People who do lots of work...
make lots of mistakes
People who do less work...
make less mistakes
People who do no work...
make no mistakes
People who make no mistakes...
get promoted
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
quinta-feira, novembro 11
O Erro de Faluya
No dia em que Arafat foi, oficialmente, dado como morto abrindo as portas a um agravamento da crise no Médio Oriente ou, em alternativa, a uma oportunidade de paz, o editorial do "El País" deixa-nos uma mensagem de pessimismo:
"El error de Faluya
El regreso de imágenes de bombardeos, combates y muertos en el asalto a Faluya, 19 meses después de haber sido derrocado Sadam Husein, refleja el fracaso de la invasión americana de Irak."
"El error de Faluya
El regreso de imágenes de bombardeos, combates y muertos en el asalto a Faluya, 19 meses después de haber sido derrocado Sadam Husein, refleja el fracaso de la invasión americana de Irak."
quarta-feira, novembro 10
Uma pergunta oportuna
De um email de um amigo a propósito de outro assunto respigo, como comentário, a última frase:
"... aproveito para dar os parabéns pelo seu último artido do SE que antecipou o tópico estes dias na berlinda da vergonhosa propaganda eleitoralista à conta do IRS. Onde anda o Eng. Sócrates ?"
pp
"... aproveito para dar os parabéns pelo seu último artido do SE que antecipou o tópico estes dias na berlinda da vergonhosa propaganda eleitoralista à conta do IRS. Onde anda o Eng. Sócrates ?"
pp
terça-feira, novembro 9
O Gozo das Coisas
Ao receber o telefonema imaginem aquele silêncio da espera em que nos queremos tornar simpáticos ao interlocutor que se não identifica. E que confia que seremos capazes de o reconhecer.
Desta vez estava do outro lado o Infante da Costa. Queria à viva força que o reconhecesse pela voz. Mas eu não o vejo, nem falo com ele, vai para 15 anos! Nem a referência a Pombal ajudou.
Mas depois de se identificar viu-o na perfeição com os traços mais carregados do longo tempo que, entretanto, passou. É que somos capazes de desenhar, na nossa cabeça, imagens de que não temos ideia de que somos depositários. Os sonhos explicam-nos isso muito bem.
Ele queria que eu fizesse um depoimento acerca da primeira Escola Profissional criada em Portugal na época moderna. 1989 – Pombal. Assim foi, na verdade. Estava eu no GETAP, do ME, que já não existe, (o GETAP, é claro) a convite da Margarida Marques, que tinha sido convidada pelo Joaquim Azevedo, que tinha sido convidado pelo Roberto Carneiro.
Os principais mentores e entusiastas da Escola Profissional de Pombal foram, à época, o Guilherme Santos, Presidente da Câmara Municipal de Pombal e o Portela Fernandes, Presidente da Associação Industrial de Pombal.
O caso é tanto mais extraordinário pelo facto da Câmara Municipal ser de maioria socialista e o governo ser, em 1989, de maioria (absoluta) social-democrata. E foi esse o projecto escolhido para inaugurar a nova geração de escolas profissionais em Portugal. Em Pombal andaram mais depressa criando as condições para o lançamento do projecto.
Mas o caso ainda é mais dramático se nos lembrarmos que o Guilherme Santos faleceu em 1989, ainda antes da inauguração da escola, e o Portela Fernandes (por coincidência, meu colega de faculdade) faleceu em 1990. Mas o projecto sobreviveu aos seus principais mentores. São muitos ingredientes juntos para não despertarem uma reacção emocional.
Como tenho estado doente – fechado em casa – com estas coisas das febres, dores de cabeça, dores no corpo, falta de apetite …. aproveitando uma aberta, à base de “ben-u-ron”, redigi o depoimento e enviei-o pouco tempo depois para o Infante da Costa que é a verdadeira alma da Escola desde a sua criação.
É que participar na criação, desde a raíz, num projecto “pesado” e inovador, neste pobre país, e poder regozijar-se pelo seu 15º aniversário, não é para todos nem para todos os dias.
Fiz, a despropósito, acompanhar o envio do dito depoimento com um pedido de desculpas pela rapidez. O Infante da Costa vai compreender. É o gozo das coisas.
Desta vez estava do outro lado o Infante da Costa. Queria à viva força que o reconhecesse pela voz. Mas eu não o vejo, nem falo com ele, vai para 15 anos! Nem a referência a Pombal ajudou.
Mas depois de se identificar viu-o na perfeição com os traços mais carregados do longo tempo que, entretanto, passou. É que somos capazes de desenhar, na nossa cabeça, imagens de que não temos ideia de que somos depositários. Os sonhos explicam-nos isso muito bem.
Ele queria que eu fizesse um depoimento acerca da primeira Escola Profissional criada em Portugal na época moderna. 1989 – Pombal. Assim foi, na verdade. Estava eu no GETAP, do ME, que já não existe, (o GETAP, é claro) a convite da Margarida Marques, que tinha sido convidada pelo Joaquim Azevedo, que tinha sido convidado pelo Roberto Carneiro.
Os principais mentores e entusiastas da Escola Profissional de Pombal foram, à época, o Guilherme Santos, Presidente da Câmara Municipal de Pombal e o Portela Fernandes, Presidente da Associação Industrial de Pombal.
O caso é tanto mais extraordinário pelo facto da Câmara Municipal ser de maioria socialista e o governo ser, em 1989, de maioria (absoluta) social-democrata. E foi esse o projecto escolhido para inaugurar a nova geração de escolas profissionais em Portugal. Em Pombal andaram mais depressa criando as condições para o lançamento do projecto.
