinaleiros nas esquinas
Pelas ruas secou o rio do formigueiro humano
Vejo filas de espera por um lugar no autocarro
Que é feito do teu coração cidade que eu amo?
Lisboa, 12 de Abril de 2005
sexta-feira, novembro 25
quinta-feira, novembro 24
quarta-feira, novembro 23
ARIEL SHARON -78 ANOS
O Prof. Marcelo, na sua “conversa em família”, no domingo passado, fez uma alusão à idade do Dr. Soares. Como quem diz: presidentes candidatos com esta idade nunca houve… é esta a ideia. Já se sabe qual é a lógica e o objectivo da referência.
O General Norton de Matos, em 1949, por acaso, candidatou-se à presidência, com 80 anos, num contexto político com inaceitáveis limitações à liberdade, próprias de uma ditadura. Mas um reputado jurista, como o Prof. Marcelo, devia saber que essas eleições foram, formalmente, realizadas por sufrágio directo e não indirecto.
Mas o facto mais interessante e actual, a propósito de idades de candidatos, é o caso de Ariel Sharon. Como resultado das eleições internas no Partido Trabalhista Israelita o governo de Sharon caiu. O que fez Sharon? Lançou-se na criação de um novo partido e prepara-se para concorrer às próximas eleições que vão ocorrer em 28 de Março próximo.
O seu novo partido, antes mesmo de ser criado, já vai à frente nas sondagens.
Sabem qual é a idade de Sharon? 78 anos! O que é que acham, ainda por cima, para concorrer a uma função executiva? Sabem que o que sempre contou nos líderes políticos é o seu carisma e a vontade de combater!
Ariel (“Arik”) Sharon was born at Kfar Malal on February 27, 1928. He served in the IDF for more than 25 years, retiring with the rank of Major-General. He holds an LL.B in Law from the Hebrew University of Jerusalem (1962).
O General Norton de Matos, em 1949, por acaso, candidatou-se à presidência, com 80 anos, num contexto político com inaceitáveis limitações à liberdade, próprias de uma ditadura. Mas um reputado jurista, como o Prof. Marcelo, devia saber que essas eleições foram, formalmente, realizadas por sufrágio directo e não indirecto.
Mas o facto mais interessante e actual, a propósito de idades de candidatos, é o caso de Ariel Sharon. Como resultado das eleições internas no Partido Trabalhista Israelita o governo de Sharon caiu. O que fez Sharon? Lançou-se na criação de um novo partido e prepara-se para concorrer às próximas eleições que vão ocorrer em 28 de Março próximo.
O seu novo partido, antes mesmo de ser criado, já vai à frente nas sondagens.
Sabem qual é a idade de Sharon? 78 anos! O que é que acham, ainda por cima, para concorrer a uma função executiva? Sabem que o que sempre contou nos líderes políticos é o seu carisma e a vontade de combater!
Ariel (“Arik”) Sharon was born at Kfar Malal on February 27, 1928. He served in the IDF for more than 25 years, retiring with the rank of Major-General. He holds an LL.B in Law from the Hebrew University of Jerusalem (1962).
terça-feira, novembro 22
Romance
Paula Rego - Assumpção
“Romance. Quando a sopa da noite tardava, era porque na manhã seguinte havia execuções.”
Albert Camus
“Romance. Quando a sopa da noite tardava, era porque na manhã seguinte havia execuções.”
Albert Camus
Caderno n.º 5 (Continuação) – 1948 – 1951. Tradução de António Ramos Rosa. Edição “Livros do Brasil”. (A partir de “Carnets II”, 1964, Éditions Gallimard).
Por esta época era Camus já um autor de sucesso e tanto assim é que, no Outono de 1947, se falava nele como candidato ao Prémio Nobel. No ano de 1948, em colaboração com Jean-Louis Barrault, cria a peça “O Estado de Sítio” que, tal como a que a antecedeu (“O Equívoco”) não alcançou grande sucesso. É conhecida a sua forte ligação sentimental à actriz Maria Casarès que participa nos elencos destas peças.
