domingo, novembro 30

AS FLORES MORTAS DA SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL

Henri Cartier-Bresson - SOVIET UNION. Moscow. 1954.

O Projecto de Teses do XVIII Congresso do PCP é uma peça memorável de arqueologia ideológica. É um arquivo morto e, como tal, não susceptível de discussão mas tão-somente de registo. No plano internacional o ponto 1.3.14. tem sido sobejamente citado. Cada Partido é livre manifestar as suas simpatias e, no “quadro internacional”, o PCP explicita, de forma clara, o que entende como “países que definem como orientação e objectivo a construção duma sociedade socialista – Cuba, China, Vietname, Laos e R.D.P. da Coreia. (…)”

Mas o ponto 1.3.8., menos citado, “fia mais fino”. Não só pela afirmação do PCP, no contexto da “luta contra o imperialismo”, apoiando lutas nas quais tomam parte activa movimentos terroristas, sob a capa da “estabilidade nas respectivas regiões”, sem qualquer demarcação face aos “objectivos e formas de luta” desses movimentos, como pelo parágrafo final no qual rejeita, pura e simplesmente, a integração europeia.

"1.3.8. A luta contra o imperialismo conheceu um desenvolvimento particularmente importante nos últimos anos. A resistência à política de ingerência, agressão e guerra, em particular dos EUA, foi um traço marcante da luta dos povos em defesa da sua soberania e do direito inalienável a decidir dos seus destinos. No Iraque, no Afeganistão, na Palestina, no Líbano, em Cuba e na Venezuela, assim como na Síria, no Irão, na R.D.P. da Coreia, nos Balcãs, na Colômbia ou em Chipre, prosseguem batalhas decisivas para o futuro desses povos e para a estabilidade nas respectivas regiões que merecem a activa solidariedade dos comunistas portugueses. Nelas intervêm forças muito distintas na sua origem, objectivos e formas de luta, mas dispondo de real apoio de massas e convergindo na rejeição de arrogantes e humilhantes imposições externas e na defesa da cultura e soberania nacionais. A luta contra a integração capitalista europeia é parte integrante deste vasto movimento."

sábado, novembro 29

O TEMPO NÃO VOLTA PARA TRÁS

Henri Cartier-Bresson - SOVIET UNION. Russia. Leningrad. 1973.

Por todo o mundo sopra um vento gelado na economia e nas finanças com dramáticas incidências na via quotidiana de milhões de cidadãos. Portugal não escapa à crise sem fim anunciado. Fecham fábricas ou reduzem-se os dias de trabalho, a produção contrai-se por quebra da procura, a deflação e o desemprego ameaçam tornar-se um flagelo. Para falar somente de Portugal é extraordinário que as classes com rendimentos mais baixos, seja qual for a sua origem, se mantenham na expectativa, aguentem o embate da crise, alheias aos apelos dos sindicatos. Nas fábricas buscam-se acordos para aguentar a tormenta. Quem se manifesta são funcionários públicos aos quais o estado paga religiosamente, pouco ou muito, por volta do dia 23 de cada mês. Não sei se dá para perceber que quem paga os ordenados aos manifestantes são aqueles que mais sofrem com a crise. Os grandes sacrificados pela crise que não esperem, do Congresso do PCP, palavras inspiradoras que venham ao encontro da concretização dos seus desejos e paixões.

quinta-feira, novembro 27

É PRECISO QUE ALGO ACONTEÇA ...

Gary Auerbach

A propósito do que Marina Costa Lobo escreveu em A Democracia é uma jangada apeteceu-me ir buscar uma frase que pode ter muitas leituras. E fui tentado a fazer o exercício de a aplicar ao “caso” Dias Loureiro. A solução para o “caso” Dias Loureiro parece simples. Mas, ao mesmo tempo, parece que não é! Quanto mais tempo o "caso" Dias Loureiro passar sem solução mais vai ter que arregaçar as calças o “supremo magistrado da nação”. E a jangada da democracia balouça! Balouça! Balouça!

É preciso que algo aconteça, eis a explicação da maior parte dos compromissos humanos. É preciso que algo aconteça, mesmo a servidão sem amor, mesmo a guerra ou a morte. Vivam, pois, os enterros!
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quarta-feira, novembro 26

