quarta-feira, maio 25

Almocreve das Petas - deficit



A ler os “Ecos do défice ou a moléstia da "coisa””, no Almocreve das Petas, que vale a pena.

MERGULHO


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Escrevo pouco depois do anúncio das medidas de combate ao deficit sem conhecer ainda os seus detalhes. O deficit é, em termos simples, o “gap” entre as despesas e as receitas do Estado. É um clássico das finanças públicas e, em Portugal, um tema antigo.

Em 1928 num célebre discurso de tomada de posse, como ministro das finanças, Salazar já abordava o tema do deficit anunciando, em plena ditadura militar, a ditadura das finanças, prenunciando a ditadura que havia de perdurar até ao 25 de Abril de 74. Salazar dispôs de 46 anos (!) para, em ditadura, consolidar as contas públicas.

Hoje vivemos em democracia integrando o espaço da União Europeia. O anúncio das medidas de combate ao deficit não podem deixar de levar em conta essa realidade e são, aliás, um resultado do cumprimento de regras ditadas por essa mesma UE.

Sócrates dispõe, na prática, de 3 anos para reduzir o défice em 3,83%, ou seja, cerca de 1,27% por ano. É um esforço brutal, mas inevitável, para um país que quer pertencer a uma comunidade de nações democráticas como a UE.

Outra questão é o modo de promover, planear e executar as medidas de redução do deficit, ou seja, a questão política propriamente dita. Aqui é que vale a pena fazer incidir a nossa atenção.
Em democracia os sacrifícios que se pedem aos cidadãos, para serem exequíveis, carecem de ser assumidos pela maioria como necessários e inevitáveis. Todos os que conhecem um pouco de história sabem que é assim.

O Presidente Roosevelt, por exemplo, demorou anos a preparar a opinião pública americana antes de tomar a decisão, que sabia inevitável, de fazer os Estados Unidos entrar na Segunda Guerra Mundial.

Aliás a história da liderança da América por Roosevelt, após 1932 até à sua morte, imagine-se (!) em 1945, é notável.

As decisões que exigem sacrifícios aos povos têm que ser assumidas colectivamente, serem concentradas no tempo, comunicadas de forma determinada e convincente, não perderem de vista a equidade e tocarem a corda sensível de um valor, um pouco em desuso, que se chama patriotismo.

Vamos ver se as políticas que vão ser anunciadas apontarão no caminho certo, ou seja, se os sacrifícios exigidos à comunidade serão assumidos por todos e por todos suportados.

DÉFICIT

Ainda em busca na net de notícias acerca das medidas anunciada pelo PM - que tardam em aparecer mesmo na Lusa - deparo com este extraordinário post no INCURSÕES.

"Seisvirgulaoitentaetrês

Acompanhei esta manhã a visita do Senhor Ministro da Justiça a um dos centros de reeducação de menores, geridos pelo IRS (...não, é o outro, o Instituto de Reinserção Social).

O Centro conta com modelares instalações, nas quais não faltam piscina e picadeiro e estábulo com vários cavalos, para aulas de equitação. Nele trabalham 31 funcionários administrativos, de todas as categorias, desde director e sub-director a tratador de cavalos. Para além destes 31 administrativos, conta ainda com a indispensável colaboração de 9 professores, médico e até um sacerdote, embora estes últimos não trabalhem ali a tempo integral.

Ao todo são mais de 50 (cinquenta) funcionários e prestadores de serviços que, diariamente, ali labutam de forma esforçada, em prol da reinserção social de jovens que, por uma razão ou por outra, se desviaram das normas sociais estabelecidas ou, como dirá o sacerdote, que pecaram.

Um último pormenor: estão internados neste centro 9 (nove) jovens."

terça-feira, maio 24

ANTÓNIO GUTERRES


Escultura no Aeroporto de Faro - Foto de Marg. Ramos

Eh pá! O Guterres já lá vai! para “Alto-comissário da ONU para os refugiados”

Este é o site do ACNUR em português. No site do ACNUR, em inglês, já é dada a notícia da escolha de Guterres. Veja aqui.

Com que então Freitas do Amaral seria um mau Ministro dos Negócios Estrangeiros? Blá, blá, blá ... Então esta não é também uma vitória da diplomacia portuguesa?

HOPPER


Hopper para conhecer o desfio

CHINA BELA


"Blue" Kuang Jian 2000 [Oil on canvas 56" x 42"]

Kuang Jian was born in 1961 in Hefei City, Anhui province. He began studying art privately in 1974 and in 1979 was accepted into the Academy of Arts of the People's Liberation Army, Beijing. Since his graduation in 1983 he has been an art director for the Army Day Movie Studio, Beijing. He was awarded the Bronze prize at the Seventh National Exhibition in 1989 and has participated in shows in Australia, Hong Kong, Taiwan, Japan and Germany. He currently resides in Beijing.