No verão de 1949 realiza uma viagem por vários países da América do Sul tendo sobrevindo uma recidiva da sua doença pulmonar. De regresso, doente, termina a peça “Os Justos” e, em breve, retira-se para o sul de França onde nasce o seu ensaio de referência “O Homem Revoltado”, publicado em 1951, que vinha sendo preparado desde os tempos da guerra.
O início da releitura deste Caderno nº 5 (continuação) criou em mim uma vontade, irrealizável, de o transcrever na íntegra. Foi neste Caderno que mais sublinhados, e mesmo anotações, pude encontrar resultantes da minha primeira leitura de juventude, pelos meus 20 anos. Esses sublinhados foram transcritos, aliás, no blogue Cadernos de Camus. Não os irei repetir.
Por ora fica o fragmento inaugural deste Caderno nº 5 (continuação) que, na edição portuguesa, da “Livros do Brasil, integra o volume intitulado “Cadernos III” (que me custou 15$00) sendo assinalável o facto do autor da tradução ser o grande poeta português, António Ramos Rosa. Um privilégio.
Por esta época era Camus já um autor de sucesso e tanto assim é que, no Outono de 1947, se falava nele como candidato ao Prémio Nobel. No ano de 1948, em colaboração com Jean-Louis Barrault, cria a peça “O Estado de Sítio” que, tal como a que a antecedeu (“O Equívoco”) não alcançou grande sucesso. É conhecida a sua forte ligação sentimental à actriz Maria Casarès que participa nos elencos destas peças.
No verão de 1949 realiza uma viagem por vários países da América do Sul tendo sobrevindo uma recidiva da sua doença pulmonar. De regresso, doente, termina a peça “Os Justos” e, em breve, retira-se para o sul de França onde nasce o seu ensaio de referência “O Homem Revoltado”, publicado em 1951, que vinha sendo preparado desde os tempos da guerra.
O início da releitura deste Caderno nº 5 (continuação) criou em mim uma vontade, irrealizável, de o transcrever na íntegra. Foi neste Caderno que mais sublinhados, e mesmo anotações, pude encontrar resultantes da minha primeira leitura de juventude, pelos meus 20 anos. Esses sublinhados foram transcritos, aliás, no blogue Cadernos de Camus. Não os irei repetir.
Por ora fica o fragmento inaugural deste Caderno nº 5 (continuação) que, na edição portuguesa, da “Livros do Brasil, integra o volume intitulado “Cadernos III” (que me custou 15$00) sendo assinalável o facto do autor da tradução ser o grande poeta português, António Ramos Rosa. Um privilégio.
O Novo Aeroporto da Ota
Paula Rego – No Deserto
Afinal os estudos existem, anos e anos de estudos, decénios de estudos! O que custa realizar uma obra estruturante e estratégica para o futuro do país. Tal como as outras grandes obras públicas do passado – mais ou menos longínquo – um drama, uma tragédia num país cheio de gente mesquinha, que anda sempre a espreitar para a janela do vizinho e a valorizar o que não tem importância nenhuma, para desvalorizar o que tem verdadeira importância. Haja a Deus!
Mário Lino: aeroporto fora da Ota poderia inviabilizar fundos comunitários
Afinal os estudos existem, anos e anos de estudos, decénios de estudos! O que custa realizar uma obra estruturante e estratégica para o futuro do país. Tal como as outras grandes obras públicas do passado – mais ou menos longínquo – um drama, uma tragédia num país cheio de gente mesquinha, que anda sempre a espreitar para a janela do vizinho e a valorizar o que não tem importância nenhuma, para desvalorizar o que tem verdadeira importância. Haja a Deus!
