Deixar uma marca no nosso tempo como se tudo se tivesse passado, sem nada de permeio, a não ser os outros e o que se fez e se não fez no encontro com eles,
Editado por Eduardo Graça
segunda-feira, dezembro 11
domingo, dezembro 10
A NÃO ESQUECER
Fotografia de Hélder Gonçalves
O ditador morreu e não se fez justiça. Ao contrário do que afirmam muitos amnésicos o Chile, como sinteticamente escreveu Tomás Vasques, possui uma longa tradição democrática. Alguns podem tentar transformar os ditadores em heróis mas nem por isso a história os absolverá. A ditadura de Pinochet, repleta de crimes hediondos, jamais poderá ser branqueada ou esquecida.
O ditador morreu e não se fez justiça. Ao contrário do que afirmam muitos amnésicos o Chile, como sinteticamente escreveu Tomás Vasques, possui uma longa tradição democrática. Alguns podem tentar transformar os ditadores em heróis mas nem por isso a história os absolverá. A ditadura de Pinochet, repleta de crimes hediondos, jamais poderá ser branqueada ou esquecida.
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JARDIM EM ÓRBITA, JÁ!
'Discovery'"
A notícia mais importante da imprensa estrangeira é o lançamento da “Discovery”. Em Portugal é Jardim, por ele mesmo, e Pinto da Costa, por interposta pessoa. Bonito …
A política portuguesa sofrerá um rude golpe quando perder o "brilho" que lhe é emprestado por Alberto João Jardim. Mas é urgente pôr fim à “stand-up comedy” da Madeira.
Arcando com a responsabilidade da representação política da direita ultramontana e caceteira, cujos mais polidos representantes recolheram aos escritórios onde ciosamente guardam as jóias que a polícia fareja, Jardim precisa de entrar em órbita.
Se quisermos encontrar alguma evidência de mérito na política do governo, cirúrgica ou estratégica, não precisamos senão ouvi-lo. O seu discurso herda a tradição oratória dos ditadores do passado na caminhada para a tomada do poder.
Não dá para rir apesar de se tratar, segundo todas as evidências, no caso em apreço, de um mero exercício retórico. Mas a tolerância das democracias face às diatribes populistas dos aspirantes a ditadores tem um elevado preço e nunca deu bons resultados. Tenham a idade que tiverem e seja qual fôr o seu estatuto político.
Já basta!
A notícia mais importante da imprensa estrangeira é o lançamento da “Discovery”. Em Portugal é Jardim, por ele mesmo, e Pinto da Costa, por interposta pessoa. Bonito …
A política portuguesa sofrerá um rude golpe quando perder o "brilho" que lhe é emprestado por Alberto João Jardim. Mas é urgente pôr fim à “stand-up comedy” da Madeira.
Arcando com a responsabilidade da representação política da direita ultramontana e caceteira, cujos mais polidos representantes recolheram aos escritórios onde ciosamente guardam as jóias que a polícia fareja, Jardim precisa de entrar em órbita.
Se quisermos encontrar alguma evidência de mérito na política do governo, cirúrgica ou estratégica, não precisamos senão ouvi-lo. O seu discurso herda a tradição oratória dos ditadores do passado na caminhada para a tomada do poder.
Não dá para rir apesar de se tratar, segundo todas as evidências, no caso em apreço, de um mero exercício retórico. Mas a tolerância das democracias face às diatribes populistas dos aspirantes a ditadores tem um elevado preço e nunca deu bons resultados. Tenham a idade que tiverem e seja qual fôr o seu estatuto político.
Já basta!
CAMUS - ARTISTA MAIS QUE FILÓSOFO
Albert Camus
Sublinhados de Leitura das Obras Completas – Introdução e Cronologia (1)
1935
Junho : Obtém a licenciatura em filosofia.
1936
Abril : A peça “Revolta nas Astúrias”, que deveria subir à cena pouco antes da Páscoa, é proibida pelo “maire” de Argel sob pretexto da campanha eleitoral.