Mas o caso ainda é mais dramático se nos lembrarmos que o Guilherme Santos faleceu em 1989, ainda antes da inauguração da escola, e o Portela Fernandes (por coincidência, meu colega de faculdade) faleceu em 1990. Mas o projecto sobreviveu aos seus principais mentores. São muitos ingredientes juntos para não despertarem uma reacção emocional.
Como tenho estado doente – fechado em casa – com estas coisas das febres, dores de cabeça, dores no corpo, falta de apetite …. aproveitando uma aberta, à base de “ben-u-ron”, redigi o depoimento e enviei-o pouco tempo depois para o Infante da Costa que é a verdadeira alma da Escola desde a sua criação.
É que participar na criação, desde a raíz, num projecto “pesado” e inovador, neste pobre país, e poder regozijar-se pelo seu 15º aniversário, não é para todos nem para todos os dias.
Fiz, a despropósito, acompanhar o envio do dito depoimento com um pedido de desculpas pela rapidez. O Infante da Costa vai compreender. É o gozo das coisas.
Cartas e Encartes
“O primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, tenciona dar uma explicação alargada a todos os portugueses sobre as linhas gerais do Orçamento, mas «se é através de uma carta ou de um encarte ainda não está decidido», avançou ao EXPRESSO Online uma fonte do gabinete do primeiro-ministro.”
Se for através de carta sugiro que os portugueses, que tenham posses para pagar um selo de correio, respondam na volta do correio.
Se for através de carta sugiro que os portugueses, que tenham posses para pagar um selo de correio, respondam na volta do correio.
Desculpem lá a lembrança
- A guerra no Iraque não tinha já acabado? As notícias do dia são perturbadoras. “Grandes ofensivas”, atentados e mais atentados, “lutas corpo a corpo”…, são, certamente, só notícias para alimentar a falsa ideia dos profetas da desgraça como o Vasco Pulido Valente, na sua crónica inaugural no “Público”, afiançando que a guerra no Iraque está perdida para os EUA;
- Agora que a PT está na berra, por razões que só os superiores desígnios do interesse público podem explicar, com o DN no meio, mais que meio destroçado, coitado, nem sabem o sabor a justiça que esta agonia me provoca, uma pergunta: a PT paga IRC?
Uma notícia antiga, dos idos de finais de Março de 2004, dizia que, apesar dos lucros, a PT, em 2003, não pagou IRC. O mesmo ocorreria em 2004 e 2005. Tudo por conta de uma “engenharia” que consiste em afectar às contas as “menos valias dos investimentos efectuados no Brasil”. Tudo continua na mesma?
- Agora que a PT está na berra, por razões que só os superiores desígnios do interesse público podem explicar, com o DN no meio, mais que meio destroçado, coitado, nem sabem o sabor a justiça que esta agonia me provoca, uma pergunta: a PT paga IRC?
Uma notícia antiga, dos idos de finais de Março de 2004, dizia que, apesar dos lucros, a PT, em 2003, não pagou IRC. O mesmo ocorreria em 2004 e 2005. Tudo por conta de uma “engenharia” que consiste em afectar às contas as “menos valias dos investimentos efectuados no Brasil”. Tudo continua na mesma?
segunda-feira, novembro 8
As Surpresas da Minha Terra
Nunca duvidei que a minha terra podia ser um ninho de surpresas. Mas que fosse
possível manter um espólio, oferecido há 60 anos, sem nele achar nada de excepcional valor!
60 anos? Se isto for verdade, como espero, é mais um contributo para explicar muita coisa estranha que se passa no nosso país. A importância que se dá ao supérfluo e o desinteresse pelo importante. Não conheço os meandros da história que pode ter inúmeras peripécias.
Mas é um caso para a história da ingratidão. Então um diplomata, filho da terra, doou à Câmara um espólio, ao que parece, com cerca de mil peças, e deixam-nas ficar encerradas numa sala 60 anos? É de uma ingratidão miserável! Mas não deixa de estar estar conforme o padrão nacional. Nada mal! Viva a Cultura!
Obras de Gauguin, Lautrec e Rembrant descobertas em Faro
"Obras de Gauguin, Toulouse-Lautrec e Rembrandt foram recentemente descobertas numa sala do Museu Municipal de Faro, revelou um especialista, baseando-se em análises da leiloeira internacional Sotheby´s.
«Há um desenho de carvão sobre papel do impressionista francês Paul Gauguin (1848-1903), que data de 1875, e depois de analisadas a assinatura e o traço não restam dúvidas da sua autenticidade», garante o especialista André Bento em declarações à agência Lusa.O estudioso analisa desde Maio passado o espólio que o diplomata algarvio Amadeu Ferreira de Almeida doou à Câmara de Faro em 1944 e tem estado numa sala interdita ao público."
TSF on Line
possível manter um espólio, oferecido há 60 anos, sem nele achar nada de excepcional valor!
60 anos? Se isto for verdade, como espero, é mais um contributo para explicar muita coisa estranha que se passa no nosso país. A importância que se dá ao supérfluo e o desinteresse pelo importante. Não conheço os meandros da história que pode ter inúmeras peripécias.
Mas é um caso para a história da ingratidão. Então um diplomata, filho da terra, doou à Câmara um espólio, ao que parece, com cerca de mil peças, e deixam-nas ficar encerradas numa sala 60 anos? É de uma ingratidão miserável! Mas não deixa de estar estar conforme o padrão nacional. Nada mal! Viva a Cultura!
