António Sérgio
Uma ressonância de 9 de Setembro de 2004. Tinha acabado de ouvir Manuel Alegre certamente a propósito do Congresso Socialista. Como andava metido em trabalhos de limpar o pó aos livros tinha-me caído nas mãos a extraordinária peça oratória, de António Sérgio, chamada “Alocução aos Socialistas”, de Maio de 1947.
Ora lede a suprema ironia que o fino verbo de Sérgio derrama sobre a realidade da política socialista do presente.
"Na política, como sabeis, o comportamento rectilíneo, sem argúcia alguma, – sincero, aberto, desartificioso, claro, - usa ser censurado, como sendo ingénuo: e, nessa sua qualidade de comportamento ingénuo, como prejudicial, ou pateta. Paciência. Seja. (…) Os essencialmente habilidosos (não faço empenho em negá-lo) alcançam a sua hora de simulacro e de vista. Mas é uma hora e nada mais; mas é simulacro, e só vista. Logo a seguir a esse instante, comunica-se-lhes o fogo da sua iluminação de artifício, e fica tudo em fumaça, que pouco depois não é nada."
Uma ressonância de 9 de Setembro de 2004. Tinha acabado de ouvir Manuel Alegre certamente a propósito do Congresso Socialista. Como andava metido em trabalhos de limpar o pó aos livros tinha-me caído nas mãos a extraordinária peça oratória, de António Sérgio, chamada “Alocução aos Socialistas”, de Maio de 1947.
Ora lede a suprema ironia que o fino verbo de Sérgio derrama sobre a realidade da política socialista do presente.
"Na política, como sabeis, o comportamento rectilíneo, sem argúcia alguma, – sincero, aberto, desartificioso, claro, - usa ser censurado, como sendo ingénuo: e, nessa sua qualidade de comportamento ingénuo, como prejudicial, ou pateta. Paciência. Seja. (…) Os essencialmente habilidosos (não faço empenho em negá-lo) alcançam a sua hora de simulacro e de vista. Mas é uma hora e nada mais; mas é simulacro, e só vista. Logo a seguir a esse instante, comunica-se-lhes o fogo da sua iluminação de artifício, e fica tudo em fumaça, que pouco depois não é nada."
"Aos nossos socialistas, quanto a mim, compete-lhes resistirem ao tradicional costume de se empregarem espertezas e competições de pessoas para apressar o momento em que há-de chegar ao poder…"
"Antes de tudo, buscai prestigiar-vos ante a nação inteira pelo timbre moral da vossa alma cívica; porque (como acreditais, creio eu) não é indispensável conquistar o poder para se influir de facto na orientação do estado."
"Não tenhais a ânsia de vos alcandorar no poleiro com prejuízo das qualidades a que se tem chamado "ingénuas". As habilidades dissipam-se; os caracteres mantêm-se."
"Não existam ciúmes e invejas recíprocas entre os vários componentes da vossa grei socialista: nem tampouco os ciúmes, nem tampouco as invejas, para com os homens que compõem as outras facções da esquerda. Seja vosso lema a unidade. Por mim, quero trabalhar pela unidade, pelo entendimento recíproco, pela existência de convivência amável entre os homens políticos de orientações discordes. Incorrigivelmente "ingénuo", fraterno, cordial."
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