BUSQUEMOS O EQUILÍBRIO PARA NÃO PERDERMOS A RAZÃO

Um líder marxista* disse, um dia, qualquer coisa como: “devemos evitar os sacrifícios inúteis”. Esse lema pode aplicar-se, nos nossos dias, na perfeição, à salvação do próprio marxismo. Não enquanto filosofia, repleta de ensinamentos válidos, mas enquanto doutrina politica. O marxismo, e os seus subprodutos, estão mortos pelo menos para aqueles que prezam, acima de qualquer outro valor, a liberdade. O que poderá suscitar espanto, para os que se interessam, e aderem às causas dos partidos que se reclamam do marxismo como o PCP. Quando utilizei a fórmula da “esperança morta” aplicada aos crentes assumidos, ou não, nos “amanhãs que cantam” não estava, ao contrário do que afirma o meu amigo Joaquim, a subestimar a crítica, qualquer que ela seja, seja qual for o seu destinatário. O problema é que os partidos que corporizam, no terreno da política, à esquerda da esquerda, a critica à política do PS, e ao seu governo, não a admitem no seu próprio seio. Não são, consabidamente, praticantes dos princípios que advogam para os outros. O PCP e o BE, cada um com a sua história, e seus métodos próprios, rejeitam a verdadeira discordância, eliminando os seus críticos como se elimina uma nódoa mesmo que seja à custa da integridade do pano. A concepção totalitária que explora a “fraqueza” da democracia politica, em favor da tirania, como a história ensina, não é monopólio da direita. Os exemplos domésticos, à esquerda, não faltam. Em época de crise todos os cuidados são poucos na apreciação dos méritos da política do “quero, posso e mando”, quer dos críticos radicais dessa política. O que eu digo é: busquemos o equilíbrio para não perdermos a razão.

* Talvez Antonio Gramsci, fundador do partido Comunista Italiano, que a Igreja Católica, por este dias, revelou ter-se convertido no leito de morte. Porque não?
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terça-feira, novembro 25

DINHEIRO SUJO


Revolvem-se-me as tripas com o desprezo votado ao carácter, verticalidade e hombridade dos homens públicos. Nada que seja fenómeno novo mas tomou o lugar cativo em tudo o que cheira a dinheiro e comunicação que atribui notoriedade. Não sei se verei o dia em que se inverta este estado de coisas ou, ao menos, se atenue o desdém face à parte fraca da sociedade. Não sei se algum dia, na história do homem em sociedade, se atingiu um tão alto grau de desprezo pelos valores da solidariedade individual. Todas as ideias solidárias morrem por não ser possível sequer tentar levantar um dedo sem que por detrás dele se não vislumbre a sombra do interesse material. Ardemos às mãos do império do dinheiro sujo e das leis que permitem esconder e disfarçar os mandantes dos crimes mais hediondos contra a humanidade. E não se sabe da missa a metade.

[2/5/2008]
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segunda-feira, novembro 24

UMA ESPERANÇA MORTA

O problema dos nossos intelectuais críticos da governação, qualquer que seja, é não serem capazes de entender que a governação não se situa no terreno do ideal absoluto mas na capacidade de atender ao relativo possível. O problema dos nossos intelectuais de esquerda críticos da governação de (centro) esquerda, é não entenderem que a esquerda, à esquerda, fundada nos puros valores, herdados da revolução francesa, já se finou. [Ver um caso em chaga viva!] O problema da esquerda, face a face com o poder, é recorrente: compromisso ou radicalidade? A insistência na radicalidade, herdeira dos vários esquerdismos, é a via mais segura para entregar, numa bandeja de prata, o poder à direita. A esquerda da esquerda não acredita na democracia politica como um regime político virtuoso mas tão-somente como um regime transitório, a derrubar por dentro, em favor de uma democracia popular, de um poder popular, ou seja, o regresso a uma discussão estafada que desemboca numa esperança morta. Para pior já basta assim …
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domingo, novembro 23

A CRISE

Bartek Pogoda

A crise do capitalismo financeiro agudiza-se. A chamada economia de casino parece nas últimas e tudo isto na véspera das eleições presidenciais americanas. Qual a solução? Uma guerra? Uma entrada do Estado na economia? Um reforço drástico do seu papel regulador? Mas como alimentar de recursos financeiros uma economia que deixou de se alimentar, na sua maior fatia, dos chamados bens transaccionáveis?

16/9/2008
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sábado, novembro 22

CACOS


Ontem o PS gaulês afundou-se ainda mais no caos. Que, ao menos, sirva de lição para os socialistas portugueses. Ao conferir as notícias nacionais a minha atenção foi atraída para a data do encontro de Dias Loureiro com o administrador do Banco de Portugal?! Abril de 2002! Mas se a reunião, conforme outra notícia, se realizou em Abril de 2005 não deixa de ser, igualmente, interessante.
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sexta-feira, novembro 21