3 de Maio: a “Frente Popular” alcança a maioria nas eleições legislativas.
Maio : Camus obtém o diploma de estudos superiores de filosofia com uma tese intitulada: “Metafísica cristã e neoplatonismo. Platão e Santo Agostinho”.
17 de Julho: tem início a Guerra Civil Espanhola. Viagem à Europa Central.
9 de Setembro: regresso a Argel. Separação de Simone Hié mas o divórcio só ocorrerá em Fevereiro de 1940.
Sublinhados de Leitura das Obras Completas – Introdução e Cronologia (1)
1935
Junho : Obtém a licenciatura em filosofia.
1936
Abril : A peça “Revolta nas Astúrias”, que deveria subir à cena pouco antes da Páscoa, é proibida pelo “maire” de Argel sob pretexto da campanha eleitoral.
3 de Maio: a “Frente Popular” alcança a maioria nas eleições legislativas.
Maio : Camus obtém o diploma de estudos superiores de filosofia com uma tese intitulada: “Metafísica cristã e neoplatonismo. Platão e Santo Agostinho”.
17 de Julho: tem início a Guerra Civil Espanhola. Viagem à Europa Central.
9 de Setembro: regresso a Argel. Separação de Simone Hié mas o divórcio só ocorrerá em Fevereiro de 1940.
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« Si tu veux être philosophe … »
Ces années d’initiation littéraire et théâtrale sont aussi celles des études philosophiques. (…) attentif à sont propre mode de pensée, il s’estime romancier ou artiste plus que philosophe : il note dans ses Carnets, en 1936 : «On ne pense que par image. Si tu veux être philosophe, écris des romans.» (…)
«Pourquoi suis-je un artiste et non un philosophe ? C’est que je pense selon les mots et non selon les idées.» (Carnet – 1945). (…)
Si Camus n’a pas élaboré de système de pensée, s’il a préféré écrire des « essais » plutôt que des traités, il incarne déjà, dans son mode d’être, une morale qui ne cessera d’être la sienne: ouverte au bonheur, désireuse de ne rien perdre de la beauté de la nature, mais gardant la mémoire de ce qui peut faire le malheur des hommes. Il le formulera parfaitement plus tard : «Il y a la beauté et il y a les humiliés. Quelles que soient les difficultés de l’entreprise, je voudrais n´être jamais infidèle ni à l’une, ni aux autres.» («Retour à Tipassa».)
(1) In “Oeuvres complètes” – I (1931-1944) Gallimard, Introduction par Jacqueline Lévi-Valensi.
« Si tu veux être philosophe … »
Ces années d’initiation littéraire et théâtrale sont aussi celles des études philosophiques. (…) attentif à sont propre mode de pensée, il s’estime romancier ou artiste plus que philosophe : il note dans ses Carnets, en 1936 : «On ne pense que par image. Si tu veux être philosophe, écris des romans.» (…)
«Pourquoi suis-je un artiste et non un philosophe ? C’est que je pense selon les mots et non selon les idées.» (Carnet – 1945). (…)
Si Camus n’a pas élaboré de système de pensée, s’il a préféré écrire des « essais » plutôt que des traités, il incarne déjà, dans son mode d’être, une morale qui ne cessera d’être la sienne: ouverte au bonheur, désireuse de ne rien perdre de la beauté de la nature, mais gardant la mémoire de ce qui peut faire le malheur des hommes. Il le formulera parfaitement plus tard : «Il y a la beauté et il y a les humiliés. Quelles que soient les difficultés de l’entreprise, je voudrais n´être jamais infidèle ni à l’une, ni aux autres.» («Retour à Tipassa».)
(1) In “Oeuvres complètes” – I (1931-1944) Gallimard, Introduction par Jacqueline Lévi-Valensi.
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sábado, dezembro 9
ANA CACHOLA
Ana Cachola
Uma campeã numa modalidade desportiva pouco mediática, eminentemente individual e tecnicamente muito exigente. Ainda por cima da minha terra: Faro. Que viva!
