Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, setembro 19
segunda-feira, setembro 18
O REINO DA BOLA ENLOUQUECEU
Fotografia Daqui
Ouvi ontem o comentador da SIC Notícias Rui Santos fazer afirmações de tal gravidade acerca da situação do nosso pequeno mundo futebolístico que davam para mandar encerrar a loja já!
Depois de ver a repetição vezes sem conta do que o meu filho me tinha relatado pois ele assiste aos jogos do Sporting ao vivo fiquei de boca ao lado. Não pelas razões que estão a pensar pois o futebol não é andebol, eu sei! Mas pelo sorriso do Sr. Árbitro Ferreira, pela piscadela de olho do andebolista do Paços de Ferreira e pelo embaraço das suas declarações contraditórias com as do seu treinador. Uma comédia! Ora aí está o mundo às avessas ou a pedagogia da mentira servida pelos grandes meios de comunicação de massas. Assim não há projecto educativo que resista!
Quando eu era puto um “roubo à mão armada” praticado por um Sr. Árbitro tomando como vítima o Farense o meu clube do coração que milita na 2ª divisão distrital do Algarve e não pode descer mais foi resolvido pelo “Tarro” um espanhol avançado centro de grande categoria com um directo ao queixal do dito que o fez levantar os pés do chão e cair redondo no pelado. KO técnico.
Como já contei e o Reina confirma o “Tarro” foi “dentro” lá para as bandas do Major e depois “fora” e desapareceu que nunca mais ninguém soube dele. Um caso de justiça pelas próprias mãos que um homem não é de ferro. Não aconselho, nem preconizo, mas pelo andar da carruagem, nestas coisas da bola, vamos a caminho do abismo pois nem sequer está, que eu saiba, abrangida pelo “pacto”. Aqui aliás nem será preciso pacto pois os dirigentes da coisa são todos do PSD e vão continuar a ser.
Mas talvez o governo mesmo assim possa fazer qualquer coisa. Talvez dissolver a Liga? Ou mesmo a Federação? Quer-me parecer que isto já não vai lá com mezinhas caseiras! Ah! Já me esquecia da extraordinária declaração do Sr. Árbitro Elmano o do Portimonense 1 – Leixões 4 que não deu por nada de anormal. Diz que passou na semana passada 3 dias na Turquia – 3 dias? Na Turquia? O que temos nós a ver com isso? Ou temos!!!!
Ouvi ontem o comentador da SIC Notícias Rui Santos fazer afirmações de tal gravidade acerca da situação do nosso pequeno mundo futebolístico que davam para mandar encerrar a loja já!
Depois de ver a repetição vezes sem conta do que o meu filho me tinha relatado pois ele assiste aos jogos do Sporting ao vivo fiquei de boca ao lado. Não pelas razões que estão a pensar pois o futebol não é andebol, eu sei! Mas pelo sorriso do Sr. Árbitro Ferreira, pela piscadela de olho do andebolista do Paços de Ferreira e pelo embaraço das suas declarações contraditórias com as do seu treinador. Uma comédia! Ora aí está o mundo às avessas ou a pedagogia da mentira servida pelos grandes meios de comunicação de massas. Assim não há projecto educativo que resista!
Quando eu era puto um “roubo à mão armada” praticado por um Sr. Árbitro tomando como vítima o Farense o meu clube do coração que milita na 2ª divisão distrital do Algarve e não pode descer mais foi resolvido pelo “Tarro” um espanhol avançado centro de grande categoria com um directo ao queixal do dito que o fez levantar os pés do chão e cair redondo no pelado. KO técnico.
Como já contei e o Reina confirma o “Tarro” foi “dentro” lá para as bandas do Major e depois “fora” e desapareceu que nunca mais ninguém soube dele. Um caso de justiça pelas próprias mãos que um homem não é de ferro. Não aconselho, nem preconizo, mas pelo andar da carruagem, nestas coisas da bola, vamos a caminho do abismo pois nem sequer está, que eu saiba, abrangida pelo “pacto”. Aqui aliás nem será preciso pacto pois os dirigentes da coisa são todos do PSD e vão continuar a ser.
Mas talvez o governo mesmo assim possa fazer qualquer coisa. Talvez dissolver a Liga? Ou mesmo a Federação? Quer-me parecer que isto já não vai lá com mezinhas caseiras! Ah! Já me esquecia da extraordinária declaração do Sr. Árbitro Elmano o do Portimonense 1 – Leixões 4 que não deu por nada de anormal. Diz que passou na semana passada 3 dias na Turquia – 3 dias? Na Turquia? O que temos nós a ver com isso? Ou temos!!!!
