Natal à chuva. Uma raridade a sul onde me habituei a ver brilhar o sol em todas as estações. Uma nota pessoal para assinalar que, neste Natal, ao cimo das escadas, da casa/loja/oficina onde vivi tantos anos, havia uma surpresa: uma foto grande de meu irmão e, ao lado, uma placa reproduzindo o post que intitulei “O meu irmão Dimas (morreu)”.
Uma comovente surpresa. Na placa foi omitida a palavra “morreu” pois, de facto, ele não morreu. Aliás assinalei a sua morte física, a 25 de Fevereiro passado, com um post no qual, explicitamente, a não refiro.
As ruas da minha cidade de Faro, batidas pela chuva miúda e fustigadas pelo frio, não escondiam a tristeza dos lugares abandonados à sua sorte. Ninguém cuidou de preservar a nobreza do centro da cidade. Os poderes públicos desertaram da sua função e as gentes desertaram do seu lugar de eleição.
Muito o meu irmão se preocupava com esta outra morte. Ele foi daqueles comerciantes, de sucesso, que não desertou para o “Centro Comercial” dos arrabaldes mantendo-se firme na Rua de Santo António, o “Centro Histórico”, comercial e cultural, da cidade.
Sei que muito o entristecia esse crime sem castigo, repetido, em nome do progresso, em muitas cidades do país e a que ninguém põe cobro. A celebrada política das cidades não é, em Portugal, mais do que um slogan que, infelizmente, não é para levar a sério.
Mas o negócio não perdeu brilho, nem bom gosto, nem qualidade e, ao fim de muito trabalho persistente, a cidade haverá de reconquistar a nobreza do seu centro e ele renascerá. Apesar de se não encontrarem sinais de “Faro, Capital da Cultura – 2005”.
Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, dezembro 26
sábado, dezembro 24
NATAL DE 2005
“Dia de Chuva” – Fotografia de Margarida Ramos
Ria Formosa – Ilha de Faro (Agosto de 1987)
Natal é o lugar do regresso aos afectos
Perdidos qual visitação de alma vazia
Natal é o abandono do berço original
O beijo no chão da inocência querida
Trespassar as portas antigas do sonho
Respirar o ar do esquecimento arrepia
Olhar as arestas da vida mar ao longe
Ao alcance de uma mão ali estendida
Natal é o sol do nosso Inverno a luzir
Dentro de nós é som de música antiga
Natal é olhar e não ver o que nos mata
Sorrir à memória cantando uma cantiga
Lisboa, 22 de Dezembro de 2005
Ria Formosa – Ilha de Faro (Agosto de 1987)
Natal é o lugar do regresso aos afectos
Perdidos qual visitação de alma vazia
Natal é o abandono do berço original
O beijo no chão da inocência querida
Trespassar as portas antigas do sonho
Respirar o ar do esquecimento arrepia
Olhar as arestas da vida mar ao longe
Ao alcance de uma mão ali estendida
Natal é o sol do nosso Inverno a luzir
Dentro de nós é som de música antiga
Natal é olhar e não ver o que nos mata
Sorrir à memória cantando uma cantiga
Lisboa, 22 de Dezembro de 2005
POLÍTICA
Não vi o debate Soares/Cavaco. Deveres de amizade o impediram. Ouvi e li alguns comentários. A direita política, ideológica e dos interesses rejubila porque Cavaco não desmaiou. Aguentou as críticas duras de Soares. Dizem que foi até compassivo com ele!
A política vista do lado das direitas, hipocritamente, ajuntadas em torno de Cavaco, é a encenação de um baile de gala pelo resgate da grandeza da Pátria, em crise, que encobre o desejo de vingança dos derrotados das legislativas passadas agora arredados, à força, da liça.
O patriotismo de direita, encarnado por Cavaco, denegrindo os partidos, é um espectáculo triste, um exercício tortuoso de cinismo, representado por um actor que não é personagem.