OBAMA - TODAS AS ESPERANÇAS E RISCOS


Paolo Pellegrin - Obama's election night rally in Grant park, Chicago. USA

Paira por toda a Europa um ambiente de crise – na economia e nos valores – que pronuncia um futuro pouco radioso para a democracia, para a paz e a liberdade. Os sinais são muito fortes e não se circunscrevem às questões do regime democrático e da crise dos partidos que são a sua razão de ser. Voltaram as perseguições a minorias étnicas – como a cigana – eclodem fenómenos de racismo que já ultrapassam o pitoresco da anedota para se erguerem ao nível do discurso político oficial. Os próximos tempos são decisivos para saber até que ponto esta é uma situação reversível ou se vai crescer em espiral com o avanço da direita e extrema-direita. Uma boa notícia poderá ser a vitória de Obama nas presidenciais americanas. Tornaria, além do mais, embaraçosa a situação de muitos líderes políticos europeus nas recepções ao Presidente americano. O líder da maior potência mundial, pela primeira vez na história, seria um negro e aquela parte da Europa xenófoba e racista, que alcançou o poder, ter-lhe-ia que prestar honras de estado. Suprema ironia! A ver se não o assassinam antes que essa lição possa ser ministrada!

18/5/2008

Ségolène Royal

SEGUNDA VOLTA NAS ELEIÇÕES PARA A ESCOLHA DA 1ª SECRETÁRIA DO PS EM FRANÇA. Ségolène Royal venceu, hoje, na primeira volta e é favorita. Em qualquer caso é certo que os socialistas franceses terão, nos próximos tempos, uma mulher como primeira figura.
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quinta-feira, novembro 20

DEMOCRACIA OU DITADURA

Há quem se afadigue no campo socialista a fazer o combate pedagógico pela destrinça entre o programa, e as políticas, dos socialistas e o programa, e as politicas, dos partidos ditos à sua esquerda. É uma perda de tempo. Essa destrinça já está feita há muito tempo pela história e qualquer cidadão de bom senso a entende. Mas se querem uma achega acho que a raiz da destrinça foi exposta, de forma brutal, pela Dra. Manuela Ferreira Leite: DEMOCRACIA OU DITADURA?
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terça-feira, novembro 18

PÉROLAS DA DRA. MANUELA

Defendendo a ideia de que não se deve tentar fazer reformas contra as classes profissionais, Manuela Ferreira Leite declarou: "Eu não acredito em reformas, quando se está em democracia...".

Toda a gente vai glosar (gozar) esta tirada de Manuela Ferreira Leite, que tem a seu favor a interpretação de tentar fazer ironia com uma certa falta de jeito. Mas o problemas dos líderes políticos é serem líderes políticos e, nessa condição, as suas declarações assumirem um alcance que ultrapassa a mera conversa de circunstância à mesa do café.

Olhem no que acabei de receber da Guida depois de ouvir a senhora:

Santa Madonna per Carita…A Manuela F Leite é mesmo a Gertrudes, filha de Marcelo Caetano. ah ah ah Agora pede seis meses sem democracia para se fazerem reformas. Ahahahah Volta Ex líder do PSD (não me lembro o nome) tu estás perdoado. Aí Aí Aí …. Hihihihi Não dá para acreditar, mas é verdade. Mas o que é que se passará com o PSD? Andam a consumir as drogas comercializadas pela clak do Benfica ahahhha. Eu não acredito mas eu ouvi. [Há aqui um pequeno engano: A dona Gertrudes Thomaz começou por ser a esposa do ministro da Marinha, mais tarde, Presidente da República Américo Thomaz, o que para o caso tanto dá!]

Hoje a Dra. Manuela já não se poderá queixar de ser 14ª notícia no telejornal, ah, ah, ah …
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Sem margem para dúvidas ... Pois, também me parece ...
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segunda-feira, novembro 17

JOÃO MARTINS PEREIRA

Em memória de João Martins Pereira,

Através do Almanaque Republicano e de Rui Bebiano, aqui e aqui. E aqui também. Reproduzo um comentário acerca da sua condição de fundador do MES: O assunto não tem importância alguma nem tenho aspirações a ser historiador do MES. Ao longo dos últimos tempos tinha-me interrogado acerca do João Martins Pereira, que seria feito dele, pois a sua marca na esquerda, não alinhada com qualquer ortodoxia, foi forte e não o esqueci. Mas tenho quase a certeza que ele não foi fundador do MES. Pertencia aquele magna dos não alinhados da esquerda que, em parte, se encontraram no MES por mais ou menos tempo. Mas não há registo, que eu conheça, onde conste o seu nome, nem me lembro da sua participação nas anárquicas actividades fundadoras do MES. Mas se for verdade o que afirmo tenho pena!
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domingo, novembro 16

ELEITORALISMO (II)


