Um ponto de vista interessante: Caixa de ferramentas para votar no segundo turno
Resultado final: LULA- 48,61; GERALDO ALCKMIN - 41,64
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, outubro 2
FINAL DO 1º TURNO - ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL
NASCER
As mãos que nos amassaram o corpo
As bocas que se beijaram em segredo
As velas que se apagaram dum sopro
As sagradas primaveras morrem cedo
Lisboa, 2 de Outubro de 2006
domingo, outubro 1
RESULTADOS - PRESIDENCIAIS NO BRASIL (VAI HAVER SEGUNDA VOLTA)
As sondagens à boca das urnas não esclarecem se Lula alcançará a eleição na primeira volta (1º turno).
É quase certo que Lula não conseguirá a eleição à primeira volta (1º turno). Faltando apurar 10,43% dos votos Lula obtém 49,28%.
Deu mesmo 2ª volta (2º turno). Lula ficou-se nos 48,61% com a contagem quase concluída. Ficou, assim, tudo em aberto para uma segunda volta renhida.
QUALQUER COISA 9
Tinha acabado de ler a crónica do NBS quando me deparo com este comentário. Ontem ouvi de soslaio as afirmações de JS, íntimo de NBS, acerca de qualquer coisa 9 e apeteceu-me, para manter a compostura, editar mais uma fotografia da Marilyn.
PRESIDENCIAIS NO BRASIL
Já o Margens de Erro tinha vaticinado essa hipótese. A ver vamos.
RELAXAR
Ressonância de 1 de Outubro de 2004. Nesse dia publiquei quatro posts, um número acima da média, com a curiosidade de retratarem, quase na perfeição, o perfil do blog como eu o encarava na época que, na sua essência, ainda se mantém. Política, Sociedade, Poesia e Quotidiano. Só falta Camus …
Política. Uma breve referência ao congresso do PS que, em Outubro de 2004, encetava a era Sócrates. O vaticínio estava correcto.
“Teve início o Congresso do PS. Os discursos iniciais são marcantes. Dispenso-me de comentar os rostos cansados das primeiras filas. Sócrates tem todas as condições para ser um vencedor. A personalidade dos líderes é muito importante na luta política. A batalha da comunicação já ele ganhou. Agora falta definir a política. É aqui que bate o ponto.”
Em vésperas de novo Congresso do PS a liderança vai sair reforçada e a política do governo de maioria, com uma ou outra voz crítica, vai ser referendada. Hoje ainda há menos margem de manobra para a afirmação de qualquer tendência verdadeiramente alternativa à actual liderança do PS. É um assunto fechado, pelo menos, por mais dois anos.
Sociedade. Referência à publicação, nesse mesmo dia, de um artigo versando o tema da imigração. Intitulava-se: Imigração – "O problema Social Mais Grave da Europa". Mantém plena actualidade.
Poesia. Publicação de um poema de António Gedeão: “Aurora Boreal”. Belíssimo.
Quotidiano. A descrição de duas “corridas” de táxi em Lisboa. A coincidência dos seus protagonistas, “taxistas”, serem “entrados” - na idade - mas novíssimos no ofício e um conselho ao humaníssimo Bagão Félix: “Aconselho vivamente o Dr. Bagão Félix a tomar, de vez em quando, um táxi, a andar a pé na rua, a viajar na cidade. Assim poderia afinar com mais perfeição os seus discursos de defesa dos pobres e desprotegidos. E a perceber a cor da bonomia que esconde, envergonhada, o vermelho da indignação e da revolta.”