O prócer Cavaco vitupera, pelas costas, as críticas de Soares porque detesta os partidos, a política e, no fundo, o combate democrático. A democracia para Cavaco é uma espécie de diálogo dos silêncios.
Soares, democrata, expondo seus vícios e virtudes, diz na cara do adversário o que pensa, com a coragem que não há no outro lado, honrando a política, enobrecendo o seu papel na hora das grandes decisões para o futuro da comunidade e da Nação. Com ele havemos política.
A política vista do lado das direitas, hipocritamente, ajuntadas em torno de Cavaco, é a encenação de um baile de gala pelo resgate da grandeza da Pátria, em crise, que encobre o desejo de vingança dos derrotados das legislativas passadas agora arredados, à força, da liça.
O patriotismo de direita, encarnado por Cavaco, denegrindo os partidos, é um espectáculo triste, um exercício tortuoso de cinismo, representado por um actor que não é personagem.
O prócer Cavaco vitupera, pelas costas, as críticas de Soares porque detesta os partidos, a política e, no fundo, o combate democrático. A democracia para Cavaco é uma espécie de diálogo dos silêncios.
Soares, democrata, expondo seus vícios e virtudes, diz na cara do adversário o que pensa, com a coragem que não há no outro lado, honrando a política, enobrecendo o seu papel na hora das grandes decisões para o futuro da comunidade e da Nação. Com ele havemos política.
sexta-feira, dezembro 23
POEMA DE NATAL
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
INTRIGANTE
"No DN, via Ponte Europa. O PP entreteve-se a microfilmar os segredos de estado do Ministério da Defesa?"
Estas notícias não merecem escândalo público? Primeiras páginas e editoriais? Comissão de Inquérito na AR? Investigação do SIS e da PGR? Aguardam-se os resultados!
In Prozacland
Estas notícias não merecem escândalo público? Primeiras páginas e editoriais? Comissão de Inquérito na AR? Investigação do SIS e da PGR? Aguardam-se os resultados!
In Prozacland
A MULTIPLICAÇÃO DO CEDRO
(muitos anos atrás)
O senhor deus é espectador desse homem
Encheu-lhe o regaço de dias e soprou-lhe
nos olhos o tempo suave das árvores
Deu-lhe e tirou-lhe uma por uma
cada uma das quatro estações
A primavera veio e ele árvore singular
à beira do tempo plantada
vestiu-se de palavras
E foi a folha verde que deus passou
pela terra desolada e ressequida
Quando as palavras o deixaram de cobrir
ficaram-lhe dois dos olhos por onde
o senhor olha finitamente a sua obra
Até que as chuvas lhe molharam os olhos
e deles saíram os rios que foram desaguar
ao grande mar do princípio
Ruy Belo
Aquele Grande Rio Eufrates
O senhor deus é espectador desse homem
Encheu-lhe o regaço de dias e soprou-lhe
nos olhos o tempo suave das árvores
Deu-lhe e tirou-lhe uma por uma
cada uma das quatro estações
A primavera veio e ele árvore singular
à beira do tempo plantada
vestiu-se de palavras
E foi a folha verde que deus passou
pela terra desolada e ressequida
Quando as palavras o deixaram de cobrir
ficaram-lhe dois dos olhos por onde
o senhor olha finitamente a sua obra
Até que as chuvas lhe molharam os olhos
e deles saíram os rios que foram desaguar
ao grande mar do princípio
Ruy Belo
Aquele Grande Rio Eufrates
quinta-feira, dezembro 22
ENCANDESCENTE
Líder do CDS chama assassino a Che Guevara
Ao abrigo do direito de resposta ou porque disparate tem limites
O Dr. Ribeiro e Castro não pensa
Ao abrigo do direito de resposta ou porque disparate tem limites
O Dr. Ribeiro e Castro não pensa
Caga… Sentenças, idiotices, parvoíces
O Dr. Ribeiro e Castro abre a boca e sai asneira
Sofre de caganeira, diarreia
Incontinência verbal
Por favor alguém o amordace
Lhe dê um clister cerebral
Profilático, preventivo
De mais disparates, tolices e aberrações.