A recente posição de Manuel Alegre vem reforçar, salvo qualquer desenvolvimento inesperado, o contrário do que o próprio Alegre afirma, pelo menos, num ponto: “o partido [PS] neste momento é uma máquina eleitoral…”. Se o PS, como máquina eleitoral, arrisca a dissidência de Alegre das duas uma: ou não é máquina eleitoral ou Alegre se tornou prejudicial a que funcione com eficiência. É a questão do eleitoralismo! O segredo deste mistério será desvendado com o resultado das próximas eleições e até, quem sabe, com a composição das próprias listas do PS. É que, Alegre sabe-o melhor do que ninguém, a esquerda move-se … e as ideias também!
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sábado, novembro 15

CIMEIRAS

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NOTÍCIAS NA OBSCURIDADE

Nunca ninguém liga coisa nenhuma aos nossos homens e mulheres de teatro. Nascem, fazem carreira, morrem, ponto final. Um dia destes fiquei a saber, pelo Joaquim Nogueira, que o Carlos Porto tinha morrido. Ontem soube que morreu o Pedro Pinheiro. O que são estes acontecimentos para lutar ombro a ombro com as notícias de escândalos e violências!

ISLÂNDIA

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ACIMA DA LINHA DE ÁGUA

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sexta-feira, novembro 14

ELEITORALISMO

Katie Baum

Um aspecto muito interessante, e silenciado, da situação politica lusa é não se falar em eleitoralismo do governo nem do partido que o suporta. Ao longo do tempo desta legislatura sempre assomou à boca dos críticos do governo – afinal, de uma forma ou outra, todos somos críticos dos governos – que lá para as proximidades do final da legislatura o governo se entregaria ao habitual desprezo pelos compromissos assumidos e se lançaria nos braços das promessas fáceis. É a consagrada época de abertura da caça ao voto. Mas, afinal, nada! Numa área tão crucial como a educação, transversal a toda a sociedade, o governo, pela boca de todos os seus responsáveis, incluindo o primeiro-ministro declara, apesar dos riscos de impopularidade, manter as politicas traçadas desde o início. Aconteça o que acontecer, nos próximos meses, já estamos a assistir a algo de novo na política em Portugal.
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quarta-feira, novembro 12

BRAVO CARLA

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MES - Os dirigentes eleitos no II Congresso (II)


No contexto político em que foi realizado o II Congresso do MES, na ressaca do 25 de Novembro de 1975, não admira que a designação adoptada para a estrutura dirigente eleita fosse a de Comité Central, decalcada dos partidos comunistas, o que nunca antes havia acontecido. A sua composição, por outro lado, aproximou-se da representação nacional, reivindicação antiga das “bases” e, curiosamente, como sempre aconteceu, não contou com a participação de uma única mulher.

Atenho-me, nesta abordagem, à composição dos órgãos dirigentes do MES permitindo, no período que decorreu entre o II e III Congresso, observar um processo de depuração cujas razões políticas não abordo neste momento.

Eis a composição do Comité Central, e da Comissão Política, órgãos saídos do II Congresso, com as datas das respectivas eleições e a evolução da composição da Comissão Politica e do Secretariado, que resultaram das lutas internas que ocorreram desde o II até às vésperas do III Congresso.
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COMITÉ CENTRAL

João Mário Anjos *, Marcolino Abrantes *, Afonso de Barros *, Manuel Luís Brito (Coordenadora Regional de Viana), António Caetano (SORBA - Secretariado da Organização Regional do Baixo Alentejo), Celso Cruzeiro *, Francisco Cordovil - suplente - (SORL - Secretariado da Organização Regional de Lisboa), Valter Diogo (Núcleo de Castelo Branco), Francisco Farrica *, Eduardo Graça *, Rogério de Jesus *, Alberto Martins (SORP - Secretariado da Organização Regional do Porto), António Mil-Homens (Coordenadora Militar), António Moreira (SORBA), Augusto Mateus *, Carlos Mendonça (SORBL - Secretariado da Organização Regional da Beira Litoral), Edilberto Moço *, Fernando Ribeiro Mendes *, Luís Martins *, António Pires (SORBA), Eduardo Pontes (Núcleo do Açores), Manuel Pires (SORL), Nuno Teotónio Pereira *, Agostinho Roseta - suplente (Célula do Sindicato dos Têxteis - ORL), Agostinho Rafael (SORP), Cândido Rana (ORL - Célula Petroquímica), Eduardo Ferro Rodrigues *, Jacinto Rodrigues (SORP), José Manuel Raimundo - suplente (Núcleo de Faro), António Cortes Simões - suplente (SORBA), António Moreira dos Santos (Núcleo de São João da Madeira), Fernando de Sousa (SORBL), Vítor Silva *, Carlos Vargas (Núcleo de Faro), Vítor Wengorovius *.