Uma campeã numa modalidade desportiva pouco mediática, eminentemente individual e tecnicamente muito exigente. Ainda por cima da minha terra: Faro. Que viva!
sexta-feira, dezembro 8
DIFERENÇAS
Fotografia de Simon Gris
Estranhos são aqueles que não estranham. Cegam são aqueles que não vêem. Hipócritas são aqueles que fingem que não vêem. Posso ver o mar num objecto de contornos indecifráveis. O gosto individual está alojado num lugar inacessível aos outros. O que apreciamos na expressão do gosto dos outros é o nosso próprio gosto. A uniformização do gosto é o sonho das tiranias. Inalcançável. Mesmo quando parece que tudo marcha em harmonia, no silêncio do consentimento, subjaz a diversidade e a diferença. A tirania não suprime as diferenças suprime a revelação delas. Daí a vantagem da democracia pluralista. Reflecte, de forma mais autêntica, não só a realidade social como a individualidade nas suas múltiplas facetas.
Estranhos são aqueles que não estranham. Cegam são aqueles que não vêem. Hipócritas são aqueles que fingem que não vêem. Posso ver o mar num objecto de contornos indecifráveis. O gosto individual está alojado num lugar inacessível aos outros. O que apreciamos na expressão do gosto dos outros é o nosso próprio gosto. A uniformização do gosto é o sonho das tiranias. Inalcançável. Mesmo quando parece que tudo marcha em harmonia, no silêncio do consentimento, subjaz a diversidade e a diferença. A tirania não suprime as diferenças suprime a revelação delas. Daí a vantagem da democracia pluralista. Reflecte, de forma mais autêntica, não só a realidade social como a individualidade nas suas múltiplas facetas.
" SALÁRIO MÍNIMO NACIONAL "
Fotografia de Angèle
Estes têm sido dias estranhos para aqueles que encaram a política do governo socialista como um desfile de medidas anti populares, lesivas dos direitos adquiridos pelos trabalhadores. A recente decisão acerca do “salário mínimo nacional” evidencia dois factos interessantes:
- O “salário mínimo nacional” foi, pela primeira vez, aprovado em sede de concertação social recolhendo o acordo expresso de todas as organizações sindicais e patronais; o acordo assumiu uma natureza plurianual tomando como horizonte 2011, ou seja, vai para além da presente legislatura que termina em 2009.
- Esta actualização do “salário mínimo nacional” desarmou a política reivindicativa da CGTP na justa medida em que corresponde, quase na íntegra, aos valores constantes do seu caderno reivindicativo representando uma vitória política do governo na área social, curiosamente, aquela na qual melhor se evidencia a diferença entre as políticas neo-liberais e as socialistas.
Estes têm sido dias estranhos para aqueles que encaram a política do governo socialista como um desfile de medidas anti populares, lesivas dos direitos adquiridos pelos trabalhadores. A recente decisão acerca do “salário mínimo nacional” evidencia dois factos interessantes:
- O “salário mínimo nacional” foi, pela primeira vez, aprovado em sede de concertação social recolhendo o acordo expresso de todas as organizações sindicais e patronais; o acordo assumiu uma natureza plurianual tomando como horizonte 2011, ou seja, vai para além da presente legislatura que termina em 2009.
- Esta actualização do “salário mínimo nacional” desarmou a política reivindicativa da CGTP na justa medida em que corresponde, quase na íntegra, aos valores constantes do seu caderno reivindicativo representando uma vitória política do governo na área social, curiosamente, aquela na qual melhor se evidencia a diferença entre as políticas neo-liberais e as socialistas.
quinta-feira, dezembro 7
MÁRIO SOARES - 82 ANOS
Júlio Resende
Mário Soares faz hoje 82 anos. Aqui deixo o que escrevi, neste mesmo dia, no ano de 2004, a propósito dos seus 80 anos. Mantenho tudo e sublinho a traço grosso.
