Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, julho 3
7 MARAVILHAS DA BLOGOESFERA
Agradeço a nomeação de “O BLOG QUE NINGUÉM LÊ” para esta “corrente” mas, como os próprios reconhecem, o prazo era até 1 de Julho. Como tal aproveito para me escapulir a fazer as nomeações que me competiriam. Não levem a mal!
POSTAL A PRETO E BRANCO AO MINISTRO VIEIRA DA SILVA
Fotografia de António Pais – Jantar de Extinção do MES
Vieira da Silva, da camisa aos quadrados, em baixo.
(Clique na fotografia para ampliar)
ENQUANTO CRESCE A REVOLTA
Há pessoas que se entregam em plenitude a um projecto e depois a outro, e assim sucessivamente, uma vida inteira, ao serviço do público ou do privado, rentabilizando recursos materiais e imateriais, abarcando várias áreas do saber, exigindo muito mais que saberes formais, tornando-se depositários de experiências únicas e intransmissíveis, julgando-se úteis, assumindo a plenitude das suas capacidades e eis que, subitamente, surge o ditame de uma qualquer nomenclatura, um critério de selecção, uma norma imperceptível, um código de ética, uma teia de interesses, algo de ininteligível, e o sujeito é arrumado na penumbra, vê o tempo estreitar-se, adensar-se o silêncio, esfumar-se a auto estima, tornar-se um potencial “excedentário”, enquanto a esperança de vida aumenta e o discurso oficial é o de corrigir a retirada precoce da vida activa. Eu até estou de acordo com a filosofia minoritária, talvez utópica, herdada da tradição camponesa, do trabalho até ao fim da vida, ou seja, a aceitação natural do adiamento infinito da retirada da vida activa, mas desde que a sociedade honre essa inevitabilidade e os governos sejam consequentes no discurso e na prática pela salvaguarda da igualdade de tratamento de todos os cidadãos. Que a sociedade se não valoriza sem a experiência dos seus trabalhadores é discurso recorrente que carece de ser caucionado pela política dos governos e a prática das empresas. Mas não esqueçamos que o pensamento dominante é exactamente o contrário, ou seja, buscar todas as formas de antecipar a idade da reforma e lançar pela janela fora essa ideia da valorização da experiência individual. "As vítimas da fome", nas sociedades ditas desenvolvidas, são os novos deserdados que se auto excluem, ou são excluídos, da vida activa, na plenitude das suas capacidades, humanas e profissionais. Esses desocupados, a tempo inteiro, ou parcial, desempregados, despedidos, dispensados, sub empregados e reformados, sábios de experiência feita, novos e velhos, homens e mulheres, indígenas e imigrantes, são o rastilho de uma nova revolução. Não há estado que lhes valha nem mercado que os compreenda. Estão cercados e quando o seu número, e desespero, atingirem o ponto de ruptura teremos o confronto, não sabemos sob que forma, do qual surgirá um novo paradigma de estado social. Tantas perguntas para tão poucas respostas!
[Nestes tempos de presidência portuguesa da União Europeia resolvi escrever uns POSTAIS A PRETO E BRANCO dirigidos, directamente, a membros do governo português. Sei que eles estão muito ocupados, as suas agendas, por estes meses, são pesadíssimas, que o tempo é escasso, os assuntos se encadeiam, se confundem, e as vozes livres dos cidadãos, porventura, os incomodam. Mas a vida continua e a sociedade subsistirá ao governo e à presidência da UE assim como os problemas que preocupam os cidadãos. Colocarei um problema de cada vez, da forma o mais clara possível, sabendo, de antemão, que poucos serão os membros do governo que chegarão, sequer, a dele tomar conhecimento. O primeiro POSTAL vai para um ministro que conheço pessoalmente, José António Vieira da Silva, do Trabalho e da Solidariedade Social, que tomo a liberdade de ilustrar com uma fotografia em que ele próprio surge no jantar de extinção do MES, em 7 de Novembro de 1981.]
Vieira da Silva, da camisa aos quadrados, em baixo.
