A realidade das eleições autárquicas de 2009 – contados os votos e comparados com os resultados de 2005 – é mais forte do que todas as previsões e desejos. O resultado final aponta para uma situação surpreendente: o PS ganhou as eleições autárquicas em votos e em número de mandatos; o PSD ganhou em número de presidências de Câmaras apesar do PS ter ganho mais cerca de três dezenas de presidências de Câmaras face às eleições de 2005. Mas, no final de noite, tais factos foram, no plano político, ultrapassados pela vitória do PS, por maioria absoluta, na Câmara de Lisboa. Este resultado é notável porque representa a maior vitória eleitoral de sempre do PS em Lisboa derrotando, pela primeira vez, uma coligação dos partidos da direita, ainda para mais, sendo o PS governo e havendo de continuar a sê-lo, no futuro próximo. Os resultados do PS, a nível nacional, ultrapassaram as melhores expectativas.
O PSD sai dos últimos pleitos eleitorais, por outro lado, politicamente derrotado e com uma direcção fragilizada para não dizer dizimada. A tragédia da candidatura de Santana Lopes a Lisboa (e, não esqueçamos, também de Portas e Bagão Félix …), é emblemática da tragédia do PSD. Em duas palavras o partido recua a cada vitória que anuncia. Os líderes que ocupam o palco têm que o abandonar mas sempre ameaçam regressar, “andando por aí”, e voltando, ciclicamente, a ocupá-lo. Os pretendentes vão, em breve, iniciar uma luta de morte pela sucessão de uma líder exangue mas ameaçam, no seu decurso, autodestruir-se. Um PS, de geometria variável, no governo e na gestão autárquica, e não só … é uma verdadeira ameaça para a sobrevivência do PSD. Não sei se os seus dirigentes já se aperceberam da ameaça de extinção – ou de redução à insignificância política - que paira sobre as suas cabeças.
O PCP perdeu influência e Câmaras emblemáticas, como Beja, Aljustrel e Sines, não tendo sido bafejado pelo prémio de uma posição arbitral em Lisboa que a maioria absoluta do PS impede. O Bloco de Esquerda sofreu uma derrota em toda a linha não tendo feito eleger um único vereador em Lisboa e no Porto.
O PS, é verdade, também perdeu Câmaras emblemáticas, como Faro, a única capital de distrito perdida, que foi, no entanto, mais que compensada pelas vitórias em Leiria e em Beja suponho que derrotas humilhantes, respectivamente, para o PSD e o PCP. Apesar de não ter conseguido retirar a maioria absoluta a Rui Rio, no Porto, o PS, no saldo dos ganhos e perdas, saiu claramente reforçado destas eleições que são mais importante do que muita gente poderá ser levada a pensar.
Muita coisa vai mudar na política portuguesa nos próximos quatro anos, inclusive para o PS, e para a esquerda democrática no seu conjunto. É esse o principal sinal dado pela vitória de António Costa. Penso que os resultados das duas últimas eleições são também sinais encorajadores para futuras reformas da democracia portuguesa, e dos partidos que lhe dão corpo. Umas das medidas a tomar deve dirigir-se à abstenção que se mantém, persistentemente, a níveis demasiado altos. Alguém terá que colocar a debate duas medidas que não são originais nas democracias ocidentais: o voto obrigatório e o voto electrónico. Por exemplo, o que se passou, nas legislativas, com a votação dos emigrantes, apresentando uma taxa de abstenção escandalosamente elevada, não deveria mais poder repetir-se.
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