Mário Lino: aeroporto fora da Ota poderia inviabilizar fundos comunitários
JFK
Jackie grieves beside her husband's grave on November 25, 1963, the day he was laid to rest. She holds the flag that covered the president's coffin during the procession from Saint Matthew's Cathedral to the cemetery.
Em memória de John Kennedy assassinado a 22 de Novembro de 1963.
Veja aqui e aqui e aqui
Em memória de John Kennedy assassinado a 22 de Novembro de 1963.
Veja aqui e aqui e aqui
segunda-feira, novembro 21
Cavaco e Soares - um abismo de diferenças num caminho estreito
Fotografia Isabel Ramos
Cavaco é um político à força; Soares um político natural. Cavaco não respira política; Soares é um político instintivo. Cavaco representa o “pequeno Portugal”; Soares é um político universal. Cavaco representa o “império da terra”; Soares o “império do mar”. Cavaco é um símbolo de autoridade; Soares um sinal de desafio. Cavaco é o sonho antigo do “Portugal Maior”; Soares é a esperança futura de um “Portugal Melhor”.
Cavaco é um político à força; Soares um político natural. Cavaco não respira política; Soares é um político instintivo. Cavaco representa o “pequeno Portugal”; Soares é um político universal. Cavaco representa o “império da terra”; Soares o “império do mar”. Cavaco é um símbolo de autoridade; Soares um sinal de desafio. Cavaco é o sonho antigo do “Portugal Maior”; Soares é a esperança futura de um “Portugal Melhor”.
Jogando a sua palavra na batalha presidencial, Soares prestigia a democracia. Resguardando a sua palavra, Cavaco desprestigia a democracia. Afirmando-se acima dos partidos Cavaco hostiliza a política; Prestigiando o apoio do PS Soares valoriza a política. Cavaco podia ser um bom primeiro-ministro se já o não tivesse sido; Soares poderá ser um bom presidente da república porque já o foi.
Tudo depende, afinal, de haver uma segunda volta nas presidenciais.
A idade da reforma e o tempo de trabalho ...
Fotografia José Marafona
A propósito das anunciadas reformas do “estado social” na Alemanha, com prováveis aumentos do horário de trabalho e da idade de reforma, acima dos 65 anos, [e as notícias da Alemanha são sempre marcantes na marcha da história europeia] ocorreu-me, a propósito do “aumento da idade da reforma”, partilhar algumas reflexões.
A propósito das anunciadas reformas do “estado social” na Alemanha, com prováveis aumentos do horário de trabalho e da idade de reforma, acima dos 65 anos, [e as notícias da Alemanha são sempre marcantes na marcha da história europeia] ocorreu-me, a propósito do “aumento da idade da reforma”, partilhar algumas reflexões.
Tenho, porventura, uma estranha concepção acerca deste tema que se discute, hoje, em todas as sociedades ocidentais por influência da crise do chamado “estado previdência” por sua vez fundada, entre outros factores, no “envelhecimento demográfico”.
A minha concepção é muito simples de explicar: acho que se deve trabalhar até ao fim da vida. Para evitar mal entendidos dou como adquirido que o direito à reforma é uma aquisição civilizacional da Europa do pós-guerra, que deve ser defendida, contra todas as tentações ultra liberais.
Mas acrescento que essa defesa só será possível, e consequente, se o direito à reforma, assim como os benefícios associados, forem concedidos no fim efectivo da vida laboral ou, a título excepcional, por razões de incapacidade física ou outra.
Esta concepção pode parecer um pouco bizarra para alguns mas é, no fundo, este o conceito original que informou o princípio criador do “estado previdência”. Por outro lado é influenciada pela minha experiência pessoal e familiar.
Sendo oriundo de uma família na qual, em qualquer dos ramos, são raros os funcionários públicos, habituei-me a conviver com pequenos agricultores e comerciantes que trabalharam até ao fim das suas vidas.