(Clique na fotografia para ampliar)
ENQUANTO CRESCE A REVOLTA
Há pessoas que se entregam em plenitude a um projecto e depois a outro, e assim sucessivamente, uma vida inteira, ao serviço do público ou do privado, rentabilizando recursos materiais e imateriais, abarcando várias áreas do saber, exigindo muito mais que saberes formais, tornando-se depositários de experiências únicas e intransmissíveis, julgando-se úteis, assumindo a plenitude das suas capacidades e eis que, subitamente, surge o ditame de uma qualquer nomenclatura, um critério de selecção, uma norma imperceptível, um código de ética, uma teia de interesses, algo de ininteligível, e o sujeito é arrumado na penumbra, vê o tempo estreitar-se, adensar-se o silêncio, esfumar-se a auto estima, tornar-se um potencial “excedentário”, enquanto a esperança de vida aumenta e o discurso oficial é o de corrigir a retirada precoce da vida activa. Eu até estou de acordo com a filosofia minoritária, talvez utópica, herdada da tradição camponesa, do trabalho até ao fim da vida, ou seja, a aceitação natural do adiamento infinito da retirada da vida activa, mas desde que a sociedade honre essa inevitabilidade e os governos sejam consequentes no discurso e na prática pela salvaguarda da igualdade de tratamento de todos os cidadãos. Que a sociedade se não valoriza sem a experiência dos seus trabalhadores é discurso recorrente que carece de ser caucionado pela política dos governos e a prática das empresas. Mas não esqueçamos que o pensamento dominante é exactamente o contrário, ou seja, buscar todas as formas de antecipar a idade da reforma e lançar pela janela fora essa ideia da valorização da experiência individual. "As vítimas da fome", nas sociedades ditas desenvolvidas, são os novos deserdados que se auto excluem, ou são excluídos, da vida activa, na plenitude das suas capacidades, humanas e profissionais. Esses desocupados, a tempo inteiro, ou parcial, desempregados, despedidos, dispensados, sub empregados e reformados, sábios de experiência feita, novos e velhos, homens e mulheres, indígenas e imigrantes, são o rastilho de uma nova revolução. Não há estado que lhes valha nem mercado que os compreenda. Estão cercados e quando o seu número, e desespero, atingirem o ponto de ruptura teremos o confronto, não sabemos sob que forma, do qual surgirá um novo paradigma de estado social. Tantas perguntas para tão poucas respostas!
[Nestes tempos de presidência portuguesa da União Europeia resolvi escrever uns POSTAIS A PRETO E BRANCO dirigidos, directamente, a membros do governo português. Sei que eles estão muito ocupados, as suas agendas, por estes meses, são pesadíssimas, que o tempo é escasso, os assuntos se encadeiam, se confundem, e as vozes livres dos cidadãos, porventura, os incomodam. Mas a vida continua e a sociedade subsistirá ao governo e à presidência da UE assim como os problemas que preocupam os cidadãos. Colocarei um problema de cada vez, da forma o mais clara possível, sabendo, de antemão, que poucos serão os membros do governo que chegarão, sequer, a dele tomar conhecimento. O primeiro POSTAL vai para um ministro que conheço pessoalmente, José António Vieira da Silva, do Trabalho e da Solidariedade Social, que tomo a liberdade de ilustrar com uma fotografia em que ele próprio surge no jantar de extinção do MES, em 7 de Novembro de 1981.]
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ROLLING STONES SEMPRE A ABRIR
Após ganhar o Oscar na categoria de Melhor Direção por Os Infiltrados, Martin Scorsese anuncia seu novo projeto: The Rolling Stones - Shine a Light.
Essa não é a única parceria entre Mick Jagger e Scorsese: mais um filme está sendo produzido por ambos, com estréia prevista para 2009. The Long Play também abordará o rock, mas dessa vez como fator de ligação entre dois amigos. A estréia de The Rolling Stones - Shine a Light está prevista para o dia 21 de setembro nos EUA.
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Essa não é a única parceria entre Mick Jagger e Scorsese: mais um filme está sendo produzido por ambos, com estréia prevista para 2009. The Long Play também abordará o rock, mas dessa vez como fator de ligação entre dois amigos. A estréia de The Rolling Stones - Shine a Light está prevista para o dia 21 de setembro nos EUA.
