Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
sexta-feira, setembro 10
Jorge Sampaio e o MES, o MES e Jorge Sampaio
Disseram-me pois não tenho visto televisão (isto das férias também passa por aí) que a propósito da morte de Jorge Sampaio têm sido feitas diversas referências ao MES. Diga-se que o envolvimento de Sampaio no processo de criação do MES, assim como das vicissitudes da sua não entrada formal no mesmo, está bastante bem documentado e entendido. Eu próprio já escrevi algumas peças acerca do assunto pela simples razão de que o vivi de perto e, mais recentemente, suscitei uma conversa com Nuno Brederode Santos que permitiu ter ficado esclarecido acerca de alguns pontos que ainda não tinha plenamente entendido. Vou pois republicar nestes dias dois ou três postes antigos que permitem colocar a questão da relação de Jorge Sampaio com o MES no lugar certo segundo o meu entendimento e conhecimento direto. Eis o primeiro:
Dando sequência à republicação dos posts publicados em 2008 nos Caminhos da Memória, tomando por tema os "dirigentes fundadores", surge este que faz uma abordagem da questão política mais relevante que esteve presente desde a preparação até à realização do próprio I Congresso do MES. 40 anos depois ... imaginem!
Pretendia abordar, tão só, a temática dos dirigentes fundadores do MES, neste caso os que foram eleitos no I Congresso, realizado nos dias 21 e 22 de Dezembro de 1974, na Aula Magna da Cidade Universitária, de Lisboa. Mas, neste caso, terei que ser um pouco mais extenso já que o I Congresso, como é do conhecimento geral, foi marcado pela cisão protagonizada pelo grupo que viria a dar origem ao GIS («Grupo de Intervenção Socialista»).
Esse conjunto de activistas do MES apresentou ao Congresso um longo, e muito bem estruturado, documento intitulado: O MES E A ACTUAL FASE DA LUTA REVOLUCIONÁRIA – AS TAREFAS IMEDIATAS DO MOVIMENTO, datado de 30 Novembro de 1974, subscrito por Armando Trigo e Abreu, César Oliveira, Francisco Soares, Joaquim Mestre, João Bénard da Costa, João Cravinho, Jorge Sampaio, José Manuel Galvão Teles e Nuno Brederode Santos [1].
Reli, quase 34 anos depois, com os olhos de hoje, as 39 páginas (3 delas quase ilegíveis) do documento em apreço e senti uma inesperada sensação de espanto e perplexidade acerca das razões dessa ruptura protagonizada por algumas das personalidades mais proeminentes da esquerda portuguesa.
Serei o mais breve possível, atendendo, em particular, à natureza deste meio, tomando como base desta reflexão o reencontro tardio com um documento que pairava na minha memória e que logo na apresentação toma todos os cuidados sendo apresentado, pelos seus autores, como base de uma iniciativa destinada a «contribuir para o debate interno com vista à preparação do Congresso».
Há neste documento, pelo menos, dois aspectos a sublinhar:
1) Desde logo o seu título: O M.E.S E A ACTUAL FASE DA LUTA REVOLUCIONÁRIA – AS TAREFAS IMEDIATAS DO MOVIMENTO que parece denotar uma verdadeira, e autêntica, intenção de participação. No documento é apresentada uma proposta de metodologia e são avançados os temas destinados a alimentar a discussão no qual avultam dois pontos genéricos: «Análise da situação actual e as tarefas imediatas” e as «Linhas Programáticas Sectoriais». No entanto, atentas as datas e a memória que guardo, a discussão, anterior ao Congresso, foi bastante irrelevante o que demonstra que a iniciativa deste grupo de personalidades, tendo sido precedida de um confronto prático aceso acerca do papel de um Partido de «esquerda socialista» naquele concreto «processo revolucionário», deve ter sido encarada como uma espécie de anúncio e explicação de uma ruptura inevitável.
2) O documento surge, em qualquer caso, como uma tentativa notável, no contexto da época, de encontrar os temas e o tom para um debate sério em torno de «soluções políticas», ou seja, das diversas alternativas de regime político que se poderiam perfilar como saída possível para a designada «actual fase da luta revolucionária». É notório, ao longo do texto, que os autores não escaparam à utilização dos estereótipos da linguagem revolucionária nem à adopção de propostas cujo teor – à luz dos condicionalismos da época – poderiam ter sido, caso tivesse havido vontade e capacidade negocial de ambas as partes, uma boa base para a criação de um partido que teria, certamente, relevância política e eleitoral após aquele Congresso inaugural. Assim não aconteceu e, pela parte que me toca, muito me penalizo por isso.
Poder-se-á questionar, então, quais as diferenças políticas entre as duas posições que se confrontaram no I Congresso do MES e as verdadeiras razões da ruptura que se produziu para além dos aspectos meramente pessoais que, tendo existido, terão sido irrelevantes. Não vou tentar construir uma teoria acerca do assunto. Mas é de todo evidente que no período que decorreu desde as vésperas do 25 de Abril de 1974 até ao final do mês de Dezembro desse ano, data de realização do I Congresso, (os meses de uma verdadeira, e rara, «fusão revolucionária») se delapidou o capital de confiança, pessoal e política, que permitiria conciliar um modelo de «esquerda socialista», inspirado no PSU, de Rocard, e um outro de «esquerda revolucionária», influenciado pela ideologia da «democracia directa», designada por «Poder Popular», na linha da tradição anarco-sindicalista e dos movimentos revolucionários da América latina (Chile de Allende incluído), que pensava encontrar legitimidade no próprio curso dos acontecimentos que se viviam, freneticamente, em Portugal, sob o olhar atónito do mundo.
É claro que as propostas levadas ao debate por Jorge Sampaio, e seus companheiros, não deixavam de fazer referência ao «poder popular», mas preocupavam-se, numa leitura mais distanciada e atenta, em atenuar a deriva revolucionária como, por exemplo, quando se escrevia no final do ponto 3), intitulado, significativamente, «As soluções políticas»:
«A eventualidade da revolução socialista em Portugal e mau grado certo desenvolvimento das forças produtivas parece afastada, pelas razões seguintes:
a) A posição que Portugal ocupa no contexto capitalista europeu e internacional faz cair o país na órbita da esfera da influência americana e torna-o peça essencial no sistema da NATO e do imperialismo donde sairia com extrema dificuldade e necessariamente a médio ou longo prazo;
b) A ausência de memória colectiva das classes trabalhadoras e, por conseguinte, de uma consciência de classe e de organização autónomas dado, por um lado, a repressão fascista das lutas de classe e, por outro, o facto de toda a mobilização popular e luta politica se haver feito em torno da luta anti-fascista e democrática que conjugavam classes e sectores sociais com interesses objectivos diversos, o que implicou a confusão sistemática entre objectivos de luta proletária e objectivos de luta democrática.»
E este capítulo que escolhi como paradigma das dificuldades de afirmação de uma ideia de «reforma da revolução» remata com uma cautelosa, e surpreendente, solução que busca, em qualquer caso, atentos os condicionalismos da época, conciliar o inconciliável:
«Neste quadro restará questionar a viabilidade de uma solução que evitando o autoritarismo burguês e o militarismo progressista avance formas transitórias no sentido da instauração a médio ou longo prazo de um futuro regime socialista que se reconhece impossível de instituir a breve trecho.
Este projecto será revolucionário na medida em que se proporá a alteração das relações de produção substituindo a propriedade colectiva à propriedade privada mas terá de saber inserir-se no contexto específico da sociedade portuguesa actual evitando a transposição mecânica de estratégias ou modelos exteriores e a repetição verbalista de fórmulas vazias de conteúdo prático.»
O ponto 4), intitulado «A crise do reformismo e do esquerdismo», elabora, por outro lado, uma crítica radical às orientações políticas do PS e do PCP que culmina com a rejeição da chamada «democracia burguesa»:
«O reformismo, ao defender a democracia burguesa, apoia, no fundo, a única forma possível dessa democracia: o autoritarismo burguês de fachada democrática»; critica, depois, de forma não menos radical o «esquerdismo«, ou seja, a própria essência da orientação com a qual se confrontava no seio do MES: «O esquerdismo tem a vantagem da simplicidade e os inconvenientes da abstracção»; «O esquerdismo é incapaz de propor etapas, estádios, e objectivos intermédios susceptíveis de mobilizar as massas. O esquerdismo é, assim, uma teoria apocalíptica da tomada do poder»; «O esquerdismo esquece que todo o projecto político exige uma alternativa concreta e também uma aliança de forças políticas capazes de o apoiar e levar a cabo».
E depois de escalpelizar o reformismo e o esquerdismo conclui: «Saber ligar a mobilização de base à luta política, a luta no local de trabalho à luta global, ou seja, encontrar a tradução na instância política das lutas de massa, é tarefa revolucionária principal das organizações políticas verdadeiramente de esquerda.»
Mas é no ponto 6) do documento, sob o título O M.E.S. e as tarefas actuais que, deverá ter estado o busílis da questão da ruptura política deste I Congresso. Nunca abandonando a defesa da autonomia política do M.E.S., nem o jargão revolucionário próprio da época, os autores avançam com uma proposta de um «pacto» que permitisse
«agrupar um conjunto de forças políticas e organizações partidárias capazes de veicular, ao nível das instâncias políticas, a luta de massas e de traduzir politicamente essa alternativa apoiada nas massas (…) a constituição de um bloco de forças de esquerda não terá impacto político nem credibilidade se não for capaz de aliar as forças socialistas não dogmáticas com forças reformistas (P.C. e P. S) numa unidade de tipo popular» salvaguardando, no entanto, que «esta unidade pode não revestir a natureza de uma frente política limitando-se a um acordo sobre uma base de realizações mínimas aceitáveis pelo MFA».
O «pacto» político a que se faz apelo, fosse qual fosse a fórmula adoptada, e a sua viabilidade prática, teria uma repercussão significativa no posicionamento do MES face às eleições que estavam no horizonte:
«Julga-se que a participação eleitoral do M.E.S. se deveria fazer no âmbito do pacto político explicitado acima, agrupando um conjunto significativo de forças da esquerda, incluindo as reformistas, cujo apoio popular é inegável.
Este pacto político seria, no tocante à generalidade das forças agrupadas, um acordo de princípio salvaguardando a total autonomia política do M.E.S. e a possibilidade de explicitação da sua perspectiva revolucionária, alternativa ao reformismo e expressão da autonomia de classe do proletariado.»
Vista com o distanciamento que só a passagem do tempo permite, apesar de todas as salvaguardas, que este último parágrafo ilustra, as teses contidas nesta proposta apresentada ao I Congresso, na verdade, pouco discutida, estavam condenadas à derrota por uma maioria radicalizada sendo apelidadas de «posições oportunistas quase sempre encobertas na ambiguidade da fazer o “máximo de revolução possível”, o que sempre veio a dar em não “fazer “revolução nenhuma» [2] … originando a ruptura que designei, noutro texto, como «a primeira morte do MES».