(A lógica da ordenação dos nomes é indecifrável mas é a que consta do documento que tenho na minha posse. Assinalam-se as estruturas de origem de cada um dos eleitos, sendo assinalados com * aqueles que provinham da CPN -Comissão Política Nacional, eleita no I Congresso).

COMISSÃO POLÍTICA DO COMITÉ CENTRAL *

Marcolino Abrantes, Afonso de Barros, Francisco Farrica, Eduardo Graça, Rogério de Jesus, Alberto Martins, Augusto Mateus, Fernando Ribeiro Mendes, Manuel Pires, Nuno Teotónio Pereira, Eduardo Ferro Rodrigues. (* Eleita em 21 de Fevereiro de 1976 na 1ª Reunião Ordinária do C.C.)

Em 3 e 4 de Julho de 1976, na 5ª Reunião ordinária do CC, foi eleita uma nova Comissão Politica e, pela primeira vez, o Secretariado do C.C, com a seguinte composição:

COMISSÃO POLÍTICA:

Afonso de Barros, Francisco Cordovil, Eduardo Graça, Rogério de Jesus, Alberto Martins, António Mil-Homens, Augusto Mateus, Carlos Mendonça, Fernando Ribeiro Mendes, Nuno Teotónio Pereira, Vítor Silva. (Sublinho os nomes que permaneceram da anterior CP sendo que, em Janeiro de 77, José Manuel Raimundo substituiu Rogério de Jesus.)

SECRETARIADO:

Afonso de Barros, Eduardo Graça, António Mil-Homens, Augusto Mateus e Nuno Teotónio Pereira. (Francisco Farrica substituiu Afonso de Barros, em Novembro de 76 e Fernando Ribeiro Mendes substituiu António Mil-Homens, em Janeiro de 77).

Em 7 e 8 de Abril (ou Maio) de 1977, na 6ª Reunião Extraordinária (15ª Ordinária) do C. C., foi eleita uma nova Comissão Política e um novo Secretariado:

COMISSÃO POLÍTICA:

Manuel Luís Brito, António Caetano, Francisco Cordovil, Francisco Farrica, António Mil-Homens, Augusto Mateus, Eduardo Pontes, Nuno Teotónio Pereira, António Cortes Simões, Fernando de Sousa, Vítor Wengorovius. (Sublinho os únicos dois nomes que, entre 21 de Fevereiro de 1976 a 8 de Abril (ou Maio) de 1977, integraram todas as sucessivas Comissões Políticas.)

SECRETARIADO:

Francisco Cordovil, António Mil-Homens, Augusto Mateus, Eduardo Pontes e Nuno Teotónio Pereira.

É assinalável o facto de, entre Fevereiro de 1976 e o verão de 1977, se terem afastado da Comissão Política, entre outros: Afonso de Barros, Eduardo Ferro Rodrigues, Eduardo Graça, Alberto Martins e Fernando Ribeiro Mendes.

Um dia, se não me faltar tempo, e vontade, voltarei à abordagem das vicissitudes políticas deste período conturbado da vida do MES.
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terça-feira, novembro 11

JUSTIÇA(S)

Scarlett Johansson

Um dia destes passei uma manhã no tribunal para testemunhar a propósito de um crime daqueles de pequena criminalidade. Nunca tinha visto, ao vivo, chegarem à sala de audiência presos algemados. Guardas prisionais, aparentemente cordatos, fardados a rigor. Silêncio, ordem e respeito nas relações entre os diversos intervenientes. Um mundo aparte com as suas regras e compromissos. Juízes, advogados, oficiais de justiça, arguidos e testemunhas cruzando-se nos intervalos das audiências. Mau grado todas as críticas, dúvidas, ressentimentos e atrasos, quiçá injustiças relativas, é sempre preferível a justiça do tribunal à “justiça mediática”, às ordens da “voz da rua”.
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sábado, novembro 8

A LUZ E A SOMBRA


Mais uma sondagem que aponta no mesmo sentido. As sondagens valem o que valem mas o PS continua a aguentar-se. Manuela Ferreira Leite já quase não tem margem para cair mais. À esquerda tudo, mais ou menos, na mesma. Quer-me parecer que não são manifestações de professores que inverterão esta tendência.
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A cadeira do dentista

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sexta-feira, novembro 7

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NÃO SE PODE NACIONALIZAR O BENFICA?

