Fotografia de Hélder Gonçalves
Ao escrever, tomando posição, corremos riscos. Desde logo o de mais tarde verificarmos que estávamos errados (tantas vezes! ...). Mas preciso de escrever que não gosto do discurso de Rui Rio: as suas tiradas acerca do direito de voto, que o mutilam ou condicionam, são perigosas para a liberdade. Não gosto de sentir que me podem retirar o direito de voto se, por uma circunstância qualquer, decidir abster-me de votar o que nunca, até hoje, fiz. A faceta austera dos políticos pode ser suportável quando não à custa do sacrifício da liberdade, essa exacta liberdade, abstracta, que se sobrepõe à ordem mesmo quando a escassez a ameaça encostar à parede. Lembro-me de Lorca e de tantos outros - ontem, hoje e amanhã - encostados à parede não pela injustiça dos mundos mas pelas mãos dos homens que são capazes, sem piedade nem escrúpulos, de matar outros homens. Não gostei da CPLP ter admitido a Guiné Equatorial por todas as razões que tantos já apontaram: o regime politico vigente nesse país que não preza, mais uma vez, a liberdade; a língua portuguesa que deixa de ser a marca simbólica da Comunidade - mesmo quando sabemos que nalguns países de língua oficial portuguesa mal se fala o português. Podia a CPLP sobreviver contra a opinião do Brasil e de Angola? Talvez não! Podia Portugal sobreviver à CPLP? Com certeza que sim! Como hoje se diz a propósito de tanta coisa podíamos, nós portugueses, neste caso, ser austeros utilizando a palavra simples e clara: Não!
Aditamento: depois de ter lido e ouvido, ao longo deste dia, inúmeros opiniões acerca do assunto Guiné Equatorial/CPLP, mesmo relativizando a sua importância, mantenho a opinião "ingénua" acima afirmada.
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
terça-feira, julho 22
segunda-feira, julho 21
domingo, julho 20
julho - dia 20
Volto ao tema da guerra. Os portugueses vêem a guerra como realidade distante. Assistimos às cenas de guerras localizadas que se multiplicam pelo mundo no sofá. Não há portugueses vivos que tenham sofrido os efeitos da guerra à porta de suas casas. Não conhecemos ao vivo os horrores da guerra. Não sofremos dos seus efeitos destruidores na nossa vida, de familiares e de amigos. Temos sido poupados e julgamos-nos imunes às suas terríveis consequências. Nem se conhecem manifestos que expressem posições colectivas de repúdio pelas guerras que, aparentemente, não nos dizem respeito. Assistimos resignados à devastação de comunidades, e à morte de inocentes, sem um gesto de solidariedade ou uma palavra de repulsa. Mal tomamos partido. Podemos dizer que sentimos, mas não expressamos, em sobressalto colectivo, a nossa indignação. Julgo não ser injusto se disser que nem os órgão de soberania assumem em plenitude o dever da condenação da guerra em solidariedade com as suas vitimas inocentes. Reina, entre os portugueses, perante uma real ameaça de generalização da guerra um silêncio sepulcral. Estranha forma de vida!
sexta-feira, julho 18
dia 18 - julho
Fotografia de Hélder Gonçalves.
Pode acontecer, e espero que aconteça, não estarem reunidas as condições para a eclosão de uma guerra. Mas as fronteiras da Europa, as nacionalidades ( e correspondentes nacionalismos), as rotas comerciais e, no nosso tempo, os pipelines, o domínio de espaço, terra mar e ar, sempre foram, fonte de conflitos bélicos. A Rússia sente-se cercada pela consumação passo a passo da estratégia alemã de reconstruir o seu velho império enquanto potência continental. A Inglaterra, a outra verdadeira potência europeia (marítima) hesita, protesta, ameaça, mas não rompe com a estratégia alemã, ou seja, com a UE. Chegamos assim, por estes dias, a um enfrentamento entre as duas grandes potências continentais: Alemanha e Rússia. Não sabemos o que se passa no seio da diplomacia e qual a verdade dos fatos que, neste preciso momento, ameaçam a paz. Mas pelas aparências, à distância, somente por sensibilidade, nunca estivemos, nos últimos muitos anos, tão perto de uma confrontação militar. [No dia do aniversário do inicio da guerra civil de Espanha - 18 de julho de 1936.]
quinta-feira, julho 17
quarta-feira, julho 16
julho - dia 16
Uma breve nota de verão acerca do que Henrique Raposo escreveu hoje no Expresso, de que respigo a passagem que me despertou a atenção: "... a história do MES é idêntica à história do Bloco de Esquerda (BE)." Muito já se escreveu acerca do MES, embora talvez não o suficiente, mas para quem queira conhecer a sua história, ou eloquentes fragmentos dela, basta pesquisar um tudo nada na net. Num instante qualquer um entenderá que a única semelhança entre o MES e o BE é a palavra esquerda que as respectivas siglas ostentam. Nada mais.