ACTUALIZAÇÃO - Árbitros 'off side'
domingo, setembro 17
O que é que limita a representação?
Fotografia de Ernesto Timor
Ressonância de 17 de Setembro de 2004. Mais um fragmento da minha leitura de “Roland Barthes por Roland Barthes” com uma subtil abordagem de "representar o político" tomando como referência as “artes socialistas”.
“Brecht mandava pôr roupa molhada no cesto da actriz para que a anca desta tivesse o movimento certo, o da lavadeira alienada. Está muito bem; mas é também estúpido, não será? Porque o que pesa no cesto não é a roupa, é o tempo, é a historia, e esse peso, como representá-lo? Impossível representar o político: resiste a toda a cópia, por muito que nos esforcemos por torná-la cada vez mais verosímil. Contrariamente à crença inveterada de todas as artes socialistas, onde começa o político cessa a imitação."
Ressonância de 17 de Setembro de 2004. Mais um fragmento da minha leitura de “Roland Barthes por Roland Barthes” com uma subtil abordagem de "representar o político" tomando como referência as “artes socialistas”.
“Brecht mandava pôr roupa molhada no cesto da actriz para que a anca desta tivesse o movimento certo, o da lavadeira alienada. Está muito bem; mas é também estúpido, não será? Porque o que pesa no cesto não é a roupa, é o tempo, é a historia, e esse peso, como representá-lo? Impossível representar o político: resiste a toda a cópia, por muito que nos esforcemos por torná-la cada vez mais verosímil. Contrariamente à crença inveterada de todas as artes socialistas, onde começa o político cessa a imitação."
VENTO DE LESTE
Imagem Daqui
Assisti ontem a “Vento de Leste”. Uma hora, uma actriz, um grito, um país, seis países nascidos da memória da velha Jugoslávia do marechal Tito, Titoooooo, a guerra inexplicável e cruel, a divisão das famílias, a fuga, Portugal, aprender o país para aprender a língua, a receptividade das gentes e os meandros da burocracia, a música como fio condutor da acção, a ondulação do corpo, a linguagem universal do teatro. A vitória da vida para além de todas as provações e horrores do ódio e da guerra. Obrigado Mónica.
Assisti ontem a “Vento de Leste”. Uma hora, uma actriz, um grito, um país, seis países nascidos da memória da velha Jugoslávia do marechal Tito, Titoooooo, a guerra inexplicável e cruel, a divisão das famílias, a fuga, Portugal, aprender o país para aprender a língua, a receptividade das gentes e os meandros da burocracia, a música como fio condutor da acção, a ondulação do corpo, a linguagem universal do teatro. A vitória da vida para além de todas as provações e horrores do ódio e da guerra. Obrigado Mónica.
sábado, setembro 16
O REGIME SOVIÉTICO EM CARTAZES
Imagem Daqui
A Terra Temperamental anuncia que vai sair de órbita por um tempo. Deixa-nos com esta galeria formidável de cartazes de propaganda da União Soviética, datados de 1917 a 1991.
A Terra Temperamental anuncia que vai sair de órbita por um tempo. Deixa-nos com esta galeria formidável de cartazes de propaganda da União Soviética, datados de 1917 a 1991.
NA CIDADE
Fotografia de Angèle
Eu, que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.
Sentado à mesa dum café devasso,
Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,
Nesta Babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.
E, quando socorreste um miserável,
Eu que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, saudável.
«Ela aí vem!» disse eu para os demais;
E pus-me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.
Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, – talvez não o suspeites!
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.
Ia passando, a quatro, o patriarca.
Triste eu saí. Doía-me a cabeça.
Uma turba ruidosa, negra, espessa,
Voltava das exéquias dum monarca.
Adorável! Tu, muito natural,
Seguias a pensar no teu bordado;
Avultava, num largo arborizado,
Uma estátua de rei num pedestal.
Sorriam, nos seus trens, os titulares;
E ao claro sol, guardava-te, no entanto,
A tua boa mãe, que te ama tanto,
Que não te morrerá sem te casares!
Soberbo dia! Impunha-me respeito
A limpidez do teu semblante grego;
E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar sobre o teu peito.