Gosto muito de ver jogar o Benfica mesmo quando joga mal e joga mal tantas vezes que até impressiona. São paixões que se constroem fora da nossa vontade e nos acompanham a vida toda. Mas não quero saber de ver jogar o Benfica na TV se me quiserem obrigar a pagar uma portagem extra ou me quiserem obrigar a mudar de operador do cabo. Prefiro nesse caso ver jogar o Braga como ontem vi dar um “banho de bola” ao Milão e depois perder. Mas parece que o Benfica que não vi jogar também perdeu e não sei mais nada dele. Agora esse senhor que aparece na comunicação social, que se chama Vieira, não me diz nada, nem quero saber para que lhe serve o Benfica. O que sei, ao certo, é que não me deixa ver jogar o Benfica na TV. Eu pergunto ao Sócrates que suponho ser benfiquista: não se pode nacionalizar o Benfica?
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ALBERT CAMUS


Pelo 95º aniversário do nascimento de Albert Camus anuncio que por estes dias ficará pronto um novo livro (“quase livro”) que baptizei com o título do seu último poema: Há um momento em que a juventude se perde. É o momento em que os seres se perdem. E é preciso saber aceitar. Mas esse momento é duro. Uma micro edição inspirada em Camus para as vésperas do Natal.
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quarta-feira, novembro 5

O PS PARA CIMA

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OBAMA VAI VENCER

Após a vitória de Obama em diversos estados chave estando outros ainda a ser disputados taco a taco julgo que falta pouco para a celebração. Aleluia!
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A direita política, seja qual for a sua capacidade de transfiguração, foi derrotada nas eleições presidenciais americanas de 4 de Novembro de 2008. O mais importante desta eleição é ir além da nação americana. Pelo perfil do candidato vencedor, pela natureza do seu discurso político, pela esperança de futuro que a sua vitória derrama nos nossos corações, é a politica que se eleva acima de uma nação para se catapultar no mundo global. Com todas as virtudes e defeitos desta nova realidade, cujos contornos e repercussões não sou capaz de abarcar, sinto que Obama é, para o bem e para o mal, também o meu Presidente. A síntese e a antítese. A singularidade e a pluralidade. A liberdade e a igualdade. Que viva!
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OBAMA

Ainda é muito cedo mas Obama vai na frente na Flórida e na Carolina do Norte o que é um sinal, a manter-se a tendência, que vai ganhar.
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terça-feira, novembro 4

NA ESPERA

Devo confessar que estou mais ou menos congelado à espera dos resultados das eleições presidenciais americanas. Podemos estar na antecâmara de uma mudança histórica nos destinos da América. Bem entendido salvaguardando as posições daqueles que acham que na América é sempre tudo igual. Enquanto passa o tempo, e os americanos votam em massa, o Sporting ganhou. Ora aí está um facto que parece confirmar uma mudança de ciclo no futebol português. Pode ter chegado ao fim o longo período de glória do FC Porto …
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segunda-feira, novembro 3

OBAMA

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À ESPERA QUE O TEMPO PASSE!


É difícil falar de política nacional na conjuntura actual, não por medo ou temperança intelectual, mas pela simples razão de ser praticamente ininteligível o discurso do principal partido da oposição. Sabendo o que representam os partidos da esquerda anti-poder a discussão politica só faria sentido tomando como alvo de análise, e critica, as propostas do PS e do PSD. Ora sendo conhecida a política do PS, identificáveis os seus efeitos, audíveis os descontentamentos e mensuráveis os apoios – pelo menos atendendo às sondagens – a outra face do jogo é preenchida por uma criatura estimável que, tendo acedido à liderança do PSD, apresenta propostas, e faz declarações, que ultrapassam o normal entendimento dos vulgares seres pensantes numa época que, todos o dizem, é a do regresso em força da política. Ora a minha percepção, decerto falível, é a de que o discurso político de Manuela Ferreira Leite é um apelo, embora ainda pouco estruturado, de regresso à autarcia. Um discurso eivado de ressonâncias salazaristas baseado no velho lema: “pobres mas honrados”. Custa a crer mas o tempo passa e parece que a estimável senhora não enxerga outra política senão a da “saída para trás” em oposição à da “saída para a frente”. Eu sei que ela espera que a crise financeira, à qual se estima se seguirá uma profunda crise económica e social, torne as suas arrecuas em valiosas e prudentes peças de um puzzle que credibilize uma nova ordem que nem ela, nem ninguém, sabe qual seja. Mas quer-me parecer que, ao contrário do que pensa, será ela a primeira a morrer às mãos dos seus, de que Sócrates a morrer às mãos da crise. Pois salvo qualquer volte face, que sempre pode ocorrer, é a natureza da crise e a passagem do tempo que, ao contrário de desgastarem o governo, desgastam a oposição. E só faltam 11 meses para as eleições legislativas!
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sexta-feira, outubro 31

OBAMA

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O BATER DAS ASAS ...