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segunda-feira, julho 2
OS "BOYS" AGORA SÃO DOS OUTROS
Fotografia de Hélder Gonçalves
Passou a moda dos “jobs for the boys”. Nunca mais ninguém falou disso. Esperava que surgissem umas estatísticas com os números dos “boys” socialistas admitidos para todo o género de lugares. Passam os meses e nada. Dá que pensar!
A oposição ao governo passou directamente para a fase da defesa dos seus “boys” que o governo socialista deixou ficar no exercício de funções depois de ganhar as eleições ou que nomeou já depois delas ganhas. Assiste-se, hoje, a uma situação paradoxal: o governo socialista é empurrado para a defesa dos “boys” do PSD, e aparentados, sob pena de ser acusado de matar a liberdade.
O mais extraordinário desta situação é alguns socialistas, incluindo dirigentes ilustres, tomarem a defesa dos “boys” da oposição em nome das liberdades que todos, na verdade, exercem à tripa forra. Mas esses mesmos dirigentes, tempos atrás, aquando dos desmandos dos governos de direita não abriram a boca na defesa dos socialistas politicamente perseguidos, humilhados e, com a conivência do silêncio de todos, lançados para a valeta.
Perderam a noção de qual é a cor da liberdade? Como dizia Jorge de Sena, num célebre verso: “é verde, verde e vermelha.”
Passou a moda dos “jobs for the boys”. Nunca mais ninguém falou disso. Esperava que surgissem umas estatísticas com os números dos “boys” socialistas admitidos para todo o género de lugares. Passam os meses e nada. Dá que pensar!
A oposição ao governo passou directamente para a fase da defesa dos seus “boys” que o governo socialista deixou ficar no exercício de funções depois de ganhar as eleições ou que nomeou já depois delas ganhas. Assiste-se, hoje, a uma situação paradoxal: o governo socialista é empurrado para a defesa dos “boys” do PSD, e aparentados, sob pena de ser acusado de matar a liberdade.
O mais extraordinário desta situação é alguns socialistas, incluindo dirigentes ilustres, tomarem a defesa dos “boys” da oposição em nome das liberdades que todos, na verdade, exercem à tripa forra. Mas esses mesmos dirigentes, tempos atrás, aquando dos desmandos dos governos de direita não abriram a boca na defesa dos socialistas politicamente perseguidos, humilhados e, com a conivência do silêncio de todos, lançados para a valeta.
Perderam a noção de qual é a cor da liberdade? Como dizia Jorge de Sena, num célebre verso: “é verde, verde e vermelha.”
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OS TEMPLÁRIOS (II)
Os Templários
Ainda a propósito dos Templários. “São Bernardo passou a apoiar os Templários, que lhe parecia representarem um modelo ideal de regeneração de um sector importante da sociedade. Escreveu então o seu célebre tratado Elogio da Nova Milícia (De laude novae militiae)
Adoptando uma forma literária colorida e vigorosa, o abade de Claraval tece um rasgado elogio àqueles que põem as suas armas ao serviço de Deus e, sem medo, consagram a sua vida a guiar os pobres e os fracos pelos caminhos terrestres percorridos por Jesus Cristo. Os cavaleiros mundanos vivem no luxo, amolecidos sob as suas túnicas de seda e cobertos de ouro, cultivam a frivolidade e a ligeireza, são conduzidos pela vaidade e o desejo de uma glória vã. Não formam uma "milícia" mas uma malícia. Os novos cavaleiros, pelo contrário, defendem, na Terra Santa, a “herança e a casa de Deus” manchada pelos infiéis.”
(…)
“O apoio de São Bernardo que, na década de 1130, e durante os vinte anos que se seguiram, se tornou a mais influente personalidade do mundo cristão, dissipou as reticências que ainda rodeavam o projecto templário. Em 1139, o papa Inocêncio II aprovou sem reservas a nova milícia, por meio da bula Omne datum optimum, e concedeu-lhe a protecção papal, tornando-a dependente da Santa Sé e isenta de jurisdição episcopal.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”4. O Apelo de Jerusalém”,”Os Templários”, pg. 60 (17).