Com elegância e sem ostentação,
Atravessavas, esvelta e fina,
Uma chusma de padres de batina,
E de altos funcionários da nação.
“Mas se a atropela o povo turbulento!
Se fosse, por acaso, ali pisada!”
De repente, paraste embaraçada
Ao pé dum numeroso ajuntamento.
E eu, que urdia estes fáceis esbocetos,
Julguei ver, com a vista de poeta,
Uma pombinha tímida e quieta
Num bando ameaçador de corvos pretos.
E foi então, que eu, homem varonil,
Quis dedicar-te a minha pobre vida,
A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
Eu, que sou hábil, prático, viril.
Novembro de 1876
Cesário Verde
Eu, que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.
Sentado à mesa dum café devasso,
Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,
Nesta Babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.
E, quando socorreste um miserável,
Eu que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, saudável.
«Ela aí vem!» disse eu para os demais;
E pus-me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.
Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, – talvez não o suspeites!
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.
Ia passando, a quatro, o patriarca.
Triste eu saí. Doía-me a cabeça.
Uma turba ruidosa, negra, espessa,
Voltava das exéquias dum monarca.
Adorável! Tu, muito natural,
Seguias a pensar no teu bordado;
Avultava, num largo arborizado,
Uma estátua de rei num pedestal.
Sorriam, nos seus trens, os titulares;
E ao claro sol, guardava-te, no entanto,
A tua boa mãe, que te ama tanto,
Que não te morrerá sem te casares!
Soberbo dia! Impunha-me respeito
A limpidez do teu semblante grego;
E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar sobre o teu peito.
Com elegância e sem ostentação,
Atravessavas, esvelta e fina,
Uma chusma de padres de batina,
E de altos funcionários da nação.
“Mas se a atropela o povo turbulento!
Se fosse, por acaso, ali pisada!”
De repente, paraste embaraçada
Ao pé dum numeroso ajuntamento.
E eu, que urdia estes fáceis esbocetos,
Julguei ver, com a vista de poeta,
Uma pombinha tímida e quieta
Num bando ameaçador de corvos pretos.
E foi então, que eu, homem varonil,
Quis dedicar-te a minha pobre vida,
A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
Eu, que sou hábil, prático, viril.
Novembro de 1876
Cesário Verde
PAPAS - FÉ, DEMOCRACIA E GUERRA
Fotografia de Ernesto Timor
Camus, no imediato pós guerra, acerca de uma mensagem de Pio XII:
“O Papa acaba de dirigir ao mundo uma mensagem em que toma abertamente posição a favor da democracia. Há que nos felicitarmos por isso.
(…)
Há muitos anos que esperávamos que a maior autoridade espiritual do nosso tempo condenasse em termos claros os actos das ditaduras. Em termos claros, repito. Porque tal condenação pode ressalvar de algumas encíclicas, desde que devidamente interpretadas.
(…)
Esta mensagem contra Franco, era nosso desejo tê-la ouvido em 1936, para que Georges Bernanos não tivesse de falar e amaldiçoar.
(…)
Quem somos nós, afinal, para nos atrevermos a criticar a mais alta autoridade espiritual deste século? Nada mais, justamente, do que simples defensores do espírito, que sentem por isso uma infinita exigência para com aqueles cuja missão é representar o espírito.”
Albert Camus – “Combat, 26 de Dezembro de 1944”)
Camus, no imediato pós guerra, acerca de uma mensagem de Pio XII:
“O Papa acaba de dirigir ao mundo uma mensagem em que toma abertamente posição a favor da democracia. Há que nos felicitarmos por isso.
(…)
Há muitos anos que esperávamos que a maior autoridade espiritual do nosso tempo condenasse em termos claros os actos das ditaduras. Em termos claros, repito. Porque tal condenação pode ressalvar de algumas encíclicas, desde que devidamente interpretadas.
(…)
Esta mensagem contra Franco, era nosso desejo tê-la ouvido em 1936, para que Georges Bernanos não tivesse de falar e amaldiçoar.
(…)
Quem somos nós, afinal, para nos atrevermos a criticar a mais alta autoridade espiritual deste século? Nada mais, justamente, do que simples defensores do espírito, que sentem por isso uma infinita exigência para com aqueles cuja missão é representar o espírito.”