A esquerda é, para esta abécula acéfala
Causa e consequência de todos os males
Passados, presentes e por vir
Ainda o ouviremos dizer
Que foi a esquerda que crucificou Jesus
Que o gajo que pregou os pregos na cruz
Era comunista e martelando
Entoava a internacional.
Mas agora exagerou
Ultrapassou todos os limites do bom senso
Da coerência, da inteligência
Dizer que o Che foi um assassino
É um disparate sem tamanho
Próprio do cérebro limitado e tacanho
Do Dr. Ribeiro e Castro
Aconselho-o a fazer terapia
Voluntario-me para lhe efectuar uma lobotomia
Uma dissecação radical da parte do cérebro
Que lhe liga a boca ao intestino
E que faz dele o maior cretino
No triste panorama politico nacional.
JÁ COMEÇOU
“O Presidente da República é e tem de ser um político, e um político experiente. Se os portugueses estão convencidos que a única razão que move Soares é a do seu egoísmo e da sua vaidade, e não um interesse nacional (como Alegre quer demonstrar sem conseguir), então merecem Cavaco Silva e a sua vacuidade política e presidencial.
Então não perceberam nada do país que temos e somos, e elegerão o seu manequim. Cavaco é um homem de direita com uma visão de direita, incapaz de gerir uma dificílima situação internacional e sem nenhum reconhecimento e conhecimento de política nacional, e, mais cedo ou mais tarde, Sócrates e o seu Governo e os portugueses em geral irão dar por isso. Se o elegerem, é porque o merecem.”
quarta-feira, dezembro 21
OBRIGADO
Imagem de ph&-no
Agradeço os links, os parabéns e as simpatias, de todos, a propósito do 2º aniversário do absorto. Desculpas antecipadas pelos esquecimentos involuntários. Bem hajam.
Agradeço os links, os parabéns e as simpatias, de todos, a propósito do 2º aniversário do absorto. Desculpas antecipadas pelos esquecimentos involuntários. Bem hajam.
Destaco Divas & Contrabaixos, Prozacland, Linha de Cabotagem, andorinha negra, aguarelas de Turner, nomadologiaz, Bar do Moe, nº 133, respirar o mesmo ar, amistad, dotempodaluz e Dias com árvores. Ainda a tempo de agradecer ao Abrangente.
COISAS ACABADAS
Gravura de José Dias Coelho, assassinado pela PIDE em 19 de Dezembro de 1961
Dentro do medo e das suspeitas,
com a mente agitada e os olhos aterrados,
fundimos e planeamos o que fazer
para evitar o perigo
certo que desta forma horrenda nos ameaça.
No entanto equivocamo-nos, não está esse no caminho;
falsas eram as mensagens
(ou não as ouvimos, ou não as sentimos bem).
Outra catástrofe, que não imaginávamos,
brusca, torrencial cai sobre nós,
e desprevenidos – como teríamos tempo – arrebata-nos.
C. Kavafis
Dentro do medo e das suspeitas,
com a mente agitada e os olhos aterrados,
fundimos e planeamos o que fazer
para evitar o perigo
certo que desta forma horrenda nos ameaça.
No entanto equivocamo-nos, não está esse no caminho;
falsas eram as mensagens
(ou não as ouvimos, ou não as sentimos bem).
Outra catástrofe, que não imaginávamos,
brusca, torrencial cai sobre nós,
e desprevenidos – como teríamos tempo – arrebata-nos.
C. Kavafis
Tradução de Joaquim M. Magalhãese Nikos Pratsinis
Relógio d´Água
terça-feira, dezembro 20
DOIS ANOS (FIM DE CELEBRAÇÃO)
O autor em “Histórias Para Serem Contadas”, de Osvaldo Dragún. Quantos anos!