Obras de Gauguin, Lautrec e Rembrant descobertas em Faro
"Obras de Gauguin, Toulouse-Lautrec e Rembrandt foram recentemente descobertas numa sala do Museu Municipal de Faro, revelou um especialista, baseando-se em análises da leiloeira internacional Sotheby´s.
«Há um desenho de carvão sobre papel do impressionista francês Paul Gauguin (1848-1903), que data de 1875, e depois de analisadas a assinatura e o traço não restam dúvidas da sua autenticidade», garante o especialista André Bento em declarações à agência Lusa.O estudioso analisa desde Maio passado o espólio que o diplomata algarvio Amadeu Ferreira de Almeida doou à Câmara de Faro em 1944 e tem estado numa sala interdita ao público."
TSF on Line
"Guerra Civil"
As notícias acerca da “guerra civil”, em curso nas estradas portuguesas, surgem com regularidade. Mas deixaram de apresentar comparações com o passado. Omite-se a evolução, positiva ou negativa, dos danos. Escamoteia-se o sucesso, ou insucesso, das políticas de prevenção e de combate à sinistralidade. Enfim, ficamos às cegas.
“Desde o início do ano morreram 863 pessoas
Acidentes nas estradas fizeram 21 mortos na semana passada
Vinte e uma pessoas morreram e 592 ficaram feridas, 46 delas com gravidade, nos 2551 acidentes registados pela Brigada de Trânsito (BT) da GNR durante a semana passada, divulgou hoje a corporação.”
“Público on line”
“Desde o início do ano morreram 863 pessoas
Acidentes nas estradas fizeram 21 mortos na semana passada
Vinte e uma pessoas morreram e 592 ficaram feridas, 46 delas com gravidade, nos 2551 acidentes registados pela Brigada de Trânsito (BT) da GNR durante a semana passada, divulgou hoje a corporação.”
“Público on line”
Duas Citações
“Escreve-se nos momentos de desespero. Mas o que é o desespero?”
“O homem que eu seria se não houvesse sido a criança que fui!”
Albert Camus, Cadernos
“O homem que eu seria se não houvesse sido a criança que fui!”
Albert Camus, Cadernos
domingo, novembro 7
"O IRS para os pobres"
Já está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR o artigo com o título em epígrafe publicado, na sexta feira passada, no "Semanário Económico"
sexta-feira, novembro 5
"Desaparecimento"
Já tinha reparado no desaparecimento do PM, Pedro Santana Lopes. Passam os dias e nada, nem uma palavra ao país, nem uma visita, de estado ou privada, nem uma reunião do Conselho de Ministros. Nada. É o Congresso do PSD que aí vem? É cansaço? É desânimo?
Sem comparar o incomparável sei que Salazar tinha largos períodos de “nojo” em que se recolhia e não falava com ninguém, muito menos com os ministros. (salvo com a D. Maria!). Mas os recolhimentos de Salazar não tinham eco público pois não havia liberdade de informação. Além do mais faziam parte da sua imagem que ninguém, verdadeiramente, se atrevia a questionar.
Santana Lopes tem a imagem oposta. Do “eremita” ao “homem de sociedade” vai um abismo de diferenças. Por isso ao “desaparecer” de cena Santana Lopes corre o risco de "morrer" para a política ao contrário de Salazar que fazia das suas escassas viagens e intervenções publicas autenticas liturgias que o tornavam omnipresente.
Eis uma questão interessante que o jumento aborda ao seu estilo.
Sem comparar o incomparável sei que Salazar tinha largos períodos de “nojo” em que se recolhia e não falava com ninguém, muito menos com os ministros. (salvo com a D. Maria!). Mas os recolhimentos de Salazar não tinham eco público pois não havia liberdade de informação. Além do mais faziam parte da sua imagem que ninguém, verdadeiramente, se atrevia a questionar.
Santana Lopes tem a imagem oposta. Do “eremita” ao “homem de sociedade” vai um abismo de diferenças. Por isso ao “desaparecer” de cena Santana Lopes corre o risco de "morrer" para a política ao contrário de Salazar que fazia das suas escassas viagens e intervenções publicas autenticas liturgias que o tornavam omnipresente.
Eis uma questão interessante que o jumento aborda ao seu estilo.
quinta-feira, novembro 4
A morte anunciada de Arafat
Quando Arafat morrer, dir-se-á, secretamente, nos meios da “inteligência” israelita, americana, e de outras mais discretas, que “morreu um terrorista”. Para alguns será um alívio, para outros o início de um pesadelo. Mas pergunto, por antecipação: se um “terrorista” tem um povo inteiro, em revolta, a chorar no seu funeral, o que é afinal o “terrorismo”? Quem é, afinal, aquele "terrorista"?
Porque razão se dão conselhos aos soldados e ao povo de Israel para “evitar qualquer expressão de alegria no caso do anúncio da morte”? Têm medo de quê? Passaram muitos anos mas alguns nada aprenderam com o holocausto!
“Yasser Arafat em estado de coma
Yasser Arafat está em estado de coma, depois de a sua saúde se ter subitamente deteriorado nas últimas horas. O líder palestiniano foi ontem internado na Unidade de Cuidados Intensivos do hospital militar francês onde recebe tratamento.
Os soldados têm ordens para fazer tudo o que puderem para travar eventuais motins ou explosões de violência, e sobretudo para evitar que manifestantes palestinianos tentem entrar nos colonatos ou ultrapassar os "checkpoints". Mas foram também aconselhados a respeitar as manifestações de luto e a evitar qualquer expressão de alegria no caso do anúncio da morte.”