Albert Camus – “Combat, 26 de Dezembro de 1944”)
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“Público” acerca de uma intervenção recente de Bento XVI:
“Numa intervenção na Universidade de Regensburg, onde no passado leccionou, o Papa explorou as diferenças históricas e filosóficas entre o Islão e o Cristianismo e a relação entre violência e fé. A certa altura, citou um imperador bizantino do século XIV (Manuel II Paleólogo), segundo o qual Maomé trouxe ao mundo coisas "más e desumanas, como o direito a defender pela espada a fé que ele persegue". O Papa sublinhou, por duas vezes, que a expressão era uma citação. Mas as reacções não se fizeram esperar.”
“Público” acerca de uma intervenção recente de Bento XVI:
“Numa intervenção na Universidade de Regensburg, onde no passado leccionou, o Papa explorou as diferenças históricas e filosóficas entre o Islão e o Cristianismo e a relação entre violência e fé. A certa altura, citou um imperador bizantino do século XIV (Manuel II Paleólogo), segundo o qual Maomé trouxe ao mundo coisas "más e desumanas, como o direito a defender pela espada a fé que ele persegue". O Papa sublinhou, por duas vezes, que a expressão era uma citação. Mas as reacções não se fizeram esperar.”
sexta-feira, setembro 15
quinta-feira, setembro 14
PACTOS
Laetitia Casta
Esta incursão em matéria política vem a propósito dos pactos de regime ou sejam no caso em apreço pactos entre o PS e o PSD o chamado bloco central formado pelos partidos dominantes em todos os poderes e interesses verdadeiramente relevantes na nossa sociedade e que representam aí uns 80% do eleitorado.
Pela minha parte gostaria de ver asseguradas duas condições para não ser obrigado a seguir o caminho de um amigo meu que já não vota desde 1975 e nem sequer tem cartão de eleitor. Qualquer delas é muito simples de executar pois ambas entroncam no mais puro senso comum.
Primeira condição: o governo socialista dispõe de uma maioria legitimada pelo voto popular. O governo que governe por si para que em tempo oportuno a sua governação possa ser democraticamente julgada.
Segunda condição: o governo que dialogue mas que restrinja os pactos de regime às situações absolutamente excepcionais. Governar é o que em regra os cidadãos pedem aos governos. Pactuar é o que menos os cidadãos pedem aos governos de maioria. Salvo se estiver em causa o próprio regime.
O pacto da justiça pode enraizar na segunda daquelas duas categorias de condições. A minha leitura desse pacto que me pode levar a aceitá-lo decorre do entendimento de que a actual situação da justiça em Portugal põe em perigo o regime democrático. Já tal me tinha querido parecer depois de tudo o que se viu e está a ver.
Resta saber, em primeiro lugar, se muitos daqueles que participaram na destruição da credibilidade da justiça serão mais decentes na execução do pacto que visa a sua salvação. Em segundo lugar quais as contrapartidas que terão sido negociadas logo que for conhecida a personalidade nomeada para Procurador-geral da república e conhecido o resultado da escolha do próximo presidente do supremo tribunal de justiça.
E ficamos por aqui pois é pelo menos estranho que os habituais pesquisadores de informação acerca das nomeações para altos cargos políticos não dêem à luz quaisquer listas nem hajam novas dos “jobs for the boys” reinando o mais profundo silêncio acerca da composição da nomenclatura do estado … mas sei que se passam coisas interessantes.
É bom que os políticos dos pactos de regime tendo à cabeça o primeiro ministro [e líder do PS] e o mais alto magistrado da nação [e destacada personalidade do PSD] entendam que na política como em tudo na vida para que hajam escolhas é preciso que hajam diferenças e não havendo diferenças então mais vale que não hajam escolhas … e como a democracia é o exercício por excelência das escolhas …
Além do mais este governo como qualquer outro tem um programa e dá pelo nome de socialista! … De vez em quando convém dar uma leitura ao dito programa e escutar o povo fora da quadratura do círculo dos poderes. Eu pela parte que me toca não votei no Dr. Cavaco para presidente e muito menos votei nele para primeiro-ministro.
Esta incursão em matéria política vem a propósito dos pactos de regime ou sejam no caso em apreço pactos entre o PS e o PSD o chamado bloco central formado pelos partidos dominantes em todos os poderes e interesses verdadeiramente relevantes na nossa sociedade e que representam aí uns 80% do eleitorado.
Pela minha parte gostaria de ver asseguradas duas condições para não ser obrigado a seguir o caminho de um amigo meu que já não vota desde 1975 e nem sequer tem cartão de eleitor. Qualquer delas é muito simples de executar pois ambas entroncam no mais puro senso comum.