sábado, setembro 30
O DAMIÃO
Quando eu era pequeno em casa de meus pais – ainda na rua Coelho de Melo e redondezas – trabalhava o Damião de que me lembro muito bem de ouvir falar. Um dia o Damião emigrou para a Argentina. Foi um drama. O meu irmão ficou em estado de choque e, ao que contavam os meus pais, eu desfiz-me num mar de lágrimas. Muitos anos mais tarde ao receber um grupo de emigrantes portugueses que visitaram Portugal no âmbito do programa "Portugal no Coração", que o INATEL acolhia, aquando das apresentações, um homem ao ouvir o meu nome soltou um sonoro grito num algarvio espanholado do país das pampas: Graça! Era um farense que tinha largado a cidade, na mesma leva do Damião, quase cinquenta passados. Comovemo-nos. Ele por reconhecer em mim os meus pais e irmão. Eu por reconhecer nele a lembrança do Damião. Fiquei a saber que aquele por quem tanto tinha chorado havia morrido sem nunca mais visitar a sua terra natal. Entendi como é relativo o valor exacto do nosso olhar sobre a evolução da Cidade. Pois a cidade emigrou para a periferia e já há muitos anos que não temos notícias dela.
[A propósito das fotografias do Sr. Rodrigues e da sua casa comercial na Rua de Santo António]
sexta-feira, setembro 29
MARILYN MONROE
Ao ler um comentário acerca de um editorial de José Manuel Fernandes acerca de Noronha do Nascimento – novo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça – apeteceu-me publicar uma imagem de Marilyn Monroe.
O TEMPO ...
O tempo acaba o ano, o mês e a hora,
A força, a arte, a manha, a fortaleza;
O tempo acaba a fama e a riqueza,
O tempo o mesmo tempo de si chora.
O tempo busca e acaba o onde mora
Qualquer ingratidão, qualquer dureza;
Mas não pode acabar minha tristeza,
Enquanto não quiserdes vós, Senhora.
O tempo o claro dia torna escuro,
E o mais ledo prazer em choro triste;
O tempo a tempestade em grã bonança.
Mas de abrandar o tempo estou seguro
O peito de diamante, onde consiste
A pena e o prazer desta esperança.
Luís de Camões
[Sonetos. Retirado do livro “Com o Poema no Corpo”, de Gisela Cañamero. Muitíssimo interessante, pode ser encontrado aqui.]
quinta-feira, setembro 28
IN THE MORNING YOU ALWAYS COME BACK
[Para a Monica]
A fresta da madrugada
respira pela tua boca
ao fundo das ruas desertas.
Luz gris os teus olhos,
doces gotas da madrugada
nas colinas escuras.
O teu passo e o teu hálito
como o vento da madrugada
submergem as casas.
A cidade arrepia-se,
exalam cheiro as pedras –
és a vida, o despertar.
Estrela perdida
na luz da madrugada,
brisa que zune,
calidez, hálito –
a noite chegou ao fim.
És a luz e a manhã.
Cesare Pavese
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Lo spiraglio dell’alba
respira con la tua bocca
in fondo alle vie vuote.
Luce grigia i tuoi occhi,
dolci gocce dell’alba
sulle colline scure.
Il tuo passo e il tuo fiato
come il vento dell´alba
sommergono le case.
La città abbrividisce,
odorano le pietre –
sei la vita, il risveglio.
Stella sperduta
nella luce dell’alba,
cigolío della brezza,
tepore, respiro –
è finita la notte.
Sei la luce e il mattino.
20 marzo’ 50
Cesare Pavese
In “Trabalhar Cansa”
Tradução de Carlos Leite
Edições Cotovia
28 SETEMBRO - 1974
Imagem daqui
28 de Setembro de 1974 – “Em resposta à anunciada manifestação da Maioria Silenciosa são organizadas barricadas populares junto às saídas de Lisboa e um pouco por todo o país. No final dessa noite, os militares substituem os civis nas barricadas. Mais de uma centena de pessoas, entre figuras gratas ao regime deposto, quadros da Legião Portuguesa e participantes activos da manifestação abortada da Maioria Silenciosa, são detidas por Forças Militares.”