[1] A Joana Lopes teve a amabilidade de me enviar uma cópia em papel desse documento pois, na verdade, não o tinha na minha posse.
[2] In «Relatório da Comissão Política ao II Congresso – 13, 14 e 15 de Fevereiro de 1976».
Jorge Sampaio
No segundo dia de um curto período de férias sou confrontado com a notícia da morte de Jorge Sampaio. Apesar de expetável a notícia fez-me ter que reprimir uma súbita vontade de chorar. Não sei fixar ao certo a data em que o conheci, talvez nos primórdios das eleições de 1969, de forma mais próxima nos tempos da fundação do MES e, posteriormente, como seu adjundo no gabinete pessoal na CML. Os encómios públicos serão muitos de todos os quadrantes pelo que lhe deixo simplesmente a minha singela homenagem como homem público honrado, e as condolências à sua família. Deixo um escrito antigo que lhe foi dedicado:
Na primeira fase do MES, que decorreu até ao 1º Congresso, de Dezembro de 1974, a mais importante personalidade politica que integrou o processo da sua criação foi Jorge Sampaio que tinha emergido como o mais destacado dirigente estudantil da crise académica de 1961/62.
Ele é, desde essa data, uma referência cívica e política incontornável da esquerda portuguesa. Afirmou-se pela sua inteligência, cultura e capacidade de liderança. Jorge Sampaio é alguém que gera confiança, racional e generoso, culto e emocional, organizado e consensual, um conjunto de características fora do comum na cultura meridional.
É um facto que não integrou o MES, enquanto partido político formal, criado após o 1º Congresso. Jorge Sampaio, com um grupo de activistas, havia de constituir o GIS (Grupo de Intervenção Socialista), tendo abandonado o movimento logo no acto da sua institucionalização em Partido no decurso daquele Congresso fundador.
Foi a primeira morte política do MES. Também Alberto Martins, o mais importante dirigente estudantil da crise académica de 1969, em Coimbra, (cujo cinquentenário se comemora por estes dias) aderiu ao MES e nele se manteve, após 1º Congresso, tal como um conjunto alargado de dirigentes e ex-dirigentes estudantis que tinham assumido papéis relevantes em todas as crises académicas, a partir do início dos anos 60.
Entre eles não posso deixar de destacar Afonso de Barros, já falecido, que sempre me apoiou, pessoalmente, nos momentos mais difíceis.
quinta-feira, setembro 9
Coisas da vida
Não tenho vindo aqui por razões profissionais na azáfama de organizar uma Cimeira Ibérica da Economia Social que se realizou ontem em Coimbra felizmente com sucesso. Nos intervalos chegam-me comunicações das autoridades que cobram impostos e correlativos com chamadas a pagamento de pretensas dívidas antiquissímas. Suponho que é resultado do incentivo pecuniário aos respetivos funcionários pela cobrança. É coisa de doidos este insaciável apetite pela perseguição aos cidadadãos cumpridores enquanto se assiste ao espetáculo degradante da tentativa de fuga à justiça dos verdadeiros predadores da coisa pública, sabendo-se que só uma pequena parte desses casos vem a público. Não nos admiremos pois pela emergência dos populismos de todos os matizes.
sexta-feira, setembro 3
O meu pai Dimas
Amanhã, 4 setembro, é o dia de aniversário do meu pai Dimas, uma das poucas efemérides familiares que nunca esqueço. O meu pai Dimas levou-me com ele a muitos lugares além daqueles a que os deveres de família obrigavam. Os tempos eram austeros. Os lugares a que me levou vistos de hoje ficavam perto, mas no seu tempo longe. Essas viagens e as suas mãos quando tomava as minhas para me levar com ele onde fosse marcaram muito a minha maneira de ser e de estar. Pequenas coisas que o mais profundo de nós guarda e que tudo faço para preservar com a maior força de que sou capaz.
quinta-feira, setembro 2
Cristiano Ronaldo
Sei que há muita gente que não gosta de futebol. Nem discuto aqui e agora as diferenças profundas entre o jogo e a indústria que instrumentaliza o jogo, os interesses de uma multidão de agentes e dirigentes que tornaram o futebol profissional numa selva mercantilista. Enoja-me essa realidade que está à vista de todos. Mas sei que há muita gente que gosta de futebol, nos quais me incluo, por uma multidão de razões que outras vezes abordei. Dentro do jogo que observamos com mais ou menos paixão emergem personalidades de jogadores que ninguém pode ignorar pela magia e emoção que fazem transbordar do seu trabalho. É o caso de Cristiano Ronaldo pois além do seu desempenho futebolistico ameaça desafiar a finitude fisica de uma qualquer carreira profissional, mesmo de desgaste rápido. A ver vamos.
domingo, agosto 29
Congresso do PS
Nunca menosprezar a realização de uma reunião magna do primeiro partido português, nem de nenhum outro, ainda para mais em forma presencial no contexto da pandemia. Ter-se realizado é uma primeira boa notícia; a segunda é a que nele desapareceu o nome de Sócrates que havia sido tema central no anterior; a terceira é a de que, ao contrário do que alguns criticos referem, ter sido pacifico, sem ruturas nem anúncios de crises internas; a quarta ter feito emergir, de forma elegante, a questão da sucessão de Costa na liderança o que pode acontecer em 2023 mas, quem sabe, ainda antes; a quinta a de ter sido assumido, de forma implicita, que a proxima liderança pode ser encarnada por uma mulher; a sexta e última que enuncio neste breve escrito a de ter assegurado continuidade e previsibilidade das politicas do governo em funções. Nada mau nos tempos que correm. E tudo o que tiver que acontecer de mudança politica no país acontecerá num futuro mais ou menos próximo mantendo o clima de cohabitação entre os titulares dos três princippais órgãos de soberania.
sábado, agosto 28
O texto político
"O texto político
O político é, subjectivamente, uma fonte permanente de aborrecimento e/ou de prazer; é, além disso e de facto (isto é, a despeito das arrogâncias do sujeito político), um espaço obtinadamente polissémico, a sede privilegiada duma interpretação perpétua (uma interpretação, se for suficientemente sistemática nunca será desmentida, até ao infinito). Poderíamos concluir a partir destas duas constatações que o Político é textual puro: uma forma exorbitante, exasperada, do Texto, uma forma inaudita que, pelos seus extravasamentos e pelas suas máscaras, talvez ultrapasse a nossa compreensão actual do Texto. E, tendo Sade produzido o mais puro dos textos, julgo compreender que o Político me agrada como texto sadiano e me desagrada como texto sádico."
Escrevi nesta pagina: "visitam-se lugares e acontecimentos mas, de facto, visitamo-nos a nós próprios apertando os contactos entre os "viajantes". Quando assim não sucede a viagem reduz-se à excursão."
Fragmentos de Leitura
"Roland Barthes por Roland Barthes"- 33
(pag. 13, 4 de 4)
Edição portuguesa - Edições 70
[Publicado em 28 de agosto de 2004 e republicado diversas vezes mais tarde. Um dos posts mais visitados deste blogue apesar da sua complexidade. Resultou da transcrição de um conjunto de excertos da minha leitura inaugural de "Roland Barthes por Roland Barthes", excertos que, nos idos de 80, publiquei em edição policopiada para os amigos como continuo a fazer ainda hoje de forma artesanal embora um pouco mais sofisticada.]
quarta-feira, agosto 25
Ainda bem que avisas
"Líder dos autarcas do PSD defende que coligações com o Chega não devem ser excluídas após eleições", título de notícia do Público, que poderia dar origem a um ensaio. Fico-me por um breve comentário: ainda bem que avisas!
Breve apontamento de verão
Todos sabemos que grande parte das notícias escondem ou substimam a realidade pois sendo sempre uma representação dela cada vez mais são meramente instrumentais à captura das audiências. Um negócio que se alimenta a si próprio, gerando e promovendo outros negócios, a maior parte das vezes à custa de vitimas inocentes. Terá sido sempre assim, mas com a emergência das chamadas redes sociais (como se desgasta a palavra social!), e sua interação com os meios tradicionais, atingiu um patamar de carnificina populista.
segunda-feira, agosto 23
A Voz dos Jovens
Venho para manifestar o meu júbilo pelas palavras ditas aos diversos OCS, no decurso do passado fim de semana, por muitos jovens nos centros de vacinação. Poderá ser surpreendente para quem descrê do progresso que jovens dos 12 aos 15 anos, em particular, os mais jovens dos jovens, expontâneamente afirmem de forma articulada e clarividente, em palavras breves, claras e informadas, a sua crença na ciência, no caso em prol dos beneficios da vacinação. Não que não surgam dúvidas, receios e angústias, mas o que mais me interessa é destacar o surgimento de uma vaga de juventude, realista mas crente nas virtude dos deveres cívicos próprios de uma sociedade livre e solidária.
domingo, agosto 22
Eleições na Alemanha/26 setembro
"O bloco conservador e o Partido Social Democrata (SPD) estavam empatados em termos de intenções de voto, com 22%, numa sondagem divulgada hoje pelo diário Bild, a cinco semanas das eleições de 26 de setembro na Alemanha." Esta é a notícia do dia pela simples razão de se tratar de uma sondagem referente às eleições legislativas que se realizam na Alemanha a 26 etembro (no mesmo dia das eleições autárquicas em Portugal).