“Les positions cyniques et réalistes permettent de trancher et de mépriser. Les autres obligent à comprendre. D´où le prestige des premières sur les intellectuels.”
Albert Camus
“Les positions cyniques et réalistes permettent de trancher et de mépriser. Les autres obligent à comprendre. D´où le prestige des premières sur les intellectuels.”
Albert Camus
“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard
segunda-feira, dezembro 19
DOIS ANOS - " TARDE "
“TARDE” – Fotografia de Hélder Gonçalves (*)
Dois anos. Passam depressa, ou devagar, conforme se ocupa o palco ou a plateia. Na plateia dois anos são uma eternidade. Uma parte do meu mundo passou a ser esta espécie de conversa a sós com os outros.
No dia 19 de Dezembro de 2003 criei o absorto por acaso. Dei aqueles três passos que nos indicam e, de repente, fui confrontado com a sua existência. Não tinha nada preparado para o preencher. Nem o título.
Inventei tudo naqueles minutos seguintes. Absorto. Veio daquele lugar onde devem estar guardadas as memórias mais fundas.
Uma janela com vista para a rua onde a vida se rebola. Um meio de encetar novos conhecimentos. Um estímulo para forjar e tornar a ideia disponível. Um guião não escrito de uma economia não mercantil de ideias e de afectos.
Um tempo de espera que se transforma em objecto de prazer. Um sorriso, um bom dia, um olá, um tudo bem, um aperto de mão aos amigos, que não vejo, estejam perto ou longe. Um corpo suspenso no tempo que acena, crente, ao futuro.
Um acto puro de espiritualidade cúmplice em homenagem aos amigos solidários, às dádivas por amor e aos encontros inesperados. O prazer de escrever palavras e projectar imagens. Um modelo simples e directo de comunicar.
A atracção de novos olhares e a descoberta de um novo mundo. Sem obrigações nem obediências a grupos, castas, congregações ou partidos. O espaço da liberdade individual possível em busca da beleza e do cumprimento da justiça.
O relativo assumido contra o absoluto. A luta contra o silêncio do medo. A luta da indignação contra o terror da mentira e do ódio. A verdade soprando segredos ao vento. A solidariedade com os que nos amam, retribuindo o seu amor. A defesa do direito a sonhar e, subtilmente, sobreviver.
(*) Em homenagem ao Hélder Gonçalves que me cedeu as primeiras fotografias de autor como esta bela "tarde", a segunda postada, e uma das mais pesquisadas.
Dois anos. Passam depressa, ou devagar, conforme se ocupa o palco ou a plateia. Na plateia dois anos são uma eternidade. Uma parte do meu mundo passou a ser esta espécie de conversa a sós com os outros.
No dia 19 de Dezembro de 2003 criei o absorto por acaso. Dei aqueles três passos que nos indicam e, de repente, fui confrontado com a sua existência. Não tinha nada preparado para o preencher. Nem o título.
Inventei tudo naqueles minutos seguintes. Absorto. Veio daquele lugar onde devem estar guardadas as memórias mais fundas.
Uma janela com vista para a rua onde a vida se rebola. Um meio de encetar novos conhecimentos. Um estímulo para forjar e tornar a ideia disponível. Um guião não escrito de uma economia não mercantil de ideias e de afectos.
Um tempo de espera que se transforma em objecto de prazer. Um sorriso, um bom dia, um olá, um tudo bem, um aperto de mão aos amigos, que não vejo, estejam perto ou longe. Um corpo suspenso no tempo que acena, crente, ao futuro.
Um acto puro de espiritualidade cúmplice em homenagem aos amigos solidários, às dádivas por amor e aos encontros inesperados. O prazer de escrever palavras e projectar imagens. Um modelo simples e directo de comunicar.
A atracção de novos olhares e a descoberta de um novo mundo. Sem obrigações nem obediências a grupos, castas, congregações ou partidos. O espaço da liberdade individual possível em busca da beleza e do cumprimento da justiça.