Público on line
Porque razão se dão conselhos aos soldados e ao povo de Israel para “evitar qualquer expressão de alegria no caso do anúncio da morte”? Têm medo de quê? Passaram muitos anos mas alguns nada aprenderam com o holocausto!
“Yasser Arafat em estado de coma
Yasser Arafat está em estado de coma, depois de a sua saúde se ter subitamente deteriorado nas últimas horas. O líder palestiniano foi ontem internado na Unidade de Cuidados Intensivos do hospital militar francês onde recebe tratamento.
Os soldados têm ordens para fazer tudo o que puderem para travar eventuais motins ou explosões de violência, e sobretudo para evitar que manifestantes palestinianos tentem entrar nos colonatos ou ultrapassar os "checkpoints". Mas foram também aconselhados a respeitar as manifestações de luto e a evitar qualquer expressão de alegria no caso do anúncio da morte.”
Público on line
quarta-feira, novembro 3
Bush ganhou, não é?
A derrota de Kerry é a nossa derrota. Mesmo que muitos tenham dito que nada seria muito diferente com a vitória do candidato democrata tudo seria, de facto, diferente.
Ganhou quem tinha de ganhar. O normal é que o Presidente candidato ganhe a reeleição. Agora vamos ter de aturar, o mundo vai ter de aturar, a política imperial e belicista da administração Bush e a sua arrogância, assim como a dos seus próceres europeus e domésticos.
Agora mais do que nunca a UE não pode quebrar apesar de todas as suas dificuldades. Incluindo a desastrosa prestação inicial do nosso JMB. Quanto aos efeitos colaterais da vitória de Bush o mundo não ganhará mais estabilidade; os conflitos, entre regiões, estados e religiões, não serão contidos; a estratégia ambiental, no plano global, caminhará para o desastre anunciado e a paz e concórdia entre os povos e as nações dançará ao som do cornetim dos senhores da Casa Branca.
Bush ganhou, não é? Assim seja. As escolhas democráticas não deixam de ser legítimas mesmo quando não nos agradam. Já temos muita experiência e, como dizia o outro, “calos no cu” para aguentar a parada. Venham eles!
Ganhou quem tinha de ganhar. O normal é que o Presidente candidato ganhe a reeleição. Agora vamos ter de aturar, o mundo vai ter de aturar, a política imperial e belicista da administração Bush e a sua arrogância, assim como a dos seus próceres europeus e domésticos.
Agora mais do que nunca a UE não pode quebrar apesar de todas as suas dificuldades. Incluindo a desastrosa prestação inicial do nosso JMB. Quanto aos efeitos colaterais da vitória de Bush o mundo não ganhará mais estabilidade; os conflitos, entre regiões, estados e religiões, não serão contidos; a estratégia ambiental, no plano global, caminhará para o desastre anunciado e a paz e concórdia entre os povos e as nações dançará ao som do cornetim dos senhores da Casa Branca.
Bush ganhou, não é? Assim seja. As escolhas democráticas não deixam de ser legítimas mesmo quando não nos agradam. Já temos muita experiência e, como dizia o outro, “calos no cu” para aguentar a parada. Venham eles!
ARRE, que tanto é muito pouco!
ARRE, que tanto é muito pouco!
Arre, que tanta besta é muito pouca gente!
Arre, que o Portugal que se vê é só isto!
Deixem ver o Portugal que não deixam ver!
Deixem que se veja, que esse é que é Portugal!
Ponto.
Agora começa o Manifesto:
Arre!
Arre!
Oiçam bem:
ARRRRRE!
Álvaro de Campos
Poesias
Arre, que tanta besta é muito pouca gente!
Arre, que o Portugal que se vê é só isto!
Deixem ver o Portugal que não deixam ver!
Deixem que se veja, que esse é que é Portugal!
Ponto.
Agora começa o Manifesto:
Arre!
Arre!
Oiçam bem:
ARRRRRE!
Álvaro de Campos
Poesias
"Finanças dão depósitos de tesouraria ao BCP"
Isto tem um nome que não digo qual é. Talvez o Dr. Víctor Constâncio, que nada diz, há tanto tempo, acerca de coisa nenhuma, ao contrário de outros tempos, possa esclarecer cabalmente o assunto.
De facto, o processo de concentração dos recursos financeiros, em particular, dos organismos e fundos autónomos, na Direcção Geral do Tesouro, é antigo. Foi uma medida do governo socialista controversa ou, pelo menos discutível, mas tinha fundamentos técnicos e financeiros razoáveis. Agora esta, se for verdade, de entregar, directamente, ao BCP o negócio da “Tesouraria do Estado” é inimaginável. Bom, mas já nos vamos habituando.
Veja aqui a notícia do "DN".
"Os milhões de euros de organismos públicos passam para o BCP. Concorrência critica protocolo. Bagão Félix autorizou a entrada do banco liderado por Jardim Gonçalves no negócio da Tesouraria do Estado. Restante banca fica à espera
O ministério das Finanças concedeu ao Millennium bcp o direito de captar depósitos dos «organismos públicos» dependentes da Direcção-Geral do Tesouro (DGT). Serão centenas de milhões de euros mobilizados em depósitos e geridos via banco tutelado por Jardim Gonçalves e que, até ontem, passavam pela Caixa Geral de Depósitos, CGD. De fora do «negócio» acordado com o Estado estão os restantes bancos privados."