Primeira condição: o governo socialista dispõe de uma maioria legitimada pelo voto popular. O governo que governe por si para que em tempo oportuno a sua governação possa ser democraticamente julgada.
Segunda condição: o governo que dialogue mas que restrinja os pactos de regime às situações absolutamente excepcionais. Governar é o que em regra os cidadãos pedem aos governos. Pactuar é o que menos os cidadãos pedem aos governos de maioria. Salvo se estiver em causa o próprio regime.
O pacto da justiça pode enraizar na segunda daquelas duas categorias de condições. A minha leitura desse pacto que me pode levar a aceitá-lo decorre do entendimento de que a actual situação da justiça em Portugal põe em perigo o regime democrático. Já tal me tinha querido parecer depois de tudo o que se viu e está a ver.
Resta saber, em primeiro lugar, se muitos daqueles que participaram na destruição da credibilidade da justiça serão mais decentes na execução do pacto que visa a sua salvação. Em segundo lugar quais as contrapartidas que terão sido negociadas logo que for conhecida a personalidade nomeada para Procurador-geral da república e conhecido o resultado da escolha do próximo presidente do supremo tribunal de justiça.
E ficamos por aqui pois é pelo menos estranho que os habituais pesquisadores de informação acerca das nomeações para altos cargos políticos não dêem à luz quaisquer listas nem hajam novas dos “jobs for the boys” reinando o mais profundo silêncio acerca da composição da nomenclatura do estado … mas sei que se passam coisas interessantes.
É bom que os políticos dos pactos de regime tendo à cabeça o primeiro ministro [e líder do PS] e o mais alto magistrado da nação [e destacada personalidade do PSD] entendam que na política como em tudo na vida para que hajam escolhas é preciso que hajam diferenças e não havendo diferenças então mais vale que não hajam escolhas … e como a democracia é o exercício por excelência das escolhas …
Além do mais este governo como qualquer outro tem um programa e dá pelo nome de socialista! … De vez em quando convém dar uma leitura ao dito programa e escutar o povo fora da quadratura do círculo dos poderes. Eu pela parte que me toca não votei no Dr. Cavaco para presidente e muito menos votei nele para primeiro-ministro.
quarta-feira, setembro 13
I CONGRESSO DO MES - O PANO DE FUNDO
Sessão pública de encerramento do I Congresso do MES – 21 e 22 de Dezembro de 1974 – Aula Magna da Cidade Universitária
O meu interesse por esta fotografia vem de longe e reside no facto do pano de fundo ter sido desenhado, em parte, com os pés. Queríamos fazer transbordar o símbolo do seu círculo fechado, subvertê-lo, criar uma imagem de movimento, mostrar um partido como lugar de caminhada e de encontro, o lugar de todas as utopias.
A Luísa Ivo, amavelmente, enviou-me a fotografia e adianta alguns detalhes: “o congresso iniciou-se sem o pano; estive com o Tolas, durante essa manhã, a continuar ou a terminar a pintura. A Mafalda controlava o processo. A uma certa altura eu e ele decidimos que deveriam aparecer mais marcas de pés a entrar para o círculo do que a sair. Então ele molhou os pés na tinta, foi até ao centro, fez o pino e saiu a caminhar com as mãos no chão e os pés para cima… Só nessa altura soube que ele praticava ginástica a um nível muito avançado!”
A fotografia fixa um momento da sessão de encerramento, no dia 22 de Dezembro, no qual está em palco Rossana Rossanda, consagrada dirigente da esquerda italiana, representante do movimento “Il Manifesto”, acompanhada por Manuel Braga da Cruz, actual reitor da Universidade Católica que traduzia o seu discurso.
Rossana, tal como Luciana Castellina, visitaram Portugal, mais do que uma vez
no período da revolução, ao contrário de Lúcio Magri e de Luigi Pintor, todos do mesmo grupo de dissidentes do PCI, fundadores do “Il Manifesto”.
Na mesa, sentados, podem ver-se: Jerónimo Franco, Fernando Ribeiro Mendes, Afonso de Barros, Carlos Pratas, Augusto Mateus, José Dias, Nuno Teotónio Pereira, Rogério de Jesus, Francisco Farrica e António Machado.