Ainda a propósito dos Templários. “São Bernardo passou a apoiar os Templários, que lhe parecia representarem um modelo ideal de regeneração de um sector importante da sociedade. Escreveu então o seu célebre tratado Elogio da Nova Milícia (De laude novae militiae)
Adoptando uma forma literária colorida e vigorosa, o abade de Claraval tece um rasgado elogio àqueles que põem as suas armas ao serviço de Deus e, sem medo, consagram a sua vida a guiar os pobres e os fracos pelos caminhos terrestres percorridos por Jesus Cristo. Os cavaleiros mundanos vivem no luxo, amolecidos sob as suas túnicas de seda e cobertos de ouro, cultivam a frivolidade e a ligeireza, são conduzidos pela vaidade e o desejo de uma glória vã. Não formam uma "milícia" mas uma malícia. Os novos cavaleiros, pelo contrário, defendem, na Terra Santa, a “herança e a casa de Deus” manchada pelos infiéis.”
(…)
“O apoio de São Bernardo que, na década de 1130, e durante os vinte anos que se seguiram, se tornou a mais influente personalidade do mundo cristão, dissipou as reticências que ainda rodeavam o projecto templário. Em 1139, o papa Inocêncio II aprovou sem reservas a nova milícia, por meio da bula Omne datum optimum, e concedeu-lhe a protecção papal, tornando-a dependente da Santa Sé e isenta de jurisdição episcopal.”
In “D. Afonso Henriques” de José Mattoso, ”4. O Apelo de Jerusalém”,”Os Templários”, pg. 60 (17).
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domingo, julho 1
CHAR/CAMUS - A FRATERNIDADE
Fotografia daqui
Nos inícios de 1958, no meio de uma troca de correspondência com notícias circunstanciais, surge uma referência a um herói incógnito da Resistência.
Em 24 de Fevereiro de 58 Char escreve um postal a Camus: “ (…) Arthur Charmasson, le brave Arthur, a dû être amputé du pied gauche, à la suite d’un accident. Cela m’a bouleversé. Cette bonne bête des bois tout à coup mutilée … »
Camus responde a 3 de Março : « Cher René, Quelle triste nouvelle! Je pense à cet homme, si plein de poids, si « vertical » - et cette atteinte à sa force ! Comme il doit être triste ! Dites-lui beaucoup d’affections de ma part. (…)
Numa outra carta, Char escreve a Jacques Dupin, descrevendo o acidente e uma memória do seu passado como resistente:
“ (…) Mon vieux compagnon, alors que j’avait couvert de mon sang sous l’Occupation quand il me prit dans ses bras après mon accident et me porta à travers les Allemands présents qui me cherchaient, et me sauva, mon vieux compagnon, je l’ai porté dans mes bras à mon tour. […] ce genre d’épreuve est terrible. Arthur durant le trajet de L’Isle à Cavaillon ne cessait de me répéter : « René, fais un miracle. » Ne souris pas, Jacques – c’est cela la fraternité, la confiance en l’homme, cette croyance de bête naïve, dans les cas extrêmes. Je suis bouleversé. »
Nos inícios de 1958, no meio de uma troca de correspondência com notícias circunstanciais, surge uma referência a um herói incógnito da Resistência.
Em 24 de Fevereiro de 58 Char escreve um postal a Camus: “ (…) Arthur Charmasson, le brave Arthur, a dû être amputé du pied gauche, à la suite d’un accident. Cela m’a bouleversé. Cette bonne bête des bois tout à coup mutilée … »
Camus responde a 3 de Março : « Cher René, Quelle triste nouvelle! Je pense à cet homme, si plein de poids, si « vertical » - et cette atteinte à sa force ! Comme il doit être triste ! Dites-lui beaucoup d’affections de ma part. (…)
Numa outra carta, Char escreve a Jacques Dupin, descrevendo o acidente e uma memória do seu passado como resistente:
“ (…) Mon vieux compagnon, alors que j’avait couvert de mon sang sous l’Occupation quand il me prit dans ses bras après mon accident et me porta à travers les Allemands présents qui me cherchaient, et me sauva, mon vieux compagnon, je l’ai porté dans mes bras à mon tour. […] ce genre d’épreuve est terrible. Arthur durant le trajet de L’Isle à Cavaillon ne cessait de me répéter : « René, fais un miracle. » Ne souris pas, Jacques – c’est cela la fraternité, la confiance en l’homme, cette croyance de bête naïve, dans les cas extrêmes. Je suis bouleversé. »
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CAMUS/CHAR E O NOBEL - 1957
Camus e Francine na cerimónia do Nobel
Estocolmo – Dezembro de 1957
O episódio do Nobel, atribuído a Camus em 1957, suscitou as mais diversas reacções. Muitos ficaram, como sempre acontece, condoídos, outros enraivecidos, mas Char, como seria de esperar, entusiasmado, escreveu-lhe, assim que soube da notícia, no dia 17 de Outubro de 1957:
"Mon cher Albert,
J’espére, je crois que l’on ne nous dit pas ce qui ne sera pas. Donc cette assurance dans la presse m’incite déja sans réserve à me réjouir et à truover ce jeudi 17 octobre 1957 le meilleur, le plus éclairé, oui le meilleus jour depuis long-temps pour moi entre tant de jours désespérants.