O mais surpreendente é o score alcançado nesta sondagem pelo SPD que, aparentemente, o coloca em posição de disputar a liderança do governo ganhando autonomia face ao designado "bloco conservador". Uma leitura direta dá-nos a perceção que o governo na Alemanha pós eleiçoes pode ser formado com a mesma base do atual, com mais om menos ajustamentos, ou seja, deverá estar garantido o afastamento dos extremos da área do poder. O que é uma boa notícia.
sábado, agosto 21
Os dois grandes desafios políticos
Confrontamos-nos a nível nacional, tal como a nível europeu, com dois grandes desafios políticos: as lutas contra a pandemia e contra os seus efeitos sociais e económicos. Estamos ainda em plena pandemia apesar de tudo indicar no terço final da sua existência, antes de passar à chamada fase endémica. O sucesso do processo de vacinação - tal como mais tarde o da difusão dos remédios em fase final de testes - será também o sucesso politico dos governos. No meio da incerteza a cada vez maior cobertura da vacinação é fator de segurança o que é reconhecido por todos exceto pelos negacionistas que entre nós são uma escassa minoria, ao contrário de outros países como os USA. Por outro lado a correspondente atenuação das medidas de controlo sanitário permitem a recuperação da economia e de equilibrios sociais tradicionais. Quanto mais crescer a economia no seu conjunto, mesmo com desequilibrios entre sub setores, maior o sucesso dos governos. Salvo o surgimento de qualquer nova variante do virus não coberto pelas vacinas atualmente ministradas, o segundo semestre de 2021 poderá ser um passaporte para a surpreendente vitória dos governos que assumiram responsabilidades desde o surgimento da pandemia. Se assim for não deidará de ser surpreendente.
sexta-feira, agosto 20
Nova vida
A partir de hoje vou reativar este velho blog publicando aqui com mais regularidade. Volto assim aos primórdios da sua criação nos idos de 2003, logo após ter sido flagelado pela insanidade de um goverrnante que nem cito o nome. Vou fazer férias das redes sociais mais em voga.
domingo, julho 25
Retomar
Tanto tempo passado, em pleno verão, volto a esta página branca a qual sempre me fascinou. Vivemos tempos únicos nunca antes experimentados pelas gerações vivas. Luta-se por viver, o Estado voltou a mostrar a sua importância, a ignorância tem sido erigida em bandeira de luta pela liberdade, tempos difíceis para os defensores da liberdade e da democracia. Não se pode ceder à tentação da simplificação de tudo, nem à negação dos valores humanistas que são a base das democracias politicas modernas.
domingo, maio 16
Racismo
A relação privilegiada
Ele não procurava a relação exclusiva (possessão, ciúme, cenas); também não procurava a relação generalizada, comunitária; o que ele queria era, de todas as vezes, uma relação privilegiada, assinalada por uma diferença sensível, remetida ao estado de uma espécie de inflexão afectiva absolutamente singular, como a de uma voz de timbre incomparável; e, coisa paradoxal, ele não via qualquer obstáculo a que essa relação privilegiada fosse multiplicada: nada senão privilégios, em suma; a esfera da amizade era assim povoada por relações dualistas (donde uma grande perda de tempo: era preciso estar com os amigos um por um: resistência ao grupo, ao bando, ao magote). O que era procurado era um plural sem igualdade, sem in-diferença.
Como diz Freud (Moisés), um pouco de diferença leva ao racismo. Mas muitas diferenças afastam dele, irremediavelmente. Igualar, democratizar, massificar, todos estes esforços não conseguem expulsar "a mais pequena diferença", gérmen da intolerância racial. O que era preciso era pluralizar, subtilizar desenfreadamente."
"Roland Barthes por Roland Barthes"
Edição portuguesa: "Edições 70"
domingo, maio 2
Dia da mâe
Reconheço o amor nos olhos que me olham com desmedida atenção enquanto durmo. Os olhos de minha mãe adoravam ter esperança no futuro no qual jogava a sua crença de ir mais longe. A primeira mulher da minha vida. A mais ousada na sua imprevisível arte de romper barreiras e chegar mais além. A fonte da força que me mantém de pé contra todas as adversidades. Uma mulher de um só homem que não era homem de uma só mulher. A fidelidade nascida da tradição que não da fraqueza ou da futilidade. A irreverência herdada da rudeza do campo, das agruras da natureza à força de puxar a besta e de encaminhar a água à raiz certa não fosse perder-se uma gota. A escola da escassez sonhando a fartura que havia de vir fruto do trabalho honrado. Não perder tempo chorando o tempo perdido. Fazer do tempo um passeio para espairecer e voltar ao arado da vida com sonhos lá dentro. A mulher que se fez a si própria descobrindo os outros e o que se pode e se não pode fazer com eles. Aceitar mudar e escolher o caminho da mudança. Tactear o caminho levando ao colo os seus amores. A primeira mulher que acreditou no caminho hesitante que me havia de fazer homem. Sem saber para onde ia ao certo. Nem ninguém sabia, ninguém nunca sabe, mas não duvidou que havia de chegar a um lugar onde brilharia o sol e sou capaz de a lembrar como a minha primeira mulher. Aquela que mais me amou, sempre me amou além do que a vida pode conter de riqueza material. Um dia ao fim de uma longa caminhada sem sequer saber dos meus males escolheu morrer nos meus braços. A mais sublime homenagem que alguém pode prestar a alguém. De súbito suavemente, na alegria da celebração da juventude, deixou para sempre a esfusiante tradição de me abraçar como se fosse a criança que para ela nunca deixara de ser. [21/1/2008]
quarta-feira, abril 28
Aniversário
Aniversário, sempre igual, sempre diferente, um ano mais de caminhada, sempre com os olhos postos no futuro, a vida, o trabalho, o gesto comum que se aprecia, um olhar, uma palavra, nada mais simples do que festejar, o mais, o menos, o que se deseja, olhos abertos ao céu que ilumina o mundo, ao mar que reflete o sonho, ir mais além, de cabeça levantada sem temor de nada, a não ser nunca ter agradecido o suficiente aos que sempre nos amaram. Haja saúde!
quinta-feira, abril 8
Jorge Coelho morreu
O que fazia a diferença do Jorge Coelho político é que criava a percepção aos olhos de todos de ser uma pessoa comum. Mas na verdade era uma pessoa fora do comum. Um fazedor ao arrepio da imagem recorrente de muitos políticos; um tribuno directo e vibrante, ao contrário dos punhos de renda; um homem da terra, de palavra chã, como se não se desprendesse nunca dela; um politico que fazia dos bastidores um palco de todos os acertos; um homem cordato mas não crédulo; politico que escolhia os campos de suas lutas, perdia ou ganhava, mas não escondia a preferência nem fintava a derrota; enfim um Homem e Politico admirável.
terça-feira, março 16
Associações/associativismo
Pelo que entendi das notícias, que não conheço os documentos que as suportam, o PSD quer legislar no
sentido de exigir aos cidadãos candidatos a cargos politicos ou, suponho, de alta direção de entidades da
administração pública uma declaração de pertença a entidades associativas nas quais se encontrem
filiados. O plural não é inocente pois em estudo recente, no qual participei, cada português encontra-se filiados
em média pelo menos em duas associações. A inicitiva de legislar neste sentido carrega em si mesma o
ónus de lançar a suspeita sobre a honorabilidade dos cidadãos que livremente decidem associar-se para
prosseguir fins, consagrados em estatutos próprios, que só a eles dizem respeito. Qualquer cidadão que mantém
um vinculo com uma associação não terá rebuço em assumir essa filiação mas deve ser livre de o fazer
em fidelidade com a própria liberdade de associação. Ao que venho é para dizer que a obrigatoridade de declarar
filiação associativa para exercer cargos politicos, ou de direção na administração, estabeleceria uma norma
constrangedora da liberdade de associação, tendencialmente anti associativa. Terão os autores da ideia a noção
de que a democracia liberal fundada em partidos é herdeira do associativismo livre nascido na sua forma moderna
na revolução industrial? Que os partidos são associações de cidadãos livres que se autoflagelam ao impôr
aos seus filiados declarações de pertença que se dispensam a si próprios para o exercício das direções partidárias.
quinta-feira, março 11
Marcelo - II mandato
Passou um dia sobre a tomada de posse de Marcelo, já parece imenso tempo de tal forma que ia começar
a escrever uma frase como se estivesse atrasado no comentário ao reinício de funções do PR. Não é uma
rotina, muito menos obrigação,não sou comentador político, simplesmente cidadadão, com acesso à palavra,
como na verdade sempre aconteceu, sob diversas formas, desde a adolescência. Marcelo além do mais é um
personagem fascinante, diria uma personalidade de rasgos surpreendentes, de sensibilidade autoalimentada
pela necessidade de estar presente, de exuberância racional excessiva, uma surpresa para muitos de nós que
somos herdeiros do binário tendencialmente simplista da contraposição direit/esquerda. Em 2016 não votei Marcelo,
mas depressa percebi (e escrevi)que havia sido eleito um presidente diferente (nem falo em Cavaco), mais
atento às necessidades do nosso tempo, quando o povo tende a descrer da democracia, exigindo alento para além de promessas de melhores tempos e
carece da segurança improvável trazida por uma palavra afetuosa ou um inesperado abraço. Coisas do imaterial.
Desta vez levou o meu voto e logo na noite eleitoral percebi que o mereceu e mais ainda com o discurso de posse.
Ele há coisas na politica como na vida que trancendem o que julgavamos como adquiridos imutáveis mudando o sentido dos nossos gest
sem mudar a essência das nossas convições.
terça-feira, março 2
No alivio dos efeitos da pandemia
Ao mesmo tempo que os efeitos da pandemias dão sinais claros de abrandamento volta a abrir-se um pouco mais
o debate politico. Por estes dias a vacinação comanda a politica. Se na entrada para o verão o desconfinamento
inevitável for seguro e robusto a economia recupera em v, o segundo semestre será de forte retoma e a
direita politica ficará dividida e apeada até ao final da legislatura. Depois se verá...
sexta-feira, fevereiro 26
Pandemia, ao fim de um ano
A pandemia pode ser glosada de diversas maneiras mas poucos a encaram no espaço público, de forma sistémica
, como um fenómeno catastrófico. Uma catástrofe, tal como os grandes terramotos, inundações, conflitos bélicos, etc.
Há imensa literatura acerca do tema mas são raras as abordagens que vão além da superficialidade dos seus efeitos
no quotidiano da vida em sociedade. Existe ligação direta entre a pandemia e o desafio climático, o
modo de vida consumista, a erosão dos valores humanistas? A natureza da qual o homem é pertença,
"vinga-se" dos tratos de polé a que o homem a tem sujeitado ao longo de séculos? Trata-se afinal de um desastre natural.
Quem são os ganhadores à saída da fase crítica? E os grandes perdedores? Um mundo de surpresas por revelar.
Tal como nos grandes conflitos bélicos a morte banalizou-se. É esse aspeto que mais me atormenta neste tempo.
Que ao menos um dia mais tarde alguém se dedique a estudar o fenómeno e a tirar lições das suas consequências.
sábado, fevereiro 13
General Humberto Delgado
Passam hoje 56 anos sobre o assassinato do General Humberto Delgado. Honra à sua memória. Nunca esquecer este crime hediondo
da ditadura de Salazar.
terça-feira, fevereiro 2
Notas Politicas (35)
Duas semanas após as presidenciais. Fora o jogo politico, em torno das disputas dos incertos amanhãs,
parece ainda haver quem não tenha reparado que a maioria do eleitorado socialista votaria sempre em
Marcelo. À liderança do PS restavam duas opções: levar o PS à derrota apoiando um candidato saído das
suas fileiras ou associado pela perceção pública aos socialistas ou apoiar Marcelo dando liberdade de
voto. Na politica como na vida, face à dura realidade, ganhar pode ser, simplesmente, não perder.
segunda-feira, janeiro 25
Notas Politicas (34)
Finito. Marcelo ganhou as presidenciais. Na verdade o jogo estava feito. Nada de novo a ocidente, salvo que
o populismo mostrou os dentes. A classe média precisa de respostas que lhe restitua a esperança na
democracia representativa. Reformas, reformas, reformas.
sexta-feira, janeiro 22
Notas Politicas (33)
A campanha eleitoral está a chegar ao fim (estranha campanha!). Amanhã é dia de reflexão (coisa antiga!).