In Cronologia do “Centro de Documentação 25 de Abril” da Universidade de Coimbra
Actualização: ver o trabalho de investigação de José Pedro Castanheira.
quarta-feira, setembro 27
"O JUDEU"
Ressonância de 27 de Setembro de 2004 (excerto). Na sequência de uma série de posts nos quais, sob o pretexto da arrumação das estantes, enumerei os livros da minha vida. Este é um deles. Ver mais informação aqui.
“O Judeu – Narrativa dramática em três actos” – Bernardo Santareno – Edições Ática, edição de 1966; (livro que sempre me acompanhou desde a época das minhas práticas teatrais contemporâneas desta primeira edição).
“Olhai que o Santo Tribunal da Inquisição mais não é que o corpo visível, a aparência mortal dum espírito de trevas, e que este espírito … vivo por certo persistirá, neste Nação, muito tempo ainda após a morte do Santo Ofício!”
segunda-feira, setembro 25
"A cena"
Ressonância de 25 de Setembro de 2004. Transcrição parcial de um excerto de “Roland Barthes por Roland Barthes” em que se discorre acerca de um tema, pouco glosado, mas que está presente no quotidiano de (quase) toda a gente.
“Ele sempre considerou a “cena” (doméstica) como uma experiência pura de violência, a tal ponto que, onde quer que ouça uma, tem sempre medo, como uma criança tomada de pânico por causa das discussões dos pais (foge sempre dela, descaradamente). A cena tem uma repercussão assim tão grave porque põe a nu o cancro da linguagem. O que a cena diz é que a linguagem é impotente para fechar a linguagem: engendram-se as réplicas sem qualquer outra conclusão que não seja a do assassínio; e é por estar inteiramente voltada para esta última violência que a cena, todavia, nunca assume (pelo menos entre pessoas “civilizadas”) o facto de ser uma violência essencial, uma violência que tem prazer em se alimentar: terrível e ridícula, à maneira dum homeostato de ficção científica.
(…)
domingo, setembro 24
VIAGEM NO TEMPO
Sinto as ruas da infância as pedras gotas de água
Ângulos gritos silêncios de dorida e surda mágoa
A terra fremente nos pés o pó do carvão ardendo
Frio da manhã fumos soltos vento o sol nascendo
As suas mãos tão firmes tomando as minhas mãos
E as rugas do tempo na sua face ao longe sorrindo
Lisboa, 24 de Setembro de 2006
sábado, setembro 23
O PROCURADOR
A indigitação do novo Procurador-geral da República tem sido notícia. Essa decisão é sucedânea ou, pelo menos, surge imediatamente após o anúncio do chamado “Acordo para a Justiça”. Digam o que disserem está na cara que já lá estava implícito.
Basta reparar como o governo está calado, o PR afirma que foi uma escolha consensual e o PSD saltita de contentamento. Alguém escreveu que se trata do “PGR do nosso contentamento”. Sem ironia também acho!
Apesar desta proposta, tal como a anterior, ser da iniciativa de um governo socialista o director do DN escreve, hoje, a propósito dos últimos episódios, que a prática do anterior “PGR do nosso contentamento” foi degradante. A diferença está em que o anterior PR era socialista e agora não é. Em democracia a confrontação das diferenças traz quase sempre vantagens quando se tratam de escolhas partilhadas como é o caso.
O novo PGR é juiz de carreira, tem opiniões críticas, publicadas recentemente, acerca do estado da justiça em Portugal e não integra os quadros do ministério público. Ter opiniões críticas, face ao governo e aos seus pares, e ser escolhido pelo governo é um bom sinal. Esse sinal é reforçado quando são evidentes os sinais de amargura, e mesmo de crítica, na “unanimidade” dos aplausos. Notam-se sorrisos forçados e palavras rebuscadas excessivamente laudatórias.
Pinto Ribeiro tem 64 anos de idade, ou seja, estará próximo da idade da reforma se considerarmos o paradigma vulgar do tempo de serviço público. Como o mandato tem a duração de seis (6) anos quando terminar o seu mandato terá 70 anos de idade. Positivo. Neste tipo de funções, e não só, é como o vinho do porto: quanto mais velho melhor.