Je vous pris d’accepter, en souvenis d’aujourd’hui, cette petite boîte qui me sauva la vie jadis dans le Maquis et que j’ai conservée comme une relique vraiment intime.
Je vous presse la main fort, affectueusement, fraternellement,
René Char"
Duas notas:
Estocolmo – Dezembro de 1957
O episódio do Nobel, atribuído a Camus em 1957, suscitou as mais diversas reacções. Muitos ficaram, como sempre acontece, condoídos, outros enraivecidos, mas Char, como seria de esperar, entusiasmado, escreveu-lhe, assim que soube da notícia, no dia 17 de Outubro de 1957:
"Mon cher Albert,
J’espére, je crois que l’on ne nous dit pas ce qui ne sera pas. Donc cette assurance dans la presse m’incite déja sans réserve à me réjouir et à truover ce jeudi 17 octobre 1957 le meilleur, le plus éclairé, oui le meilleus jour depuis long-temps pour moi entre tant de jours désespérants.
Je vous pris d’accepter, en souvenis d’aujourd’hui, cette petite boîte qui me sauva la vie jadis dans le Maquis et que j’ai conservée comme une relique vraiment intime.
Je vous presse la main fort, affectueusement, fraternellement,
René Char"
Duas notas:
1. Camus escreveu nos “Cadernos” nesse dia: “Nobel. Étrange sentiment d’accablement et de mélancolie. À vingt ans, pauvre, et nu, j’ai connu la vraie gloire. Ma mère.”
2. Ainda nos “Cadernos", em 19 de Outubro, escreveu acerca dos ataques a que estava a ser sujeito: “Effrayé par ce qui m’arrive et que je n’ai pas démandé. Et pout tout arranger attaques si basses que j’en ai le coeur serré. Rebatet ose parler de ma nostalgie de commander des pelotons d’exécution alors qu’il est un de ceux dont j’ai demandé, avec d’autres écrivains de la Résistance, la grâce quand il fut condamné à mort. Il a été gracié, mais il ne me fait pas grâce. Envie à nouveau de quitter ce pays. Mais pour où?”
2. Ainda nos “Cadernos", em 19 de Outubro, escreveu acerca dos ataques a que estava a ser sujeito: “Effrayé par ce qui m’arrive et que je n’ai pas démandé. Et pout tout arranger attaques si basses que j’en ai le coeur serré. Rebatet ose parler de ma nostalgie de commander des pelotons d’exécution alors qu’il est un de ceux dont j’ai demandé, avec d’autres écrivains de la Résistance, la grâce quand il fut condamné à mort. Il a été gracié, mais il ne me fait pas grâce. Envie à nouveau de quitter ce pays. Mais pour où?”
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sábado, junho 30
MEMÓRIAS - I
Fotografia de Hélder Gonçalves
Aquela singular corrente de memórias voa no tempo
Revolto-me em mudança permanente com o espelho
No qual espreito e nele me revejo em reminiscências
De mim naqueles olhares pacientes de mãos quentes
Abertas ao contar dos dias ou fechadas como punhos
Em seus gestos diligentes revendo o futuro do futuro
Com a morte pendurada nas paredes, os meus muros
São transparentes de cal pura brancos sem espessura
E o meu sangue goteja dos retratos sem que me veja.