Também tomaram lugar na mesa, embora não surjam nesta fotografia, Edilberto Moço, Paulo Bárcia (Didas), Vítor Wengorovius, Marcolino Abrantes, Luís Martins, Vítor Silva e Celso Cruzeiro.
[No conjunto eram os membros da “Comissão Política Nacional”, eleita no Congresso, com excepção de uns poucos cujos nomes não foram divulgados, entre os quais, eu próprio.]
O meu interesse por esta fotografia vem de longe e reside no facto do pano de fundo ter sido desenhado, em parte, com os pés. Queríamos fazer transbordar o símbolo do seu círculo fechado, subvertê-lo, criar uma imagem de movimento, mostrar um partido como lugar de caminhada e de encontro, o lugar de todas as utopias.
A Luísa Ivo, amavelmente, enviou-me a fotografia e adianta alguns detalhes: “o congresso iniciou-se sem o pano; estive com o Tolas, durante essa manhã, a continuar ou a terminar a pintura. A Mafalda controlava o processo. A uma certa altura eu e ele decidimos que deveriam aparecer mais marcas de pés a entrar para o círculo do que a sair. Então ele molhou os pés na tinta, foi até ao centro, fez o pino e saiu a caminhar com as mãos no chão e os pés para cima… Só nessa altura soube que ele praticava ginástica a um nível muito avançado!”
A fotografia fixa um momento da sessão de encerramento, no dia 22 de Dezembro, no qual está em palco Rossana Rossanda, consagrada dirigente da esquerda italiana, representante do movimento “Il Manifesto”, acompanhada por Manuel Braga da Cruz, actual reitor da Universidade Católica que traduzia o seu discurso.
Rossana, tal como Luciana Castellina, visitaram Portugal, mais do que uma vez
no período da revolução, ao contrário de Lúcio Magri e de Luigi Pintor, todos do mesmo grupo de dissidentes do PCI, fundadores do “Il Manifesto”.
Na mesa, sentados, podem ver-se: Jerónimo Franco, Fernando Ribeiro Mendes, Afonso de Barros, Carlos Pratas, Augusto Mateus, José Dias, Nuno Teotónio Pereira, Rogério de Jesus, Francisco Farrica e António Machado.
Também tomaram lugar na mesa, embora não surjam nesta fotografia, Edilberto Moço, Paulo Bárcia (Didas), Vítor Wengorovius, Marcolino Abrantes, Luís Martins, Vítor Silva e Celso Cruzeiro.
[No conjunto eram os membros da “Comissão Política Nacional”, eleita no Congresso, com excepção de uns poucos cujos nomes não foram divulgados, entre os quais, eu próprio.]
terça-feira, setembro 12
"Psicanálise e psicologia"
Fotografia de Angèle
Ressonância de 12 de Setembro de 2004. A propósito do primeiro dias de aulas um fragmento dos meus fragmentos de “Roland Barthes por Roland Barthes”:
(Complacência com aquilo que tem pressão (?) sobre nós; assim, tinha eu no Liceu Louis-leGrand um professor de história que, precisando de vaias como de uma droga quotidiana, oferecia obtinadamente aos alunos uma infinidade de oportunidades de fazerem burburinho: erros, ingenuidades, palavras de sentido duplo, posturas ambíguas, e até a tristeza com que revestia todas estas atitudes secretamente provocadoras; o que fazia que os alunos, tendo-o compreendido, se abstivessem, em certos dias, sadicamente, de o vaiar)."
Ressonância de 12 de Setembro de 2004. A propósito do primeiro dias de aulas um fragmento dos meus fragmentos de “Roland Barthes por Roland Barthes”:
(Complacência com aquilo que tem pressão (?) sobre nós; assim, tinha eu no Liceu Louis-leGrand um professor de história que, precisando de vaias como de uma droga quotidiana, oferecia obtinadamente aos alunos uma infinidade de oportunidades de fazerem burburinho: erros, ingenuidades, palavras de sentido duplo, posturas ambíguas, e até a tristeza com que revestia todas estas atitudes secretamente provocadoras; o que fazia que os alunos, tendo-o compreendido, se abstivessem, em certos dias, sadicamente, de o vaiar)."
DRAGÃO MÓPYTE
Desenho do meu filho Manuel – Abril de 2000, pelos seus nove anos.