Ver Aqui

(Das andanças de Marg. Ramos pela China)

6,83%

Há muito tempo que existia a convicção de que, em Portugal, o orçamento de estado para 2005 era, de facto, uma fraude. Há muito tempo que algumas pessoas vinham avisando para o embuste da orientação política de Santana Lopes, Paulo Portas e Bagão Félix.

Apuradas as contas, com verdade e competência, pela Comissão Constâncio, ainda sem considerar as autarquias e as regiões autónomas, o deficit apurado, para 2005, atinge 6,83 %. O mais alto de todos os países da UE e mais do dobro daquele que foi apresentado pelo ex-ministro das finanças Bagão Félix.

Talvez agora alguns altos responsáveis políticos, assim como influentes fazedores de opinião, disponham de dados suficientes para avaliar da seriedade e competência políticas de Bagão Félix. E possam compreender o verdadeira alcance de alguns episódios do seu magistério político nos governos que integrou. Ou ainda não é suficiente?

Vejam só esta pequena amostra que o DN hoje apresenta.

“No orçamento apresentado por Bagão Félix faltava dinheiro para pagar salários dos funcionários públicos, pensões dos reformados, subsídios de desemprego, facturas com a saúde...

(…)

Nas pensões, as verbas destinadas aos aumentos anunciados pelo Governo de Santana Lopes não estavam orçamentadas, "em virtude de não ter sido considerada a actualização das pensões", explica o relatório Constâncio.

Veja-se o que se passa nas contas da Segurança Social, onde as receitas e as despesas são irreais. Para pagar reformas e subsídios de desemprego, faltam 598,8 milhões de euros. Ou seja, grosso modo, falta metade da verba anual para pagar aos desempregados.

As receitas da Segurança Social foram de tal maneira empoladas que existe um excedente de 189 milhões de euros, no OE para 2005 e assinado por Bagão Félix. Pois bem, agora a Comissão Constâncio corrigiu, apurando um défice de 598 milhões de euros. Na frente dos cuidados sociais, não é tudo.

Na Caixa Geral de Aposentações (CGA), a segurança social dos funcionários públicos, faltam 228,3 milhões de euros.

(…)

Na Saúde, a hemorragia orçamental é difícil de estancar o défice atinge uma profundidade de 1,772 mil milhões de euros, o suficiente para ordenar a construção de uma outra ponte sobre o Tejo. Bagão Félix tinha previsto um défice de 259,7 milhões de euros, mas agora a Comissão Constâncio refez as contas e apurou que afinal o Governo necessita de mais 1,51 mil milhões de euros.”

segunda-feira, maio 23

CANÇÃO


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Pelos ramos do loureiro
vão duas pombas escuras.
Uma era o sol,
a outra, a lua.
Vizinhas, disse-lhes,
onde está minha sepultura?
Em minha cauda, disse o sol.
Em minha garganta, disse a lua.
E eu que estava caminhando
com terra pela cintura
vi duas águias de mármore
e uma rapariga desnuda.
Uma era a outra
e a rapariga era nenhuma.
Aguiazinhas, disse-lhes,
onde está minha sepultura?
Em minha cauda, disse o sol.
Em minha garganta, disse a lua.
Pelos ramos da cerejeira
vi duas pombas desnudas,
uma era a outra,
e as duas eram nenhuma.

Federico García Lorca

“Primeiras Canções” – 1922

In Obra Poética Completa
Martins Fontes – São Paulo
Tradução de William Agel de Mello

SARDOAL


Sardoal, 2005 Mai 15

Apresentando uma por rolo que vale a pena.

domingo, maio 22

BENFICA E TRAPATTONI

No dia 6 de Julho de 2004 escrevi um post a propósito da contratação de Trapattoni pelo Benfica. Hoje o Benfica sagrou-se campeão nacional de futebol. Para além de todas as razões que no futebol, por vezes, a razão desconhece, esta é uma vitória que se deve, no essencial, ao treinador italiano do Benfica.

"Trapattoni
Digam o que disserem a grande notícia do dia é a contratação de Trapattoni para treinador do Benfica. Por ser o Benfica e por ser Trapattoni. Para quem tenha dúvidas acerca do significado desta contratação para o futebol português e para Portugal leia o artigo "O omnipresente". É um extraordinário texto da jornalista Andreia Schianchi, da "La Gazzeta Dello Sport",
publicado hoje no Público." 6/7/2004

(O link já não "encontra" o texto referido mas nele, de forma brilhante, era descrita a áurea de Trapattoni que prenunciava o seu sucesso em Portugal).

JORGE DE SENA


Jorge de Sena é um dos maiores poetas e escritores da língua portuguesa de todos os tempos. Não há que ter medo das palavras. Sena ombreia com os grandes Luís de Camões e Fernando Pessoa.

