terça-feira, dezembro 1

TRATADO DE LISBOA - PRIMEIRO DIA


No dia da entrada em vigor do Tratado de Lisboa que, apesar de todas as dúvidas, divergências e polémicas, é um dia grande para o futuro de uma Europa de Paz e Concórdia entre as Nações:

«[…] Acontece-me, por vezes, ao voltar de uma dessas curtas tréguas que nos deixa a luta comum, pensar em todos os recantos da Europa que conheço bem. É uma terra magnífica, feita de sacrifícios e de história. Revejo as peregrinações que fiz com todos os homens do Ocidente. As rosas nos claustros de Florença, as tulipas douradas de Cracóvia, o Hradschin com os seus paços mortos, as estátuas contorcidas da ponte Karl sobre Ultava, os delicados jardins de Salzburgo. Todas essas flores, essas pedras, essas colinas e essas paisagens onde o tempo dos homens e o tempo da natureza confundiram velhas árvores e monumentos! A minha memória fundiu essas imagens sobrepostas para delas formar um rosto único: o da minha pátria maior. Algo me oprime quando penso, então, que sobre esse rosto enérgico e atormentado paira, desde alguns anos, a vossa sombra. E no entanto, há alguns desses lugares que você visitou comigo. Eu não imaginava, nessa altura, que fosse um dia necessário defendê-los contra os vossos. E agora ainda, em certos momentos de raiva e desespero, lamento que as rosas possam ainda crescer no claustro de São Marcos, os pombos lançar-se em bandos da catedral de Salzburgo e os gerânios vermelhos germinarem incessantemente nos pequenos cemitérios da Silésia.

Mas, noutros momentos, e são esses os verdadeiros, sinto-me feliz que assim seja. Porque todas as paisagens, todas as flores e todos os trabalhos, a mais antiga das terras, vos demonstram, em cada Primavera, que há coisas que não podereis abafar no sangue. […] Sei assim que tudo na Europa, a paisagem e a alma, vos rejeitam serenamente, sem ódios desordenados, mas com a força calma das vitórias. As armas de que dispõe o espírito europeu contra as vossas são as mesmas que nesta terra sempre renascente fazem crescer as searas e as corolas. O combate em que nos empenhamos possui a certeza da vitória, porque é teimoso como a Primavera. […] » - pp. 68-71



segunda-feira, novembro 30

PREPAREMO-NOS PARA O PIOR!


O que me preocupa além da saúde - que vai andando bem graças a deus – não é tanto o equilíbrio das contas públicas – poucos países do ocidente apresentarão melhor resultado que Portugal em 2009 – mas a continuação,  quiçá, o aprofundamento, da crise [vide situação financeira do Dubai] e o facto insólito de nenhum partido em Portugal – salvo o partido do governo – apresentar ao país um líder que possa aspirar a ser primeiro-ministro. Na verdade todos os líderes dos partidos da oposição são, com nuances, “anti-poder” (Portas, Louçã e Jerónimo), salvo a Dr.ª Manuela que está de saída mais dia, menos dia (era de toda a conveniência definir, com urgência, o dia!). Ora como o Presidente da República também está em fim de mandato – as eleições presidenciais são já em Janeiro de 2011 – resta o 1º Ministro, líder do PS, para aguentar, contra ventos e marés, a governabilidade. O orçamento rectificativo, a debate em 11 de Dezembro e/ou o Orçamento de Estado para 2010, a debate lá para os finais de Janeiro, podem não ser chumbados, mas ninguém sabe se não serão alvo de uma tentativa de captura – ver-se-á o seu grau de virulência - em favor dos programas dos partidos da oposição, ou seja adulterados, sem remissão, pela maioria negativa resultante das eleições de 27 de Setembro passado. Se as tentativas de captura das propostas do PS, em matéria orçamental, forem bem sucedidas, como o parlamento não pode ser dissolvido nos seis meses seguintes à realização de eleições, passaremos, com muita probabilidade, a dispor de um governo de gestão. A não ser que a maioria negativa encontre uma fórmula alternativa ao governo do PS, com base num programa comum que lhe dê suporte, e teríamos, pela primeira vez na história da III República, um governo maioritário com um programa sob o lema: “todos contra o partido socialista”. Um governo com um programa anti-socialista democrático que criaria os condimentos para uma crise do regime ou que, pelo menos, fizesse pairar a ameaça da instabilidade política permanente abrindo, paradoxalmente, caminho para o acesso ao poder dos partidos “anti-poder”. É o que está em marcha e à vista de todos. Quem sabe se não será este o cenário que preside às sucessivas encenações justicialistas! É uma realidade que já esteve mais longe da mera ficção. Excesso de pessimismo? Espero que sim! Mas preparemo-nos para o pior!
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FRIVOLIDADES