Pela minha parte não preciso de mais reflexão do que aquela que tenho feito enquanto vivo e trabalho(estranha
esta afirmação para um cidadão com 73 anos de idade). Na verdade, formalmente, existem vários
candidatos todos com a mesma dignidade perante a lei e a grei. Já do boletim de voto não se pode gabar quem organiza
o ato pois ostenta ao cimo um candidato que não é candidato. (estranha forma de cooperação entre as
diversas entidades às quais compete organizar o ato). Adiante. Dos sobrevivos à campanha são 7 que se
sujeitam ao escrutínio dos cidadãos eleitores. Admiro-lhes a coragem e a ousadia de caminhar pelo caminho das pedras
a mor parte do tempo na escuridão cerzida pela pandemia que fere e mata mais do que alguma vez sonhamos.
Vou votar, como sempre aconteceu em todas as eleições democráticas pós 25 de abril, com a mesma necessidade vital de participação civica.
Muda o ar do tempo mas não muda meu sentir no dia do voto. Feliz por ser possivel escolher livremente ao contrário
de meu pai, por exemplo, que só votou pela 1ª vez em eleições livres com mais de 64 anos de idade. Quando voto lembro-me sempre
de meus pais e da sua felicidade - vestidos a rigor - no dia das primeiras eleições livres -
25 de abril de 1975. O meu voto vai para Marcelo Rebelo de Sousa, o único candidadto com estatura de
estadista, mau grado o seu estilo que paradoxalmente, ou talvez não, aproximando-se do povo causa mau estar
em boa parte das elites. Paciência. Voto na experiência e na estabilidade, deixando para trás das costas aventuras fúteis que o tempo
não está para experimentalismos. Tudo na vida tem seus riscos e o voto não foge à regra. Eu arrisco o meu voto
num candidato que não pertence à minha área politico/ideológica em favor do equilibrio dos poderes,
da força da inteligência e na capacidade de representar a República, na frente interna e externa,com responsabilidade de Estado. Está dito.
terça-feira, janeiro 19
Notas Políticas (32)
Hoje é dia 20 de janeiro que assinala o final de um quadriénio presidencial americano e o inicio de
mandato de um novo inquilino da "Casa Branca". Ao contrário dos últimos 8 anos, correspondentes a dois
mandatos presidenciais nos USA, com inicio em 20 de janeiro de 2009, pouco tenho para dizer, quase nada
me apetece dizer. Deixai falar o silêncio. Lembro-me de leituras antigas a cujos ensinamentos, com mais
ou menos vigor, e lucidez, me mantive fiel ao longo do tempo. Nada, nem ninguém, me fará desesperançar
no futuro do homem e na sua capacidade de resistir às ameaças à liberdade, à democracia, à paz e
concórdia entre os povos e as nações. Com respeito aos valores fundamentais em que assentam as nossas
sociedades democráticas, com seus vícios e virtudes, nada está definitivamente assegurado, mas também
nada está definitivamente perdido. Existe pelo meio o tempo e o espaço nos quais se movem os mais
mesquinhos interesses, e seus coros de guerra, mas também as forças do espirito da liberdade, da
cultura e da paz que, no caso da Europa do pós guerra, durante mais de 70 anos foram capazes de
resistir às tentações totalitárias. Estou convicto que continuaremos, atentos e vigilantes, a
mantermo-nos fiéis, no próximo futuro, a essas extraordinárias conquistas alcançadas com o sacrifício
de milhões de vidas de cidadãos do mundo.
(20 de jeneiro de 2017)
segunda-feira, janeiro 18
Notas Políticas (31)
O calendário colocou o 20 de janeiro como dia da posse do novo presidente americano e logo de seguida
24 de janeiro como dia da eleição do presidente português. Dois países atlânticos e aliados estratégicos.
Um pequeno país periférico na Europa outro um grande país continente. O que têm em comum é paradoxal: duas potências marítimas.
Uma muito antiga que vive com a sua história do dominio dos mares, outra muito moderna que vive com o poder de suas riquezas.
Um povo que se desvaloriza quase sempre s si próprio,outro que, pelo contrário, se hipervaloriza.
Nos próximos anos por entre tormentas que se desenham no presente e ameaçam um futuro de paz e concórdia entre as nações tudo se conjuga para uma aproximação entre Portugal e USA. Assim a diplomacia portuguesa seja capaz de dar esse salto
reorientando as suas prioridades externas embora no contexto da UE. Qual o presidente que melhor serve
esta estratégia do lado de Portugal: Marcelo Rebelo de Sousa.
domingo, janeiro 17
Notas Políticas (30)
Por esta hora daqui a uma semana já saberemos o resultado das presidenciais que mais não seja as projecções de
sondagens à boca das urnas. Espero que tudo fique resolvido à primeira volta para acabar com o tempo de antena
dos candidatos. É necessário manter a politica e a ideologia na primeira linha de prioridades da nossa vida coletiva.
Mas que tal dar prioridade absoluta, de emergência, à pandemia? E aos efeitos dela?
Notas Políticas (29)
Hoje, uma semana antes do dia oficial do voto, já se vota por antecipação. É possível que sejam feitas sondagens
sérias. A pandemia não interrompeu a democracia. Não há incidentes. Nada mau. A ver vamos.
quarta-feira, janeiro 13
Notas Políticas (28)
Hoje acabaram os debates presidenciais em todas as modalidades - pelos menos nos principais canais de TV.
Amanhã será anunciado um confinamento mais duro no âmbito do estado de emergência. O que resta da campanha
eleitoral que levará ao voto, e correspondente eleição do Presidente, decorrerá em condições unicas e nunca
vistas. A abstenção será elevadíssima. Não sei se alguém tomará a sério a necessiddae de reformar -
mesmo sem revisão constitucional - o sistema eleitoral a começar pela reforma da CNE para que não seja o
próprio regime democrático, através das suas instituições, a enfraquecer o regime democrático. os cidadãos
têm que ver facilitado o processo de aceder ao voto. Alguém que tome a peito a tarefa de encetar esta reforma
de imediato. Não vale a pena nem se justifica ficar de braços cruzados ou argumentar com a necessidade de
uma revisão constitucional.
domingo, janeiro 10
Notas Políticas (27)
Acabaram os debates a 2 nas TV s está bem entendido. Todos os pormenores são importantes nesses debates.
Hoje ouvi uma conversa de café na qual uma senhora se referia à cor do baton de Marisa no 1º debate em tom crítico.
Mas logo corrijido, segundo ela, no 2º. No fundo existe unanimidade: ganharam todos. Mas os debates foram importantes, As razões das
vitórias são multifacetadas e nem vale a pena tentar inumerá-las. Segue-se a campanha à chuva da pandemia.
Melhor estarão aqueles que somente apareçam para o "boneco" para não darem maus exemplos em pleno
confinamento. No final de tudo, dia 23 pela noitinha, refletiremos e no dia seguinte lá iremos como sempre desde que as eleições são
livres à assembleia de voto cumprir o dever cívico. Não é nada pouco cumprir esse dever mesmo sem saber ainda ao certo
em quem votar.
quinta-feira, janeiro 7
Notas Políticas (26)
Debates. Curtos no tempo e ainda bem. O tempo em televisão torna cada segundo uma eternidade. Nem é preciso muito tempo
para conhecer melhor (ou de todo) cada candidadata ou candidato. Admirei o candidadto Tino e suas
metáforas demolidoras em defesa da democracia e da igualdade. Foi o único momento em todos os debates
a que assisti em que se foi além do banal discurso politico defensivo. Marcelo não precisa de fazer grandes
esforços pois toda a gente já conhece o seu estilo mas talvez não conheça tão bem o seu posicionamento
ideológico e político. É um social democrata que professa a doutrina social da igreja católica. Não há muito
mais a saber além de verificações óbvias como a da sua idade - 72 anos - e de algumas ideosincrasia que tornam a sua figura singular. Os restantes ainda dispõem de muitos anos para voltarem a concorrer.
segunda-feira, janeiro 4
Notas Políticas (25)
Debates do dia. Um deles entre duas amigas com largas estadias no parlamento europeu - um dos mais
ambicionados lugares de eleição. Prova que pode haver divergência na convergência. O outro entre o candidato que a esquerda toma como de direita (e eu prefiro considerá-lo social democrata)
e o candidato comunista. Prova que pode haver convergência na divergência.
domingo, janeiro 3
Notas Políticas (24)
Após os dois primeiros debates nos quais participou Marcelo Rebelo de Sousa é possível, mesmo para os
mais céticos, confirmar as suas posições como as de um social democrata. A sua posição política e postura
ideológica são próprias de um social democrata. Ver-se-á como correm os próximos mas se mantiver a coerência
com as postura destes dois primeiros apresenta-se como um reduto de defesa da democracia. Pois o nosso
tempo, e o que se avizinha, não é para aventuras. Será duro, eivado de imensos perigos, mesmo para as
mais modestas conquistas adquiridas no pós 25 de abril, incluindo a prória democracia.
sábado, janeiro 2
Notas políitcas (23)
Começam hoje os debates frente a frente. Tarefa difícil é a de reverter a expetativa de uma enorme abstenção.
Haverá um vencedor, um eleito, mas a abstenção pode ganhar a todos.
quarta-feira, dezembro 30
Notas Políticas (22)
Os candidatos à eleição presidencial serão em número de 7 (número cabalístico)conforme decisão do Tribunal Constitucional.
São poucos em número absoluto e ainda menos os que, sem demérito para as suas qualidades pessoais e legitima aspiração a sujeitar-se ao escrutínio, contam para a elevação do debate politico.
Mas as coisas são como são. O que mais importa é o debate e a afirmação da democracia cujo maior
inimigo é a abstenção. Eu pela minha parte, voto sempre como desde as primeiras eleições democráticas pós 25 abril.
E assim será de novo. Um dos 7 candidatos vai ser eleito Presidente da República mesmo que me não
sinta entusiasmado por qualquer deles.
segunda-feira, dezembro 28
Notas políticas (21)
Surgem por aí muitos cidadãos de boa fé, bem formados e informados, que insistem em classificar Marcelo
Rebelo de Sousa como de direita ou mesmo de direita e extrema direita. Na verdade a sua candidatura
presidencial é apoiada formalmente pelo PSD e CDS/PP, mas Marcelo Rebelo de Sousa é um social democrata.
Nada indicia que tenha abandonado o seu conhecido posicionemante ideológico e político social democrata.