De facto, o processo de concentração dos recursos financeiros, em particular, dos organismos e fundos autónomos, na Direcção Geral do Tesouro, é antigo. Foi uma medida do governo socialista controversa ou, pelo menos discutível, mas tinha fundamentos técnicos e financeiros razoáveis. Agora esta, se for verdade, de entregar, directamente, ao BCP o negócio da “Tesouraria do Estado” é inimaginável. Bom, mas já nos vamos habituando.
Veja aqui a notícia do "DN".
"Os milhões de euros de organismos públicos passam para o BCP. Concorrência critica protocolo. Bagão Félix autorizou a entrada do banco liderado por Jardim Gonçalves no negócio da Tesouraria do Estado. Restante banca fica à espera
O ministério das Finanças concedeu ao Millennium bcp o direito de captar depósitos dos «organismos públicos» dependentes da Direcção-Geral do Tesouro (DGT). Serão centenas de milhões de euros mobilizados em depósitos e geridos via banco tutelado por Jardim Gonçalves e que, até ontem, passavam pela Caixa Geral de Depósitos, CGD. De fora do «negócio» acordado com o Estado estão os restantes bancos privados."
terça-feira, novembro 2
O medo da verdade
Um dia fora de Lisboa, a trabalhar, sem notícias e logo no dia das eleições na América. Original. Agora que vejo as notícias não encontro nada de novo. Reparo que JA Barreiros se despediu de colunista do DN e que todos descobrem o que eu já tinha experimentado vai para 2 anos. Bolas, estavam todos ceguinhos ou quê?
Essa teia promíscua entre os poderes político, económico e mediático, que agora tantos condenam, não é dos tempos deste governo. Já vem do anterior. A diferença está na gestão que se tornou, dia a dia, mais grosseira, descarada e disparatada. Nada de essencial mudou. Mas atenção que muitos dos que agora clamam contra a manipulação desesperada dos “media”, em favor da maioria governamental, amanhã a defenderão se ela satisfizer os seus próprios interesses.
Os únicos que podem ser os verdadeiros detentores do equilíbrio entre a verdade, a justiça e a liberdade, na gestão comunicacional, são os fazedores da própria notícia, ou sejam, os jornalistas. Os jornalistas profissionais, não os comentadores ou colaboradores de ocasião.
Quando se revoltam os jornalistas? Quando decidem tomar a palavra e colocá-la ao serviço da denúncia da corrupção dos seus próprios órgãos de comunicação? Têm medo? A democracia faz medo aos jornalistas? Que estranha democracia é esta em que os jornalistas têm medo da verdade?
Essa teia promíscua entre os poderes político, económico e mediático, que agora tantos condenam, não é dos tempos deste governo. Já vem do anterior. A diferença está na gestão que se tornou, dia a dia, mais grosseira, descarada e disparatada. Nada de essencial mudou. Mas atenção que muitos dos que agora clamam contra a manipulação desesperada dos “media”, em favor da maioria governamental, amanhã a defenderão se ela satisfizer os seus próprios interesses.
Os únicos que podem ser os verdadeiros detentores do equilíbrio entre a verdade, a justiça e a liberdade, na gestão comunicacional, são os fazedores da própria notícia, ou sejam, os jornalistas. Os jornalistas profissionais, não os comentadores ou colaboradores de ocasião.
Quando se revoltam os jornalistas? Quando decidem tomar a palavra e colocá-la ao serviço da denúncia da corrupção dos seus próprios órgãos de comunicação? Têm medo? A democracia faz medo aos jornalistas? Que estranha democracia é esta em que os jornalistas têm medo da verdade?
Diários de Motocicleta - título original
Tempo atrás dei a notícia de que tinha estreado, no Festival de Cannes, o filme brasileiro “Diários de Motocicleta”, de que tinha lido muitas referências positivas na blogosfera do Brasil.
Fui ontem, finalmente, ver o filme que já está em exibição em Portugal. A sala, ao contrário da minha expectativa, estava quase cheia. Não esperava uma profunda reflexão filosófica acerca da revolução. Nem sequer um retrato da mitologia criada em torno de Che Guevara. O filme não caíu nessas tentações.
É simplesmente um filme. Uma sequência de belas imagens da américa latina e da situação social nela vivida no início do anos 50. Gostei porque me suscitou prazer e me comoveu. É o que me interessa, simplesmente. Além do mais o meu pai, na mesma época, tinha uma Norton, igualzinha à "Poderosa" na qual viajaram os dois amigos até certa altura da acção.
Vão ver que vale a pena.
Fui ontem, finalmente, ver o filme que já está em exibição em Portugal. A sala, ao contrário da minha expectativa, estava quase cheia. Não esperava uma profunda reflexão filosófica acerca da revolução. Nem sequer um retrato da mitologia criada em torno de Che Guevara. O filme não caíu nessas tentações.
É simplesmente um filme. Uma sequência de belas imagens da américa latina e da situação social nela vivida no início do anos 50. Gostei porque me suscitou prazer e me comoveu. É o que me interessa, simplesmente. Além do mais o meu pai, na mesma época, tinha uma Norton, igualzinha à "Poderosa" na qual viajaram os dois amigos até certa altura da acção.
Vão ver que vale a pena.
domingo, outubro 31
Cavafy na hora roubada
Eu aproveitei a hora para Federico Garcia Lorca. Preciso, de vez em quando, lá ir. Não sei explicar muito bem a razão mas isso também não interessa para nada.