O relativo assumido contra o absoluto. A luta contra o silêncio do medo. A luta da indignação contra o terror da mentira e do ódio. A verdade soprando segredos ao vento. A solidariedade com os que nos amam, retribuindo o seu amor. A defesa do direito a sonhar e, subtilmente, sobreviver.
(*) Em homenagem ao Hélder Gonçalves que me cedeu as primeiras fotografias de autor como esta bela "tarde", a segunda postada, e uma das mais pesquisadas.
SEGUNDO ANIVERSÁRIO
O autor na claridade do sul
Segundo aniversário. O absorto começou assim. Com esta linha programática que se mantém actual.
Vai entrar no terceiro ano de vida com os olhos no futuro.
Segundo aniversário. O absorto começou assim. Com esta linha programática que se mantém actual.
Vai entrar no terceiro ano de vida com os olhos no futuro.
domingo, dezembro 18
DEZ PALAVRAS
Fotografia de Angèle
“Réponse à la question sur mes dix mots préférés: “Le monde, la douleur, la terre, la mère, les hommes, le désert, l´honneur, la misère, l´été, la mer.””
Albert Camus
“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard
“Réponse à la question sur mes dix mots préférés: “Le monde, la douleur, la terre, la mère, les hommes, le désert, l´honneur, la misère, l´été, la mer.””
Albert Camus
“Carnets – III” - Cahier nº VII (Mars 1951/Juillet 1954)
Gallimard
O TEMPO
Fotografia de Angèle
O ar frio amanheceu quase como uma surpresa
Após os meses de aragens secas e desapontadas
Assim o tempo nos baste para apreciar o tempo
Que nos sobra de tanta agrura de rugas e raivas
Lisboa, 10 de Novembro de 2005
O ar frio amanheceu quase como uma surpresa
Após os meses de aragens secas e desapontadas
Assim o tempo nos baste para apreciar o tempo
Que nos sobra de tanta agrura de rugas e raivas
Lisboa, 10 de Novembro de 2005
sábado, dezembro 17
Crónica de Uma Fidelidade (5)
Fotografia daqui
O ano de 1976 foi recheado de batalhas políticas tendo ocorrido, como já descrevi, eleições legislativas (Abril), Presidenciais (Verão) e Autárquicas (Dezembro). Perdemo-las todas o que não admira, vistas a esta distância, pois, excepto nas presidenciais, o MES não fez verdadeiras campanhas para angariar votos mas antes, tão só, para esclarecer o eleitorado.
Lembro-me, como se fora hoje, como os candidatos do MES retorquiam à curiosidade dos cidadãos com um pedido de participação desinteressada no acto cívico de votar sem pedir o voto no próprio partido que propagandeavam. Esta é, aliás, uma das facetas mais curiosas da acção politica do MES visível na própria propaganda que nunca ostentou a figura de qualquer dos seus dirigentes.
Ler na íntegra no IR AO FUNDO E VOLTAR
O ano de 1976 foi recheado de batalhas políticas tendo ocorrido, como já descrevi, eleições legislativas (Abril), Presidenciais (Verão) e Autárquicas (Dezembro). Perdemo-las todas o que não admira, vistas a esta distância, pois, excepto nas presidenciais, o MES não fez verdadeiras campanhas para angariar votos mas antes, tão só, para esclarecer o eleitorado.
Lembro-me, como se fora hoje, como os candidatos do MES retorquiam à curiosidade dos cidadãos com um pedido de participação desinteressada no acto cívico de votar sem pedir o voto no próprio partido que propagandeavam. Esta é, aliás, uma das facetas mais curiosas da acção politica do MES visível na própria propaganda que nunca ostentou a figura de qualquer dos seus dirigentes.