Sejam quais tenham sido ou venham a ser as derivas politico/ideológicas do PSD a candidadtura presidencial
é pessoal podendo ou não ser apoiada por partidos. Até ver é assim qua manda a CRP pelo que os candidatos
valem pelo seu próprio pensamento e ideologia. Individual e indelegável. E um social democrata, por tradição
histórica e obediência ideológica não é, salvo desvios radicais que não antevejo em Portugal, não é de direita e muito menos de extrema direita.
quarta-feira, dezembro 23
Notas Políticas (20)
Começaram as entrevistas aos potenciais candidadatos presidenciais (pois candidato formal ainda não há
nenhum). É o que se chama na gíria a précampanha mas dentro de um mês será a véspera do dia de reflexão.
O tempo é curto. As (os) candidatas (os), na verdade, têm pouco para dizer que entusiasme e cidadão
eleitor que se relacione com a função presidencial. Daqui que muito cidadão habitual eleitor possa
vir a deixar de o ser, ou seja, que se abtstenha. No caso concreto deste eleição o candidata/presidente Marcelo parece
ter tudo a ganhar enquanto outras/os parecem ter tudo a perder. Mas pode acontecer que se não possa adotar
uma linha de pensamento tão linear. Desde logo porque podem acontecer imprevistos neste tempo de tantas incertezas.
E mais ainda do que os acontecimentos inesperados o candidato/presidente Marcelo não pode querer conquistar o céu e a terra.
Não parece que a sua afirmação de que afasta o cenário de crise política em 2021 seja suficiente para
convencer uma boa parte do eleitorado socialista. Pois não haverá em qualquer caso crise politica por razões que
decorrem da Constituição, da crise pandémica e seus efeitos e do calendário eleitoral. Marcelo
candidato não pode atropelar Marcelo presidente e muito menos atacar, mesmo que de forma habilidosa, o
governo em funções. Parte do eleitorado socialista, e democrático, pode legitimamente desconfiar de
Marcelo futuro presidente quando for necessário tomar decisões que impliquem validar futuras soluções de
governo. O resultado final pode vir a ser uma desilusão para o próprio Marcelo pois ganhar à primeira volta
com 52% dos votos- tal como em 2016 - será uma desilusão e enfraquerá o seu magistério futuro. Os sucessivos atos eleitoriais em Portugal provaram que o povo é tudo menos burro.
Daqui a 15 dias a situação será mais clara, mas não gosto de demagogia populista venha de onde vier.
O meu voto irá para o que considere o menos populista das/os candidatas/os pois o voto é secreto e individual.
sábado, dezembro 19
17 anos
Deixar uma marca
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
nada dever ao esquecimento que esvazia o sentido do perdão olhando o mundo e tomando a medida exacta da nossa pequenez,
atravessar a solidão, esse luxo dos ricos, como dizia Camus, usufruindo da luz que os nossos amantes derramam em nós porque por amor nos iluminam,
observar atentos o direito e o avesso, a luz e a sombra, a dor e a perda, a charrua e a levada de água pura, crer no destino e acreditar no futuro do homem,
louvar a Deus as mãos que nos pegam, e nunca deixam de nos pegar, mesmo depois de sucumbirem injustamente à desdita da sorte ou à lei da vida,
guardar o sangue frio perante o disparar da veia jugular ou da espingarda apontada à fronte do combatente irregular,
incensar o gesto ameno e contemporizador que se busca e surge isento no labirinto da carnificina populista,
ousar a abjecção da tirania, admirar a grandeza da abdicação e desejar a amizade das mulheres,
admirar a vista do mar azul frente à terra atapetada de flores de amendoeira em silêncio e paz.
quarta-feira, dezembro 16
Notas Políticas (19)
Foi divulgada hoje nova sondagem a respeito das presidenciais. Curioso o calendário: Biden toma posse como Presdiente dos USA,
dia 20 janeiro, presidenciais em Portugal, dia 24 janeiro, em plena presidência portuguesa da UE.
Nos USA Biden venceu à justa por assim dizer apesar de ser larga a margem em grandes eleitores: a
vantagem para o mundo foi a de ter compreendido melhor o modelo aleitoral americano. A mais recente
recente sondagem por cá anuncia uma vitória folgada para Marcelo. Nada que não se esperasse apesar
dos números finais,como é tradição,apertarem a margem da vitória expetável de Marcelo. Podemos fingir, ou desejar.
outros cenários mas esta é a realidade incontornável.
segunda-feira, dezembro 7
Notas Políticas (18)
Recandidatura anunciada. Aconteceu o que era expectável que acontecesse. Para começar foi uma breve e muito clara declaração. Cada um(a) aos seus lugares. Com debates a dois, ao longo destes dois meses de inverno eleitoral vamos falando.
Notas políticas (17)
Ao que anunciou o próprio à comunicação social, Marcelo Rebelo de Sousa comunica hoje a sua decisão
acerca das Presidenciais, ou seja, a sua mais que certa recandidatura. Faltam 48 dias para a ida às urnas.
A pré campanha eleitoral decorrerá a partir de amanhã e a campanha em janeiro, após as festividades,
adivinho em pleno pico pandémico quase sem rua, nem afetos. Um plebiscito em que ganha expressão o peso da abstenção
e dos eleitores que não aprovam o desempenho de Marcelo no mandato ora no fim. Frias como o frio que fará em pleno inverno.
sexta-feira, dezembro 4
Notas Políticas (16)
Finalmente surgem sinais claros de que o naipe de candidatos às presidenciais de 24 de janeiro vai ficar fechado.
Marcelo após declarado o Estado de Emergência que cobre o periodo das Festas vai anunciar a sua candidatura.
Ao que parece será em Cascais,aliás,concelho onde reside o que me parece natural. Julgo ser a primeira vez na história
no pós 25 de abril que um candidato declara tão tarde a sua candidatura - algo que todos já sabiam - e a pandemia justifica.
Esta vai ser, pois, uma eleição com candidatos, campanha, vencedores e vencidos mas com poucos eleitores.
Quando tudo está decidido à partida é assim e sempre assim seria mesmo sem panedemis quanto mais com ela.
Estamos à distância de 50 dias do plebicisto presidencial Talvez seja a única vez que tal acontecerá pressupondo, como desejo,
que a democracia resista e tenah longa vida.
domingo, novembro 29
Notas Políticas (15)
Atentas as circunstâncias do nosso tempo as próximas eleições presidenciais serão as que suscitarão
menos interesse político de sempre. Desde logo porque, em boa verdade, salvo qualquer situação anómala, estão
decididas à partida.O tempo de pré campanha será minimo como se pode verificar a menos de dois meses
da ida à urnas em que quase nada mexe de verdade com o que se tornou a pacatez dos relatos da crise pandémica. Nem no tempo da "outra senhora" se verificou tal situação o que terá quase inevitávelmente
como resultado uma elavadíssima taxa de abstenção. Previ que Marcelo anunciaria a sua candidadtura
a 1 de dezembro próximo mas é provável que só faça após ter promulgado o OE de 2021 oque não deverá ser
possível em tão curto espaço de tempo. A ver vamos. A ver também se, entretanto, não surgirá qualquer
surpresa quanto a candidadturas presidenciais.
terça-feira, novembro 24
Notas políticas (14)
Confirmada a minha previsão: o PR marcou as eleições presidenciais para 24 de janeiro de 2021. Resta saber como se comporta a
pandemia até lá. Aposto que marcelo vai anunciar a sua recandidadtura a 1 de dezembro.
domingo, novembro 15
Notas políticas (13)
Dentro de menos de 15 dias será anunciada pelo PR a data das eleições presidenciais que devem ter lugar
a 24 de janeiro de 2021.Curiosamente 4 dias após o inicio da presidência Biden nos USA. O naipe de
candidatos presidenciais ainda não está fechado. Falta saber o que ao que se consta toda a gente
sabe: o anúncio da candidatura de Marcelo (1 de dezembro?). Não sei ainda em quem votar, o que fica para decidir, como
soe dizer-se, na cabine de voto. Antes será necessário saber como vai ser o epílogo da votação, em 27 novembro, do OE
para 2021. Todos os indicios apontam para a sua aprovação, mas nunca se sabe. O que sei, por intuição
politica, é que seria este o momento, pelas ameaças que pairam no ar, para a esquerda cerrar fileiras,
deixando-se de disputas estéreis e perigosas para a própria defesa da democracia representativa.
quinta-feira, novembro 12
Notas politicas (12)
No meio da tormenta politica que se avizinha se a democacia representativa perigar será novamente o
PS a defendê-la e salvá-la, seja quem for o Presidente.
quarta-feira, novembro 11
Notas Políticas (11)
Rui Rio entrou em contramão e ameaça atropelar-se a si próprio assim como ao futuro candidato Marcelo.
terça-feira, novembro 10
Notas políicas (10)
O PS decidiu formalmente que não apoia qualquer candidato presidencial dando liberdade de voto aos seus
eleitores. Não é novidade mas uma prática corrente ao longo dos anos. Desta forma deixa os seus eleitores num dilema moral qual seja votar num candidato oriundo da direita democrática,apoiado pelos partidos de direita democrática, votar numa candidadata socialista
independenete ou num dos dois candidatos oriundos de partidos da esquerda da esquerda. Opções dificeis
mas que, a seu tempo, terão de ser tomadas, pelo menos pelo meu lado pois nunca deixei de votar em
qualquer eleição desde o 25 de abril.
sábado, novembro 7
Notas politicas (9)
A propósito de presidenciais assinalo a vitória de Biden nas presidenciais americanas. Um acontecimento
de impato mundial. Quanto às eleições domésticas parece que serão convocadas para 24 de janeiro no
final de novembro pelo Presidente Marcelo que passará a candidato Marcelo, imagino, no dia 1 de dezembro
(mero palpite pelo simbolismo do dia).
segunda-feira, novembro 2
Notas políticas (8)
Marcelo concedeu hoje uma entrevista à RTP na qual abordou a pandemia e, no final, se desviou para
a poliitica geral. Não gostei. Foi excessivamente longa, desconexa e anárquica. Marcelo mostrou-se excessivamante
ansioso e entrou no jogo do entrevistador que tem que voltar à escola de jornalismo se acaso por lá passou.
segunda-feira, outubro 26
segunda-feira, outubro 5
Notas políticas (6)
A única sondagem divulgada até ao presente aponta para a vitória nas presidenciais do candidadto Marcelo (ainda por vir)
à primeira volta. No regime democrático o voto é livre e universal e no caso de Portugal podem
candidatar-se a Presidente da República cidadãos com mais de 35 anos,sendo certo que nas próximas
(em janeiro de 2021)serão vários de todos os quadrantes politicos e ideológicos. Para já o que me
apraz dizer é que o mais importante é ir votar. Neste 5 de outubro, dia do 110º aniversário da implantação da República: às urnas cidadãos!.