Mas verifiquei que Pacheco Pereira no Abrupto voltou a Cavafy com o poema “O prazo de Nero”.
Entendi, embora estejam prometidas, para depois, outras notas. E, como da outra vez, eu volto com a tradução, diversa, de Jorge de Sena:
O PRAZO DE NERO
Inquieto, Nero não ficou, ouvindo,
do oráculo a resposta em Delfos:
“Que devia temer setenta anos mais três”.
Pois tem imenso tempo de gozar a vida.
Com trinta anos de idade! Como ainda vem longe
o prazo que o Deus lhe demarcou
para temer de perigos iminentes.
Voltará para Roma, cansado um pouco,
mas tão deliciosamente cansado de uma viagem
que nada foi que dias de prazer –
- nos teatros, nos parques, nos estádios…
o entardecer das cidades da Acaia…
E mais: a volúpia da nudez dos corpos…
Assim Nero pensava. Mas na Espanha Galba
secretamente reúne e prepara um exército:
um velho de setenta e mais três anos.
[1918]
Nota de Jorge de Sena dedicada a este poema:
“É o outro poema que tem Nero como personagem (ou outro intitula-se “As passadas”, anterior a 1911). A fonte pode ser qualquer história romana suficientemente vasta, mas o episódio vem narrado por Seutónio (70-c.122), no De Vita Caesarum, em que conta as biografias dos Césares, desde Júlio César até ao Imperador Domiciano. É histórico que Nero fez uma viagem triunfal à Grécia, em 67, de onde foi chamado, porque as conspirações se sucediam. Galba, general de alta linhagem e governador em Espanha, aceitou, nos princípios de 68, chefiar a revolução que derrubou Nero e o levou ao poder, quando Nero se suicidou. Mas Galba, por sua vez, foi assassinado no ano seguinte. Parece que ou o oráculo de Delfos ou Seutóneo (que recolhia tudo quanto há para a sua deliciosa e pérfida história) se enganaram quanto à idade de Galba que tinha cerca de 62 anos ao conspirar e reinar. Mas isso é de somenos importância para o belo poema."
Poema e Nota in “90 e Mais Quatro Poemas”, Constantino Cavafy, com tradução, prefácio, comentários e notas de Jorge de Sena, Edições ASA.
Mas verifiquei que Pacheco Pereira no Abrupto voltou a Cavafy com o poema “O prazo de Nero”.
Entendi, embora estejam prometidas, para depois, outras notas. E, como da outra vez, eu volto com a tradução, diversa, de Jorge de Sena:
O PRAZO DE NERO
Inquieto, Nero não ficou, ouvindo,
do oráculo a resposta em Delfos:
“Que devia temer setenta anos mais três”.
Pois tem imenso tempo de gozar a vida.
Com trinta anos de idade! Como ainda vem longe
o prazo que o Deus lhe demarcou
para temer de perigos iminentes.
Voltará para Roma, cansado um pouco,
mas tão deliciosamente cansado de uma viagem
que nada foi que dias de prazer –
- nos teatros, nos parques, nos estádios…
o entardecer das cidades da Acaia…
E mais: a volúpia da nudez dos corpos…
Assim Nero pensava. Mas na Espanha Galba
secretamente reúne e prepara um exército:
um velho de setenta e mais três anos.
[1918]
Nota de Jorge de Sena dedicada a este poema:
“É o outro poema que tem Nero como personagem (ou outro intitula-se “As passadas”, anterior a 1911). A fonte pode ser qualquer história romana suficientemente vasta, mas o episódio vem narrado por Seutónio (70-c.122), no De Vita Caesarum, em que conta as biografias dos Césares, desde Júlio César até ao Imperador Domiciano. É histórico que Nero fez uma viagem triunfal à Grécia, em 67, de onde foi chamado, porque as conspirações se sucediam. Galba, general de alta linhagem e governador em Espanha, aceitou, nos princípios de 68, chefiar a revolução que derrubou Nero e o levou ao poder, quando Nero se suicidou. Mas Galba, por sua vez, foi assassinado no ano seguinte. Parece que ou o oráculo de Delfos ou Seutóneo (que recolhia tudo quanto há para a sua deliciosa e pérfida história) se enganaram quanto à idade de Galba que tinha cerca de 62 anos ao conspirar e reinar. Mas isso é de somenos importância para o belo poema."
Poema e Nota in “90 e Mais Quatro Poemas”, Constantino Cavafy, com tradução, prefácio, comentários e notas de Jorge de Sena, Edições ASA.
O não blog de Clara Ferreira Alves
Trancrevo a crónica de Clara Ferreira Alves publicada, ontem, no "Expresso". Serei um, entre muitos, a dar blog a Clara.
"O meu «blog»
«Aqui para nós que ninguém nos ouve, seria uma péssima ideia ser directora do 'Diário de Notícias'.»
Não tenho um «blog» mas, há alturas em que um «blog» dá muito jeito. Se eu tivesse um «blog» faria estes breves apontamentos.
1. Quem me convidou ao certo para dirigir o «Diário de Notícias»? O Governo, o primeiro-ministro, o presidente da PT, os accionistas da PT, ou o Mário Bettencourt Resendes e o Luís Delgado? Ou será que sonhei? Porque esse lugar de director não estava vago.