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sexta-feira, novembro 27

GUILHERME D´OLIVEIRA MARTINS (2)
























Num tempo de grandes proclamações éticas dos partidos da oposição, entremeadas por denúncias, suspeitas, informação e contra informação, PSD, PCP e PP não têm nada a dizer acerca desta notícia: O Presidente da República conferiu posse ao Presidente do Tribunal de Contas, Juiz-Conselheiro Guilherme d’Oliveira Martins.

Não têm a hombridade de vir a público reconhecer que, em 2005, se enganaram e que o Governo tomou, em 2009, uma justa decisão ao propor ao Presidente da República a nomeação, para um novo mandato, de Guilherme d´Oliveira Martins como Presidente do Tribunal de Contas?

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quarta-feira, novembro 25

UMA NOTÍCIA DA CRISE














A propósito desta notícia, um dia destes, pelo pequeno-almoço, encontrei um amigo, dos antigos, que raramente vejo, mas no qual me revejo (não sei explicar porquê!) e, lado a lado, mesa com mesa, entre um sumo de laranja natural e mais umas coisas de comer, sabendo-o principal responsável pela gestão de uma empresa que constrói equipamentos pesados, e se dedica também à reparação, atirei-lhe a pergunta do tempo: “então como vai a crise?”. A resposta não poderia ter sido mais a contracorrente. Não faltam encomendas, para Janeiro terá que contratar mais uns 60 trabalhadores (não indiferenciados, suponho), nos indicadores de gestão predomina o sinal verde do equilíbrio. Em resumo, até 2011, inclusive, naquela empresa não haverá crise! É tal a maré de notícias ruins que me senti estremecer. Sem desdenhar da crise tenho que passar a ver ainda menos telejornais e, dê lá para onde der, falar mais com os meus amigos que trabalham paredes meias com a ferrugem!


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terça-feira, novembro 24

Respuesta de Barack Obama a Yoani Sánchez

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BOLO DE GILA E AMÊNDOA















Para a Bel


No outro dia num pequeno café/restaurante aqui para os lados de Campolide serviram-me um doce de sobremesa. Senti o sabor da gila e da amêndoa, uma textura que me reenviou para o “bolo de gila” da minha mãe. Uma especialidade. São os momentos em que nos reencontramos, de verdade, com a vida. Lembrei-me de uma história que ela contava. Já tarde, decidiu tirar a carta de condução. Fez o que tinha que fazer. Código, lições de condução, exames. Em todos passou. Aprovada. Carta na mão. Alegria. Era mais um passo na afirmação da sua autonomia. O examinador, segundo ela, era muito simpático. Vai daí minha mãe, como sempre fazia, sem falsos pudores, preparou, com esmero, um bolo de gila para lhe oferecer. Dirigiu-se a ele e o Eng.º não quis receber a prenda. A minha mãe tomou-se de uma indignação sem limites. Insistiu. Voltou a insistir. Não compreendia os problemas do homem que, finalmente, se deu por vencido e aceitou o bolo. Cedência a uma manifestação de regozijo? Ou aceitação do pagamento de um favor? O que a minha mãe queria era festejar!
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segunda-feira, novembro 23

CAMUS AO PANTEÃO?
























Já me questionaram acerca da ideia de, a propósito da passagem do 50º aniversário da morte de Albert Camus (4/1/1960), levá-lo ao Panteão. O Presidente de França lançou a ideia, certamente com intencionalidade política, mas é preciso não esquecer que ele é, tal como Camus, um “imigrante”. Os filhos gémeos de Camus, embaraçados, terão a última palavra.