terça-feira, setembro 29
Notas politicas (5) - pausa
Parece haver uma trégua na pré campanha presidencial em Portugal. Nada mais do que bom senso:
não está fechado o naipe de candidadtos, não está marcada a data das eleições, estão em curso
processos cruciais para o próximo futuro do país, tais como a negociação politica do OE para 2021,
a preparação da presidência portuguesa da UE e a estratégia para a aplicação dos anunciados fundos. Além do mais o resultado da eleição
presidencial, sem desmerecer da sua importância, só não se pode dizer que está decidido à partida porque parece mal.
sábado, setembro 26
Notas politicas (4) - Apoio do PSD a Marcelo (a normalidade)
O PSD vai hoje aprovar formalmente o apoio à recandidatura presidencial de Marcelo. A normalidade em
politica é uma virtude. Ainda antes de Marcelo anunciar a sua recandidatura. Nada de novo a ocidente.
quinta-feira, setembro 24
Notas politicas (3) - Alianças
Da atualidade politica, um aspeto relevante. As declarações do PR proferidas hoje em simultâneo
com o posicionamento do governo, através do lider do PS, sublinhadas (aparentemente no contraditório)
pelo lider do principal partido da oposição) objetam (ou rejeitam), de forma explicita, o chamado "bloco central"
que significa, em Portugal, a aliança PS/PSD. Esta aliança estratégica (o que não implica a existência
de acordos táticos)abriria espaço para o crescimento da extrema direita. O "desaparecimento" do CDS/PP
"obriga" o PSD a posicionar-se no lugar da alternativa de direita, radicalizando o seu discurso e
programa, apoiando Marcelo candidato, preparando-se para surgir preferencialmente sozinho nas autárquicas e posicionar-se,
imaculado de alianças ao centro, para disputar legislativas antecipadas após o ciclo eleitotal de 2021.
terça-feira, setembro 22
Notas políticas (2) - O discurso populista
O discurso populista, seja qual for o protoganista que o profere, não integra uma estratégia
estruturada. É uma espécie de câmara de eco do que a "voz da rua" proclama como verdade irrefutável e está sôfrega por ouvir.
Não há populistas bons e populistas maus, bem ou mal intencionados; no final o dircurso populista fica
refém da verdade única, totalitária, odiando o contraditório.
segunda-feira, setembro 21
Notas políticas (1)
Breves notas políticas até às eleições presidenciais. Hoje por hoje dão-se conta comentaristas e quejandos que o CDS/PP vai desaparecer
do mapa politico português. Qual a supresa?
A minha curiosidade está onde votarão nas próximas eleiçoes - regionais, presidenciais, autárquicas e legislativas - os seus mais notáveis dirigentes ainda vivos.
sexta-feira, setembro 4
PAI
Este é um dia que nunca esqueço ao contrário de tantos outros dias. O dia de aniversário de meu pai Dimas Franco Neto Graça (4/9/1910- 9/1/1991), Um homem bom que nunca me faltou, a mais das vezes sem palavras, mas cujos gestos me marcaram profundamente. Deve ter sofrido por mim, devo tê-lo feito sofrer, tantas vezes de forma desnecessária, pela irreverência de filho tardio que fui. Não sei explicar por palavras em texto corrido este sentimento de profunda gratidão pelo respeito que manteve até ao fim dos seus dias pela minha liberdade mesmo receando pelo meu destino em fidelidade com ela. Sempre presente no meu coração!
terça-feira, setembro 1
FINAL
Está a chegar ao fim esta estadia de uma semana na terra - o Algarve - o que é sempre um prazer que nasce do fundo da minha criação. As estadias, além do aprazível ambiente natural, têm os beneficios de estreitar os laços de família em renovação permanente. Esta é uma visita ritual que me aproxima da vida para além de todas as suas vicissitudes.
quarta-feira, agosto 26
Algarve
Chegada ao reino dos Algarves, a minha terra, para uns dias de férias, respirando uma aragem mediterrânica que conheço em todos os seus tons, sabores e cheiros desde que tenho consciência de mim. Nunca em nenhum ano, após o meu afastamento fisico desta terra, deixei de a visitar no verão nem que tenha sido por um só dia. Estão aqui todos os meus ( e os de minha mulher) tal como as experiências, e memórias, que fizeram de mim o que sou. Não sei, pois nunca se sabe, quantas vezes mais voltarei, em que circunstâncias e condição, mas espero que muitas.
segunda-feira, agosto 24
Lares
Acerca dos lares muito se tem falado nos últimos tempos, assim como de idosos. Pena que a esmagadora maioria dos opinadores não conheça nada acerca do assunto. Nem relacione e compara a situação portuguesa com a de outros países em particular os europeus. Não falo só da realidade vivida nos lares no contexto social das regiões e comunidades nos quais se inserem, como acerca do enquadramento institucional e legal dos mesmos.
domingo, agosto 23
segunda-feira, agosto 10
O texto político
"O político é, subjectivamente, uma fonte permanente de aborrecimento e/ou de prazer; é, além disso e de facto (isto é, a despeito das arrogâncias do sujeito político), um espaço obtinadamente polissémico, a sede privilegiada duma interpretação perpétua (uma interpretação, se for suficientemente sistemática nunca será desmentida, até ao infinito). Poderíamos concluir a partir destas duas constatações que o Político é textual puro: uma forma exorbitante, exasperada, do Texto, uma forma inaudita que, pelos seus extravasamentos e pelas suas máscaras, talvez ultrapasse a nossa compreensão actual do Texto. E, tendo Sade produzido o mais puro dos textos, julgo compreender que o Político me agrada como texto sadiano e me desagrada como texto sádico."
Escrevi nesta pagina: "visitam-se lugares e acontecimentos mas, de facto, visitamo-nos a nós próprios apertando os contactos entre os "viajantes". Quando assim não sucede a viagem reduz-se à excursão."
"Roland Barthes por Roland Barthes"
sábado, agosto 8
O Tempo
2020 - um ano quente como não se via faz quase um século. Sinto-o todos os dias na rua, em todo o lado, mas como todas as situações extremas os portugueses suportam-nas e dão a volta. Neste tempo que é o nosso (e o meu)são muitas situações extremas ao mesmo tempo. Adiante. Como vai ser o próximo futuro ninguém sabe, nunca ninguém sabe, mas tenho esperança.
sábado, junho 27
Tempos difíceis, ainda mais do que noutros tempos que vivenciámos, de salvaguarda da vida e da liberdade em todas as suas dimensões. A sociedade no seu conjunto e as instituições próprias de uma comunidade que optou, no pós 25 de abril de 1974, pela livre escolha dos seus representantes políticos - a democracia - não pode precipitar-se tomando decisões que carecem de amuderecimento, nem ser complacente para com os seus inimigos. Vencer todas as dificuldades, obedecendo às regras que a democracia exige, é o mais alevado exercício que se impõe aos democratas, correndo com coragem todos os riscos da incompreensão e intolerância reinantes.
domingo, junho 7
O estranho Verão de 2020
O estranho Verão de 2020. Quase um ano depois de um confinamento muito duro por razões familiares estou tentado a arriscar que entramos em planalto. A vida social tornou-se algo indefinível um espaço estranho de medos e incertezas no qual deambulam cidadãos na maioria desconfiados de tudo e todos. Não será possível viver neste ambiente muito mais tempo sem o risco de uma implosão social seja qual for o seu perfil e consequências.
terça-feira, maio 12
CONFINAMENTO
O confinamento, ou seja, uma espécie de reclusão em casa umas largas semanas, o trabalho a partir de casa, teletrabalho, tarefas domésticas associadas a esta realidade, correspondente redução drástica de saídas, uma mistura explosiva para a maioria, não tanto para mim. Desde há bastante tempo (dois anos e, mais fortemente, na segunda metade de 2019), que a minha vida social sofreu uma fortíssima redução, nos limites da reclusão. Uma doença grave de familiar próximo levou-me a dedicar todas as minhas energias, e dedicação, ao trabalho e ao desempenho de uma fórmula de cuidador informal.Tempos de profunda dor compensada pela solidariedade familiar e de uma profunda fé no futuro e nas virtudes da luta por uma vida feliz. assim antecipei as agruras dos tempos de confinamento e me habituei a ele. Como será o próximo futuro? Ninguém sabe ao certo.
terça-feira, abril 28
ANIVERSÁRIO
Tal como antes já se terá dito vezes sem conta nunca esperei chegar a esta idade. Tudo e nada, o previsível e o improvável, gente, paisagem, cor, impulso ardente, desgosto, vida e morte. Um tempo vivido em boa parte nos gloriosos anos do pós guerra (2ª), anos de paz e prosperidade relativa, atravessando revoltas e revoluções, e delas participando, uma raridade, inestimável privilégio, um mundo de emoções e sonhos de mudança. Presiguemos.
sábado, abril 18
QUE VIVA O 25 DE ABRIL!
Vai correndo por aí uma polémica séria acerca da celebração do 25 de abril com uma cerimónia da AR. Socorrendo-se da pandemia, e do medo que ela suscita, saudosistas do passado, dos tempos da "outra senhora", adeptos confessos, ou envergonhados, da tirania manifestam-se contra a celebração do dia da liberdade. Como sempre em épocas de crises agudas mesmo alguns democratas deslizam suavemente para o manto onde se acoitam os amantes da tirania. É um clássico. São os que dispõem daquela peculiar vocação de cheirar os ares do tempo buscando beneficiar do que julgam vir a ser um novo regime politico ou, no mínimo, um novo governo inclinado para a extrema direita. Ora ao que venho é para afirmar que as datas simbólicas que afirmam os valores da liberdade e da democracia (além de outras em que incluo as religiosas) têm que ser celebradas nos espaços próprios, no caso do 25 de abril, na AR. E assim será, sabendo-se que se está a tentar resgar um pacto que tem perdurado desde o 25 de abril no qual todas as forças politicas convergiam em torno da defesa da liberdade. Os próximos tempos serão de duras lutas, novamente, para assegurar que os seus detratores, e inimigos, serão derrotados. Que viva o 25 de abril!
quinta-feira, abril 9
quarta-feira, março 25
Superavite
No epicentro de uma crise sanitária sem precedentes que provocará um terramoto económico de consequências imprevisíveis o INE anunciou hoje um superavit nas contas do estado. É a primeira vez, em democracia, que tal acontece. No presente contexto este resultado é submerso pela crise atual mas não deixa de corresponder à realidade. Trata-se de um acontecimento da máxima importância em si mesmo pelo que contribui para a credibilidade do país no contexto internacional e pelo contributo para atenuar as consequências económicas e financeira da presente crise sanitária global. Ganhamos todos com este resultado e, seja qual for o destino que lhe esteja reservado, coloca Mário Centeno (e o governo socialista), na história por este cometimento ainda para mais de autoria de um governo de centro esquerda.
sábado, março 21
Dia Mundial da Poesia
Os dias evocativos valem o que valem. Foi em 2004 a primeira vez que publiquei neste blog um poema evocando o Dia Mundial da Poesia. Escolhi um poema que muito me marcou aquando da leitura inicial da obra poética de Jorge de Sena. Republico.