Polémico e insubmisso. Exigente com a sua Pátria que nunca renegou. Morreu nos Estados Unidos e lá ficou sepultado. É uma vergonha que, apesar de todas as dificuldades, o Estado português não assegure as condições do seu regresso a Portugal. Todas as diligências deviam ser realizadas para alcançar esse objectivo.

Vejo que o assunto é, mais vez, lembrado aqui.

O Julgamento de Nuremberg


Para encerrar a série de posts acerca do 60º Aniversário do fim da 2ª Guerra Mundial

Les accusés :
Premier rang, de gauche à droite : Hermann Göring , Rudolf Hess , Joachim von Ribbentrop , Wilhelm Keitel , Ernst Kaltenbrunner , Alfred Rosenberg , Hans Frank , Wilhelm Frick , Julius Streicher , Walther Funk , Hjalmar Schacht . Deuxième rang, de gauche à droite : Karl Dönitz , Erich Raeder , Baldur von Schirach , Fritz Sauckel , Alfred Jodl , Franz von Papen , Arthur Seyss-Inquart , Albert Speer , Konstantin van Neurath , Hans Fritzsche .

Ver aqui

sexta-feira, maio 20

O ANJO


Foto de Graça Seligman O Caixote

O anjo que em meu redor passa e me espia
E cruel me combate, nesse dia
Veio sentar-se ao lado do meu leito
E embalou-me, cantando, no seu peito.

Ele que indiferente olha e me escuta
Sofrer, ou que, feroz comigo luta,
Ele que me entregara à solidão,
Poisava a sua mão na minha mão.

E foi como se tudo se extinguisse,
Como se o mundo inteiro se calasse,
E o meu ser liberto enfim florisse,
E um perfeito silêncio me embalasse.

Sophia de Mello Breyner Andresen

In “Dia do Mar” - 1947

Salazar e a Questão das Finanças do Estado


SALAZAR EXPLICA AS CONDIÇÕES DA REFORMA FINANCEIRA. [Discurso proferido na sala do Conselho de Estado, em 27 de Abril de 1928, no acto da posse de Ministro das Finanças, segundo as notas do jornal Novidades.] In "O Portal da História"

O discurso que surge, paradoxalmente, pleno de pontos comuns com os que preenchem a nossa actualidade política e noticiosa, está disponível no IR AO FUNDO E VOLTAR.

Discurso de Salazar no momento de entrar definitivamente para o governo como Ministro das Finanças, lugar que só abandonou em 1940. A sua participação na política tinha sido até aí escassa. Convidado, em 1918, por Sidónio Pais para secretário no Ministério das Finanças, recusara. Em 1921 fora eleito deputado, mas segundo parece só se apresentou no Palácio de São Bento uma única vez. Em 1926 fora escolhido, pela primeira vez, para Ministro das Finanças, mas um desentendimento com o primeiro-ministro da altura fez com que se demitisse.

Salazar foi chamado novamente em 1928, devido ao falhanço das negociações de um empréstimo de 12 milhões de libras, devido à não aceitação pelo governo português das condições draconianas impostas pela Sociedade das Nações para aprovar o empréstimo.

Neste discurso Salazar explicita claramente quais foram as suas exigências para aceitar regressar ao governo, e que não é mais do que a instauração de uma Ditadura das finanças, acabando proferindo a célebre frase: "sei muito bem o que quero e para onde vou."

Em 5 de Julho de 1932 foi nomeado Chefe do Governo, lugar que manteve até 6 de Setembro de 1968.

quinta-feira, maio 19

UM POR TODOS


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Ao JPP

Poeta feito de prótons
de nêutrons e de neutrinos.
Poeta feito de mícrons
de minúsculos,
mas superlativos,
superladino:
tu és pó e escreves menos que pó.
Paulicéia concentrada:
paz na terra aos homens de versos breves.

Felipe Fortuna
(nasceu no Rio de Janeiro -1963)

In Poesia Brasileira do Século XX
Jorge Henrique Bastos
Antígona

À descoberta

Novos links:

Fotograficamente

Pulga

Solidário na Denúncia


"Vergonha (na estrada) nacional (Esta é a doer! E é também a primeira entrada comum a um blog -Dias sem árvores, há muito na forja- que pretende denunciar "casos" destes de todos os pontos do país! Se quiser colaborar é só dizer.)"

Veja a descrição no Dias sem Árvores.

DIA DO MAR NO AR


“Foto de António José Alegria, do amistad”

Dia do mar no ar, construído
Com sombras de cavalos e de plumas

Dia do mar no meu quarto – cubo
Onde os meus gestos sonâmbulos deslizam
Entre o animal e a flor como medusas.

Dia do mar no ar, dia alto
Onde os meus gestos são gaivotas que se perdem
Rolando sobre as ondas, sobre as nuvens.

Sophia de Mello Breyner Andresen

In Coral - 1950