Ler na íntegra no IR AO FUNDO E VOLTAR
NOBEL DA LITERATURA - 2005
Tem ecoado, em Portugal, um silêncio ruidoso acerca de Harold Pinter e do seu discurso na cerimónia da atribuição do Nobel da Literatura - 2005.
sexta-feira, dezembro 16
SOARES, O POLÍTICO
Assistindo, hoje, ao debate entre Mário Soares e Francisco Louçã, o mais interessante de todos, até ao momento, lembrei-me do que escrevi, um ano atrás, aquando da cerimónia dos 80 anos de Mário Soares. Transcrevo esse post, a título excepcional, pois o desempenho de Soares confirma e sublinha tudo o que então escrevi.
“Pensei não escrever nada acerca dele. Todos escrevem, nestas efemérides, mesmo que as personagens não lhes interessem para coisa nenhuma.Um dia, só pode ter sido no ano de 1969, fui com o Xico Chaves e a Helena Moura e mais alguém, que já não me lembro quem, falar com o Soares à sede da CEUD. O Xico Chaves, que vive no Brasil e não sei que é feito, é que teve a ideia.
Ficamos à espera numa sala um tempo e apareceu-nos um Soares imponente com aquele ar triunfante mesmo quando está na mó de baixo. A conversa foi curta e inconclusiva pois, pelo menos eu, não estava virado, à época, para a social-democracia ou para o socialismo democrático.
O Soares impressionava mas era demasiado pouco estimulante para o nosso desejo de mudança. Sentia-me melhor na CDE. E assim foi. No início dos anos 80 tudo mudou. Passei a apoiar todas as iniciativas do Soares e, desde o início, a sua “impensável” primeira candidatura presidencial que havia de sair vencedora.
Na sequência da extinção do MES, com um grupo de ex-militantes deste movimento, no qual se incluía o Ferro Rodrigues, ingressei, em 1986, no PS depois de ter sido candidato independente nas eleições legislativas de 1985 nas quais só faltou ser açoitado pelo povo nas ruas. Deve ter sido o pior resultado de sempre do PS.
A partir de 1985 Mário Soares, para mim, passou a ser fixe. Até hoje. Agora já não entro nestas festas de aniversário, mesmo de inscrição livre, porque me aborrecem a maior parte dos convivas e desconfio das palmadas nas costas.O que me interessa é o hino à vida e à intervenção cívica de que Mário Soares é um exemplo. Parabéns.”
“Pensei não escrever nada acerca dele. Todos escrevem, nestas efemérides, mesmo que as personagens não lhes interessem para coisa nenhuma.Um dia, só pode ter sido no ano de 1969, fui com o Xico Chaves e a Helena Moura e mais alguém, que já não me lembro quem, falar com o Soares à sede da CEUD. O Xico Chaves, que vive no Brasil e não sei que é feito, é que teve a ideia.
Ficamos à espera numa sala um tempo e apareceu-nos um Soares imponente com aquele ar triunfante mesmo quando está na mó de baixo. A conversa foi curta e inconclusiva pois, pelo menos eu, não estava virado, à época, para a social-democracia ou para o socialismo democrático.
O Soares impressionava mas era demasiado pouco estimulante para o nosso desejo de mudança. Sentia-me melhor na CDE. E assim foi. No início dos anos 80 tudo mudou. Passei a apoiar todas as iniciativas do Soares e, desde o início, a sua “impensável” primeira candidatura presidencial que havia de sair vencedora.
Na sequência da extinção do MES, com um grupo de ex-militantes deste movimento, no qual se incluía o Ferro Rodrigues, ingressei, em 1986, no PS depois de ter sido candidato independente nas eleições legislativas de 1985 nas quais só faltou ser açoitado pelo povo nas ruas. Deve ter sido o pior resultado de sempre do PS.
A partir de 1985 Mário Soares, para mim, passou a ser fixe. Até hoje. Agora já não entro nestas festas de aniversário, mesmo de inscrição livre, porque me aborrecem a maior parte dos convivas e desconfio das palmadas nas costas.O que me interessa é o hino à vida e à intervenção cívica de que Mário Soares é um exemplo. Parabéns.”
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