UMA PEQUENINA LUZ
Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una piccola ... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não iluminam também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui.
no meio de nós.
Brilha.
1950
Jorge de Sena
In Fidelidade (1958)
UMA PEQUENINA LUZ
Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una piccola ... em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não iluminam também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui.
no meio de nós.
Brilha.
1950
Jorge de Sena
In Fidelidade (1958)
domingo, março 15
Anti vírus
Ao contrário da maioria dos países Portugal tem somente uma fronteira terrestre sendo a outra o Atlântico. Somos o país mais a ocidente, com as ilhas, sem conflitos fronteiriços. Tudo que respeita às fronteiras tem que ser negociado para manter a paz e o relacionamento de parceiros com a Espanha e com os aliados atlânticos. Somos apesar da dimensão uma potência marítima e, em nenhum caso, devemos tomar medidas unilaterais nem face a Espanha, nem a Inglaterra nem aos USA. O governo seja qual for não toma decisões sem ponderar todas as consequências. Deixem para o Trump a loucura de todos os possíveis sem olhar aos outros que será por aí que vai morrer politicamente.
domingo, março 8
terça-feira, fevereiro 25
Pelo 15º aniversário da morte do meu irmão Dimas
Pelo 15º aniversário da morte do meu irmão Dimas, que vive no meu coreção. Uma resenha breve da história familiar:
"As voltas da vida levaram a que meus pais viessem a adoptar, antes do tempo, o modelo quase perfeito da família nuclear. Um casal e dois filhos. Mas é interessante que já os pais de meus pais haviam gerado famílias pequenas: os meus avós paternos com três filhos e os maternos com dois. O modelo da família alargada havia ficado pelas gerações anteriores.
O meu irmão Dimas nasceu onze anos antes de mim. Ele é contemporâneo dos inícios da guerra civil de Espanha e eu sou um “baby boomer” típico. Não sou capaz de imaginar a intensidade do impacto do meu nascimento tardio no equilíbrio familiar.
Mas é um facto que o meu irmão não concluiu o liceu tendo os meus pais que buscar uma via alternativa para a sua formação. Por ruas e travessas chegaram a um caminho que deu certo. O meu irmão, ainda antes de 1955, partiu para o Porto para aprender, ao mesmo tempo, dois ofícios: óptico e gravador.
Lembro o dia da sua partida. Naquela época a distância entre o extremo sul de Portugal e o Norte, entre Faro e o Porto, era incomensuravelmente maior do que é hoje. O meu irmão Dimas, com menos de vinte anos, instalou-se no Porto, tendo encetado a sua aprendizagem na “Óptica Retina”.
Aprendeu bem todos os segredos dos ofícios a que se propôs dedicar-se o que lhe permitiu durante quase cinquenta anos fazer um percurso ascendente, à maneira de um “self-made-man”, que lhe havia de granjear prestígio profissional e social além de prosperidade económica.
Como escrevi, por alturas da sua morte, prematura e injusta, é um caso de alguém que subiu a pulso na vida, com o esforço do seu trabalho, o apoio inicial dos pais, e uma forte exigência na qualidade do seu próprio desempenho pessoal e profissional.
Os meus pais, forçados pelas circunstâncias da vida, com alegrias e amarguras, fizeram, em relação ao futuro dos filhos, o melhor que puderam. E, no essencial, acertaram. Ao mais velho uma profissão, ao mais novo um curso superior. Depois cada um que assumisse, com liberdade, o seu próprio futuro."
"As voltas da vida levaram a que meus pais viessem a adoptar, antes do tempo, o modelo quase perfeito da família nuclear. Um casal e dois filhos. Mas é interessante que já os pais de meus pais haviam gerado famílias pequenas: os meus avós paternos com três filhos e os maternos com dois. O modelo da família alargada havia ficado pelas gerações anteriores.
O meu irmão Dimas nasceu onze anos antes de mim. Ele é contemporâneo dos inícios da guerra civil de Espanha e eu sou um “baby boomer” típico. Não sou capaz de imaginar a intensidade do impacto do meu nascimento tardio no equilíbrio familiar.
Mas é um facto que o meu irmão não concluiu o liceu tendo os meus pais que buscar uma via alternativa para a sua formação. Por ruas e travessas chegaram a um caminho que deu certo. O meu irmão, ainda antes de 1955, partiu para o Porto para aprender, ao mesmo tempo, dois ofícios: óptico e gravador.
Lembro o dia da sua partida. Naquela época a distância entre o extremo sul de Portugal e o Norte, entre Faro e o Porto, era incomensuravelmente maior do que é hoje. O meu irmão Dimas, com menos de vinte anos, instalou-se no Porto, tendo encetado a sua aprendizagem na “Óptica Retina”.
Aprendeu bem todos os segredos dos ofícios a que se propôs dedicar-se o que lhe permitiu durante quase cinquenta anos fazer um percurso ascendente, à maneira de um “self-made-man”, que lhe havia de granjear prestígio profissional e social além de prosperidade económica.
Como escrevi, por alturas da sua morte, prematura e injusta, é um caso de alguém que subiu a pulso na vida, com o esforço do seu trabalho, o apoio inicial dos pais, e uma forte exigência na qualidade do seu próprio desempenho pessoal e profissional.
Os meus pais, forçados pelas circunstâncias da vida, com alegrias e amarguras, fizeram, em relação ao futuro dos filhos, o melhor que puderam. E, no essencial, acertaram. Ao mais velho uma profissão, ao mais novo um curso superior. Depois cada um que assumisse, com liberdade, o seu próprio futuro."
quinta-feira, fevereiro 13
Humberto Delgado
No dia do 55º aniversário do assassinato do General Humberto Delgado pela PIDE, honra à sua memória.
domingo, fevereiro 9
Honra
Domingo de inverno com sol em Lisboa. A vida é uma sucessão de surpresas mesmo que escondidas na rotina. Um dos mais delicados paradoxos da vida é o de ser capaz de fazer caminho sem ceder ao mercantilismo. A honra não tem preço.
sábado, fevereiro 1
2/2/1954 - Neve a sul
Na madrugada do dia 1 para 2 de fevereiro de 1954 a meteorologia fez uma surpresa ao sul de Portugal. Para surpresa de todos - pois as previsões não seriam tão meticulosas e divulgadas - nevou a sul. Da janela da casa onde nasci, em Faro, na manhã de dia 2 de fevereiro de 1954, pude ver pela primeira vez neve ainda assim abundantes. Foi uma festa que nunca mais esqueci, nem se repetiu pelo menos com aquela intensidade. Vejam só como as surpresas do clima são coisa antiga.
terça-feira, janeiro 28
Tempo e futuro
O tempo passa como um raio deixando o seu rasto de luz e esperança. Creio que o homem é natureza e acredito sempre num futuro promissor para a humanidade. Muitas notícias apontam no sentido contrário mas não esmorece em mim esse otimismo da vontade.
quinta-feira, janeiro 9
Ir pela sua mão
Em memória de meu pai
Ir pela sua mão era caminhar
para um paraíso sem nome,
sonhar uma aventura terna
sabendo de cor o caminho
de regresso a casa a pé
sem guia nem vertigens
Ir pela sua mão aberta
à ternura de mão solitária
era saborear um engano
sem mácula, sobreviver
e nada dever aos outros
que se não pudesse devolver
Ir pela sua mão desarmada
não deixava rasto no chão
e a minha cabeça voava à roda
do meu coração que batia
como agora quando me escapo
à rotina do bater do dia
Ir pela sua mão lembra-me
sempre o dobrar dos dias,
homens tristes de ombros
postos nas esquinas luzidias
esperando taciturnos perder
o sentido do seu próprio corpo
Ir pela sua mão seria partir
do nada ao especial feito,
rasgar um caminho incerto
de mágoas, uma alegria banal,
sagradas confidências guardadas
entre nós que se não confiam
Ir pela sua mão dava acesso
ao mundo, mas ninguém soube
das suas amantes que eu vi,
nem dos gritos do seu olhar
que se abria dolente para mim
pedindo em silêncio aceitação
Eu tudo lhe dei sempre sem pedir
nada em troca, somente por vezes
a sua mão para ir nela confiante
em busca de um caminho qualquer
que não sabia onde levava nem
isso de verdade nada interessava.
(In "Ir pela sua mão" - Maio 2003 - Editora Ausência.)
Ir pela sua mão era caminhar
para um paraíso sem nome,
sonhar uma aventura terna
sabendo de cor o caminho
de regresso a casa a pé
sem guia nem vertigens
Ir pela sua mão aberta
à ternura de mão solitária
era saborear um engano
sem mácula, sobreviver
e nada dever aos outros
que se não pudesse devolver
Ir pela sua mão desarmada
não deixava rasto no chão
e a minha cabeça voava à roda
do meu coração que batia
como agora quando me escapo
à rotina do bater do dia
Ir pela sua mão lembra-me
sempre o dobrar dos dias,
homens tristes de ombros
postos nas esquinas luzidias
esperando taciturnos perder
o sentido do seu próprio corpo
Ir pela sua mão seria partir
do nada ao especial feito,
rasgar um caminho incerto
de mágoas, uma alegria banal,
sagradas confidências guardadas
entre nós que se não confiam
Ir pela sua mão dava acesso
ao mundo, mas ninguém soube
das suas amantes que eu vi,
nem dos gritos do seu olhar
que se abria dolente para mim
pedindo em silêncio aceitação
Eu tudo lhe dei sempre sem pedir
nada em troca, somente por vezes
a sua mão para ir nela confiante
em busca de um caminho qualquer
que não sabia onde levava nem
isso de verdade nada interessava.
(In "Ir pela sua mão" - Maio 2003 - Editora Ausência.)
sábado, janeiro 4
4 janeiro - 60 anos após a morte de Albert Camus
Camus publicou em vida dezanove obras, de 1937 a 1959, entre as quais se destacam os romances (“L’Étranger” em 1942, “La Peste” em 1947), as novelas (“La Chute” em 1956, “L’Exil et le Royaume” em 1957) as peças de teatro (“Caligula” e “Le Malentendu" em 1944, “L’État de siège" em 1948, “Les Justes” em 1950), e os ensaios (“L’Envers et l’Endroit" em 1937, “Noces” em 1939, “Le Mythe de Sisyphe” em 1942, “Les lettres à un ami allemand” em 1945, “L´Homme révolté” em 1951 e”LÊté” em 1954). É necessário ainda juntar três recolhas de ensaios políticos (“Les Actuelles”), “Les deux Discours de Suède” (pronunciados aquando da atribuição do Nobel) e a contribuição para a obra de Arthur Koestler intitulada “Réflexions sur la peine capitale”.