Os meus avós, os meus pais, o meu irmão trabalharam até ao fim. O meu sogro igualmente. (Todos falecidos). Os seus “direitos adquiridos” eram a sua capacidade e vontade de trabalhar. Eu, apesar de funcionário público, vou pelo mesmo caminho.
Desculpem, pois, esta incapacidade cultural em entender as razões da luta contra o prolongamento da idade de reforma pois acho que, em princípio, não devia haver uma idade para a reforma, mas, simplesmente, uma repartição do trabalho entre todos sobre a qual havia de repousar a repartição das poupanças do rendimento desse trabalho a distribuir solidariamente entre uma minoria que não pudesse já trabalhar.
Com mais ou menos requinte técnico, mais dia, menos dia, será este o modelo do nosso futuro “estado social”. Um novo conceito de tempo de trabalho, precisa-se!
domingo, novembro 20
A Candidatura de Norton de Matos (1949)
Possuo na minha pequena biblioteca quatro livros do General Norton de Matos. Os temas neles tratados só aparentemente são arqueológicos. Os livros são:
- “Os Dois Primeiros Meses da Minha Candidatura à Presidência da República” Edição de Autor (1949);
- “Mais Quatro Meses da Minha Candidatura à Presidência da República” Edição de Autor (1949);
- “Memórias e Trabalhos da Minha Vida” – Volumes I e II – Editora Marítimo Colonial Lda. (1944);
Já uma vez falei neles, ou parte deles, mas o contexto político era outro. O que fez mudar a situação é o facto de o Dr. Mário Soares se ter candidatado à Presidência da República tal como aconteceu com Norton de Matos.
O General Norton de Matos, à data da sua candidatura, também tinha 80 anos (nasceu em 23 de Março de 1867) e, segundo o seu relato, foram a “grandeza e o inesperado das felicitações” pela passagem dos seus 80 anos, em Março de 1947, que o levaram a considerar a candidatura presidencial. Curiosamente foi desenhado por Júlio Pomar tal como havia de acontecer, posteriormente, com Mário Soares.
A campanha eleitoral começou, oficialmente, a 3 de Janeiro de 1949, e as eleições realizaram-se em 13 de Fevereiro, tendo o general Carmona sido reeleito e Norton de Matos desistido no dia anterior. A próxima campanha eleitoral começará também em Janeiro e a segunda volta, caso se realize, decorrerá num dia próximo de 13 Fevereiro de 2006.
Mário Soares (aos 22 anos) foi membro da “Comissão dos Serviços Centrais da Candidatura” de Norton de Matos de que faziam parte, entre outros, o Prof. Mário de Azevedo Gomes, Dr. Luís da Câmara Reis, Engº Tito de Morais, Dr. Jacinto Simões, Rodrigo de Abreu e Lima e Manuel Mendes.
É claro que os tempos mudaram. Hoje não há ditadura nem se desenham no horizonte perigos para o regime democrático. Mas uma candidatura no contexto da democracia portuguesa contemporânea, ao contrário daquele tempo, em que se constituía como um acto corajoso de resistência à ditadura, tem a vantagem extraordinária de exigir o debate, o confronto livre de ideias, de dispor de uma imprensa livre e de se resolver pelo voto universal e directo, em liberdade, dos portugueses.
Norton de Matos desistiu, tantos eram os entraves a uma candidatura democrática, tolerada pela ditadura, mas Mário Soares não desistirá apesar de Cavaco assumir, subliminarmente, uma postura de “candidato único” papel que Carmona desempenhou, na perfeição, em 1949.