Mesa da sessão pública final do I Congresso do MES - Aula Magna da Cidade Universitária - Lisboa (Dezembro de 1974)
segunda-feira, julho 14
julho - dia 14
Fotografia de Hélder Gonçalves
O verão desponta finalmente, sem mácula ou quase, desferindo, apesar de todos os revezes, aquele golpe que nos faz sentir mais soltos ao imaginar o não fazer, o lazer, um exercício que não há muito tempo só estava ao alcance dos ricos. Como sabem aqueles que sabem, e é preciso saber bastante, as férias pagas são uma aquisição recente da sociedade de "bem estar". Somente pelos idos do ano 1936, com o governo da frente popular em França, se inaugurou o instituto legal das chamadas férias pagas. Os trabalhadores de todas as qualidades por conta de outrem, o povo que depende do salário, e as classes de modestos rendimentos de propriedade, passaram a gozar de um período, em muitos casos, obrigatório de férias. São ténues as tentativas para questionar esta conquista do estado social, está bem de ver porque deu origem a uma poderosa indústria que dá pelo nome de turismo (de massas). Com todas as contingências oriundas de ideologias, e carências, será uma das conquistas do período do ante II grande guerra que se manterá para que os vindouros possam abençoar o tempo livre como um tempo de liberdade de fazer o que a cada um apetecer. Apesar da maioria não amealhar o suficiente para dar realidade ao direito conquistado ao menos que se preserve o direito de gozar de férias num futuro mais desafogado.
O verão desponta finalmente, sem mácula ou quase, desferindo, apesar de todos os revezes, aquele golpe que nos faz sentir mais soltos ao imaginar o não fazer, o lazer, um exercício que não há muito tempo só estava ao alcance dos ricos. Como sabem aqueles que sabem, e é preciso saber bastante, as férias pagas são uma aquisição recente da sociedade de "bem estar". Somente pelos idos do ano 1936, com o governo da frente popular em França, se inaugurou o instituto legal das chamadas férias pagas. Os trabalhadores de todas as qualidades por conta de outrem, o povo que depende do salário, e as classes de modestos rendimentos de propriedade, passaram a gozar de um período, em muitos casos, obrigatório de férias. São ténues as tentativas para questionar esta conquista do estado social, está bem de ver porque deu origem a uma poderosa indústria que dá pelo nome de turismo (de massas). Com todas as contingências oriundas de ideologias, e carências, será uma das conquistas do período do ante II grande guerra que se manterá para que os vindouros possam abençoar o tempo livre como um tempo de liberdade de fazer o que a cada um apetecer. Apesar da maioria não amealhar o suficiente para dar realidade ao direito conquistado ao menos que se preserve o direito de gozar de férias num futuro mais desafogado.
sábado, julho 12
sexta-feira, julho 11
quinta-feira, julho 10
julho - dia 10
A um jogo do fim, tantos sofrendo tanto, outros zombando, apaixonados e desinteressados, um mundo subjugado pela força da mediatização do jogo. Um dia, muitos anos atrás, tornei-me apreciador do futebol - que não verdadeiro apaixonado. Como em tudo na vida aprende-se a gostar e o tempo modera a cega paixão. O fluxo futebolístico é um fenómeno que vai além do espectáculo e ainda mais do puro negócio que o envolve. Os praticantes multiplicam-se por inúmeros campeonatos, profissionais, semi profissionais e amadores. É um fenómeno de uma dimensão física e humana difícil de abarcar, e compreender, através da simples mediatização. O negócio do futebol é só uma pequena parte da realidade do futebol. O verdadeiro futebol, o que se constitui escola de vida, como bem dizia o jovem praticante Camus, vai muito além dos suspeitosos bastidores do futebol profissional de alta competição. Argentina ou Alemanha? Não foi por acaso que chegaram à final. Nem sequer, desta vez, através de qualquer favorecimento espúrio. A Argentina é a minha dama!
terça-feira, julho 8
segunda-feira, julho 7
julho - dia 7
A politica, ao contrário do que alguns querem fazer crer, é uma actividade nobre. Mesmo nos tempos que correm em que proliferam os seus detractores sempre, pela sua parte, a praticando mesmo quando a denigrem. O ambiente de crise social, em todos os tempos, encosta o discurso político à tentação do messianismo. Nada a fazer pois dele emerge a própria natureza humana. Mas não confundo todos os políticos com a massa da qual emergem. Nem os seus discursos que sendo todos feitos de palavras advêm de diversas formações filosóficas e experiências de vida. Nem confundo politica com unanimidade no silêncio. Nem politica é a busca de consensos sem divergência nos programas e no choque de concepções antagónicas da vida em sociedade e do futuro da homem. Tudo na vida diverge e converge em uníssono e a exaltação da acção politica é a de encontrar o justo equilíbrio na diferença. E a de saber conviver com ela em liberdade.