A este propósito, concluída a leitura da versão portuguesa de “Com Camus”, de Jean Daniel, uma raridade editorial, deparei-me com a saborosa descrição de um episódio que desencoraja qualquer tentação de apoiar a celebração imaginada por Sarkozi:

Num 14 de Julho, que deveria ser o de 1951, tínhamos assistido a um baile, na Place Saint-Sulpice, Albert Camus, a sua mãe, alguns amigos e eu. Estávamos sentados a uma mesa e, de vez em quando, Camus levantava-se para dançar com uma das mulheres que nos acompanhava. Em seguida, voltou para junto da mãe. Sentou-se, inclinou-se para ela e, bem alto, para se sobrepor à sua surdez, à música, e para que os outros pudessem ouvir, disse: “Mãe, fui convidado para o Eliseu.” Ela pediu-lhe que repetisse pelo menos três vezes a frase e, sobretudo, a palavra “Eliseu”. Ficou silenciosa um longo momento. Depois, pediu ao filho que aproximasse a orelha e disse-lhe muito alto: “Essas coisas não são para nós. Não vás, meu filho, desconfia. Essas coisas não são para nós.”

Camus olhou para nós. Não disse nada, mas pareceu-me orgulhoso da sua mãe. Em qualquer dos casos, nunca foi ao Eliseu. O único palácio oficial onde esse filho de uma criada alguma vez entrou foi, segundo creio, no do rei da Suécia, para receber o Prémio Nobel.

GERAÇÕES

Clique na fotografia para aumentar

Aqui deixo uma curiosidade que o JP Castanheira revelou na última edição do Expresso. É reveladora, além da prova de vida, que a geração em apreço ainda “está para as curvas”.
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sexta-feira, novembro 20

FUTEBOL - O CRIME COMPENSA





Sabemos como as autoridades que superintendem no futebol (nacional e internacional) espalham pelos quatro cantos do mundo o sentido da justiça. Não há, nos nossos dias, outra máquina mais poderosa de banalização da mentira, da injustiça e da violência como o futebol. É revoltante para um amante do futebol, que permite o milagre do apuramento da Argélia para a fase final do mundial (como Camus ficaria contente!) num ambiente hostil de quase guerra, ter que denunciar as suas misérias. A França foi beneficiária de um roubo “regulamentar” e não há maneira de fazer justiça pois as novas tecnologias, utilizadas em tantas modalidades desportivas, para salvar a justiça, são vistas como o inferno na terra pela nomenclatura dirigente do futebol! Portugal que ocupa, a partir de hoje, o 5º lugar no ranking da FIFA, ou seja, um lugar de grande potência do futebol mundial, apesar do sentimento nacional de quase-pesar pelo apuramento, não será “cabeça de série” no sorteio da fase final do mundial. Com futebóis destes, fenómeno global ultra-mediatizado, as novas gerações confrontam-se com uma estreita margem para a aceitação social dos sucessos, obtidos, através do mérito, pelos cidadãos honrados! O futebol parece ter-se transformado num veiculo que, de forma paradoxal, legitima a propaganda de alguns métodos da criminalidade pura que, noutros domínios da vida em sociedade, é perseguida, de forma implacável, em nome da justiça.

quinta-feira, novembro 19

GUILHERME D´OLIVEIRA MARTINS


A escolha de Guilherme Oliveira Martins para presidente do Tribunal de Contas é pouco prudente, prejudica a imagem daquele tribunal e coloca dúvidas à isenção do órgão responsável pela fiscalização da legalidade das contas públicas. Esta é a opinião geral que PSD, CDS e PCP têm da escolha feita pelo Governo de José Sócrates. O BE prefere, por enquanto, não comentar. [Público – 13/9/2005]

Pelas 23,20 horas, de hoje, não encontrei, na edição on-line do Público, qualquer referência à nomeação, pelo Presidente da República, por proposta do governo, de Guilherme d´Oliveira Martins para novo mandato como Presidente do Tribunal de Contas! Esperam-se as reacções do PSD, CDS e PCP!