Ontem, 2ª feira, dia 11 de Setembro de 2006, pelas oito da manhã, o meu filho franqueou as portas da escola. Conforme tudo fazia prever fui levá-lo e, desta vez, ao longo do dia só deu para ver e ouvir evocações da tragédia. Hoje foi, de novo, o seu primeiro dia de aulas. Reinava a tranquilidade. A vida continua e o mundo não para.
Ontem, 2ª feira, dia 11 de Setembro de 2006, pelas oito da manhã, o meu filho franqueou as portas da escola. Conforme tudo fazia prever fui levá-lo e, desta vez, ao longo do dia só deu para ver e ouvir evocações da tragédia. Hoje foi, de novo, o seu primeiro dia de aulas. Reinava a tranquilidade. A vida continua e o mundo não para.
segunda-feira, setembro 11
REQUIEM POR SALVADOR ALLENDE
Salvador Allende
(…)
Era uma vez um chileno chamado salvador allende que
fez um grande país de um país pequeno onde
talvez três anos nós houvéssemos depositado a esperança
quando fosse qual fosse a nossa nacionalidade
todos nós fomos um pouco chilenos
Mas que diabo importa em suma a qualquer de nós
que um homem se detenha quando a história caminha
em frente sempre altiva e serena
como mulher de muito tempo sabedora
Posso dizer por certo como há já muitos anos
acerca dos milicianos espanhóis dizia neruda
allende não morreste estás de pé no trigo
Ruy Belo
[Poema na íntegra]
(…)
Era uma vez um chileno chamado salvador allende que
fez um grande país de um país pequeno onde
talvez três anos nós houvéssemos depositado a esperança
quando fosse qual fosse a nossa nacionalidade
todos nós fomos um pouco chilenos
Mas que diabo importa em suma a qualquer de nós
que um homem se detenha quando a história caminha
em frente sempre altiva e serena
como mulher de muito tempo sabedora
Posso dizer por certo como há já muitos anos
acerca dos milicianos espanhóis dizia neruda
allende não morreste estás de pé no trigo
Ruy Belo
[Poema na íntegra]
domingo, setembro 10
DIA 11 DE SETEMBRO VOU LEVAR O MEU FILHO À ESCOLA
No dia 11 de Setembro de 2001, pelas oito da manhã, fui levar o meu filho à escola. Era o primeiro dia de aulas. Foi um final de ano penoso. Por volta da hora do almoço reparei num aparelho de TV que, contra o que era hábito, estava ligado numa sala que antecedia o meu gabinete de trabalho. Assisti, em directo e incrédulo, ao momento em que o segundo avião trespassou uma das torres. A ficção tornara-se realidade.
Não menosprezo a importância do acontecimento e o seu significado político global. O terrorismo existe. Estabelece os alvos a atingir, parece orientar-se por uma estratégia maduramente pensada algures, tem apoios de estados, grupos económicos e povos, gera dinâmicas de radicalização político-religiosa e alimenta o ambiente para o fortalecimento de ideologias fundamentalistas e políticas securitárias, tendencialmente, restritivas das liberdades.
Passaram cinco anos. Quase tudo já foi dito acerca dos efeitos da estratégia política de combate ao terrorismo concebida e executada pela administração Bush. Existe uma vasta bibliografia acerca do assunto. Bush entrou, aparentemente, num beco sem saída. Sairá da Casa Branca sem honra nem glória. Blair ainda sairá antes. Outros já saíram, ou ficaram, mas ninguém lhes atribui importância alguma.
Sou contra o terrorismo. Não restem dúvidas. Mas o terrorismo é um fenómeno antigo e um tema cuja abordagem aconselha prudência. Sou contra a política e a ideologia da administração Bush mas admirador da América e do seu povo. Afinal sou um cidadão normal. A maioria dos cidadãos do mundo, ao que penso, com mais ou menos palavras, defendem esta mesma posição: são contra o terrorismo e a administração Bush.
Na próxima 2ª feira, dia 11 de Setembro de 2006, pelas oito da manhã vou levar o meu filho à escola. É uma escola laica e será, de novo, o seu primeiro dia de aulas.
sábado, setembro 9
ANTÓNIO SÉRGIO - ALOCUÇÃO AOS SOCIALISTAS
António Sérgio
Uma ressonância de 9 de Setembro de 2004. Tinha acabado de ouvir Manuel Alegre certamente a propósito do Congresso Socialista. Como andava metido em trabalhos de limpar o pó aos livros tinha-me caído nas mãos a extraordinária peça oratória, de António Sérgio, chamada “Alocução aos Socialistas”, de Maio de 1947.