Pensei não escrever nada acerca dele. Todos escrevem, nestas efemérides, mesmo que as personagens não lhes interessem para coisa nenhuma.
Um dia, só pode ter sido no ano de 1969, fui com o Xico Chaves e a Helena Moura e mais alguém, que já não me lembro quem, falar com o Soares à sede da CEUD. O Xico Chaves, que vive no Brasil e não sei que é feito, é que teve a ideia.
Ficamos à espera numa sala um tempo e apareceu-nos um Soares imponente com aquele ar triunfante mesmo quando está na mó de baixo. A conversa foi curta e inconclusiva pois, pelo menos eu, não estava virado, à época, para a social-democracia ou para o socialismo democrático.
O Soares impressionava mas era demasiado pouco estimulante para o nosso desejo de mudança. Sentia-me melhor na CDE. E assim foi.
No início dos anos 80 tudo mudou. Passei a apoiar todas as iniciativas do Soares e, desde o início, a sua “impensável” primeira candidatura presidencial que havia de sair vencedora. [O meu apoio ao PS remonta, de facto, ao ano de 1979].
Na sequência da extinção do MES, com um grupo de ex-militantes deste movimento, no qual se incluía o Ferro Rodrigues, ingressei, em 1986, no PS depois de ter sido candidato independente nas eleições legislativas de 1985 nas quais só faltou ser açoitado pelo povo nas ruas onde me coube fazer o papel de candidato. Deve ter sido o pior resultado de sempre do PS.
A partir de 1985 o Mário Soares, para mim, passou a ser fixe. Até hoje. Agora já não entro nestas festas de aniversário, de inscrição livre, porque me aborrecem a maior parte dos convivas e desconfio das palmadas nas costas.
O que interessa é o hino à vida e à intervenção cívica de que Mário Soares é um exemplo. Parabéns.
Mário Soares faz hoje 82 anos. Aqui deixo o que escrevi, neste mesmo dia, no ano de 2004, a propósito dos seus 80 anos. Mantenho tudo e sublinho a traço grosso.
Pensei não escrever nada acerca dele. Todos escrevem, nestas efemérides, mesmo que as personagens não lhes interessem para coisa nenhuma.
Um dia, só pode ter sido no ano de 1969, fui com o Xico Chaves e a Helena Moura e mais alguém, que já não me lembro quem, falar com o Soares à sede da CEUD. O Xico Chaves, que vive no Brasil e não sei que é feito, é que teve a ideia.
Ficamos à espera numa sala um tempo e apareceu-nos um Soares imponente com aquele ar triunfante mesmo quando está na mó de baixo. A conversa foi curta e inconclusiva pois, pelo menos eu, não estava virado, à época, para a social-democracia ou para o socialismo democrático.
O Soares impressionava mas era demasiado pouco estimulante para o nosso desejo de mudança. Sentia-me melhor na CDE. E assim foi.
No início dos anos 80 tudo mudou. Passei a apoiar todas as iniciativas do Soares e, desde o início, a sua “impensável” primeira candidatura presidencial que havia de sair vencedora. [O meu apoio ao PS remonta, de facto, ao ano de 1979].
Na sequência da extinção do MES, com um grupo de ex-militantes deste movimento, no qual se incluía o Ferro Rodrigues, ingressei, em 1986, no PS depois de ter sido candidato independente nas eleições legislativas de 1985 nas quais só faltou ser açoitado pelo povo nas ruas onde me coube fazer o papel de candidato. Deve ter sido o pior resultado de sempre do PS.
A partir de 1985 o Mário Soares, para mim, passou a ser fixe. Até hoje. Agora já não entro nestas festas de aniversário, de inscrição livre, porque me aborrecem a maior parte dos convivas e desconfio das palmadas nas costas.