sábado, novembro 19
Soletro
Scarlett Johansson
soletro a palavra dor
deslizando pela memória
iluminada por um fio de luz
amor
soletro a palavra amargura
a tempo ainda de uma carícia
ao acaso perdida na claridade
pura
soletro a palavra esperança
para que vivas e me lembres
silêncio desmedido que não
cansa
soletro a palavra ternura
agora que tua voz se apagou
mas o brilho dos teus olhos
perdura
In “Ir Pela Sua Mão” Editora Ausência – 2003
soletro a palavra dor
deslizando pela memória
iluminada por um fio de luz
amor
soletro a palavra amargura
a tempo ainda de uma carícia
ao acaso perdida na claridade
pura
soletro a palavra esperança
para que vivas e me lembres
silêncio desmedido que não
cansa
soletro a palavra ternura
agora que tua voz se apagou
mas o brilho dos teus olhos
perdura
In “Ir Pela Sua Mão” Editora Ausência – 2003
sexta-feira, novembro 18
WIM WENDERS
"Acabo de entrevistar Wim Wenders para o Milênio da Globo News e tenho que contar para alguém! Estou que nem aquele cara da piada que come a Sharon Stone numa ilha deserta e manda ela se vestir de homem porque ele precisa ter alguém pra contar. Eu tenho o blog...
Ele contou que teve um sonho esta noite. Sonhou que estava acontecendo uma revolução aqui na América, todo mundo na rua. O povo americano tinha acordado de repente para o fato de que não tinha mais nenhum poder e resolvido acabar com isso. E ele estava no meio. Mas de repente se tocou que só podia ser um sonho e acordou.
Contou que quando era garoto na Alemanha, os outros meninos tinham no quarto posters de cinema. E ele tinha posters de Brasília.
Achava que a construção de Brasília era a maior aventura da história da humanidade. O sonho dele era conhecer Brasília, o que finalmente conseguiu. Não entende porque os brasileiros não gostam de Brasília. Ele continua adorando.
Perguntei por que ele gosta tanto de Portugal: por causa da inocência dos portugueses."
DIFERENTE ... OU TALVEZ NÃO!
“Colecção Mário Soares” – Museu do Chiado
“A campanha de Cavaco Silva é diferente de todas as outras.” Diz José Pacheco Pereira no Abrupto, reproduzindo artigo do “Público”.
Diria que todas, e cada uma, das campanhas são diferentes das outras. O problema que valeria a pena assinalar, e onde está toda a diferença, é que o Cavaco de hoje não é diferente do Cavaco de há dez anos atrás. É a sua desvantagem. Por isso os seus consultores o aconselham a que não apareça e fale o menos possível.
Com Soares acontece o contrário. O Soares, de hoje, é diferente do Soares de há 10 ou 20 anos atrás. Por isso os seus consultores o aconselham a que apareça muito e fale todos os dias.
É a diferença entre quem acompanha a evolução da história correndo os riscos inerentes à mudança e quem estagnou, não mudou nada, rigorosamente nada, permanecendo impermeável à mudança.
Quanto à tentativa de colar Soares a uma imaginária candidatura do Bloco de Esquerda é mais própria de um propagandista do que de um historiador. É uma verrina (*) transformada em argumento.
(*) “Censura ou exprobação violenta contra alguém feita em geral em discurso público ou por escrito”.
Diria que todas, e cada uma, das campanhas são diferentes das outras. O problema que valeria a pena assinalar, e onde está toda a diferença, é que o Cavaco de hoje não é diferente do Cavaco de há dez anos atrás. É a sua desvantagem. Por isso os seus consultores o aconselham a que não apareça e fale o menos possível.
Com Soares acontece o contrário. O Soares, de hoje, é diferente do Soares de há 10 ou 20 anos atrás. Por isso os seus consultores o aconselham a que apareça muito e fale todos os dias.
É a diferença entre quem acompanha a evolução da história correndo os riscos inerentes à mudança e quem estagnou, não mudou nada, rigorosamente nada, permanecendo impermeável à mudança.
Quanto à tentativa de colar Soares a uma imaginária candidatura do Bloco de Esquerda é mais própria de um propagandista do que de um historiador. É uma verrina (*) transformada em argumento.
(*) “Censura ou exprobação violenta contra alguém feita em geral em discurso público ou por escrito”.
quinta-feira, novembro 17
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