JO WHALEY

O descontentamento dos militares parece fundar-se em razões de perda de regalias, ou seja, a velha questão do pré, o “vil metal”. É legitimo reivindicar direitos, ou reivindicar a liberdade de os reivindicar, pois a liberdade é uma das conquistas do “25 de Abril”, curiosamente, resultante de um golpe militar. Mas não se entende o alcance dos alertas, explícitos ou subentendidos, dos perigos de um golpe de estado militar num Estado Democrático ainda por cima membro, de pleno direito, da União Europeia. Se se pudessem arranjar, para alguns generais, umas missões na Islândia
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quinta-feira, outubro 30

MES - O II Congresso de Fevereiro de 1976 (I)

Autocolante alusivo ao II Congresso

O II Congresso do MES realizou-se na FIL, à Junqueira, em Lisboa, nos dias 13, 14 e 15 de Fevereiro de 1976, no rescaldo dos acontecimentos do 25 de Novembro de 1975. No longo Relatório que a Comissão Política apresentou a esse Congresso, tecem-se algumas considerações elucidativas acerca da génese do “grupo dirigente do MES”.

Cito algumas: “Assim o grupo dirigente do MES nasceu desligado das questões centrais do Movimento operário e muito ligado a processos concretos de luta. Os militantes que a partir do 25 de Abril integrarão as fileiras do nosso movimento e que assumem a sua direcção real não são na sua esmagadora maioria dissidentes de outras organizações, (…)

Tal facto permite compreender que mesmo aquando da eclosão do 25 de Abril o Movimento surja à luz do dia com uma sintética declaração de princípios subscrita por um conjunto eclético de militantes: 3 sindicalistas, 6 operários de vanguarda, 3 estudantes e 5 intelectuais participantes activos nas lutas democráticas de 1969 e 1973. A natureza frentista do Movimento está espelhada nestes factos e vai determinar toda a linha do Movimento até ao I Congresso de 1974.”

E sob o título “O que é MES inicialmente?” clarifica-se, em dois parágrafos, a natureza das estruturas dirigentes do Movimento até ao I Congresso:

“Durante um largo período (período de formação) que é brutalmente acelerado pelo 25 de Abril, somos uma frente de base, anti-capitalista que reúne militantes de sectores diversos com uma coordenação ténue entre si. Quer dizer, inicialmente não tínhamos entre nós uma unidade de tipo partidário.

A coordenação adoptada depois do 25 de Abril era, antes de mais, resposta a uma necessidade de referência comum essencialmente ideológica, ditada pelo surgimento na legalidade das diversas forças políticas que se tinham formado na luta contra o fascismo e o capitalismo.”

Sem prejuízo de uma mais aprofundada investigação acerca das sucessivas estruturas dirigentes que antecederam o I Congresso é, de facto, verdade que “a estrutura da direcção nacional que vigora até ao I Congresso não tem uma composição fixa e é até maioritariamente composta por representação corporativa de sectores e estruturas da organização.” “É mais uma coordenação do que uma autêntica direcção partidária.”
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O II Congresso do MES representou, por força da mudança política provocada pelo 25 de Novembro, uma “fuga para a frente”, nos planos doutrinário e organizacional, de forma sintética, caracterizada na “Saudação Inicial ao II Congresso do MES”, lida por Nuno Teotónio Pereira, de que transcrevo três curtos excertos:

“Na realidade, este ano de combate, marcou-nos profundamente, deixou inclusivamente muitos pelo caminho. O Movimento de Esquerda Socialista sofreu ele próprio uma dura experiência que tem ajudado poderosamente a uma profunda transformação. De frente política, de natureza marcadamente ideológica, queremos que se transforme numa força organizada de classe que possa cumprir o seu papel de vanguarda no seio do movimento operário.”

“Muitos dos nossos inimigos e mesmo dos nossos falsos amigos têm feito correr que o MES vai desaparecer. Muitas forças políticas estão realmente interessadas nisso. Este II Congresso já é e vai sê-lo ainda mais um claro desmentido a essas calúnias.”

Este foi um Congresso que, no plano doutrinário, apelou, explicitamente, aos princípios do “socialismo a caminho da sociedade sem classes” e, no plano da organização, à contribuição do MES para a “construção do Partido revolucionário da classe operária”.

Todos fomos solidários na assumpção de princípios que não eram coerentes nem com a natureza social do Movimento, nem com a formação ideológica da maioria dos seus dirigentes e apoiantes.
Toda a encenação criada para este II Congresso pretendia mostrar que estávamos politicamente vivos mas escondia as dores íntimas da ruína de um projecto político que a maioria de nós ainda não estava preparada para assumir.
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terça-feira, outubro 28

MÃE

No dia do 7º aniversário da morte de minha mãe. Este não é um espaço de memórias mas acolhe-as, como espaço pessoal, sempre que as desejo partilhar com alguém.