2. Uns dias antes da minha recusa em dirigir o «Diário de Notícias» apareceu publicado nesse jornal um texto de uma assessora política do primeiro-ministro. Eis o tipo de texto que eu jamais publicaria se fosse directora do «Diário de Notícias» mas, curiosamente, enquanto os jornalistas se afadigavam a atacar-me e ao meu famoso «santanismo», ninguém com excepção de José Pacheco Pereira no seu «blog» (o jeito que dá um «blog») reparou neste exemplo de independência, isenção e critério jornalístico do «Diário de Notícias».
3. No dia seguinte à minha recusa em dirigir o «Diário de Notícias», o mesmo «Diário de Notícias» não dava uma única notícia sobre o assunto, ignorando-o jornalisticamente, olimpicamente. Foi o único órgão de comunicação social a fazê-lo. No «Diário de Notícias», que fui convidada para dirigir, eu não sou notícia nem breve nem «fait-divers». Coisa interessante. E tudo na mesma como dantes. Mais isenção.
4. Na mesma semana agitada, daquelas semanas em que mais valia estarmos, como dizia o cómico W. C. Fields, em Filadélfia, uma «fonte governamental» confirmou que a minha decisão «estava tomada». Coisa interessante. Como é que a «fonte governamental» sabe o que eu estou a pensar? E como é que se arroga o direito de responder por mim? Aqui, remeto para a minha carta ao Abrigo do Direito de Resposta que o EXPRESSO publica neste número.
5. O wittgensteiniano Não sei Quantos Cintra Torres, que sempre confundo com alguém que vendia parabólicas, e que para escrever sobre um «reality show» cita Kant, Hegel e o neo-confusionismo, presume de culto e de saber de tudo. E lá veio ele, lesto e molesto, acusar-me de ser uma «santanete» colocada no «Diário de Notícias» para manipular e controlar o jornal a favor do Governo. É bom que Cintra Torres, que também posso confundir com o homem das cervejas Cintra, deixe de se meter comigo, o que ele tem feito modestamente até aqui. Porque eu, ao contrário do que ele pensa, sou incontrolável, e escrevo melhor do que ele (sem citar Wittgenstein). E já agora, Cintra Torres está a fazer um projecto de uma série, ou um filme, ou lá o que é, com o actual director do «Diário de Notícias», (não, não sou eu, não seria, não fui...) para a RTP. A mesma RTP para quem Cintra Torres trabalha como colaborador e crítico imparcial. Será que é ele que vai criticar o trabalho dele na RTP? Mais um caso de isenção e imparcialidade nos «media».
6. Aqui para nós que ninguém nos ouve, seria uma péssima ideia ser directora do «Diário de Notícias», porque deixava de poder escrever estas coisas. Ou então, arranjava um «blog» (o jeito que dá um «blog»).
7. Mudando de assunto, para refrescar, o actual procurador da República veio dizer esta frase «Eu seria o último a prejudicar o PS». Isto, porque foi o PS que lhe deu este emprego. Eis um dos raríssimos casos dos últimos tempos em que não foi Santana Lopes o culpado de tudo. Imaginem se o procurador dissesse «Eu seria o último a prejudicar o PSD». Era mau, não era?
8. Conheço o Pedro Santana Lopes há muitos anos e nem ele nem eu temos culpa disso. Mas, se eu sou «santanete», por que não há-de ele ser «clarete»? Eis mais um caso flagrante de discriminação e perseguição das mulheres. Nunca teremos poder suficiente para... E, com mulheres a recusarem cargos de chefia de jornais, nunca teremos. Porque, vê-se bem que todos os jornais em Portugal são feitos por homens (e quase todos os «blogs» também, embora elas comecem a crescer e multiplicar-se.).
9. Na melhor tradição machista e misógina da praça portuguesa, ou melhor, da praceta portuguesa, assim que se soube por esses jornais fora que eu tinha sido convidada para directora do «Diário de Notícias», coisa que todos os jornais sabiam menos o «Diário de Notícias» (coisa interessante), começaram logo a debochar sobre o meu corte e cor de cabelo e os meus «bâtons» berrantes e por aí fora. Nos «blogs». Um tal Luís Nazaré escreve uma palhaçada sobre mim por causa disso. Será o mesmo homem simpático e educado que me convidou há tempos (e à minha probidade intelectual) para um Encontro sobre Educação do Partido Socialista? Não deve ser. Devo dizer que sem um bom corte de cabelo e um bom «bâton», considero impossível dirigir um jornal sério como o «Diário de Notícias». É uma condição contratual tão importante como a garantia da autonomia, independência e isenção.
10. E, a finalizar, por que é que eu não fui afinal dirigir o «Diário de Notícias»? Bom, esperem pelas minhas Memórias. Ou talvez nem seja preciso. Depois do tempo perdido com o jornalismo português contemporâneo, que tão doente anda, bem preciso de regressar aos livros. E escrever um livro é um acto solitário perfeito, como o onanismo.
11. Finalizo em tom nostálgico e «esquerdista», naquele estilo que os meus inimigos literários abominam. Tenho saudades do tempo português em que existiam Natálias Correias (e Veras Lagoas). Muita saudade. O que por aí anda não presta. Muito silêncio, muito medo, muita agenda política disfarçada, muito emprego a segurar. Muita ambição sem talento. Muito cabotinismo.
"O meu «blog»
«Aqui para nós que ninguém nos ouve, seria uma péssima ideia ser directora do 'Diário de Notícias'.»
Não tenho um «blog» mas, há alturas em que um «blog» dá muito jeito. Se eu tivesse um «blog» faria estes breves apontamentos.
