quinta-feira, janeiro 3

FERRO RODRIGUES

Posted by PicasaFerro Rodrigues

Um dia alguém perguntou ao Generalíssimo Franco, no leito de morte, se não se preocupava com os acontecimentos do 25 de Abril de 74, que corriam em Portugal, tendo obtido uma resposta seca: não, porque os portugueses são cobardes. Claro que há excepções mas quer-me parecer, como sói dizer-se, que as excepções confirmam a regra.

Vem esta lembrança a propósito da entrevista que Ferro Rodrigues concedeu hoje à Visão, após um longo silêncio, somente entrecortado pelo ruído do chamado “processo Casa Pia” no qual, por razões que a razão desconhece, foi envolvido. Acabei de ler a entrevista. Antes li e ouvi notícias acerca dela. Salvo raras excepções as notícias passam ao lado do essencial da mensagem de Ferro Rodrigues. Estranho que o porta-voz do PS – Vitalino Canas – tenha feito uma declaração que denota não a ter lido…

Pelo sim pelo não faço uma “declaração de interesse” na justa medida em que sou amigo do Ferro Rodrigues, desde os tempos da juventude, tendo trilhado um percurso cívico e político comum do qual, salvo algumas asneiras, não me arrependo.

A entrevista, no seu conjunto, é equilibrada, comedida e sensata; ousa a auto crítica e assume a grandeza de fazer as pazes com Jorge Sampaio; não ataca o governo, ao contrário do que parece fazer crer a manchete: “Quando se pede sacrifícios, não se deve ser arrogante”. Nada de mais verdadeiro mas empolado no contexto dos temas abordados entre os quais destaco como o mais impressivo, para mim, o que está contido na frase: “Não gosto de algumas das formas como o poder político, judicial e mediático se relacionam.”

Qualquer pessoa que guarde o siso e o bom senso entenderá, sem risco de errar, que Ferro Rodrigues é merecedor da gratidão dos socialistas, pelo combate político de 2002 no qual, após a “saída” de Guterres, cujas motivações não vêm ao caso, foi capaz de manter o PS à tona e, mais do que isso, num lugar cimeiro, como alternativa política de governo.

Ferro Rodrigues em nome de valores políticos em desuso, a chamada “ética republicana”, tornou-se um obstáculo, enquanto secretário-geral do PS, à ganância de interesses ilegítimos, na esfera pessoal e de grupo, pública e privada, nacional e internacional, que o tornaram em alvo político a abater custasse o que custasse.

Só a cobardia que domina muitos sectores da sociedade portuguesa, incluindo alguma esquerda, assim como um aviltante acomodamento cívico, tem permitido que o poder político e judicial, nas respectivas esferas de competência, omita a exigência do esclarecimento cabal da verdade acerca das infames denúncias que “colaram” o nome de Ferro Rodrigues ao processo “Casa Pia”.

Um dia saber-se-á toda a verdade, mas como diz Ferro, pode ser tarde demais …
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5 comentários:

Joana Lopes disse...

Excelente texto.
Nos últimos tempos, tento várias vezes imaginar como estaríamos se Ferro Rodrigues tivesse sido / fosse 1º ministro, em vez de Sócrates. Tenho pena de que não tenha acontecido.

Anónimo disse...

cobardes não alguns sim.
optimo texto.
infelizmente a justiça não só tarde como muitas das vezes falha.

hfm disse...

Não li a entrevista por isso não me posso pronunciar; só posso dizer que, infelizmente, duvido que "um dia se saiba toda a verdade". Este assunto é mais que kafkiano.

Anónimo disse...

Ferro Rodrigues, como Cravinho, Ana Gomes ou Manuel Alegre, para citar os mais mediáticos, são "críticos" que não dispensam as sinecuras de que usufruem por pertencerem ao PS. Porquê é que eles não têm a coragem de denunciar o carreirismo e o clientelismo que grassa no partido? Provavelmente, porque, apesar de muito "corajosos", também têm "telhados de vidro". Continuamos à espera das explicações de Ferro Rodrigues sobre a famigerada "cabala" contra o PS em 2003. Ele que diga o que sabe, se sabe alguma coisa e deixe-se de "conversas redondas".

Carminda Pinho disse...

Ferro Rodrigues, a partir do momento em que foi secretário-geral do PS e tentou "limpar a casa" enfureceu muita gente entre os quais os "carneiristas" do PS.
Está por isso a pagar o preço da sua honestidade e frontalidade. Até quando, é que não sabemos.
Pode ser tarde demais, sim.