Reconheço o amor nos olhos que me olham com desmedida atenção enquanto durmo. Os olhos de minha mãe adoravam ter esperança no futuro no qual jogava a sua crença de ir mais longe. A primeira mulher da minha vida. A mais ousada na sua imprevisível arte de romper barreiras e chegar mais além. A fonte da força que me mantém de pé contra todas as adversidades. Uma mulher de um só homem que não era homem de uma só mulher. A fidelidade nascida da tradição que não da fraqueza ou da futilidade. A irreverência herdada da rudeza do campo, das agruras da natureza à força de puxar a besta e de encaminhar a água à raiz certa não fosse perder-se uma gota. A escola da escassez sonhando a fartura que havia de vir fruto do trabalho honrado. Não perder tempo chorando o tempo perdido. Fazer do tempo um passeio para espairecer e voltar ao arado da vida com sonhos lá dentro. A mulher que se fez a si própria descobrindo os outros e o que se pode e se não pode fazer com eles. Aceitar mudar e escolher o caminho da mudança. Tactear o caminho levando ao colo os seus amores. A primeira mulher que acreditou no caminho hesitante que me havia de fazer homem. Sem saber para onde ia ao certo. Nem ninguém sabia, ninguém nunca sabe, mas não duvidou que havia de chegar a um lugar onde brilharia o sol e sou capaz de a lembrar como a minha primeira mulher. Aquela que mais me amou, sempre me amou além do que a vida pode conter de riqueza material. Um dia ao fim de uma longa caminhada sem sequer saber dos meus males escolheu morrer nos meus braços. A mais sublime homenagem que alguém pode prestar a alguém. De súbito suavemente, na alegria da celebração da juventude, deixou para sempre a esfusiante tradição de me abraçar como se fosse a criança que para ela nunca deixara de ser. [21/1/2008]
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segunda-feira, outubro 27

ANIVERSÁRIO

Para o meu filho Manuel Maria no dia do seu 18º aniversário

Há um momento em que a juventude se perde. É o
momento em que os seres se perdem. E é preciso saber aceitar. Mas esse momento é duro.

Para ti um dia nascerá a luz e sem mim irás correr
atrás da tua memória e nunca me encontrarás nela
com os traços iguais aos do dia de hoje tão nítidos
presentes

Ausente deixarei de te olhar. O teu corpo ficará
sempre igual ao meu corpo que se transformará
num eco longínquo ressoando em ti comigo lá
dentro

Gostava de te ver sempre mas não posso. Um dia
todos os corpos se retiram e as viagens parecem
mais pequenas na cidade percorrida em círculos
concêntricos

Sei que nos encontrarmos agora é natural para ti.
Que me olhas e me interrogas silenciando o teu
medo de enfrentar o desconhecido numa espera
ausente

Para ti um dia nascerá a dúvida se afinal amaste
o suficiente. Se iluminaste a vida com a tua luz
própria ou se a roubaste aos outros sem sombra
de perdão

É esse o momento em que a juventude se perde
e com ela se esvai a inocência. É preciso saber
aceitar. Esse momento é duro e estarás só, sem
ninguém.
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domingo, outubro 26

"O TEXTO POLÍTICO"


O post intitulado “O Texto Político” é, certamente, o mais procurado deste blogue. Publiquei-o em 28 de Agosto de 2004 e repeti-o em 28 de Agosto de 2006. Se lerem os postes originais compreenderão a origem do meu interesse. Volto a publicá-lo hoje por duas razões: em primeiro lugar porque tem erros, aliás, facilmente identificáveis, que aproveito para corrigir e, em segundo lugar, porque estava a escrever um texto acerca do discurso político de Manuela Ferreira Leite, como podia ser acerca do discurso político de qualquer outro líder, e desisti ao lembrar-me deste excerto de Roland Barthes e, em particular, desta frase: ” (uma interpretação, se for suficientemente sistemática nunca será desmentida, até ao infinito.) ”

O político é, subjectivamente, uma fonte permanente de aborrecimento e/ou de prazer; é, além disso e de facto (isto é, a despeito das arrogâncias do sujeito político), um espaço obstinadamente polissémico, a sede privilegiada duma interpretação perpétua (uma interpretação, se for suficientemente sistemática, nunca será desmentida, até ao infinito). Poderíamos concluir a partir destas duas constatações que o Político é textual puro: uma forma exorbitante, exasperada, do Texto, uma forma inaudita que, pelos seus extravasamentos e pelas suas máscaras, talvez ultrapasse a nossa compreensão actual do Texto. E, tendo Sade produzido o mais puro dos textos, julgo compreender que o Político me agrada como texto sadiano e me desagrada como texto sádico.
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"Fragmentos de Leitura de "Roland Barthes por Roland Barthes" - Edições 70
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