Lisboa, 5 de Setembro de 2006
Aquela singular corrente de memórias voa no tempo
Revolto-me em mudança permanente com o espelho
No qual espreito e nele me revejo em reminiscências
De mim naqueles olhares pacientes de mãos quentes
Abertas ao contar dos dias ou fechadas como punhos
Em seus gestos diligentes revendo o futuro do futuro
Com a morte pendurada nas paredes, os meus muros
São transparentes de cal pura brancos sem espessura
E o meu sangue goteja dos retratos sem que me veja.
Lisboa, 5 de Setembro de 2006
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sexta-feira, junho 29
CAMUS/CHAR - VERÃO DE 57
"Ne te courbe que pour aimer..." René Char
O verão de 57 parece ter causado uma estranha sensação de ausência em ambos os amigos cada um deles viajando para seu lado. Era o tempo das cartas e dos postais, letras desenhadas à mão, (tenho uma grande colecção de postais trocados entre os meus pais, enquanto namorados, e a minha mãe escreveu-me cartas e postais até à morte.), o tempo tinha um outro sentido, a urgência a dimensão de alguns dias,
Char, em 14 de Setembro de 1957, interrogava Camus através de um postal ilustrado intitulado “Les Dernières Feuilles”: “Un peu, où êtes-vous, cher Albert? J’ai la sensation cruelle, tout à coup, de vous avoir perdu. Le Temps se fait en forme de hache. À quand ? Votre »
Camus, três dias depois, escrevia uma carta que duvido seja de resposta : "Cher René: Je suis en Normandie avec mes enfants, prés de Paris en somme, et encore plus près de vous par cœur. (…) Je rentre dans une semaine. Je n’ai rien fait pendant cet été, sur lequel je comptais beaucoup, pourtant (…)
Triste Normandie ! Sage, médiocre et bien peignée. Et puis un été de limaces. Je meurs de soif, privé de lumière [écrit dans la marge gauche de la lettre.]
Chez Michel Gallimard (…)"
E Char, ainda em Setembro, numa carta sem data, rematava, certamente, em resposta : «Cher Albert, Merci pour votre présence réclamée comme un verre d’eau pure, un matin d’extrême désert. Ils sont en si petit nombre ceux que nous aimons réellement et sans réserve, qui nous manquent et à qui nous savons manquer parfois, mystérieusement, si bien que les deux sensations, celle en soi et celle qu’on perçoit chez l’autre apportent même élancement et même souci …
O verão de 57 parece ter causado uma estranha sensação de ausência em ambos os amigos cada um deles viajando para seu lado. Era o tempo das cartas e dos postais, letras desenhadas à mão, (tenho uma grande colecção de postais trocados entre os meus pais, enquanto namorados, e a minha mãe escreveu-me cartas e postais até à morte.), o tempo tinha um outro sentido, a urgência a dimensão de alguns dias,
Char, em 14 de Setembro de 1957, interrogava Camus através de um postal ilustrado intitulado “Les Dernières Feuilles”: “Un peu, où êtes-vous, cher Albert? J’ai la sensation cruelle, tout à coup, de vous avoir perdu. Le Temps se fait en forme de hache. À quand ? Votre »
Camus, três dias depois, escrevia uma carta que duvido seja de resposta : "Cher René: Je suis en Normandie avec mes enfants, prés de Paris en somme, et encore plus près de vous par cœur. (…) Je rentre dans une semaine. Je n’ai rien fait pendant cet été, sur lequel je comptais beaucoup, pourtant (…)
Triste Normandie ! Sage, médiocre et bien peignée. Et puis un été de limaces. Je meurs de soif, privé de lumière [écrit dans la marge gauche de la lettre.]
Chez Michel Gallimard (…)"
E Char, ainda em Setembro, numa carta sem data, rematava, certamente, em resposta : «Cher Albert, Merci pour votre présence réclamée comme un verre d’eau pure, un matin d’extrême désert. Ils sont en si petit nombre ceux que nous aimons réellement et sans réserve, qui nous manquent et à qui nous savons manquer parfois, mystérieusement, si bien que les deux sensations, celle en soi et celle qu’on perçoit chez l’autre apportent même élancement et même souci …
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