Les sept axes prioritaires d'investissement définis par la Commission Juppé-Rocard



[Também no ir ao fundo e voltar.]
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QUANDO A REALIDADE ULTRAPASSA A FICÇÃO













PSD retira confiança a autarca: "Vou contestar a nível nacional porque para já não há comissão política concelhia em Monção desde antes das eleições autárquicas. Quem estava à frente era o candidato PSD à Câmara, que é do PS e que não gosta de mim e, por isso, tentou tudo para me retirar a confiança política"
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quarta-feira, novembro 18

BÓSNIA - GUERRA E PAZ


Voltando ao futebol. Hoje, à semelhança de sábado passado, durante 90 minutos, não se falará de escutas nem sequer do estado da justiça. Estamos na Bósnia com um contingente de paz, formado por militares, e com uma equipa de guerra, formada por jogadores de futebol. Curiosa contradição. Estamos com medo, apesar das palavras de Queiroz (estranho nome para um cabo de guerra!), mas eles também, apesar das palavras do propagandista croata da Bósnia (também já tivemos um, mas era brasileiro). “Vamos para cima deles”, diz o nosso! “Vamos pô-los de joelhos”, diz o outro! Mas o que se poderia esperar de um jogo de vida ou de morte disputado num cenário de guerra? [Entretanto Ronaldo (Cristiano) já treina, ao que parece, sem queixas no tornozelo!]
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Uma nota de rodapé, em escrita directa: afinal não houve batalha campal no batatal. Portugal cumpriu os mínimos e qualificou-se para a fase final do Mundial de futebol da África do Sul. Fico contente. Notem que tal feito foi obtido sem Ronaldo (Cristiano)! Mas o El Pais titula que Cristiano Ronaldo estará na África do Sul! A França qualificou-se, como seria de esperar, através de um "roubo": um golo descaradamente irregular, preparado com a mão!
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terça-feira, novembro 17

DOIS LIVROS


Dois livros do género “diário” que, por razões diferentes, devem ser muito interessantes. O de Roland Barthes, que lerei o mais breve possível, é uma boa novidade editorial em Portugal.


Os Diários de Claretta Petacci, amante de Mussolini, revelam um Duce racista, cínico e violento

DIÁRIO DE LUTO, de Roland Barthes
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domingo, novembro 15

CAMUS - O MARXISMO



















Pelo contrário, (Camus) pensa que o marxismo não resiste à reflexão, e contradiz-se quando é posto em prática. Os seus adeptos parecem viver do seu servilismo inconsciente, mal informados sobre a ideologia que professam tão vigorosamente, vivendo somente da sedução:

“Contar-se-iam pelos dedos da mão os comunistas que chegaram à revolução pelo estudo do marxismo. Convertem-se primeiro e só depois lêem as Escrituras". (“O Homem Revoltado”)

São os participantes ideais de um estado baseado no anonimato e na alegada eficiência dos seus funcionários. A burocracia inunda toda a forma de totalitarismo mesmo a que se diz democrática. É a Secretária da Peste que em Estado de Sítio se assume como revolucionariamente justa – e, na verdade, que haveria mais justo que a morte que a todos abraça? – e assim fala sobre a revolução:

“As revoluções não falam de insurrectos. A polícia, hoje, serve para tudo, mesmo para derrubar o governo. E não será melhor assim, de resto? O povo pode descansar enquanto os bons espíritos pensam por ele e decidem em seu lugar sobre a quantidade de felicidade que lhe é favorável”

In CAMUS, M. Luiza Borralho – Rés, 1984 (Um livro raro acerca de Camus, editado em Portugal, que encontrei, por acaso, numa livraria de Lisboa – muito interessante.)

Para A Regra do Jogo


sábado, novembro 14

UMA PEQUENA LUZ ...


