Um dia por necessidade de conhecer os problemas do chamado “Portugal Profundo”, no âmbito de uma instituição que servia, o INATEL, e, por espírito de descoberta de uma realidade ignorada, resolvi visitar todos os concelhos raianos de Portugal.
Assim pus-me a caminho. Em duas etapas percorri, acompanhado por um responsável técnico e pelo motorista, toda a faixa do território português que confina com Espanha. Desde Vila Real de Santo António a Caminha.
Ficaram-me na memória as imagens de uma paisagem natural praticamente intocada, gente escassa e boa, lugares perdidos no tempo, vontades de mudança e de acomodação, uma região partilhada por dois países cuja fronteira física se desvaneceu mas em que o tempo acentuou as diferenças do desenvolvimento.
Mais Espanha na componente de progresso, mais Portugal na componente de atraso. Na época, finais dos anos 90, as redes de telecomunicações operacionais eram espanholas, as melhores estradas eram espanholas, os melhores serviços eram espanhóis, os melhores produtos, idem aspas...
O território raiano, do lado de cá da fronteira, é português por razões da língua, da história, da tradição e da administração, mas é espanhol por razão da economia, dos serviços, do consumo, da diversão e da cultura. Uma cidadania partilhada a pender para o lado da lá.
Do lado de cá as gentes, em idade activa, ao longo dos últimos decénios, “emigraram” do interior para o litoral, em busca de trabalho, e os que ficaram envelheceram inexoravelmente deixando uma longa faixa do território nacional ao abandono. Nada que tivesse sido uma surpresa e contra a qual não se pudesse ter travado um combate que, afinal, apesar das promessas, nunca foi consequente nem eficaz.
Visitamos todos os municípios raianos nos quais fomos acolhidos, em regra, com amizade e esperança. Aqui deixo o relato de dois episódios comezinhos que me impressionaram.
Num dos concelhos mais pequenos, em pleno Alentejo profundo, a presidente de Câmara, comunista, pediu-nos para interromper a reunião, na hora do almoço, pois tinha que ir a casa dar de comer à mãe. Assim se fez e a reunião prosseguiu após cumprida a missão familiar da aguerrida e humana presidente.
Num outro concelho, o de Campo Maior, após a partida para norte, fui surpreendido por um telefonema de casa a informar-me de um telefonema da GNR local. Tinham com eles a minha carteira cujo extravio eu próprio não me tinha ainda dado conta. Foi recolhida num banco do jardim principal da vila por um popular que, gentilmente, a entregou na GNR local.
Soube-me bem confirmar, ao vivo, que o povo da raia e, em especial, o povo do Alentejo mantém intacta a sua profunda capacidade de ser solidário. O que designamos no jargão sócio-económico por atraso tem esta inusitada componente humana o que nos deve fazer duvidar da natureza exacta e definitiva das estatísticas. Assim haja gente.
Assim pus-me a caminho. Em duas etapas percorri, acompanhado por um responsável técnico e pelo motorista, toda a faixa do território português que confina com Espanha. Desde Vila Real de Santo António a Caminha.
Ficaram-me na memória as imagens de uma paisagem natural praticamente intocada, gente escassa e boa, lugares perdidos no tempo, vontades de mudança e de acomodação, uma região partilhada por dois países cuja fronteira física se desvaneceu mas em que o tempo acentuou as diferenças do desenvolvimento.
Mais Espanha na componente de progresso, mais Portugal na componente de atraso. Na época, finais dos anos 90, as redes de telecomunicações operacionais eram espanholas, as melhores estradas eram espanholas, os melhores serviços eram espanhóis, os melhores produtos, idem aspas...
O território raiano, do lado de cá da fronteira, é português por razões da língua, da história, da tradição e da administração, mas é espanhol por razão da economia, dos serviços, do consumo, da diversão e da cultura. Uma cidadania partilhada a pender para o lado da lá.
Do lado de cá as gentes, em idade activa, ao longo dos últimos decénios, “emigraram” do interior para o litoral, em busca de trabalho, e os que ficaram envelheceram inexoravelmente deixando uma longa faixa do território nacional ao abandono. Nada que tivesse sido uma surpresa e contra a qual não se pudesse ter travado um combate que, afinal, apesar das promessas, nunca foi consequente nem eficaz.
Visitamos todos os municípios raianos nos quais fomos acolhidos, em regra, com amizade e esperança. Aqui deixo o relato de dois episódios comezinhos que me impressionaram.
Num dos concelhos mais pequenos, em pleno Alentejo profundo, a presidente de Câmara, comunista, pediu-nos para interromper a reunião, na hora do almoço, pois tinha que ir a casa dar de comer à mãe. Assim se fez e a reunião prosseguiu após cumprida a missão familiar da aguerrida e humana presidente.
Num outro concelho, o de Campo Maior, após a partida para norte, fui surpreendido por um telefonema de casa a informar-me de um telefonema da GNR local. Tinham com eles a minha carteira cujo extravio eu próprio não me tinha ainda dado conta. Foi recolhida num banco do jardim principal da vila por um popular que, gentilmente, a entregou na GNR local.
Soube-me bem confirmar, ao vivo, que o povo da raia e, em especial, o povo do Alentejo mantém intacta a sua profunda capacidade de ser solidário. O que designamos no jargão sócio-económico por atraso tem esta inusitada componente humana o que nos deve fazer duvidar da natureza exacta e definitiva das estatísticas. Assim haja gente.
Absorto - 1º Aniversário (15 de 17)