1. Quem me convidou ao certo para dirigir o «Diário de Notícias»? O Governo, o primeiro-ministro, o presidente da PT, os accionistas da PT, ou o Mário Bettencourt Resendes e o Luís Delgado? Ou será que sonhei? Porque esse lugar de director não estava vago.
2. Uns dias antes da minha recusa em dirigir o «Diário de Notícias» apareceu publicado nesse jornal um texto de uma assessora política do primeiro-ministro. Eis o tipo de texto que eu jamais publicaria se fosse directora do «Diário de Notícias» mas, curiosamente, enquanto os jornalistas se afadigavam a atacar-me e ao meu famoso «santanismo», ninguém com excepção de José Pacheco Pereira no seu «blog» (o jeito que dá um «blog») reparou neste exemplo de independência, isenção e critério jornalístico do «Diário de Notícias».
3. No dia seguinte à minha recusa em dirigir o «Diário de Notícias», o mesmo «Diário de Notícias» não dava uma única notícia sobre o assunto, ignorando-o jornalisticamente, olimpicamente. Foi o único órgão de comunicação social a fazê-lo. No «Diário de Notícias», que fui convidada para dirigir, eu não sou notícia nem breve nem «fait-divers». Coisa interessante. E tudo na mesma como dantes. Mais isenção.
4. Na mesma semana agitada, daquelas semanas em que mais valia estarmos, como dizia o cómico W. C. Fields, em Filadélfia, uma «fonte governamental» confirmou que a minha decisão «estava tomada». Coisa interessante. Como é que a «fonte governamental» sabe o que eu estou a pensar? E como é que se arroga o direito de responder por mim? Aqui, remeto para a minha carta ao Abrigo do Direito de Resposta que o EXPRESSO publica neste número.
5. O wittgensteiniano Não sei Quantos Cintra Torres, que sempre confundo com alguém que vendia parabólicas, e que para escrever sobre um «reality show» cita Kant, Hegel e o neo-confusionismo, presume de culto e de saber de tudo. E lá veio ele, lesto e molesto, acusar-me de ser uma «santanete» colocada no «Diário de Notícias» para manipular e controlar o jornal a favor do Governo. É bom que Cintra Torres, que também posso confundir com o homem das cervejas Cintra, deixe de se meter comigo, o que ele tem feito modestamente até aqui. Porque eu, ao contrário do que ele pensa, sou incontrolável, e escrevo melhor do que ele (sem citar Wittgenstein). E já agora, Cintra Torres está a fazer um projecto de uma série, ou um filme, ou lá o que é, com o actual director do «Diário de Notícias», (não, não sou eu, não seria, não fui...) para a RTP. A mesma RTP para quem Cintra Torres trabalha como colaborador e crítico imparcial. Será que é ele que vai criticar o trabalho dele na RTP? Mais um caso de isenção e imparcialidade nos «media».
6. Aqui para nós que ninguém nos ouve, seria uma péssima ideia ser directora do «Diário de Notícias», porque deixava de poder escrever estas coisas. Ou então, arranjava um «blog» (o jeito que dá um «blog»).
7. Mudando de assunto, para refrescar, o actual procurador da República veio dizer esta frase «Eu seria o último a prejudicar o PS». Isto, porque foi o PS que lhe deu este emprego. Eis um dos raríssimos casos dos últimos tempos em que não foi Santana Lopes o culpado de tudo. Imaginem se o procurador dissesse «Eu seria o último a prejudicar o PSD». Era mau, não era?
8. Conheço o Pedro Santana Lopes há muitos anos e nem ele nem eu temos culpa disso. Mas, se eu sou «santanete», por que não há-de ele ser «clarete»? Eis mais um caso flagrante de discriminação e perseguição das mulheres. Nunca teremos poder suficiente para... E, com mulheres a recusarem cargos de chefia de jornais, nunca teremos. Porque, vê-se bem que todos os jornais em Portugal são feitos por homens (e quase todos os «blogs» também, embora elas comecem a crescer e multiplicar-se.).
9. Na melhor tradição machista e misógina da praça portuguesa, ou melhor, da praceta portuguesa, assim que se soube por esses jornais fora que eu tinha sido convidada para directora do «Diário de Notícias», coisa que todos os jornais sabiam menos o «Diário de Notícias» (coisa interessante), começaram logo a debochar sobre o meu corte e cor de cabelo e os meus «bâtons» berrantes e por aí fora. Nos «blogs». Um tal Luís Nazaré escreve uma palhaçada sobre mim por causa disso. Será o mesmo homem simpático e educado que me convidou há tempos (e à minha probidade intelectual) para um Encontro sobre Educação do Partido Socialista? Não deve ser. Devo dizer que sem um bom corte de cabelo e um bom «bâton», considero impossível dirigir um jornal sério como o «Diário de Notícias». É uma condição contratual tão importante como a garantia da autonomia, independência e isenção.
10. E, a finalizar, por que é que eu não fui afinal dirigir o «Diário de Notícias»? Bom, esperem pelas minhas Memórias. Ou talvez nem seja preciso. Depois do tempo perdido com o jornalismo português contemporâneo, que tão doente anda, bem preciso de regressar aos livros. E escrever um livro é um acto solitário perfeito, como o onanismo.
11. Finalizo em tom nostálgico e «esquerdista», naquele estilo que os meus inimigos literários abominam. Tenho saudades do tempo português em que existiam Natálias Correias (e Veras Lagoas). Muita saudade. O que por aí anda não presta. Muito silêncio, muito medo, muita agenda política disfarçada, muito emprego a segurar. Muita ambição sem talento. Muito cabotinismo.
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