Gal Costa
domingo, julho 6
julho - dia 6
Viagem de trabalho ao norte que sempre parece breve. A tentação inevitável de intercalar, ou de misturar, contactos pessoais com obrigações profissionais. Resisto com a consciência que sacrifico o culto da amizade à improvável riqueza da tarefa profissional. Uma força e uma fraqueza. No imediato sinto-me mais só, como que sozinho no mundo, mas determinado a cumprir a minha tarefa. Com uma convicção secreta que a verdadeira amizade não sofre a usura do tempo. Que a verdadeira amizade resiste para todo o sempre enquanto sobreviver em nós um sopro de vida digna. Como não cultivar com mais intensidade as amizades? Porquê? Em qualquer caso uma fuga ao confronto connosco próprios à vista do rosto dos outros. Não serei nunca capaz de ultrapassar esta contradição que me acompanhará até ao fim. Desculpem.
sexta-feira, julho 4
julho - dia 4
Aceito o repto da acção, consciente das limitações da acção. Sei muito bem, hoje melhor do que ontem, que as nossas acções são ínfimos pontos na profundidade temporal da história dos povos. Um quase nada apesar da, por vezes, infinita grandiloquência dos nossos actos no presente. Então porquê insistir na acção? Porventura porque há razões mais fundas que nos movem. Um impulso vital para partilhar o destino da colectividade que nos envolve. Subir a montanha para sentir o vento e apreciar a beleza do horizonte infinito.
quinta-feira, julho 3
julho - dia 2
O grande artista afirma-se pela obra, sempre assim foi. Comenta-se, muitas vezes, o caso do artista, premiado, num dado ano, com o Nobel da literatura cuja obra o tempo tornou irrelevante. Lembrei-me da polémica em França quando Sarkozy, pelo cinquentenário da morte de Camus, propôs a sua entrada no Panteão. Sabendo o que sabemos hoje, exactamente hoje, abençoada parte de sua família que se opôs. Não é o caso de Sophia de Mello cuja personalidade, acção cívica e obra, suportam tudo incluindo as honrarias de Estado. Que se mantenha viva através da divulgação da sua palavra luminosa e da lembrança das suas corajosas tomadas de posição em prol da liberdade.
domingo, junho 29
junho - dia 29
É verão. Pelo calendário e, pelo menos, hoje pela meteorologia. Percorri os caminhos meus conhecidos junto ao mar na costa mais ocidental da Europa. Não sei se este verão vai ser quente pelos critérios da meteorologia, ninguém sabe, nem sequer os meteorologistas. Mas sei que vai ser, quase certamente, quente na política. A disputa pela liderança do PS, ao contrário do que parecem pensar alguns mais distraídos, não se confina ao PS. Antecipa a disputa da liderança do governo. O óbvio ululante, como alguém escreveu, exigindo a apresentação de programas e a tomada de compromissos. Ninguém vai mais acreditar em cartas de intenção, ideias gerais, demagogias eleitoralistas. O tempo da tentação dos populismos não acabou. Mas não creio que nas próximas disputas eleitorais venha a ter sucesso. Ponham as cartas na mesa e não se isolem nos castelos (aparelhos) partidários.
sexta-feira, junho 27
junho - dia 27
Não me senti verdadeiramente triste com o desempenho futebolístico da selecção de Portugal no mundial do Brasil. Entusiasta do futebol que julgo entender nas suas diversas facetas - do negócio à arte - em que os pés assumem o comando, não me deixo dominar pelas emoções. O tempo resolve e as gentes relevam depressa o insucesso, o espectáculo tem que continuar. Como escrevi numa pequena nota publicada no facebook "carteiras cheias, cabeças vazias", mas um golo a mais, num momento decisivo, mudaria tudo. Mas nem mesmo o futebol, hoje, muda nada de essencial do estado de espírito dos povos, nem favorece, nem desfavorece governos, nem salva bancos, ou os afunda, embora bancos possam afundar clubes endividados ou, pelo menos enfraquecê-los. Mas nada por nada me faz perder o prazer de apreciar um bom jogo de futebol, no qual esteja presente o verdadeiro fluxo futebolístico.
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