Para além desta pertinente observação tenho a certeza que hoje, pelo menos durante noventa minutos, ninguém falará nas escutas …
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quarta-feira, novembro 11

ANA VIDIGAL


ANA VIDIGAL - Matar o Tempo 
INAUGURAÇÃO: 12 Novembro - 19:00

Na ocasião será lançado o livro/catálogo ANA VIDIGAL pela Galeria 111.
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segunda-feira, novembro 9

MES - 28 ANOS
















Há 28 anos o 7 de Novembro também foi um sábado


O António Pais não se esqueceu do 28º aniversário do jantar que celebrou a extinção do MES (Movimento de Esquerda Socialista). Eu também não me esqueci mas deixei passar ainda para mais porque uns dias atrás, no aniversário do Ferro Rodrigues, revisitei a memória desse tempo. Mas tantas fotografias juntas, imagens únicas desse acontecimento original, não podiam passar em claro.

O TORNOZELO DE RONALDO


Não sei se Ronaldo (Cristiano) está lesionado ou não, é provável que esteja, mas apetece-me saudar a sua convocatória para os jogos decisivos que a selecção nacional de futebol vai disputar na presente/próxima semana. Perdi o entusiasmo pelo futebol de clubes, tanto se me dá que o clube da minha predilecção ganhe ou perca, mas não perdi o entusiasmo pelos jogos da selecção. É talvez aquela réstia de nacionalismo sadio que guardamos connosco no tempo de todas as globalizações. Simplifico, claro está, aproveitando tratar-se de um assunto banal … mas que mexe com o fundo das nossas memórias (pelo menos das minhas). Na verdade, talvez não me sejam assim tão indiferentes os resultados dos clubes mas não sofro tanto com eles como sofro com os da selecção. É bem provável que Ronaldo (Cristiano) esteja lesionado o que na sua profissão, quer se queira, quer não, o impede de subir ao palco. Mas pode dar-se o caso de, pelo contrário, ter sido, simplesmente, escondido pelos investidores, para não se expor ao risco de se lesionar ao serviço de uma selecção de um pequeno país. Ora não jogando estes dois jogos com a Bósnia (Lisboa/Sarajevo, bonito!) e caso Portugal ganhe, apurando-se para a fase final do mundial da África do Sul, será que Ronaldo (Cristiano) estará disponível, e os que o mantêm sequestrado, o libertarão para a grande montra do futebol mundial? É que se Portugal ganha sempre que Ronaldo não joga pela selecção, o que todos perguntam, sem o dizer, é se ele faz falta à selecção! Talvez esta convocatória/provocação, como os espanhóis lhe chamam, e a sua mais que provável falta à chamada, faça os homens de negócios que condicionam o desporto-rei entender que os pequenos países não se medem aos Ronaldos….

MUROS




















Após o Muro de Berlim, agora o da Palestina
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domingo, novembro 8

USA - REFORMA DO SISTEMA DE SAÚDE VAI EM FRENTE















Sweeping Health Care Plan Passes House


Algo importante se passou na América. A reforma do sistema de saúde de Obama, vencendo obstáculos, faz o seu caminho. Ainda há quem diga que não diferenças entre a direita e a esquerda!


sexta-feira, novembro 6

EDGAR MORIN



A propósito de uma notícia e das tentativas de agendar um encontro (físico) entre os fazedores do blogue A Regra do Jogo.


A vida é, portanto, um processo de desordem permanente, de desorganização, de desintegração, inseparável da reintegração. A sociedade não é um rochedo num mar de desordem. É antes feita de esforços sempre recomeçados, por parte de indivíduos que, eles próprios, se reorganizam incessantemente. Tudo o que existe deve viver no risco permanente, no limiar da sua própria morte. Devemos adquirir uma concepção pela qual assumamos muito mais o risco, as potencialidades da existência. É esta uma concepção que deve romper totalmente com a visão burocrática e a falsa ideia de segurança contra todos os riscos. Isto não quer dizer que seja preciso suprimir os seguros, a segurança social … É preciso, antes pelo contrário, ter seguranças materiais, mas a nossa vida mental, psíquica, é uma vida decorrida no risco profundo. A criatividade constitui-se nas fronteiras da loucura e da morte. É preciso mudar de visão. Aceitar na vida o risco, o inevitável, porque isso é a oportunidade de criar, de se expandir, de comunicar e de amar.