Outras obras foram editadas após a sua morte entre as quais se contam o “diário” dos seus pensamentos e leituras, assim como notas de trabalho, publicado sob o título “Carnets”; o diploma de estudos superiores de 1936: “Métaphysique chrétienne et néoplatonisme”, publicado pela “La Pléiade”; o romance inédito, “La Morte heureuse”, cuja redacção data de 1937; o manuscrito inacabado, encontrado na pasta de Camus depois do acidente de viação que o vitimou:“Le Premier Homme”, esboço do que viria a tornar-se o seu grande romance quasi autobiográfico e ainda a sua correspondência com o amigo Jean Grenier.
terça-feira, dezembro 31
2020
Bom Ano de 2020. Esperança no futuro. Vida vivida como melhor cada um deseje. Trabalho e saúde. Liberdade.
quinta-feira, dezembro 19
16 anos
Passam hoje 16 anos desde o dia em que criei este blog. Foi uma decisão de momento, tardia, numa fase difícil da minha vida. Não me arrependo e mantenho-o vivo apesar do declínio dos blogs, alimentando-o com menos regularidade mas sem desistir dele. Um dia destes vou recomeçar a escrever mais intensamente aqui e talvez também poesia.
Fotografia de Hélder Gonçalves
Fotografia de Hélder Gonçalves
quarta-feira, dezembro 11
Esperança
Tantas efemérides têm passado sem que delas aqui dê notícias. A minha fadiga é demasiada e busco resistir a ela como noutras ocasiões de acontecimentos nefastos. Seis meses exatos sobre um desses acontecimentos brutais que nos atingem no mais fundo do ser. Depois deste longo tempo de sofrimento surgem sinais de esperança consistentes que espero se confirmem num próximo futuro.
quarta-feira, dezembro 4
FUTURO
Seis meses (menos uma semana) despois, hoje foi dado um passo adiante na concretização da esperança no futuro.
terça-feira, novembro 19
Sinais encorajadores
Dizem que vai chover nos próximos dias, uma boa notícia para o equilíbrio ecológico, económico e social. Pelo lado pessoal, e familiar, as notícias dão conta e apresentam melhorias apontando no bom caminho. Ainda há caminho a percorrer mas os sinais são encorajadores. O tempo, no entanto, deixa as suas marcas.
quinta-feira, novembro 14
DIAS
Dizem que vai arrefecer, a meteorologia é, no nosso tempo, quase infalível. Semana a semana, dia a dia, a sair da zona cinzenta, com muito caminho por fazer, mas já se pressente que existe caminho firme para trilhar.
domingo, novembro 3
Vida
Difíceis estes estes últimos meses, uma prova de resistência, sem perder a esperança, acreditar sempre, sentir como todos os problemas à nossa volta têm um valor relativo face à importância da vida. Mais difícil ainda para quem acredita no Sagrado mas não acredita em Deus.
domingo, outubro 27
Pelo aniversário do meu filho Manuel
O texto abaixo foi escrito, treze anos atrás, a pedido do meu filho Manuel, para integrar o “portfolio” da disciplina de português do 10º ano. Publico-o como celebração do seu aniversário e em homenagem à sua mãe que só aparentemente dele está ausente. A professora, por sua vez, com razão, estranhou a ausência de parágrafos. Mas o texto, de facto, é mesmo assim. Uma espécie de mancha compacta povoada de palavras que exprimem uma imagem absolutamente subjectiva de alguém a quem queremos mais do que tudo.
O meu filho pediu-me para escrever um texto acerca dele próprio. Este é o texto mais difícil de escrever. Quando tinha a idade que ele tem agora as minhas dificuldades nos estudos eram mais acentuadas. A descoberta do corpo, nos alvores da adolescência, é fonte de prazeres e de medos. Julgo que sofri mais nessa fase da vida. Subjectividades. Nunca seria capaz de pedir aos meus pais que escrevessem um texto acerca de mim. Não que não fossem capazes apesar do nível de escolaridade que alcançaram ser mais baixo do que aquele que me deixaram de herança. Mas porque o olhar do meu filho acerca do papel dos pais mudou. Assim como mudou o seu olhar acerca do papel do professor e da escola. Ele tem, ao contrário dos pais na sua idade, mais capacidade de crítica e mais autonomia para expressar as suas opiniões. Gosta de participar e excede-se, porventura, na sua vontade de partilhar o espaço comum. Desde criança que exercita a sua curiosidade ouvindo todas as notícias. Mas, ao contrário das aparências, é tímido. Uma herança familiar. Receia enfrentar o desconhecido mas gosta de ouvir as discussões que transcendem a sua capacidade de entendimento. Gosta de discutir os temas da política e, em regra, é capaz de formular sínteses coerentes e equilibradas. Precisa de participar em actividades colectivas. Não sendo o teatro, ou a música, que seja o “parlamento”. Exercitará a capacidade de argumentação, a arte da palavra e as vantagens da síntese. Tem aprendido, progressivamente, a gerir a autonomia que lhe é oferecida e a organizar os seus tempos. Amadureceu a consciência de que precisa de trabalhar mais tempo e de forma mais organizada. É gentil. Vive no seio de uma família estruturada, uma tradição familiar que enraíza nas gerações passadas. É seguro. Desde criança que se enfurece quando lhe escapa das mãos qualquer objecto. Aprendeu a ouvir música para a qual sempre manifestou uma especial predilecção. É apreciador da natureza e da sua preservação, em particular, dos animais. Em criança aprendeu a pescar e a arranjar o peixe de que conhece todas as espécies. Aprecia os amigos, honra a intimidade e guarda os segredos. Entusiasma-se e distrai-se. Amadurece devagar. Sonha.
O meu filho pediu-me para escrever um texto acerca dele próprio. Este é o texto mais difícil de escrever. Quando tinha a idade que ele tem agora as minhas dificuldades nos estudos eram mais acentuadas. A descoberta do corpo, nos alvores da adolescência, é fonte de prazeres e de medos. Julgo que sofri mais nessa fase da vida. Subjectividades. Nunca seria capaz de pedir aos meus pais que escrevessem um texto acerca de mim. Não que não fossem capazes apesar do nível de escolaridade que alcançaram ser mais baixo do que aquele que me deixaram de herança. Mas porque o olhar do meu filho acerca do papel dos pais mudou. Assim como mudou o seu olhar acerca do papel do professor e da escola. Ele tem, ao contrário dos pais na sua idade, mais capacidade de crítica e mais autonomia para expressar as suas opiniões. Gosta de participar e excede-se, porventura, na sua vontade de partilhar o espaço comum. Desde criança que exercita a sua curiosidade ouvindo todas as notícias. Mas, ao contrário das aparências, é tímido. Uma herança familiar. Receia enfrentar o desconhecido mas gosta de ouvir as discussões que transcendem a sua capacidade de entendimento. Gosta de discutir os temas da política e, em regra, é capaz de formular sínteses coerentes e equilibradas. Precisa de participar em actividades colectivas. Não sendo o teatro, ou a música, que seja o “parlamento”. Exercitará a capacidade de argumentação, a arte da palavra e as vantagens da síntese. Tem aprendido, progressivamente, a gerir a autonomia que lhe é oferecida e a organizar os seus tempos. Amadureceu a consciência de que precisa de trabalhar mais tempo e de forma mais organizada. É gentil. Vive no seio de uma família estruturada, uma tradição familiar que enraíza nas gerações passadas. É seguro. Desde criança que se enfurece quando lhe escapa das mãos qualquer objecto. Aprendeu a ouvir música para a qual sempre manifestou uma especial predilecção. É apreciador da natureza e da sua preservação, em particular, dos animais. Em criança aprendeu a pescar e a arranjar o peixe de que conhece todas as espécies. Aprecia os amigos, honra a intimidade e guarda os segredos. Entusiasma-se e distrai-se. Amadurece devagar. Sonha.
segunda-feira, outubro 14
A banca
Vou escrever uma coisa muito crua. Não confio nos gestores da banca. Desconfiança que não é de agora apesar da minha formação académica de base ser, imaginem, em finanças. Apreciei uma afirmação recente do PR que disse que duvida que tenham aprendido com as lições do passado recente. É da sua natureza nunca aprenderem desde que foram possuídos pela fúria ultra liberal ostentatória (ler Francisco - o Papa). Apresentam-se como os donos de riquezas que não são suas mas de quem lhes confia as poupanças. Falta-lhes modéstia e sentido de serviços em favor do bem comum e dos mais desfavorecidos - no caso da banca pública - e de verdadeira responsabilidade social no caso da banca privada. Ninguém tem coragem de lhes fazer frente e gabam-se das mentiras que sabem, pagando, fazer passar por verdades. De tempos a tempos os impostos vergam-se à sua falta de escrúpulos, e eles sabem.
Eleições legislativas
O PS ganhou as eleições legislativas mas, por vezes, parece a quem ouve certos propagandistas que as perdeu. Mas ganhou-as e está em condições vantajosas de formar governo e ninguém terá a coragem, à esquerda, de lhe barrar o caminho. Dizem que esse bom senso não vai durar sempre. Mal daqueles que não são capazes de ver com olhos de ver a realidade. Se quiserem uma vitória, daqui a uns anos, da direita extremista, extrema direita, ou dos protofascistas, como lhes quiserem chamar, comecem desde já a minar a maioria socialista do PS (e já agora o reforço do PSD no seu lugar de centro direita). Se quiserem que Portugal, em paz e concórdia, no contexto das disputas democráticas, avance no sentido do progresso preparem-se para apoiar, nas questões essenciais, o governo PS assim como, em janeiro de 2021, a recandidatura presidencial de Marcelo.
sexta-feira, outubro 4
ÀS URNAS!
Uma última palavra acerca das eleições legislativas que terão o seu desfecho no próximo domingo. Votarei no PS. Na verdade sempre votei no PS após ter votado no MES as duas únicas vezes que, antes de alegremente se finar, foi a votos: em 25 de abril de 1975 e 25 de abril de 1976, respetivamente para a Assembleia Constituinte e para a 1ª Assembleia Legislativa. O meu voto, em eleições democráticas, tem a mesma importância do voto de qualquer outro cidadão, daí a sua importância. Ninguém é mais importante que outrem nesta matéria de votar, somos todos iguais. Acresce que o meu voto, em eleições livres, não é condicionado por ninguém, sou eu próprio que, em consciência, decido. O voto livre e democrático é uma conquista civilizacional extraordinária pela qual vale a pena lutar pois, apesar de todos os seus defeitos, é a mais poderosa barreira aos populismos e a todas as tentações ditatoriais, que as há! A melhor forma de defender esta conquista extraordinária, salvaguardando a democracia e a liberdade, é exercer, em pleno, o direito ao voto. Como tal sempre os democratas proclamaram em todos os tempos: às urnas! às urnas!
Subscrever:
Mensagens (Atom)