quarta-feira, abril 27

"O progresso e a verdadeira grandeza residem no diálogo à altura do homem e não no evangelho..."


Camus (à frente, no centro, de negro) aluno da escola primária, em 1920, com os trabalhadores da tanoaria onde o tio trabalhava. (In "Camus"- Brigitte Sändig, Círculo de Leitores)

Em 8 de Julho de 2004, véspera da comunicação ao país na qual o PR anunciou a decisão de não convocar eleições legislativas antecipadas, em “Citações-11”, escrevi:

As eleições são, no imediato, um problema para a direita. A expectativa de perda da maioria e, em consequência, do governo, é forte. Mas as eleições serão, a médio prazo, um problema para a esquerda. A expectativa de um arrastamento da crise económica é forte. O consenso social é uma aspiração da esquerda e uma necessidade vital para a sobrevivência de qualquer governo.

Mas a margem para o consenso é sempre estreita e ainda mais estreita em épocas de crise. A direita já está em campanha eleitoral. A esquerda precisa de um golpe de asa. Refiro-me, naturalmente, ao PS. O programa de governo é importante assim como a equipa que o defenda e protagonize. As opções a tomar na reforma do Estado são cruciais.

Mas o PS só ganhará as eleições, se for capaz de combater, de igual para igual, num ambiente de "cruzada" populista. A direita não olhará a meios para atingir os seus fins. Vide, como ilustração impressiva, o post "Ingenuidades", de JPP, hoje, no abrupto.

A chantagem exercida pela direita sobre Jorge Sampaio é o primeira passo na chantagem que vai tentar exercer sobre toda a sociedade.

A citação do dia:

A Guilloux: "Toda a infelicidade dos homens vem de não usarem uma linguagem simples. Se o herói do Mal-entendido tivesse dito: "Ora bem. Aqui estou e sou seu filho", o diálogo seria possível e não artificial como na peça. Não haveria tragédia, pois o ponto culminante de todas tragédias está na surdez dos heróis.

Sob esse ponto de vista é Sócrates quem tem razão, contra Jesus e Nietzsche. O progresso e a verdadeira grandeza residem no diálogo à altura do homem e não no evangelho, monologado e ditado do alto de uma montanha solitária. Eis onde cheguei.

O que equilibra o absurdo é a comunidade dos homens em luta contra ele. E se escolhemos servir esta comunidade, escolhemos ao mesmo tempo servir o diálogo até ao absurdo contra toda a política da mentira e do silêncio. É assim que podemos ser livres com os outros.""

Albert Camus, "Cadernos" - Caderno nº 5 - Setembro 1945/Abril de 1948 - Livros do Brasil)

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