O que interessa é o hino à vida e à intervenção cívica de que Mário Soares é um exemplo. Parabéns.
quarta-feira, dezembro 6
O "INFORME" BAKER
Marilyn Monroe
El 'informe Baker' urge a retirar las tropas a partir de 2008 y a hablar con Irán y Síria
Tiro no porta-aviões. Esperam-se, a todo o momento, novas contorções de Bush para atenuar a derrota da sua estratégia política no Médio Oriente e, em particular, no Iraque.
Os seus estrénuos apoiantes, género José Manuel Fernandes, ensaiam manobras de diversão e José Manuel Barroso esconde-se, cobardemente, sob a capa de líder da Comissão Europeia. Silêncios …
El 'informe Baker' urge a retirar las tropas a partir de 2008 y a hablar con Irán y Síria
Tiro no porta-aviões. Esperam-se, a todo o momento, novas contorções de Bush para atenuar a derrota da sua estratégia política no Médio Oriente e, em particular, no Iraque.
Os seus estrénuos apoiantes, género José Manuel Fernandes, ensaiam manobras de diversão e José Manuel Barroso esconde-se, cobardemente, sob a capa de líder da Comissão Europeia. Silêncios …
D. AFONSO I - O CONQUISTADOR
D. Afonso Henriques
25 de Julho de 1109 - 6 de Dezembro de 1185
É pena que uma efeméride como a que me atrevo a lembrar possa surgir aos olhos de muitos como uma mera curiosidade. Mas, de facto, sempre me impressionou a epopeia política da fundação de Portugal e o papel nela desempenhado por Afonso I, mais conhecido por D. Afonso Henriques.
Se repararem nas datas é impressionante a longevidade do seu reinado e, ainda mais, a própria longevidade de Afonso Henriques pois, no século XII, em 1185, morreu com 76 anos, ou seja, a idade que corresponde, sensivelmente, à esperança média de vida no Portugal contemporâneo.
25 de Julho de 1109 - 6 de Dezembro de 1185
É pena que uma efeméride como a que me atrevo a lembrar possa surgir aos olhos de muitos como uma mera curiosidade. Mas, de facto, sempre me impressionou a epopeia política da fundação de Portugal e o papel nela desempenhado por Afonso I, mais conhecido por D. Afonso Henriques.
Se repararem nas datas é impressionante a longevidade do seu reinado e, ainda mais, a própria longevidade de Afonso Henriques pois, no século XII, em 1185, morreu com 76 anos, ou seja, a idade que corresponde, sensivelmente, à esperança média de vida no Portugal contemporâneo.
terça-feira, dezembro 5
O "BOLIVARISMO" DE CHÁVEZ
Assinalei o resultado das eleições presidenciais na Venezuela. Aqui fica um breve comentário. Chávez ganhou porque o povo o elegeu segundo os princípios democráticos consagrados pelas democracias ocidentais. Nada a apontar.
Mas a legitimidade democrática da vitória eleitoral de Chávez não torna a sua política e o seu discurso, de raiz populista, menos preocupantes:
Convenhamos que é assustador! Ficamos a saber que ainda se fabricam ideologias fundadas numa espécie de terror vermelho. Sem disfarces.
Não há volta a dar. Mais dia, menos dia a “revolução bolivarista”, de Chávez, como outras que despontam na América Latina, vão desembocar em tragédia. O petróleo – e os outros recursos naturais – não são eternos e Bush ainda menos.
OUTRO TESTAMENTO
Imagem da Catedral
Quando eu morrer deitem-me nu à cova
Como uma libra ou uma raiz,
Dêem a minha roupa a uma mulher nova
Para o amante que a não quis.
Façam coisas bonitas por minha alma:
Espalhem moedas, rosas, figos.
Dando-me terra dura e calma,
Cortem as unhas aos meus amigos.
Quando eu morrer mandem embora os lírios:
Vou nu, não quero que me vejam
Assim puro e conciso entre círios vergados.
As rosas sim; estão acostumadas
A bem cair no que desejam:
Sejam as rosas toleradas.
Mas não me levem os cravos ásperos e quentes
Que minha Mulher me trouxe:
Ficam para o seu cabelo de viúva,
Ali, em vez da minha mão;
Ali, naquela cara doce...