Ora lede a suprema ironia que o fino verbo de Sérgio derrama sobre a realidade da política socialista do presente.
"Na política, como sabeis, o comportamento rectilíneo, sem argúcia alguma, – sincero, aberto, desartificioso, claro, - usa ser censurado, como sendo ingénuo: e, nessa sua qualidade de comportamento ingénuo, como prejudicial, ou pateta. Paciência. Seja. (…) Os essencialmente habilidosos (não faço empenho em negá-lo) alcançam a sua hora de simulacro e de vista. Mas é uma hora e nada mais; mas é simulacro, e só vista. Logo a seguir a esse instante, comunica-se-lhes o fogo da sua iluminação de artifício, e fica tudo em fumaça, que pouco depois não é nada."
Uma ressonância de 9 de Setembro de 2004. Tinha acabado de ouvir Manuel Alegre certamente a propósito do Congresso Socialista. Como andava metido em trabalhos de limpar o pó aos livros tinha-me caído nas mãos a extraordinária peça oratória, de António Sérgio, chamada “Alocução aos Socialistas”, de Maio de 1947.
Ora lede a suprema ironia que o fino verbo de Sérgio derrama sobre a realidade da política socialista do presente.
"Na política, como sabeis, o comportamento rectilíneo, sem argúcia alguma, – sincero, aberto, desartificioso, claro, - usa ser censurado, como sendo ingénuo: e, nessa sua qualidade de comportamento ingénuo, como prejudicial, ou pateta. Paciência. Seja. (…) Os essencialmente habilidosos (não faço empenho em negá-lo) alcançam a sua hora de simulacro e de vista. Mas é uma hora e nada mais; mas é simulacro, e só vista. Logo a seguir a esse instante, comunica-se-lhes o fogo da sua iluminação de artifício, e fica tudo em fumaça, que pouco depois não é nada."
"Aos nossos socialistas, quanto a mim, compete-lhes resistirem ao tradicional costume de se empregarem espertezas e competições de pessoas para apressar o momento em que há-de chegar ao poder…"
"Antes de tudo, buscai prestigiar-vos ante a nação inteira pelo timbre moral da vossa alma cívica; porque (como acreditais, creio eu) não é indispensável conquistar o poder para se influir de facto na orientação do estado."
"Não tenhais a ânsia de vos alcandorar no poleiro com prejuízo das qualidades a que se tem chamado "ingénuas". As habilidades dissipam-se; os caracteres mantêm-se."
"Não existam ciúmes e invejas recíprocas entre os vários componentes da vossa grei socialista: nem tampouco os ciúmes, nem tampouco as invejas, para com os homens que compõem as outras facções da esquerda. Seja vosso lema a unidade. Por mim, quero trabalhar pela unidade, pelo entendimento recíproco, pela existência de convivência amável entre os homens políticos de orientações discordes. Incorrigivelmente "ingénuo", fraterno, cordial."
sexta-feira, setembro 8
CARLOS MARIGHELLA
Imagem Daqui
Nos cartazes da revolução surgem surpresas, ou seja, imagens das quais já não nos lembrávamos. É o caso deste cartaz em homenagem a CARLOS MARIGHELLA. Certamente um dos primeiros, após o 25 de Abril de 1974, em que surge a sigla do MES.
É necessário sublinhar o contexto político desta manifestação de solidariedade? Vivia-se uma época em que era possível evocar o impossível. Vale a pena esquecer os devaneios esquerdistas de uma revolução em que se evocaram os guerrilheiros e se pouparam os PIDES?
Nos cartazes da revolução surgem surpresas, ou seja, imagens das quais já não nos lembrávamos. É o caso deste cartaz em homenagem a CARLOS MARIGHELLA. Certamente um dos primeiros, após o 25 de Abril de 1974, em que surge a sigla do MES.
É necessário sublinhar o contexto político desta manifestação de solidariedade? Vivia-se uma época em que era possível evocar o impossível. Vale a pena esquecer os devaneios esquerdistas de uma revolução em que se evocaram os guerrilheiros e se pouparam os PIDES?
A lembrança é sempre melhor que o esquecimento. Para os mais esquecidos lembro os vinte anos de governos militares no Brasil: Marechal Castelo Branco (1964-1967) ; General Costa e Silva (1967-1969); General Médici (1969-1974); General Ernesto Geisel (1974-1979); General Figueiredo (1979-1985)
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