Edgar Morin In “Pensar o Milénio com Edgar Morin” (excerto de uma entrevista de João Fatela.)
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quinta-feira, novembro 5

DEMOCRACIA, LIBERDADE, DEBATE ...


                                        Deborah Luster


A Assembleia da República debate o programa do governo – após a intervenção inicial do 1º Ministroum debate puro e duro dando início a uma longa batalha política da qual, espero, não saiamos todos vencidos. A grande vantagem da democracia parlamentar é acolher as mais diversas opiniões organizadas, mais ou menos virulentas, mais ou menos assertivas, mais ou menos coloridas, mais ou menos cínicas; a grande vantagem da democracia é servir de palco à liberdade, através da livre expressão de opiniões diversas, que se confrontam, e da afirmação dos espíritos críticos que, sem reserva mental, criam espaços de confluência mesmo quando no ruído imediato tudo parece ser divergência. É um labirinto que cada um de nós pode entender melhor se for capaz de reflectir um tempinho acerca da sua experiência pessoal, profissional ou familiar. Tudo se ganha, e nada se perde, com o exercício da liberdade. Essa liberdade que os mais jovens consideram natural e os mais velhos ostentam como uma conquista. Mas mesmo na democracia é preciso exercitá-la pois a democracia é um lugar que, por ausência do exercício da liberdade, se pode tornar a antecâmara da tirania. A história ensina-nos, com abundantes ilustrações de eventos trágicos, que não vale a pena citar, como a democracia é delicada.  Por isso, neste debate, como noutros, compreendo bem, e aprecio, a energia, e a plasticidade discursiva, aliás notáveis, do 1º ministro, e as réplicas não menos notáveis, e tenazes, de alguns dos tenores da actual oposição parlamentar. O debate político exige uma forte capacidade de argumentação, fundadas convicções, conhecimento dos detalhes, fina sensibilidade para passar no crivo do julgamento público, instantâneo, que a mediatização absoluta dos nossos dias,  impõe, de forma implacável, como uma espécie de ditadura que, paradoxalmente é, ao mesmo tempo, a última salvaguarda da liberdade.

quarta-feira, novembro 4

terça-feira, novembro 3

VAI COMEÇAR O JOGO!


                                      Rania Matar

Já li o suficiente do Programa do XVIII Governo, ontem entregue na Assembleia da República, para perceber que corresponde ao programa de governo do PS apresentado a sufrágio nas últimas eleições legislativas. Onde está o espanto? Como muitos outros já escreveram o contrário é que seria de espantar. A um governo de um só partido corresponde o programa apresentado a sufrágio por esse partido. Haveria lugar a negociação prévia do programa no caso de se tratar de um governo de coligação ou, de um só partido, resultante de acordo político com incidência parlamentar. Não é o caso. No entanto não está escrito nas estrelas, antes pelo contrário, que não venham a celebrar-se acordos parlamentares destinados a viabilizar o programa de governo. Não pode ser, aliás, de outra maneira. Chegou a hora das oposições “mostrarem a sua raça”. Estabilidade ou instabilidade? Governabilidade ou ingovernabilidade? Oposição de esquerda, oposição de direita. Iguais? Diferentes? … O governo tem um programa que ocupa o vértice de um triângulo: governo, oposições, presidente. Vai começar o jogo! A regra do jogo: a democracia! O lugar do jogo: o Parlamento!

segunda-feira, novembro 2

ESTÓRIA

David Torcoletti

SENA, JORGE


A minha homenagem a Jorge de Sena que, se fosse vivo, celebraria hoje o seu 90º aniversário.


Mais longe, o que é mais longe?
Ficar no lugar, que é ficar perto?

Sena, Jorge, o homem de letras
esse mesmo que a marinha expulsou,
pai de muitos filhos, emigrante, poeta
quase eterno, amante de várias
Pátrias, morreu longe da sua,
mas nunca a esqueceu, antes quis
ser amado por ela
e ela, ingrata, o renegou.

Este é o último dos “20 Poemas de Cuba”, manuscritos a lápis, entre 23 e 27 de Julho de 2007, nas páginas do livro “Poesia III”, de Jorge de Sena, nos dias de uma visita a Cuba.

domingo, novembro 1

Marcelo: o silêncio eterno dos sonhos adiados!
