Fernando Pinto Ribeiro, curiosamente, passou pelos órgãos jurisdicionais do futebol. Agora só resta esperar pelo início do jogo e pelo resultado final. Nestas coisas, mostra a experiência recente, é como no futebol: prognósticos só no fim.
"Pense Pequeno"
As maiores 100 campanhas publicitárias de sempre. A maior de todas foi a que ficou conhecida pela frase “Think Small” (“Pense Pequeno”) e tornou o modelo “Carocha”, da VW, num pigmeu de vendas num sucesso estrondoso...
EPÍGRAFE PARA A ARTE DE FURTAR
Roubam-me deus,
outros o diabo
- quem cantarei?
roubam-me a pátria;
e a humanidade
outros ma roubam
- quem cantarei?
sempre há quem roube
quem eu deseje;
e de mim mesmo
todos me roubam
- quem cantarei?
roubam-me a voz
quando me calo,
ou o silêncio
mesmo se falo
- aqui del-rei!
Jorge de Sena
3/6/952
In “Cadernos de Poesia”
Campo das Letras
A UMA SEMANA DAS PRESIDENCIAIS - LULA NA FRENTE
Apesar de todas as tentativas, de última hora, para “encharcar” a campanha presidencial no Brasil com escândalos envolvendo o PT, e enfraquecer Lula, as sondagens mais recentes continuam a mostrar Lula destacado na frente. Falta uma semana.
Ver aqui.
sexta-feira, setembro 22
"A BRASILEIRA"
Havia uma bandeja de latão ou de níquel um metal qualquer e nela luziam depositados os copos escorrendo aquele suor da água gelada que se engolia de um trago sem mais. E gelados com o sabor dos gelados artesanais que não eram para comprar todos os dias mas só nos dias de festa. Como quando fiz a comunhão solene ou o crisma já não sei que me desculpe a minha boa mãe que tanto insistiu e lhe fiz a vontade e sozinho já não sei porquê fui tentado e pequei com um deles comendo-o antes do tempo devido. No sopé da avenida do liceu na brasileira de um lado sentavam-se os clientes normais e do outro os pides e os distraídos desta divisória da casa. É um lugar de todas as encruzilhadas da minha vida na cidade de Faro onde nasci. Por ali passa o caminho trilhado anos sem fim a caminho de todos os caminhos ali nasce a rua João Lúcio o grande poeta algarvio esquecido onde sobrevive cercada pelo vandalismo urbanístico a vivenda de família de minha mulher por ali deambulei a caminho do cinema ao ar livre da esplanada de s. Luís uma preciosidade de que a cidade se deixou espoliar ou a caminho do velho estádio com o mesmo nome que acolhia o farense que a cidade abandonou. O progresso secou as gotículas de água que escorriam dos copos pousados na bandeja de latão ou de níquel que me saciavam a sede nos dias de calor. A encruzilhada ainda lá está mas morreu. Parece que o espaço envolvente encolheu. Sem a afirmação de um gosto alternativo ao passado a que vulgarmente se chama modernidade o progresso é nada. É no que se transformou aquela encruzilhada.
[Post publicado em “A Defesa de Faro. A fotografia retrata o espaço físico no qual existia o café “A Brasileira” mas não é, evidentemente, nem da época das minhas deambulações nem contemporânea.]
ONDE
A quem pergunte
por ti, responde:
Procurem onde,
só, me dirijo.
O chão que pizo
o ar que bebo
não me pertencem
e não me lembro.
Noutros lugares?
Desde o princípio
que vejo, esqueço,
e nunca volto.
Aqui não busquem
consentimento
para um encontro.
Porque indiferente,
remoto, auzente,
me encontrarão
apenas onde
de vós se esconde
meu coração.
Raul de Carvalho
In “Cadernos de Poesia” – Setembro de 1951
“Campo das Letras”