Ficam para irritar a turba
E eu existir, para analfabetos, nessa correcta irritação.
Quando eu morrer e for chegando ao cemitério,
Acima da rampa,
Mandem um coveiro sério
Verificar, campa por campa
(Mas é batendo devagarinho
Só três pancadas em cada tampa,
E um só coveiro seguro chega),
Se os mortos têm licor de ausência
(Como nas pipas de uma adega
Se bate o tampo, a ver o vinho):
Se os mortos têm licor de ausência
Para bebermos de cova a cova,
Naturalmente, como quem prova
Da lavra da própria paciência.
Quando eu morrer...
Eu morro lá!
Faço-me morto aqui, nu nas minhas palavras,
Pois quando me comovo até o osso é sonoro.
Minha casa de sons com o morador na lua,
Esqueleto que deixo em linhas trabalhado:
Minha morte civil será uma cena de rua;
Palavras, terras onde moro,
Nunca vos deixarei.
Mas quando eu morrer, só por geometria,
Largando a vertical, ferida do ar,
Façam, à portuguesa, uma alegria para todos;
Distraiam as mulheres, que poderiam chorar;
Dêem vinho, beijos, flores, figos a rodos,
E levem-me – só horizonte – para o mar.
Vitorino Nemésio
Quando eu morrer deitem-me nu à cova
Como uma libra ou uma raiz,
Dêem a minha roupa a uma mulher nova
Para o amante que a não quis.
Façam coisas bonitas por minha alma:
Espalhem moedas, rosas, figos.
Dando-me terra dura e calma,
Cortem as unhas aos meus amigos.
Quando eu morrer mandem embora os lírios:
Vou nu, não quero que me vejam
Assim puro e conciso entre círios vergados.
As rosas sim; estão acostumadas
A bem cair no que desejam:
Sejam as rosas toleradas.
Mas não me levem os cravos ásperos e quentes
Que minha Mulher me trouxe:
Ficam para o seu cabelo de viúva,
Ali, em vez da minha mão;
Ali, naquela cara doce...
Ficam para irritar a turba
E eu existir, para analfabetos, nessa correcta irritação.
Quando eu morrer e for chegando ao cemitério,
Acima da rampa,
Mandem um coveiro sério
Verificar, campa por campa
(Mas é batendo devagarinho
Só três pancadas em cada tampa,
E um só coveiro seguro chega),
Se os mortos têm licor de ausência
(Como nas pipas de uma adega
Se bate o tampo, a ver o vinho):
Se os mortos têm licor de ausência
Para bebermos de cova a cova,
Naturalmente, como quem prova
Da lavra da própria paciência.
Quando eu morrer...
Eu morro lá!
Faço-me morto aqui, nu nas minhas palavras,
Pois quando me comovo até o osso é sonoro.
Minha casa de sons com o morador na lua,
Esqueleto que deixo em linhas trabalhado:
Minha morte civil será uma cena de rua;
Palavras, terras onde moro,
Nunca vos deixarei.
Mas quando eu morrer, só por geometria,
Largando a vertical, ferida do ar,
Façam, à portuguesa, uma alegria para todos;
Distraiam as mulheres, que poderiam chorar;
Dêem vinho, beijos, flores, figos a rodos,
E levem-me – só horizonte – para o mar.
Vitorino Nemésio
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segunda-feira, dezembro 4
PINOCHET
Augusto Pinochet gobernó Chile con mano de hierro desde 1973 a 1990, tras dar un golpe de Estado al Gobierno de Salvador Allende para liberar al país del yugo del marxismo. En esos años, miles de personas fueron asesinadas y torturadas por su régimen. Nacido en Valparaíso el 25 de noviembre de 1915, ingresó en la carrera militar a los 17 años y fue ascendiendo hasta que el propio Allende le nombró comandante en jefe interino del Ejército, en 1972. En la foto, con Fidel Castro, durante el Gobierno de Allende.
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