O que é mais assinalável, e chocante, na luta de facções no PSD, como hoje lhe chamou Marcelo, é um dos protagonistas ser ele próprio tendo ao dispôs, como tribuna, o canal público de televisão. Ao que assistimos é a uma refrega partidária e, suponho, Marcelo recebe cachet! Queira-se, ou não, Marcelo promove-se à custa de um debate acerca da futura liderança do seu partido, gera expectativas, frustra expectativas, impulsiona a luta de facções e condena a luta de facções, encena a política espectáculo de que ele próprio é actor principal. O desfecho da trama é a própria incerteza do desfecho da trama. Fascinante mas, como dizem os mais entendidos, conhecedores dos bastidores e do personagem, Marcelo nunca virá a ser, de novo, líder do PSD. Marcelo nem chegará a ser candidato pois sabe que só sairia vencedor através de uma entronização. E os partidos, em regime democrático, escolhem os seus líderes por via de eleições internas que exigem o que Marcelo insiste em recusar: “ringue”, ou seja, o debate miúdo e o voto viscoso das bases que, no PSD, ele sabe que não mobiliza. O candidato que defrontará Passos Coelho afinal será outro! Então ao que vem Marcelo? Alimenta as luzes da ribalta para alumiar uma eventual futura candidatura presidencial. Mas para tornar esse sonho realidade, para as próximas presidenciais, teria que retirar Cavaco do caminho, ou beneficiar da sua falta de comparência, pois nas seguintes já tem Durão Barroso na fila de espera. Depois seguir-se-á o silêncio eterno dos sonhos adiados!

COM CAMUS



















A propósito da série “sublinhados de leitura” recomendo para uma iniciação a Albert Camus a edição portuguesa, recentemente lançada, de “Avec Camus” (“Com Camus”), de Jean Daniel.

sábado, outubro 31

JORGE DE SENA - AS EVIDÊNCIAS (pelos 90 anos do seu nascimento)


XVIII

Deixai que a vida sobre nós repouse
qual como só de vós é consentida
enquanto em vós o que não sois não ouse


erguê-la ao nada a que regressa a vida.
Que única seja, e uma vez mais aquela
que nunca veio e nunca foi perdida.


Deixai-a ser a que se não revela
senão no ardor de não supor iguais
seus olhos de pensá-la outra mais bela.


Deixai-a ser a que não volta mais,
a ansiosa, inadiável, insegura,
a que se esquece dos sinais fatais,


a que é do tempo a ideia da formosura,
a que se encontra se se não procura.

26-3-1954

Jorge de Sena


CAMUS - DISCURSOS DA SUÉCIA


C’est pourquoi les vrais artistes ne méprisent rien ; ils s’obligent à comprendre au lieu de juger. Et, s’ils ont un parti à prendre en ce monde, ce ne peut être que celui d’une société où, selon le grand mot de Nietzsche, ne régnera plus le juge, mais le créateur, qu’il soit travailleur ou intellectuel.

Albert Camus, Discours de réception du Prix Nobel de littérature, prononcé à Oslo, le 10 décembre 1957

Para A Regra do Jogo
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sexta-feira, outubro 30

AS EVIDÊNCIAS - XVII (pelos 90 anos do nascimento de Jorge de Sena)


Ronald Cowie

Jorge de Sena nasceu em Lisboa, a 2 de Novembro de 1919, e faleceu em Santa Barbara, na Califórnia, a 4 de Junho de 1978.


Pelos noventa anos do seu nascimento divulgo, por estes dias, com replicação no Caderno de Poesia, os últimos 5 poemas de “As Evidências” [1955], uma das suas primeiras e maiores obras poéticas. Neste soneto XVII, dos 21 que compõem “As Evidências”, aquando da minha leitura inicial, logo após a sua morte, sublinhei, a lápis, um verso que sempre me tem acompanhado: “É pequena a margem pura onde só há tristeza”.

XVII
Na noite funda em que das nuvens corre
interceptado o luar prateando a vida,
de tudo a forma é sombra desmedida
como do corpo a contrição qual morre.


Últimas fezes do estertor, na espuma
que aos lábios sobe envidraçando o olhar,
crispam-se os dedos, quanto devagar
memórias se desatam uma a uma.


De súbito explodido, ou na serena
e distendida muscular dureza,
o espírito se quebra nas miríades

que o foram sucessivas. É pequena
a margem pura onde só há tristeza.
Da podridão logo renascem tríades.

25-3-1954

Jorge de Sena
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SHAKIRA




















Shakira na Revista Rolling Stone

Para desanuviar nada como mostrar uma face nada oculta: Shakira ansiosa por ter filhos
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quarta-feira, outubro 28

SIMPLEX - FIM


No dia da tomada de posse do governo, saído das eleições legislativas de 27 de Fevereiro passado, foi encerrado o blogue SIMPLEX. Hoje a maioria daquelas, e daqueles, que participaram nesse blogue, que encarnou uma modalidade de participação política ainda sem grandes tradições no nosso país, vão juntar-se num jantar de confraternização.

Tenho a certeza, que, no futuro, a intervenção política, através da internet, que a campanha de Obama tornou irreversível, vai ganhar cada vez mais espaço nos debates e combates democráticos. Quem estiver melhor preparado para a utilização das ferramentas da “democracia electrónica”, incluindo a defesa da liberdade da sua plena utilização, estará melhor preparado para vencer os desafios políticos do futuro.

Nos dois meses de existência na blogosfera a defender o voto no Partido Socialista atraímos mais de 200.000 visitas, publicámos 1285 posts que suscitaram 6645 comentários. Conseguimos entrar e ganhar o debate político na blogosfera portuguesa (continuamente dominada pela direita e pela extrema esquerda) e fomos mesmo uma das atracções da campanha eleitoral.

As imagens criadas pelo autor João Coisas apenas poderão ser utilizadas em blogues sem objectivo comercial, e desde que citada a respectiva origem.
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terça-feira, outubro 27

ANIVERSÁRIO


Faz muito tempo o meu filho Manuel criava desenhos como este.

Imaginem! Hoje, já homem,,,,,,,,,,,,,,,,,cumpre dezanove anos.


domingo, outubro 25

O exercício paciente da espera ...


Desde o dia que foi inventada a ideia propagandística da “asfixia democrática”, não sei ao certo por quem – Paulo Rangel (?) - servindo de muleta para a campanha política de Manuela Ferreira Leite, me veio à memória o ambiente vivido na universidade nos tempos em que eu era estudante e Manuela Ferreira Leite era assistente de Cavaco Silva. Não pretendo pôr em causa as qualidades técnicas de lentes, e respectivos ajudantes, naquela época já bastante longínqua. Mas no meu íntimo, e certamente de todos os que partilharam das lutas contra o autoritarismo na universidade, nos tempos do estado novo, ressoam os ecos do silêncio ensurdecedor a que se remeteram muitas daqueles que hoje clamam contra a chamada “asfixia democrática”. A preservação das condições para o exercício da liberdade, nos nossos dias, está na capacidade de forjar um consenso popular acerca das vantagens da democracia representativa, apesar de todos os seus defeitos. Essa liberdade não caiu do céu, antes foi conquistado pela acção daqueles que arriscaram a sua própria liberdade. Compreendo que nem todos pudessem, face aos ditames da tirania, usufruir da capacidade de autodeterminação individual, outros diriam lucidez, ou coragem, para levantarem a voz na defesa dos valores que hoje proclamam estar ameaçados. A insistência da propagação da consigna da “asfixia democrática”, rebaixando o PS à condição de inimigo da liberdade, é obra de fanáticos que vivem no desespero que assalta, em regra, os poderosos arruinados. Nada que se não resolva, entre homens cultos, e de boa vontade, com umas boas leituras e a cuidada, séria e paciente, construção de um projecto alternativo, e credível, ao poder do governo socialista democrático. Ao longo do tempo, sucessivamente, no tempo próprio, em eleições livres, o povo escolhe os governos. E o povo português já mostrou que raramente se engana.
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